Ilda Maria Costa Brasil -
Porto Alegre - RS - Brasil
A
cidade acordava. O céu,
encantador. Flores se abriam.
Pássaros cantavam. Na Av.
Ipiranga, intenso movimento de
carros. Transeuntes andavam
apressadamente, enquanto eu
caminhava silenciosa,
aparentemente, sem olhar para os
lados. Ao chegar à parada,
constatei que os rostos, que ali
estavam, eram os mesmos do dia
anterior, do outro dia... os de
sempre. Sorri e os cumprimentei.
Era como se nos conhecêssemos há
muito tempo e eles
compartilhassem diretamente do
meu dia-a-dia.
O ônibus chegou e,
silenciosamente, entramos e
ocupamos os nossos lugares.
Sentei-me só. Eu era apenas uma
usuária da Linha T1 a caminho do
trabalho. No meu lado esquerdo
do corredor, um casal falava
alegremente e, à frente dele, um
jovem universitário ouvia música
a todo volume. No Planetário,
entrou um garoto bastante
atrapalhado. Esse, ao passar na
roleta, deixou cair uma sacola
de papel que se rompeu, lançando
alguns livros no corredor e
embaixo dos bancos. O rapaz
ficou bastante ruborizado e sem
jeito. Levantei-me e o ajudei.
Agradecido, sentou-se ao meu
lado. Uma brisa cultural afagou
meu coração e um perfume
agradabilíssimo de bom leitor
tocou minha alma.
Aquela manhã tinha tudo para ser
diferente das outras, mas não
fora, pois, ao devolver os
livros ao garoto, identifiquei
inúmeros títulos de clássicos
universais e nacionais
superinteressantes.
Eu? Fiquei quieta, admirando
fascinada o rapaz. Ele,
cuidadosamente, com um lencinho
de papel, limpou seus livros.
Suas mãos deslizavam suavemente
como a acariciá-los. Certamente,
um pedido de desculpas. Seus
movimentos eram solenes e
respeitosos e, aos poucos,
adquiriu um ar de sabedoria e
dignidade.