Maria Nascimento Santos  Carvalho

 

A POESIA NO "CÁ ESTAMOS NÓS"

          Segundo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Poesia é uma composição poética de pequena extensão gerada pelo entusiasmo criador e a inspiração. É tudo aquilo que desperta o sentimento do belo e o que há de elevado ou comovente nas pessoas ou nas coisas ... o encanto, a graça. É a arte de escrever em versos.
         Não tenho a pretensão de discutir o mérito dos dicionaristas, mas discordo, no que tange a expressão "de pequena extensão ", levando-se em conta que o Poema e a Epopéia são gêneros poéticos que não podem ser desassociados da Poesia, em si mesma, porque poesias são, embora possam ter um conteúdo de grande extensão.
         É o Aurélio mesmo quem registra : Poema é uma obra escrita em versos. Isto é, é uma composição poética de certa extensão com enredo.
         Epopéia é um Poema de longo fôlego acerca de assunto grandioso e heróico... uma ação ou série de ações heróicas.
         E, como exemplo de que uma Poesia pode conter uma grande extensão, citamos a Epopéia, OS LUSÍADAS, de LUIZ VAZ DE CAMÕES, obra publicada em Portugal, em 1572, até hoje conhecida universalmente.
         Falando em Poesia, apenas para esclarecimento àqueles internautas que não fazem ainda este gênero literário, informamos que a Poesia Clássica é composta por versos rimados e metrificados e pode conter qualquer número de estrofe, com exceção do SONETO que só pode ter 14 estrofes, isto é, 14 versos, conforme exemplificaremos ao final.
         Sobre a Poesia, escreveu Thierry Maulnier (Jacques Louis Talagrand) 1909 - ? : ... podem ser chamadas de poesia a qualidade de uma atmosfera que emana de uma obra em prosa ou qualquer manifestação do espírito criador que apresenta uma "alma", " um quê indefinível ", que em sua própria vontade de traduzir a realidade a transcende. " Presente no cerne das grandes obras do espírito, ela dá a impressão de ora ser o seu princípio, a sua fonte, ora o nimbo e o orvalho...
         E afirmava Baudelaire (Charles) 1821 – 1867 : a poesia é de tal modo inalcançável,que o poeta dela não nos pode dar senão uma definição à sua imagem... Tome impulso na emoção ou na razão, a poesia quer dizer mais, dizendo-o melhor e no próprio momento em que é escrita, ela se afirma como um ato privilegiado, correspondendo à " aspiração humana por uma Beleza superior ".
Como entendia Cocteau (Jean) 1889 – 1963, a função da poesia é erguer o véu e mostrar " nuas, sob uma luz que afugenta o torpor, as coisas surpreendentes que nos cercam e que nossos sentidos registram maquinalmente ". Ser privilegiado, o poeta sobre o mundo com o qual vive em simbiose um olhar profundo cuja extrema pureza se assemelha à natureza visual da infância.
         Em sua origem, a Poesia é rigor. Sua história, antes de tudo, é a de uma submissão incondicional à métrica. Dos cantares medievais aos sonetos parnasianos, de Villon a Valéry, de Gil Vicente a Manuel Bandeira e até hoje, ela não deixou de se lembrar as regras que se impôs : as da versificação.
         Muitos outros Poetas e Escritores teceram comentários em relação às características da Poesia. Mas se analisarmos detidamente o conteúdo de cada comentário, chegaremos à conclusão de que, apesar de usarem vocabulários diferentes, todos entenderam que " a Poesia Clássica, aqui focalizada, "é a música da alma quando respeita a harmonia, a métrica, a rima e todas as demais qualidades que a levam a corresponder, principalmente, a aspiração humana por uma Beleza Superior e ao bem comum que a ela possa levar a toda comunidade e enriquecimento do espírito.
         A Poesia Moderna é composta em versos brancos, sem rima obrigatória, mas é necessário que se observem determinadas exigências para que ela não se torne enfadonha e sem sentido. Por isso, não se pode compor um amontoado de versos apenas para lhe dar cunho de Poesia Moderna.
         A Poesia Moderna também depende da nossa inspiração, de sentimento, de harmonia, de sonoridade, de beleza, de emoção e sobretudo de correlação entre uns versos e outros, para que entendamos o tema principal abordado pelo autor e para que ela nos penetre a alma.
         Referindo-se à Poesia Moderna, Breton ( André) 1896 – 1966 disse : ao sabor de suas libertações, a época moderna não chegou a extinguir o verso regular. Mas seria pouco dizer que sua arquitetura se tornou menos rígida... O metro, em nossos dias, perdeu muito de seu rigor matemático. Voluntariamente se submete à música, em vez de tentar submete-la, e não raro incorpora todo o poder que emana dela: a censura oscila : a rima divaga, e se, sob certos aspectos empobrece, encontra na abundância da invenção um destino novo.O verso livre abalou a ordem poética Rimbaud anunciou a ruptura. Outros se encarregariam de consumá-la. Rimbaud (Jean Nicolas Arthur) 1854 – 1891.
         E acrescentou : o verso dito livre não o é, porém, tanto quanto o sugere. Tem seu rigor interno, suas leis que não podem ser codificadas. Preocupa-se com as cadências, faz um esforço de harmonia, costeia a iluminação, etc.
         Dadas as explicações acima, registramos FANTASIA, um soneto decassílabo que, pela expressão "decassílabo", já demonstra que é composto por versos de 10 sílabas poéticas. E, neste estágio, falaremos apenas sobre a métrica, apontando onde se encontram as elisões. Antes, porém, a título de ilustração, registramos que :
         Elisão é a supressão (eliminação) da vogal final de um vocábulo quando o seguinte principia por vogal. Ex. E, nes - te es - tá - gio - fa - la - re - mos - a - pe - nas - so - bre a - mé - tri - ca, a - pon - tan - do on - de - se en - con - tram - as - e - li - sões.
         Também se elide quando há vogal no final do vocábulo e o seguinte começa com h. Ex. Tam - bém - se e - li - de - quan - do há - vo - gal - no - fi - nal - do - vo - cá - bu - lo e o - se - guin - te - co - me - ça - com - a - le - tra a - gá.
Se há na minha alma alguma cicatriz ...
Se há - na - mi - nha al - ma al - gu - ma - ci - ca - triz ...
         Ainda como ilustração, informamos que as sílabas poéticas são contadas apenas até a última sílaba tônica do verso.
         Ex. Quando era de tristeza que eu chorava !
Quan - do e - ra - de - tris - te - za que eu - cho - ra (va) = 10 sílabas
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

FANTASIA

Meu - so - nho e - ra - fa - zer - ver - sos - um - di (a) ...
e, - quan - do, às - ve - zes - , tris - te - me en - con - tra (va),
fin - gi - a - que - cho - ra - va - de a - le - gri (a),
quan - do e - ra - de - tris - te - za - que eu - cho - ra (va) !

E - per - ce - bi - que a - té - nu - ma - Poe / si (a),
que en - tre - lá - gri - mas - tris - tes - me - bro - ta (va),
co - mo um - di - vi - no - to - que - de - ma - gi (a),
mes - mo - so - fren - do, as - sim me - rea - ni - ma (va) !

Foi - tu - do em - vão, - por - que, - fa - zen - do - ver (sos),
eu - nem - no - tei - que os - meus - so - nhos - dis - per (sos)
trans - cen - di - am - meu - mun - do - pe - que - ni (no) ...

E, - na an - gús - tia - de - quem - sem - pre - so - freu,
en - tão -, per - gun - to a - Deus - por - que - me - deu
um - so - nho - bem mai - or - que o - meu - Des - ti - (no) ...

Maria Nascimento Santos Carvalho 

para  Colunistas