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*** Portal CEN - DIA DO DISPARATE ***

UM CIDADÃO UM "BOCADINHO" ÉBRIO CONVERSANDO

COM A ESTÁTUA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

NA BELA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

(FOTO ADQUIRIDA NA INTERNET)

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"DIA DO DISPARATE"

Bloco Número 01

 

Edição de Carlos Leite Ribeiro

 

 

***

 

Dia do Disparate

Não tem dia marcado, portanto, o Dia do Disparate é qualquer dia

Disparate - Despautério; despropósito; dislate; contra-senso; absurdo.
 
Grande (ou grandes) Disparates – Carlos Leite Ribeiro


***

 

São tantos, mas tantos disparates que cometi durante a minha já longa vida, que contar metade, de certeza que daria para mais de cem páginas.
Vou só reportar-me ao tempo de estudante liceal …
Sem saber bem porquê, naquele tempo tinha certa “habilidade” para apelidar (ou alcunhar) os professores. Por exemplo:
O Prof. de Educação Física, dei-lhe alcunha de “Maluco à Solta”;
A Profª de Português, era “Língua Complicada”;
O Prof. de Matemática, era “O Torturador”;
A Profª de Físico-química, era “A Luz de Meus Olhos”, e havia outras alcunhas…
Mas vamos fixar-nos nesta linda estampa de mulher que elevava a moral aos alunos. Imaginem que naquele tempo, não existia nem sequer se falava de “implantes de gel plastificado”, pois era tudo produto da natureza. Os alunos já consideravam a hipótese de levarem para estas aulas um leque tipo espanhol, para se abanarem e não sofrerem a tal temperatura… Certo dia, um colega chamou-me a atenção para o facto que um desses pontos mais salientes, estar mais abaixo do que o outro. Verifiquei que ele tinha razão e então, com  a “inocência” daquela idade, cheguei junto da profª (naquele tempo não se tratava por doutora) e disse-lhe:
- Senhora Profª, tenho a sensação que algo está descentrado (e olhei para o local da descentralização).
Ela corou, nada me respondeu, mas saiu precipitadamente da sala e, quando voltou, as tais saliências, embora centralizadas, tinham diminuído um pouco de volume. E com o passar do tempo, essa diminuição foi-se acentuando, mas nunca cheguei a saber se tinham atingido o limite mínimo.
(in-memórias – Carlos Leite Ribeiro)


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Lígia Antunes Leivas:
Oi Carlos, meu amado!
Bom dia!
Pois gostei da inusitada forma de se fazer literatura!
Como deixou escrito Oswald de Andrade, um dos ícones do movimento da "Semana de Arte Moderna" no Brasil - e isso foi lá  em fevereriro de 1922... ... já faz mmmmmuuuuiiiiiiiiito tempo!... - "todo fato pode ser um fato poético".
Então vamos lá...

Era um dia lindo de início de outono - na minha terra o outono, logo que começa, tem um colorido ímpar, graças à umidade intensa do ar. Aliás, dizem que Pelotas é a 2ª cidade mais úmida do mundo, só perdendo para Londres! Então, o céu tem um azul magnífico, intenso! Lindo mesmo!!
Pois justo nesse dia, uma amiga muito próxima me telefona, dizendo que havia morrido sua tia - Dona Siloca. Perguntava-me se eu não gostaria de ir ao velório.
Não tenho muita simpatia por velórios (afinal, não me considero masoquista..) mas achei que tinha quase obrigação de acompanhar minha amiga Silvana - éramos muito companheiras e ela, em meu lugar, não iria dizer 'não', então combinamos ir ao dito velório, até porque Dona Siloca sempre fora uma velhinha muito camarada, legal mesmo e sempre nos recebia com gentileza, quitutes preparados por ela e nos presenteava com algum regalo de sua casa - um verdadeiro museu em termos de coisas antigas, bem cuidadas e preciosas mesmo!
Silvana e eu nos arrumamos a capricho  - como se fôssemos para uma festa, pois o de 'de cujus' assim o merecia!... uma senhora super-ultra-chique e não perdoaria que os que lhe fossem prantear a morte estivessem mal vestidos!
O velório era no salão da atos da Beneficência Portuguesa (os portugueses fizeram essas casas no Brasil e elas se perpetuaram em suntuosidade e respeitabilidade), o que por si só garantia o ambiente circunspecto que iríamos encontrar.
Em lá chegando, muitos  eram os presentes  - Dona Siloca, além de muitas posses e talvez por isso mesmo!, arrematara um círculo grande de amizades - e todos muitos chorosos. Um pouco nervosa, olhei em torno e logo localizei seu único filho - muito comovido - Elízio. Dirigi-me a ele e, sem pestanejar, lhe disse:
- Meus parabéns, Elízio!
Dei-me conta, em seguida, da 'rateada'... saí 'de fininho', pensando "acho que ele nem se deu conta".
Mas na missa de 7º dia, ao abraçar Elízio, ele me disse mui discretamente:
- Lígia, com toda a dor que me abalava pela morte de mamãe, tive que segurar a gargalhada, na hora em que me deste aquele solene "meus parabéns!"
E assim se passam 'as coisas' nos bastidores de tantas outras coisas...
Lígia Antunes Leivas

 

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Olá, amigos do Portal CEN, em especial o nosso amigo Carlos! Sim! Já cometi muitos disparates na vida... Mas vou narrar aqui um que ocorreu quando eu ainda era uma adolescente! Tínhamos um professor de Língua Portuguesa inigualável em termos culturais, mas rígido feito uma pedra! Um dia, desses em que você amanhece com o demo no corpo, a nossa turma resolveu pregar-lhe uma peça! Conhecíamos o seu ritual ao adentrar a sala: passos fortes – toc,toc,toc! Pasta preta na mão direita, chegava em linha reta até à mesa, ali colocava a dita cuja, puxava a cadeira sempre olhando para a turma que, naquele dia estava estranhamente quieta... e sentava-se. E não foi diferente: sentou-se! Assim que o fez, levantou-se um pouco inclinado para à frente e levou a mão esquerda sobre as nádegas, de lá retirando, duas bananas podres de tão maduras que emplastaram-se em suas calças! A gargalhada foi em uníssono! Uníssona foi também a suspensão de três dias sem aulas, podendo apenas retornar com a presença dos pais! Affe! Mas valeu a pena! Nunca gargalhei tão gostosamente em minha vida! Disparate? Sei não... Creio que um modo de tornar o dia mais alegre!

Maria Granzoto


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Tenho uma situação muito parecida com esta que a Maria Granzoto nos conta. Mas a situação não se passou com bananas podres, mas sim com pionesis de três bicos que eram usados na aula de desenho, para pregar as folhas às pranchetas.
Certo dia, um colega (juro que desta vez não fui eu) colocou um destes pionesis na cadeira da profª, antes desta entrar na sala. Esta era muito alta e muito magrinha, mas sempre muito bem vestida e com uma boina na cabeça, que todos os dias variava de cor conforme a cor do vestido. Era demasiadamente chata e vaidosa: tina a alcunha de “Compasso”.
Naquele dia, como habitualmente entrou na sala com o seu ar imperial, perguntando antes de se sentar de faltava alguém. Sentou-se e acto contínuo levantou-se como impulsionada por uma mola; levou a mão à zona dorida e a coxear saiu da sala. A sua ausência foi prolongada e já cantávamos vitória de não termos mais “desenho” naquele dia. Era uma quarta-feira e era a última aula da parte da manhã e à tarde íamos ter de tarde de actividades desportivas. Até chegámos a comentar:
- “Se a profª fosse um pneu de carro, ainda podia ser rechapado, mas assim …?”
Mas os nossos cálculos saíram errados, pois o “Compasso” regressou à sala e desta vez acompanhada pelo Director do Liceu.
Depois de uns minutos em silêncio, a voz forte do Director fez-se ouvir:
- Quem foi que colocou um pionesis na cadeira da profº (tal), e que lhe feriu o c.. (ia dizendo a palavra completa mas só pronunciou o “c”) melhor, quem colocou um pionesis na cadeira da profª ?
Com o armais inocente e admirado possível olhamos uns para os outros sem “sabermos” do que o Director se estava a referir. O Director era de estatura pequena, cara feia, nariz adunco (chamávamos o Papagaio) e na ponta encavalitava uns óculos de muita graduação. Todos nos declarámos inocentes…
Mas o Director não estava nadinha convencido com a nossa inocência e logo nos avisou que ninguém saía da sala sem saber quem era o culpado. Devíamos sair às 11.50 horas e depois tínhamos as actividades físicas das 15 às 18 horas. Já passava das 13.30 horas, quando começamos todos a tossir, embora o Director nos gritasse :”Silêncio !”.
Protestámos alegando que estávamos com muita fome e com vontade de fazer xixi.
- “Ninguém sai da sala !” – voltou a gritar.
Começámos a dizer-lhe que tínhamos que fazer xixi na sala pois não aguentávamos mais. Naquele impasse, ele teve uma ideia luminosa: mandou chamar a empregada da limpeza para lhe perguntar se ela naquele dia tinha limpado a cadeira da profª.
- Não Sr. Director, hoje não tive tempo de limpar …
Era o que nós queríamos ouvir. Reclamámos logo se estávamos a ser acusados por uma situação que, eventualmente, veria da aula anterior. E assim, acabou este bloqueio à nossa saída.
Cá fora, começámos a questionar o que o marido lhe ia dizer, se à noite visse que a mulher tinha três furinhos, bem, no assento …
Carlos Leite Ribeiro

 

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Maria Granzoto
Querido Carlos!

Também fizemos, em outra ocasião, essa do “pionesis’, que, para os brasileiros se denominam “tachinhas”! Colocamos cinco! Mas não obtivemos o efeito desejado porque ela era muito, mas muito gorda! Nem sentiu! Ficamos frustrados! Maria Granzoto.

 

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Dia Internacional do Disparate - Pinhal Dias
O meu abraço para ti e todos os amigos envolventes, que abraçam o Portal "CEN"
(Ciranda) – 28/3/09
 
Em lembrança da meninice… Foram disparates incalculáveis! Obviamente ele assume dizendo: - “Hoje...que seja banido o «disparate arrogância» com uma vestimenta plausível de humildade”
Sabe-se porém que o assumido “Disparatado” alimenta a corrente do ingénuo picuinhas, que é lingrinhas, finge o que não sabe e diz que sabe tudo…mas na verdade nada sabe, tão pouco tem consciência do seu “Disparate” …
Esse “Disparatado” Viveu!
Jamais se arrependeu…
Hoje Jaz na sepultura, com esta lição de história.
Pinhal Dias – Amora – Portugal

 

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Tania Montandon:
- Quantos disparates já fez na vida ?
Resposta: 30x365+5+1 no mínimo
-Quantos disparates já fez hoje ?
Resposta: 1+1(ESTE)
-Quantos disparates conta fazer no futuro?
Resposta: 0
- Para si o disparate é uma filosofia ou um modo de estar na vida ?
Resposta: É o modo como consigo estar na vida.
- Outros ...?
Resposta: Quem é o detentor real e o teórico do poder no Brasil??? pq?
Amigos e Amiguinhas, vamos fazer neste dia uma ciranda (ou louvor) ao Disparate?
Resposta: não.
- Vamos brincar com o disparate ?
Resposta: não.
Força !!!
Resposta: vai que dá!
Tania Montandon

 

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Pedro José F. Alves - Rio de Janeiro, 18/03/09


O disparate é lúdico ou não?
Bom, pode até ser, mas o é, também, absurdo, fora da realidade, despropositado.
Não o será, nessa versão, para quem pretender dar uma lição a um Mestre.
Estávamos no primeiro dia de aula do ano.
Para mim, o primeiro dia de aula e o primeiro dia com meus Colegas, porque era um chegante.
A professora de Português, que se gabava de ter sido o grande amor de um então conhecido Escritor, era a Professora a Mestre da disciplina.
Como a tal versão de amor era bem mais velha que eu, no meio discente, é óbvio que já o sabia antes de entrar em classe. Portanto, nunca fui “um marido traído”. Só não queria acreditar que “aquilo” tinha sido amada ou “musa inspiradora” de um Poeta, um dia, tivesse sido ele qual fosse!
Chegou, sentou-se – nada havia em sua cadeira que a pudesse incomodar!
Mas havia problemas à sua frente. Bem à sua frente, bem na frente de seus olhos sentavam-se o Edson e a Sônia.
Como não lhes dou o nome completo, se me lerem eles saberão quem  sou eu. Se eles tiverem este privilégio de nos lerem, vocês, porém, não saberão quem são eles, porque não direi o Colégio. Digo, apenas que estava situado numa bela propriedade, num dos bairros mais burgueses do Rio de Janeiro. Não era a burguesia acintosa, mas aquela um pouco intelectual e um pouco acanhada, porque tinha que trabalhar e estudar; porque tinha que estudar francês e conhecer literatura brasileira e portuguesa!
Mal finda a chamada, dirigiu-se a Edson e Sônia e indagou: por que estão aqui? __ Não podiam estar! __ Não sabem nada!
Ambos, aflitos e avexados, murmuraram: mas passamos na segunda época! __ Fizemos prova com a Senhora!
No meu canto, pensei, avaliei, julguei e sentenciei: fiquem tranqüilos, minha vingança durante o ano será doce e cruel! __ A seguir, declarei a minha guerra contra ela. Primeira providência legítima, porque ela tinha a força e eu a folha em branco e sem qualquer nota, dela precisando sempre: não anunciar ou declarar a guerra. Haveria um tratamento de guerrilha, que só anos após veio a ser empregada.
A primeira oportunidade de agir logo surgiu.
Ela não gostava do que eu chamava de “a procura do tempo perdido.... das palavras.”
Eu explico. As palavras se perdem no vão da pena da caneta (Naquela época não tínhamos esferográficas!).
Um dia as temos nos livros, no outro na boca do povo e, daí, a evolução as faz desaparecer. Seja porque ganham novas vestes e sonoridades, seja porque os dicionários simplesmente as registram com uma observação: “em desuso”!
Mas eu sou um Resgatador de Palavras! __ E adorei, como morador do Rio de Janeiro, saber, ouvir falar da “salsugem deletéria”!
Surgiu, como dizia acima, porque tinha que fazer uma redação, para nota.
Fiz o meu texto e lá estavam, maravilhosas, respingando a ferrugem no vestido dos invejosos, a salsugem e a deletéria corrosão dos seus efeitos!
Resultado? __ Recebi meu texto com um zero e com as duas palavras riscadas de vermelho!
Inconformado, eu interpelei a Mestra, na aula subseqüente ao recebimento do texto.
Fazendo de conta que ela não sabia português, levei dois dicionários.
Como num Tribunal, pedi a palavra “pela ordem”. Foi-me concedida, sem as mesuras de praxe, com certa relutância. Não pronunciei as formais solicitações ou licenças para iniciar as minhas ações (data venia ou venia concessa), até porque não era Advogado, embora com o sangue já certamente nas veias, mas comecei pela leitura do dicionário, com a palavra salsugem. Ela tentou me interromper. Fiz “ouvidos mouco” e continuei. Falei, pois, pois, um pouco mais alto. Portanto, não fiz “auto” para me conter. Acabada a leitura, consegui, ainda lhe dizer que ambas as palavras, no meu texto, estavam riscadas, razão pelo que queria demonstrar que existiam na língua portuguesa. Admoestou-me a “ex-amada” – porque àquela altura, com seus contornos distorcidos, certamente mais não o era! E, finalmente, me disse que não admitia aquelas palavras no nosso uso. Comuniquei-lhe curto e brevíssimo, que iria pedir revisão. E o fiz! __ Foi-me não só concedida, como recebi dez, com um elogio pelo texto.
Primeira batalha, primeira vitória.
Breve, ocorreu uma reforma na língua portuguesa. A terminologia, os conceitos muito mudaram.
Tivemos uma prova. Muitos a fizeram, como eu, buscando as novíssimas classificações e conceitos.
Resultado? __ Todos os que acolheram a novel terminologia foram recebidos a petardos de bolas fumegantes! __ Zero nas questões assim corrigidas.
Meu Pai era Gerente de uma das mais tradicionais livraria e papelaria do Estado do Rio de Janeiro.
Pedi-lhe socorro! __ Não, não era para ir ao Colégio comigo. Apenas, precisava de todas as gramáticas de língua portuguesa que tivesse na loja! __ Com as recomendações de cuidado, necessárias, levei duas sacas.
Em aula, mal começara a Mestra a falar, pedi a palavra. Não me foi concedida. Disse que insistia e lamentaria muito ter que me retirar para ir à Secretaria me queixar. A “força oculta” do “poder oculto” – quem sabe, aquele que mais tarde inspiraria o inesquecível Presidente Jânio Quadros, por ocasião da “renúncia por forças ocultas” – funcionou. Comecei a leitura de cada item anulado ou “zerado” na prova. Ela ouvia, ouvia. Finda a leitura, explicou-nos, com infinita paciência, que ela era a Mestra – coisa que não discutíamos! – e tinha seus critérios. Comuniquei-lhe minha decisão de “pedir revisão”. Dessa vez, fui um líder. O alvoroço foi imediato e todos os prejudicados a mim se somaram e assomaram!
Resultado? __ Todos tivemos acolhido nosso pedido e nossas notas foram dadas.
Segunda batalha, segunda vitória, “écrasante”, como só anos depois eu descobri que o francês, com charme, diria!
Logo, logo, o ano findava. E eu queria esquecê-lo. Porque as rusgas durante o ano foram muitas e as minhas notas sempre tinham rugas, em outras palavras, minguavam.
Para passar, tinha que fazer uma prova oral, depois de ter feito a escrita. Precisava de três pontos, na oral.
Cada Professor teria o privilégio de nos dar dez.
E, pensava eu, dez com um e dez com outro são vinte, que dividido por dois são dez! __ Ora, não é justo, ter vinte e ficar com dez! __ Mas tal raciocínio matemático demonstrou-me que, uma nota com um e outra com o outro sempre seriam dividas por dois.
Ora, eu sempre seria o resultado de uma divisão!
Pois bem, se passei o ano dividido, por que não dividir-me gloriosamente no final?
E assim foi feito. Sentei-me com o primeiro Professor. Exemplarmente, comunicou-me, ao final, que tirara dez!
Ora, dez dividido por dois são cinco! __ Eu precisava de três! __ Podia ir embora. Não precisava esperar pelo óbvio!
Não, não sou um fujão. Sou corajoso. Sempre o fui, durante o ano. E, sentado, assistia o trucidamento do Edson, da Sonia, do Renato, do Júlio, por aquela que parece ter sido “um grande amor”,  mas já não mais o era, porque não podemos nos esquecer que o “tempo põe e dispõe”!
Sentei-me. Olhei no rosto da Mestra. Procurava “aqueles tempos passados” por trás daquele terrível gênio. Admirava sua “coragem”. Enfrentar-me numa prova oral!
Tire o ponto, ela me disse! __ Era efetivamente audaciosa! Como me dar um comando desses?
Pois eu lhe disse: será a última coisa que faria! __ A Senhora demonstrou que não tem qualidades para me examinar. O ano foi repleto desses exemplos! __ Da salsugem, que deletéria, minou suas notas subseqüentes, estou cheio. __ Tenha boas férias, que eu estou indo embora!
Foi a vingança mais doce. Foi um disparate, sem dúvida, mas foi glorioso.
Para concluir, informo-lhes que eu namorava uma das belas do Colégio. Soube, depois, que a Mestra telefonou para a Mãe da “minha bela” algumas vezes para falar daquele “perigoso moleque” que namorava a “sua filha”. Como “namorava pra casar” tudo acabou bem. E, hoje, como Advogado, posso lhes dizer que fui “preparado” pelo Pai da “minha bela”, que era magistrado.
Pedro José F. Alves, Advogado.

 

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Disparates sociais
Ana Teresinha Drumond Machado


Desde há muitos anos o Brasil teve deteriorada sua imagem, em função de uma série interminável de escândalos, adquirindo dimensões políticas extravagantes a partir da década dos 90 até os dias de hoje. Se formos relatar e exemplificar a lista será interminável, pois em todas as esferas sociais o espírito moderno está como abafador dos valores e brotam dos seres humanos somente atitudes de desonestidade, violência, desrespeito, esperteza, ganância e outras mais...
Não é necessário ser técnico ou especialista para se constatar que a corrupção é um dos principais entraves para o desenvolvimento do Brasil e que por si só impede a erradicação das terríveis cadeados sociais que o aprisionam, expandindo a criminalidade em todas as direções e  a violência torna-se a queda da ultima pedra do dominó.
Hoje, a imprensa, atuando como reflexo desta situação crônica, banha qualquer de suas edições com referências ao tema e que se sucedem, gradualmente, açambarcando autoridades públicas – incluindo até juizes - empresários e servidores públicos de seus mais diversos escalões, aprisionados temporariamente, em operações aparatosas. Quer maior disparate que esse?
Proporções menores incidem na sociedade civilizada: tapas na orelha, palavrões escalabrosos, indelicadezas no trânsito, nos elevadores, nas feiras. Parece que o homem do século XXI está se doutorando em grosseria! Mas a mulher também.
Mês passado, fui ao mercado, peguei uma bacia que estava com algumas batatas, completei-as e quando fui à balança, uma senhora se aproximou dizendo-me horrores... Tentei esclarecer, pedi desculpas, porém nada valeu. Então o feirante argüiu: há pessoas que não entendem a linguagem dos civilizados! E sorriu.
Outro caso semelhante tornou acontecer quinta-feira próxima passada: após terminar o almoço em um restaurante na Avenida Contorno em Belo Horizonte, dirigi-me até o aparadouro para servir-me e degustar o delicioso chá de abacaxi e hortelã (uma das especialidades da casa), assim que acabei de servir-me , uma antiga amiga cumprimentou-me, tecíamos um dedinho de conversa quando chegou uma senhora “madurona” no maior disparate para jogar o copinho plástico na lixeira, interceptada por nós, deu-nos um empurrão, porém o “feitiço virou contra o feiticeiro”: o meu chazinho bem quente derramou por sobre o braço dela... Imaginem o disparate aprontado?!
Mediante tamanhas infestações absurdas de comportamento, permita-me, irmãos lusos, parabenizar-lhes por se lembrarem desse dia, assim paramos para refletir sobre nossos disparates.

 

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O DISPARATE - Iraí Verdan
Era uma jovem alta e bonita, loira de olhos bem azuis, tímida, que fazia jus ao seu nome: Florisbella. Seus pais eram portugueses, oriundos de uma cidadezinha do interior de Portugal, e residentes no Bairro de Piabetá, Magé - RJ, há muitos anos desde quando ainda eram jovens.
Certo dia, Florisbella apareceu no escritório de Contabilidade onde eu trabalhava, acompanhada de uma funcionária de nome Maria de Fátima, para pedir uma vaga para trabalhar. Vindo o pedido de uma excelente funcionária,  o patrão, o Sr. Gilberto prontamente deu-lhe a oportunidade de trabalho. 
Depois de admitida e do período de adaptação, ela começou a fazer rapidamente amizade com os colegas do escritório, mas, com um pouco de reservas com os rapazes. Certa tarde ela confidenciou com uma colega, que namorava firme com João, motorista de ônibus da única empresa que oficialmente trafegava em nosso Bairro. 
Florisbella sempre muito quietinha, às vezes falava do namoro com a amiga que a ajudara a arranjar o emprego, e era da mesma Igreja Católica. Disse-lhe que o seu noivo era muito mais velho do que ela e muito ciumento, mas, que gostava dele assim mesmo... 
Em pouco tempo os jovens Florisbella e João ficaram noivos. E em menos tempo ainda, o casamento foi marcado para um sábado de maio, às 18 horas, na Igreja de Nossa Srª Aparecida. Sua amiga Maria de Fátima fora convidada para ser a madrinha e os colegas do escritório, o patrão, todos foram convidados. 
E chegou o grande dia do casamento. Estávamos todos na Igreja: o patrão, os colegas, os parentes do noivo e da noiva. Igreja cheia de convidados. O noivo chegou e em seguida a noiva. Ela quase não se atrasou, apenas uns dez ou quinze minutos... E o casamento transcorreu em perfeita harmonia! 
Terminada a cerimônia, fomos para a Festa de casamento na residência da noiva, numa varanda bem grande, nos fundos da casa, que estava toda enfeitada, com mesas ornamentadas, com toalhas e lembrancinhas; painel onde ficava o bolo e os docinhos da festa parecendo um grande caramanchão de flores. E tudo combinando no tom das flores... Os garçons a servir refrigerantes e os pratinhos à americana, que continham arroz branco, maionese, farofa, frango desfiado e fatias de pernil, salgadinhos variados, servido com fartura aos convidados. 
E tudo ia muito bem. O noivo cumprimentava as pessoas normalmente. Já a noiva respondia timidamente aos cumprimentos, dos homens, principalmente, sempre meio encolhida para não olhar no rosto deles. Talvez se comportasse assim, por causa dos ciúmes do noivo... Tiraram as fotos com as famílias ao redor do bolo, com os amigos mais chegados, até que a organizadora da festa comunicou a todos, que em breve iria ser cortado o bolo dos noivos! 
Todas as atenções foram voltadas para a mesa! O casal juntinho, os pais da noiva, os pais do noivo, e após as fotos de família, foi tirado a foto do bolo de três andares, muito bem decorado. Sob aplauso, a noiva corta o primeiro pedaço. E todos muito atentos aos gestos delicados da jovenzinha Florisbella, que carinhosamente oferece o primeiro pedaço do bolo para sua querida mãezinha, dona Maria José. 
Quando ela passa às mãos de sua mãe a fatia do bolo, sobre o guardanapo rendado, o noivo interrompe com a voz bem alta, ao gesto da noiva: “Isto está errado!... O primeiro pedaço de bolo tem que ser meu, do noivo! Se não me deu o primeiro pedaço de bolo, é porque não me ama...”. E grosseiramente deu um empurrão na noiva e saiu de perto do bolo. E completou: “Não quero saber mais de você! É essa a sua prova de amor para comigo? O maior amor de sua vida agora sou eu! Você pertencia à sua mãe antes de casar comigo. Agora você me pertence! E tudo tem que ser para  mim, primeiro entendeu?”. E saiu empurrando as cadeiras e atropelando as pessoas, possesso de ira. Depois deste argumento nada convincente, e repugnante à razão das pessoas presentes, que olhavam estarrecidos aquele DISPARATE do noivo”. 
Depois daquele instante, Maria de Fátima, a madrinha da noiva no casamento, cautelosamente, levantou-se e foi falar com o noivo que saíra batendo o portão da casa. Pediu-lhe que voltasse. Que não levasse a mal a atitude da noiva. A mãe da noiva também foi ao seu encontro para lhe entregar o pedaço do bolo tão disputado! A mãe do noivo também foi ao seu encontro, para convencê-lo a pedir desculpas pelo vexame. Mas, ele estava irredutível e saiu da festa. A noiva chorava copiosamente! Inconsolável, pensando no que fizera e que perdera de vez o casamento antes de concretizado... Repartiram o bolo e os convidados foram todos saindo, indo embora de vez, comentando sobre o comportamento ridículo do noivo. 
Quando todos os convidados foram embora e só ficaram presentes os pais dos noivos, o noivo chegou como se nada houvesse acontecido. Aproximou-se da noiva, que o abraçou pedindo-lhe desculpas... E dali os noivos foram para a lua - de - mel. 
Como foi a convivência do casal, nada mais soubemos, pois o marido tirou Florisbela do emprego, com a seguinte frase, dita ao meu patrão: “Minha mulher não precisa trabalhar fora. Eu sou o homem da casa!...”. 
Florisbella tem uma filha. Ela é uma santa mulher, pois mora com o seu marido João do ônibus até hoje... 

 

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Fundo Musical: Samba  do Trabalhador

 

Composição: Darcy da Mangueira

Webdesigner: Iara Melo

Resolução de Ecrã: 1024 * 768

 

 

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