Conferência - seguida de debate -
apresentada por
Carmo Vasconcelos,
em 13/01/2003, na Galeria Verney, em
Oeiras, Portugal, a convite da
Associação Portuguesa de Poetas
O HOMEM E O UNIVERSO
Desde a Antiguidade tem o homem
contemplado o Firmamento estrelado.
Ele está sempre buscando entender o
significado daquilo que vê. Ao
tentar relacionar suas especulações
e ideias com suas mais profundas
aspirações e mais íntimas questões
relativas à sua existência, o Homem
se defronta com o Infinito que se
lhe apresenta pelo céu afora. O
Homem contemplativo sempre se sentiu
profundamente atraído a buscar uma
fonte de contínua inspiração e de
prazer estético, erguendo os olhos
para o céu estrelado. Não obstante,
encontra real sabedoria ao descobrir
correlacções terrenas no esquema da
Natureza e do Homem.
Os eventos que cercavam o homem
primitivo devem ter-lhe
proporcionado os estímulos para as
suas primeiras especulações e
investigações sobre a verdadeira
natureza e o significado de todas as
coisas do seu ambiente. Com suas
primeiras indagações, começou o
Homem a desejar Conhecimento.
Observou, reflectiu, e claramente
percebeu, mediante profundos "insights",
os processos da Criação – o
desenvolvimento da Natureza, do
Homem e do Universo.
Muitos escritores antigos se referem
ao Egipto, e a civilizações ainda
mais antigas e relativamente
desconhecidas, como fontes dessas
primárias investigações dos
fenómenos universais. Por exemplo, o
grego Filipe de Opunte escreveu que
foram estrangeiros – egípcios e
sírios – os primeiros observadores
de eventos astronómicos. “Vivendo
num mundo sem nuvens e sem chuvas”,
esses povos antigos observaram todas
as estrelas, no firmamento claro de
seus belos desertos.
A antiga tradição do conhecimento e
sabedoria do Egipto é mencionada por
Platão em O Timeu. É
também neste livro que se encontram
as bases dos conhecimentos que
vieram posteriormente a
desenvolver-se sobre a Atlândida, o
continente desaparecido. Conta-se
até que alguns Atlantes,
pressentindo a catástrofe, se
fizeram ao mar, vindo a aportar na
terra que viria mais tarde a ser o
Egipto.
Não há personalidade eminente, em
todos os anais da História, sagrada
ou profana, cujo protótipo não possa
ser encontrado nas tradições meio
fictícias e meio reais de antigas
religiões e mitologias.
Assim como a estrela, bruxuleando a
incomensurável distância da Terra,
na ilimitada imensidão do
firmamento, se reflecte nas águas
serenas de um lago, também as
imagens mentais de homens de eras
antediluvianas se reflectem nos
períodos que podemos abarcar em
retrospecto histórico.
Contemplando o Universo, o homem da
antiguidade esforçou-se por
descobrir seu lugar no complexo
esquema cósmico, como fonte natural
de ideias, inspirações, dúvidas e
desejos. Sua contemplação,
consequentemente, levou-o a procurar
uma ligação entre sua vida em geral
e os seguintes processos: a sucessão
das estações, desde o florescer dos
campos na primavera; o fluxo e
refluxo da natureza viva, com seus
ciclos regulares de nascimento,
crescimento, declínio e
deterioração, para depois renascer.
Havia uma simetria nesses processos
regulares do céu e da Terra, que
levou o Homem a conceitos como,
harmonia, beleza, unidade na
diversidade, e Lei Universal.
A repetição regular de eventos
ajudou o Homem a lidar com o seu
ambiente. O homem primitivo aprendeu
a esperar, a ansiar pelo alvorocer
enquanto sofria os terrores da
noite, escura e fria. Sabia ele que
o esperado alvorocer, com sua luz,
dar-lhe-ia tempo para procurar um
local menos frio e mais protegido
para passar a noite seguinte, que
certamente sobreviria, tão logo o
Sol desaparecesse por detrás das
colinas ocidentais. Em função de
suas experiências diárias e de seus
mais profundos pensamentos, concebeu
o Homem a ideia da estreita relação
entre sua vida e o ritmo geral do
Universo.
Para os nossos ancestrais mais
reflexivos, a vida parecia depender
fortemente dos eventos que os
rodeavam. Os sábios antigos
reconheceram correspondências e
começaram a acompanhar o curso da
cíclica sucessão de eventos que
ocorria em seu ambiente.
Particularmente no Egipto antigo,
aperceberam-se os sábios da
fundamental unidade existente entre
o Homem e o Universo – o Microcosmo
e o Macrocosmo. Esses sábios,
seguidores de Thot ou Hermes,
resumiram esta ideia numa concisa e
poderosa declaração: Assim como
em cima, é
em baixo. Aquilo
que já existiu, retornará. Assim
como no céu, é na Terra”. A
filosofia de Hermes é
sabiamente descrita (por três
Iniciados anónimos) no livro O
Caibalion :
“O TODO É MENTE, O UNIVERSO É
MENTAL.”
“AQUELE QUE COMPREENDE A VERDADE DA
NATUREZA MENTAL DO UNIVERSO ESTÁ BEM
AVANÇADO NO CAMINHO DO DOMÍNIO DAS
LEIS NATURAIS.”
Sem esta chave, conforme afirma
ainda O Caibalion :
"O DOMÍNIO É IMPOSSÍVEL, E TODO O
BUSCADOR BATERÁ EM VÃO NAS PORTAS DO TEMPLO DO
CONHECIMENTO."
À medida que tentou estabelecer uma
relação entre ele próprio e o
Universo, criou o Homem as primeiras
cosmogonias,
maravilhosamente ricas em simbolismo
e profundas visões. A partir do
alvorocer do homem reflexivo, essas
profundas ideias passaram a assumir
formas particulares, segundo a
cultura de cada época, através dos
egípcios, dos órficos, dos
gnósticos, dos gregos, ao longo da
Idade Média, e até ao presente. Em
particular, a cosmogonia egípcia
antiga contribuiu com algumas ideias
ou concepções profundas,
definitivas, levando a conhecimento
sobre o Homem e o Universo.
Um dos mais profundos conceitos
egípcios é a ideia de UNIDADE
UNIVERSAL “o Deus de muitos
nomes, que gera sua própria
hierarquia de deuses (neters); o
Absoluto, Pai dos pais, Mãe das
mães, conjunto de tudo o que existe
e de todos os seres”. Outros
conceitos herdados do Egipto são:
1)
uma cosmogonia concebida como
transição de unidade caótica (Nun) e
em trevas para ordem e luz;
2)
Uma visão do nexo, da
afinidade universal que une todos os
seres da natureza;
3)
O conceito de
inexorabilidade, ou lei que rege
todas as coisas, e a concepção dessa
lei como processo cíclico universal,
que se completa no grande ano
cósmico, com o retorno periódico de
tudo; e
4)
A ideia do dualismo de corpo
mortal e alma imortal, da
preocupação com a vida eterna, do
julgamento dos mortos, que está
ligada ao desenvolvimento de
requisitos éticos de justiça e
perfeição moral.
Prossegue o desenvolvimento das
ideias relativas ao Universo como um
Todo. Esta pesquisa é tão válida e
excitante hoje, como na Antiguidade.
Diferentes idiomas modificam suas
expressões, assim como o fazem as
imagens, os recursos e os conceitos
de cada época, porém a motivação de
buscar uma compreensão mais ampla e
mais profunda do Universo é tão
ardente hoje, como no passado.
Trata-se, na verdade, da nossa
maneira de ser como místicos. Além
disso, o Homem está sempre
redescobrindo a ideia de que, para
que ele compreenda o Universo, é
necessário que conheça o universo do
seu próprio âmago. É impossível
compreendermos inteiramente algo que
não esteja integrado à nossa própria
estrutura, incorporado à nossa
natureza física, ou que não faça
parte dos nossos poderes subjectivos
de pensamento e correspondente
experiência.
Como corolário, pode dizer-se que o
Homem compreendeu desde as mais
remotas épocas, que o caminho para
se entender a si mesmo e ao
Universo, ao microcosmo e ao
macrocosmo, é um só: “Homem,
conhece-te a ti mesmo” –
inscrição esta que pode ler-se no
portal do Templo de Delfos, na
Grécia. Meditando sobre esta
profunda e perspicaz exortação,
tentando experienciá-la, e lendo o
livro da Natureza e o livro do
Sagrado Conhecimento Interior – de
acordo com a doutrina Panteísta (ou
Panteísmo) que diz que “Deus está
implícito em todas as coisas,
inclusive em nós mesmos, como seres
humanos” – pode o Homem evoluir,
de modo verdadeiramente integral,
científico e místico.
E como dizia o Poeta (anónimo) no
seu poema "DESIDERATA-I":
Tu és filho do Universo
irmão das estrelas e árvores
e nele tens teu lugar
E a despeito do que penses,
óbvia e inexoravelmente,
o Universo prossegue seu destino
E, finalizando, um poema meu, datado
de 1996, alusivo ao tema, e a que
chamei "EQUILÍBRIO"
Somos micro
universos
do Universo Maior...
E a nossa
separação
do Uno Universal
gera esta onda geral
de egoísmo e desamor
violência e frustração
Todos nós, buscando amor
buscamos a unidade
com a Divina Verdade.
Essa síntese procurada
sem a resposta encontrada
é nossa fonte de dor
nossa conflitualidade;
É como célula solta
que à toa, sem identidade
degenera e se revolta
Só quando compreendemos
em nosso saber disperso
a Lei do Sumo Universo
seu propósito e intenção...
Somos receptores plenos
da sua força regente
regrada e inteligente
que ruma à evolução
Só assim direccionados
de um novo código munidos
caminhamos reforçados
confiantes, instruídos.
Usamos sinais vermelhos
para excesso de velocidade
das vãs paixões dos sentidos
e travamos a vontade
de nossos defeitos velhos.
Orgulho, inveja, vaidade
têm sinais proibidos
Só quando compreendemos
em nosso saber disperso
a Lei do Sumo Universo...
A conviver aprendemos
com tristezas e alegrias
refreando euforias
dominando frustrações
superando duros factos;
e pesando as emoções
numa balança aferida
não deixando que um dos pratos
nos faça tombar na vida
Só quando compreendemos
em nosso saber disperso
a Lei do Sumo Universo...
Deixamos vibrar, serenos,
o Espírito e a Matéria
numa frequência certa.
Só assim alcançaremos
de alma leve e desperta
a Suprema Dimensão
Pura, Divina e Etérea!
Nota: Trabalho inspirado,
parcialmente, num artigo do Dr.
Cotrim Vasconcelos, Membro do
Conselho Internacional de Pesquisa
da ANTIGA E MÍSTICA ORDEM ROSACRUZ (AMORC),
Organização à qual a autora foi
afiliada de 1976/79.
13/01/2003
Carmo Vasconcelos
http://carmovasconcelos.spaces.live.com
ninita.casa@netcabo.pt