HISTÓRIA de P O R T U G A L

(Resumo)

 

 

 

2ª Dinastia

Chamada de:  Joanina ou de Avis

 

 

 

(BancoUltramar_de KaihsuTai)

 

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro

 

 

 
 

 

D. João l – (O de Boa Memória)

Reinou de 1385 a 1433

 

 

 

(1385-1485)

Rei de Portugal e do Algarve, e Senhor de Ceuta

 
Assim que D. João l subiu ao trono, nomeou D. Nuno Álvares Pereira para o alto cargo de Condestável do Reino, que quer dizer chefe supremo de todos os exércitos, e preparou-se para continuar a guerra com Castela.
Entretanto, um troço de castelhanos invadiu Portugal e, tendo passado por Almeida e Pinhel, chegou até Viseu. Um hoste disciplinada de Portugueses, comandada por Martim Vasques da Cunha e Gonçalo Coutinho, partiu do inimigo que foi completamente derrotado nas proximidades de Trancoso. Esta batalha ficou conhecida na história, por Trancoso.
João 1 de Castela, não se dando como vencido, resolveu invadir novamente Portugal com um poderoso exército, formado por 32 mil combatentes. Entrando pela Beira, e depois de ter subjugado os patriotas de algumas terras por onde passou, seguiu em direcção a Leiria. D. João l e D. Nuno, reunindo as suas melhores tropas, num total de pouco mais de 6 mil homens, no meio dos quais sobressaía a Ala dos Namorados (*) resolveram impedir o avanço dos castelhanos, para o que tomaram posições de combate nos campos de Aljubarrota.
(*) (a Ala dos Namorados, na qual seguiram Rui de Vasconcelos e Mem Rodrigues, era formada por estudantes da Universidade de Coimbra).
Os dois exércitos encontram-se no dia 14 de Agosto de 1385. Em face da grande diferença de número entre os combatentes, D. Nuno Álvares Pereira anima sua gente com palavras de conforto e patriotismo. Trava-se depois uma grande batalha (Aljubarrota) que terminou com derrota completa dos invasores. O rei de Castela, abandonou o campo mesmo antes de a luta terminar, fugindo a toda a pressa para Santarém e dali para Lisboa, onde embarcou para Sevilha. Portugal assegurou nesse dia memorável a sua independência – estava livre do perigo castelhano.
 


D. Filipa de Lencastre
(Mulher de D. João l)

 



Os Lusíadas – Canto IV

14 -  Nuno Álvares Pereira
     "Mas nunca foi que este erro se sentisse
     No forte Dom Nuno Alvares; mas antes,
     Posto que em seus irmãos tão claro o visse,
     Reprovando as vontades inconstantes, Aquelas duvidosas gentes disse,
     Com palavras mais duras que elegantes,
     A mão na espada, irado, e não facundo,
     Ameaçando a terra, o mar e o mundo:


   15 -  Fala de Nuno Álvares Pereira
     — "Como!  Da gente ilustre Portuguesa
     Há-de haver quem refuse o pátrio Marte?,
     Como!  Desta província, que princesa
     Foi das gentes na guerra em toda a parte,
     Há-de sair quem negue ter defesa?
     Quem negue a Fé, o amor, o esforço e arte
     De Português, e por nenhum respeito
     O próprio Reino queira ver sujeito?


    16
     —"Como!  Não seis vós inda os descendentes
     Daqueles, que debaixo da bandeira
     Do grande Henriques, feros e valentes,
     Vencestes esta gente tão guerreira?
     Quando tantas bandeiras, tantas gentes
     Puseram em fugida, de maneira
     Que sete ilustres Condes lhe trouxeram
     Presos, afora a presa que tiveram?


    17
     —"Com quem foram contino sopeados
     Estes, de quem o estais agora vós,
     Por Dinis e seu filho, sublimados,
     Senão co'os vossos fortes pais, e avôs?
     Pois se com seus descuidos, ou pecados,
     Fernando em tal fraqueza assim vos pôs,
     Torne-vos vossas forças o Rei novo:
     Se é certo que co'o Rei se muda o povo.


    18
     —"Rei tendes tal, que se o valor tiverdes
     Igual ao Rei que agora alevantastes,
     Desbaratareis tudo o que quiserdes,
     Quanto mais a quem já desbaratasses.
     E se com isto enfim vos não moverdes
     Do penetrante medo que tomastes,
     Atai as mãos a vosso vão receio,
     Que eu só resistirei ao jugo alheio.


    19
     —"Eu só com meus vassalos, e com esta
     (E dizendo isto arranca meia espada)
     Defenderei da força dura e infesta
     A terra nunca de outrem sojugada. 
     Em virtude do Rei, da pátria mesta,
     Da lealdade já por vós negada,
     Vencerei (não só estes adversários)
     Mas quantos a meu Rei forem contrários."—


    20
     Bem como entre os mancebos recolhidos
     Em Canúsio, relíquias sós de Canas,
     Já para se entregar quase movidos
     A fortuna das forças Africanas,
     Cornélio moço os faz que, compelidos
     Da sua espada, jurem que as Romanas
     Armas não deixarão, enquanto a vida
     Os não deixar, ou nelas for perdida:


    21 -  Preparativos de Guerra
     "Destarte a gente força e esforça Nuno,
     Que, com lhe ouvir as últimas razões,
     Removem o temor frio, importuno,
     Que gelados lhe tinha os corações.
     Nos animais cavalgam de Neptuno,
     Brandindo e volteando arremessões;
     Vão correndo e gritando a boca aberta:
     —"Viva o famoso Rei que nos liberta!"—


    22
     "Das gentes populares, uns aprovam
     A guerra com que a pátria se sustinha;
     Uns as armas alimpam e renovam,
     Que a ferrugem da paz gastadas tinha;
     Capacetes estofam, peitos provam,
     Arma-se cada um como convinha;
     Outros fazem vestidos de mil cores,
     Com letras e tenções de seus amores.


    23
     "Com toda esta lustrosa companhia
     Joane forte sai da fresca Abrantes,
     Abrantes, que também da fonte fria
     Do Tejo logra as águas abundantes.
     Os primeiros armígeros regia
     Quem para reger era os mui possantes
     Orientais exércitos, sem conto,
     Com que passava Xerxes o Helesponto.


    24 -  Ordem de batalha
     "Dom Nuno Alvares digo, verdadeiro
     Açoute de soberbos Castelhanos
     Como já o fero Huno o foi primeiro
     Para Franceses, para Italianos.
     Outro também famoso cavaleiro,
     Que a ala direita tem dos Lusitanos,
     Apto para mandá-los, e regê-los,
     Mem Rodrigues se diz de Vasconcelos.


    25
     "E da outra ala, que a esta corresponde,
     Antão Vasques de Almada é capitão,
     Que depois foi de Abranches nobre Conde,
     Das gentes vai regendo a sestra mão.
     Logo na retaguarda não se esconde
     Das quinas e castelos o pendão,
     Com Joane, Rei forte em toda parte,
     Que escurecendo o preço vai de Alarte.


    26
     "Estavam pelos muros, temerosas,
     E de um alegre medo quase frias,
     Rezando as mães, irmãs, damas e esposas,
     Prometendo jejuns e romarias.
     Já chegam as esquadras belicosas
     Defronte das amigas companhias,
     Que com grita grandíssima os recebem,
     E todas grande dúvida concebem.


    27
     "Respondem as trombetas mensageiras,
     Pífaros sibilantes e atambores;
     Alférezes volteam as bandeiras,
     Que variadas são de muitas cores.
     Era no seco tempo, que nas eiras
     Ceres o fruto deixa aos lavradores,
     Entra em Astreia o Sol, no mês de Agosto,
     Baco das uvas tira o doce mosto.


    28 -  Começa a batalha
     "Deu sinal a trombeta Castelhana,
     Horrendo, fero, ingente e temeroso;
     Ouviu-o o monte Artabro, e Guadiana
     Atrás tornou as ondas de medroso;
     Ouviu-o o Douro e a terra Transtagana;
     Correu ao mar o Tejo duvidoso;
     E as mães, que o som terríbil escutaram,
     Aos peitos os filhinhos apertaram.


    29
     "Quantos rostos ali se vêem sem cor,
     Que ao coração acode o sangue amigo!
     Que, nos perigos grandes, o temor
     É maior muitas vezes que o perigo;
     E se o não é, parece-o; que o furor
     De ofender ou vencer o duro amigo
     Faz não sentir que é perda grande e rara,
     Dos membros corporais, da vida cara.


    30 -  Proeza de Nuno Álvares Pereira
     "Começa-se a travar a incerta guerra;
     De ambas partes se move a primeira ala;
     Uns leva a defensão da própria terra,
     Outros as esperanças de ganhá-la;
     Logo o grande Pereira, em quem se encerra
     Todo o valor, primeiro se assinala:
     Derriba, e encontra, e a terra enfim semeia
     Dos que a tanto desejam, sendo alheia.


    31
     "Já pelo espesso ar os estridentes
     Farpões, setas e vários tiros voam;
     Debaixo dos pés duros dos ardentes
     Cavalos treme a terra, os vales soam;
     Espedaçam-se as lanças; e as frequentes
     Quedas coas duras armas, tudo atroam;
     Recrescem os amigos sobre a pouca
     Gente do fero Nuno, que os apouca.


    32
     "Eis ali seus irmãos contra ele vão,
     (Caso feio e cruel!) mas não se espanta,
     Que menos é querer matar o irmão,
     Quem contra o Rei e a Pátria se alevanta:
     Destes arrenegados muitos são
     No primeiro esquadrão, que se adianta
     Contra irmãos e parentes (caso estranho!)
     Quais nas guerras civis de Júlio e Magno.


    33 -  Sertório. Coriolano. Catilina.
     "Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano,
     Catilina, e vós outros dos antigos,
     Que contra vossas pátrias, com profano
     Coração, vos fizestes inimigos,
     Se lá no reino escuro de Sumano
     Receberdes gravíssimos castigos,
     Dizei-lhe que também dos Portugueses
     Alguns tredores houve algumas vezes.


    34
     "Rompem-se aqui dos nossos os primeiros,
     Tantos dos inimigos a eles vão!
     Está ali Nuno, qual pelos outeiros
     De Ceita está o fortíssimo leão,
     Que cercado se vê dos cavaleiros
     Que os campos vão correr de Tetuão:
     Perseguem-no com as lanças, e ele iroso,
     Torvado um pouco está, mas não medroso.


    35
     "Com torva vista os vê, mas a natura
     Ferina e a ira não lhe compadecem
     Que as costas dê, mas antes na espessura
     Das lanças se arremessa, que recrescem.
     Tal está o cavaleiro, que a verdura
     Tinge co'o sangue alheio; ali perecem
     Alguns dos seus, que o ânimo valente
     Perde a virtude contra tanta gente.


    36 -  Dom João I
     "Sentiu Joane a afronta que passava
     Nuno, que, como sábio capitão,
     Tudo corria e via, e a todos dava,
     Com presença e palavras, coração.
     Qual parida leoa, fera e brava,
     Que os filhos que no ninho sós estão,
     Sentiu que, enquanto pasto lhe buscara,
     O pastor de Massília lhos furtara;


    37
     "Corre raivosa, e freme, e com bramidos
     Os montes Sete Irmãos atroa e abala:
     Tal Joane, com outros escolhidos
     Dos seus, correndo acode à primeira ala:
     —"Ó fortes companheiros, ó subidos
     Cavaleiros, a quem nenhum se iguala,
     Defendei vossas terras, que a esperança
     Da liberdade está na vossa lança.


    38
     —"Vedes-me aqui, Rei vosso, e companheiro,
     Que entre as lanças, e setas, e os arneses
     Dos inimigos corro e vou primeiro:
     Pelejai, verdadeiros Portugueses!"—
     Isto disse o magnânimo guerreiro,
     E, sopesando a lança quatro vezes,
     Com força tira; e, deste único tiro,
     Muitos lançaram o último suspiro.


    39
     "Porque eis os seus acesos novamente
     Duma nobre vergonha e honroso fogo,
     Sobre qual mais com ânimo valente
     Perigos vencerá do Márcio jogo,
     Porfiam: tinge o ferro o sangue ardente;
     Rompem malhas primeiro, e peitos logo:
     Assim recebem junto e dão feridas,
     Como a quem já não dói perder as vidas.


    40 -  Perdas Castelhanas
     "A muitos mandam ver o Estígio lago,
     Em cujo corpo a morte e o ferro entrava:
     O Mestre morre ali de Santiago,
     Que fortissimamente pelejava;
     Morre também, fazendo grande estrago,
     Outro Mestre cruel de Calatrava;
     Os Pereiras também arrenegados
     Morrem, arrenegando o Céu e os fados.


    41
     "Muitos também do vulgo vil sem nome
     Vão, e também dos nobres, ao profundo,
     Onde o trifauce Cão perpétua fome
     Tem das almas que passam deste mundo.
     E porque mais aqui se amanse e dome
     A soberba do amigo furibundo,
     A sublime bandeira Castelhana
     Foi derribada aos pés da Lusitana.


    42 -  Desbarato do rei de Castela
     "Aqui a fera batalha se encruece
     Com mortes, gritos, sangue e cutiladas;
     A multidão da gente que perece
     Tem as flores da própria cor mudadas;
     Já as costas dão e as vidas; já falece
     O furor e sobejam as lançadas;
     Já de Castela o Rei desbaratado
     Se vê, e de seu propósito mudado.


    43
     "O campo vai deixando ao vencedor,
     Contente de lhe não deixar a vida.
     Seguem-no os que ficaram, e o temor
     Lhe dá, não pés, mas asas à fugida.
     Encobrem no profundo peito a dor
     Da morte, da fazenda despendida,
     Da mágoa, da desonra, e triste nojo
     De ver outrem triunfar de seu despojo.


    44
     "Alguns vão maldizendo e blasfemando
     Do primeiro que guerra fez no mundo;
     Outros a sede dura vão culpando
     Do peito cobiçoso e sitibundo,
     Que, por tomar o alheio, o miserando
     Povo aventura às penas do profundo,
     Deixando tantas mães, tantas esposas
     Sem filhos, sem maridos, desditosas.


    45 -  Pasa Nuno Álvares ao Alentejo e Andaluzia
     "O vencedor Joane esteve os dias
     Costumados no campo, em grande glória;
     Com ofertas depois, e romarias,
     As graças deu a quem lhe deu vitória.
     Mas Nuno, que não quer por outras vias
     Entre as gentes deixar de si memória
     Senão por armas sempre soberanas,
     Para as terras se passa Transtaganas.


    46
     "Ajuda-o seu destino de maneira
     Que fez igual o efeito ao pensamento,
     Porque a terra dos Vândalos fronteira
     Lhe concede o despojo e o vencimento.
     Já de Sevilha a Bética bandeira
     E de vários senhores num momento
     Se lhe derriba aos pés, sem ter defesa
     Obrigados da força Portuguesa.


    47 -  Pazes
     "Destas e outras vitórias longamente
     Eram os Castelhanos oprimidos,
     Quando a paz, desejada já da gente,
     Deram os vencedores aos vencidos,
     Depois que quis o Padre omnipotente
     Dar os Reis inimigos por maridos
     As duas ilustríssimas Inglesas,
     Gentis, formosas, ínclitas princesas.
 

Após a Batalha de Aljubarrota, era altura de D. Nuno passar à ofensiva. Saindo de Estremoz com um reduzido exército, invadiu o reino de Castela pela fronteira de Badajoz e derrotou mais uma vez os castelhanos na batalha de Valverde, em Outubro de 1385.
As hostilidades com Castela, continuaram ainda durante alguns anos. O rei de Castela, porém, sentindo-se cada vez mais enfraquecido, propôs a paz, que só veio a assinar-se em 1411. Assim terminou a Guerra da Independência, que durara 27 anos.
A nossa aliança com a Inglaterra, estabelecida em 1373, por D. Fernando l, foi confirmada e reforçada por D. João l, em 1386, pelo Tratado de Windson. Devido a este novo tratado de aliança e amizade, ficou combinado o casamento do rei de Portugal com D. Filipa de Lencastre, filha do duque de Lencastre, casamento que se efectuou em 1387. A rainha D. Filipa foi um perfeito modelo de raras virtudes, tendo contribuído muito para o brilho e felicidade da Corte Portuguesa e esmerada educação de seus filhos, que, por seus grandes feitos, vieram a tornar-se todos célebres: D. Duarte, que sucedeu a seu pai e foi um bom rei e distinto escritor; D. Pedro, que se revelou um grande estadista pelo seu bom governo durante a menoridade de seu sobrinho D. Afonso V; D. Henrique, que fundou a Escola Náutica de Sagres e foi o iniciador dos nossos descobrimentos marítimos; e D. Fernando, a quem chamam “santo”, pelos martírios que padeceu em Fez (Marrocos).
D. João l casou um filho natural, D. Afonso, com D. Beatriz, filha única de D. Nuno Álvares Pereira, tendo então os cônjuges recebido o condado de Barcelos, em 1401.
Ao mesmo D. Afonso, foi dado mais tarde o título de Duque de Bragança, Casa reinante na futura 4ª Dinastia.
“De união anterior ao casamento, com uma Inês Pires teve dois filhos, D. Afonso (1380-1461), que foi 8º conde de Barcelos e 1º Duque de Bragança, e D. Beatriz (1382-1439). 
Inês Pires: Amante do Mestre de Avis e depois D. João I, era filha de Pêro Esteves e de Maria Anes e natural de Veiros, segundo uns, ou  ou de Portel, segundo outros.  
Dos amores com o Mestre de Avis nasceu D. Afonso, que depois casou com D. Beatriz filha de D. Nuno Álvares Pereira . D. Afonso foi o 1º Duque de Bragança. Daqui procede a casa de Bragança. Inês Pires foi depois comendadeira de Santos. Dizem os cronistas que Pêro Esteves, sapateiro judeu, desgostoso com os amores da filha nunca mais cortou as barbas e daí o povo o alcunhou de "Barbadão". 
Diz ainda a tradição que Pêro Esteves concebeu um plano para matar o Mestre de Avis, desistindo do intento por saber que D. João I era o primeiro a respeitar o seu desgosto”.

Portugal sentia necessidade de expandir-se. Os filhos mais velhos de D. João l, D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique, querendo mostrar o seu valor militar, resolveram continuar a luta com os mouros, em África. Por isso, lembraram ao pai a conquista de Ceuta, cidade muçulmana, rica e importante, ao norte daquele continente. Uma esquadra de cerca de 200 navios, levando a bordo a melhor gente de Portugal, e em que seguiram o próprio rei, aqueles seus três filhos e o valoroso Condestável D. Nuno, largou do Tejo no dia 25 de Julho de 1415. No dia 21 de Agosto do referido ano estava às portas de Ceuta. Nesse mesmo dia procedeu-se ao desembarque, e a praça foi tomada de assalto, muito se tendo distinguido na luta os infantes Duarte, Pedro e Henrique, que ali foram armados cavaleiros.
“A conquista de Ceuta foi preparada com a antecedência necessária, durante alguns anos em que se recolheram várias informações sobre a cidade. Era rica e formosa. O Infante D. Henrique, natural do Porto, organiza nesta cidade, uma esquadra que se irá juntar à do pai, D. João I que em 1415, comandou uma expedição com 200 navios levando 19 000 combatentes e 1700 marinheiros que o levou à conquista de Ceuta”.
O Infante D. Henrique, depois de voltar de Ceuta, sempre dominado pelo sentimento patriótico de descobrir e tomar novas terras, abandonou a Corte e retirou-se para Sagres, onde fundou uma escola náutica. Aí aprenderam os marinheiros portugueses a arte de navegar. Foi esta escola, mantida à custa dos próprios rendimentos do Infante, que originou a Epopeia Marítima dos nossos descobrimentos.
“Como pôde um pequeno país, com menos de dois milhões de habitantes, realizar a Epopeia dos Descobrimentos por “Mares Nunca Dantes Navegados”?
            Portugal foi o pioneiro dos descobrimentos empreendidos pela Europa cristã nos séculos XV e XVI, seguido pela Espanha e depois por outras Nações.
            Até fins do século XIV, além da Europa cristã, o conhecimento máximo do Planeta correspondia a cerca de 1/4 de toda a Terra e encontrava-se grosso modo na posse da civilização islâmica. Ao longo do século XVI, o conhecimento do orbe terrestre aproxima-se da sua totalidade e passa a ser influenciado decisivamente pela Europa cristã.
            Essa Epopeia começa com a conquista de Ceuta, na África,  em 1415. Depois vem a exploração das ilhas da Madeira e dos Açores, nas décadas de 20 e 30. Segue-se o reconhecimento da costa africana, em 1434, tendo sido ultrapassado o Cabo Bojador, atingindo-se o extremo sul do Continente pelo Cabo da Boa Esperança, em 1487. Logo depois foi aberta a rota das Índias, em 1497, por Vasco da Gama.
            O primeiro empreendimento espanhol data de 1492, com Cristóvão Colombo, a serviço dos Reis Católicos. A expansão efectuada por outros povos europeus é bastante posterior. As primeiras iniciativas relevantes de franceses e ingleses surgem apenas nos anos 30 do século XVI”.

Sob a direcção do Infante D. Henrique, foram lançadas à água as primeiras caravelas que partiram a desfazer as lendas do Mar Tenebroso, em busca de terras desconhecidas.
Assim, em 1418, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, cavaleiros da Casa do Infante, descobriram a Ilha do Porto Santo.
No ano seguinte, os mesmos, acompanhados por Bartolomeu Perestrelo, voltaram a Porto Santo e depararam com outra ilha a que deram a nome de Madeira. Por volta de 1431, Gonçalo Velho Cabral chegou à Ilha de Santa Maria (Açores).
Uma medida importante tomada por D. João l, foi a de determinar que a Era de César, pela qual na Península Ibérica se contavam os anos, fosse substituída pela Era de Cristo. Ao ano de 1460 da Era de César, em que tal medida foi outorgada, correspondia o ano de 1422 da Era Cristã, 38 anos mais moderna do que aquela.
Neste reinado começou a ser construído o Mosteiro da Batalha em evocação à Batalha de Aljubarrota. Neste mosteiro encontram-se os restos mortais de D. João l, sua esposa e seus filhos, na Sala da Ínclita Geração.
“A Ínclita Geração
É o nome dado por historiadores portugueses aos filhos do rei João I de Portugal e de Filipa de Lencastre. O epíteto refere-se ao valor individual destes príncipes que, de várias formas, marcaram a História de Portugal e da Europa. Eles foram:
Duarte, Rei de Portugal (1391-1438)
Pedro, Duque de Coimbra (1392-1449, morto na Batalha de Alfarrobeira, foi regente de Afonso V, seu sobrinho; considerado o príncipe mais culto da sua época
Henrique, Duque de Viseu (1394-1460), o grande impulsionador dos Descobrimentos portugueses
Isabel de Portugal (1397-1471), casada com Filipe III, Duque da Borgonha, actuou em nome do marido em vários encontros diplomáticos e é considerada como a verdadeira governante da Borgonha no seu tempo
João, Infante de Portugal (1400-1442), condestável de Portugal e avô da rainha Isabel de Castela e do rei Manuel I de Portugal
Fernando, o Infante Santo (1402-1433), morre no cativeiro em Fez, depois de recusar entregar Ceuta em troca da sua própria liberdade.”


Morte de Dom João I
     "Não consentiu a morte tantos anos
     Que de Herói tão ditoso se lograsse
     Portugal, mas os coros soberanos
     Do Céu supremo quis que povoasse.
     Mas para defensão dos Lusitanos
     Deixou, quem o levou quem governasse,
     E aumentasse a terra mais que dantes,
     Inclita geração, altos Infantes.
(Canto lV de Os Lusíadas 50)
 

D. Nuno Álvares Pereira

 



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Nuno Álvares Pereira nasceu na vila de Cernache do Bonjardim, concelho da Sertã. Foi filho de Álvaro Gonçalves Pereira e de Iria Gonçalves do Carvalhal.
Casou com Leonor de Alvim em, em 1377 em Vila Nova da Rainha, freguesia do concelho de Azambuja. Quando o rei Fernando de Portugal morreu em 1383, sem herdeiros a não ser a princesa Beatriz casada com o rei João I de Castela, Nuno foi um dos primeiros nobres a apoiar as pretensões de João, o Mestre de Avis à coroa. Apesar de ser filho ilegítimo de Pedro I de Portugal, João afigurava-se como uma hipótese preferível à perda de independência para os castelhanos. Depois da primeira vitória de Álvares Pereira frente aos castelhanos na batalha dos Atoleiros em Abril de 1384, João de Avis nomeia-o Condestável de Portugal e Conde de Ourém.
A 6 de Abril de 1385, João é reconhecido pelas cortes reunidas em Coimbra como Rei de Portugal. Esta posição de força portuguesa desencadeia uma resposta à altura em Castela. João de Castela invade Portugal com vista a proteger os interesses de sua mulher Beatriz. Álvares Pereira toma o controlo da situação no terreno e inicia uma série de cercos a cidades leais a Castela, localizadas principalmente no Norte do país. A 14 de Agosto, Álvares Pereira mostra o seu génio militar ao vencer a batalha de Aljubarrota à frente de um pequeno exército de 6,000 portugueses e aliados ingleses, contra as 30,000 tropas castelhanas. A batalha viria a ser decisiva no fim da instabilidade política de 1383-1385 e na consolidação da independência portuguesa. Finda a ameaça castelhana, Nuno Álvares Pereira permaneceu como condestável do reino e tornou-se Conde de Arraiolos e Barcelos. Entre 1385 e 1390, ano da morte de João de Castela, dedicou-se a realizar raides contra a fronteira de Castela, com o objectivo de manter a pressão e dissuadir o país vizinho de novos ataques.
Do seu casamento com Leonor de Alvim, o Condestável teve apenas uma filha, Beatriz Pereira de Alvim, que se tornou mulher de Afonso, o primeiro Duque de Bragança, sendo assim um dos antepassados da actual casa real portuguesa. Lembrado como um dos melhores generais portugueses, abraça, nos últimos anos, a vida religiosa carmelita.

NUN' ÁLVARES PEREIRA - Fernando Pessoa, Mensagem (1934)


Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.
 
Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.
 
'Sperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!


Batalha de Aljubarrota - 14 de Agosto de 1385

 

 

Aljubarrota, talvez a mais importante batalha entre os exércitos português e o castelhano, foi travada no dia 14 de Agosto de 1385, no chamado planalto cumeira de Aljubarrota, que fica a cerca de 10 Km da localidade do mesmo nome. O exército português era comandado por D. João 1º de Portugal e o espanhol por João 1º de Castela (na altura, Espanha era formada por vários condados). Esta batalha marcou o fim de diversas tentativas feitas pelo rei de Castela para dominar Portugal, após a morte de D. Fernando 1º.
As tropas invasoras tentaram manobrar de forma a evitar o confronto com as tropas portuguesas, o que não conseguiram, acabando por ter de bater-se. O local havia sido escolhido pelos portugueses devido à sua situação, que oferecia vantajosas condições defensivas, condições essas ainda aumentadas por outras defesas feitas pelos portugueses, como fossos e paliçadas.
Tudo isso contribuiu para que o exército inimigo, muito superior em número, fosse completamente derrotado, no espaço de algumas horas.
As invasões espanholas, começaram na Batalha de Trancoso, quando um troço de castelhanos invadiu Portugal e, tendo passado por Almeida e Pinhel, chegou até Viseu. Uma hoste disciplinada de portugueses, comandada por Martim Vasques da Cunha e Gonçalo Coutinho, partiu ao encontro do inimigo que foi completamente derrotado nas proximidades de Trancoso.
Então, deu-se a Batalha de Aljubarrota, pois o rei de Castela, a quem a sorte de armas tinha corrido desfavorável, resolveu invadir novamente Portugal, com um poderoso exército, formado por cerca de 32 mil homens. Entrando pela Beira, foi conquistado algumas terras por onde passou, seguindo sempre na direcção de Leiria.
Às dez horas da manhã do dia 14 de Agosto de 1385, encontraram-se frente a frente, os exércitos português e castelhano, formando em linha de batalha. O exército português era formado na vanguarda por 1.700 lanças, 800 besteiros e 4.000 infantes sob o comando do Condestável Nuno Alvares Pereira, e na retaguarda por 700 lanças e 300 besteiros sob o comando de D. João I. O exército castelhano era formado por 5.000 lanças francesas e doutras nações, 2.000 ginetes, 8.000 besteiros e 15.000 infantes com apoio de artilharia, sob o comando do Rei de Castela. Depois de três quartos de hora de renhido combate, onde de parte a parte se feriram sem dó, a vitória declarou-se a favor dos portugueses, tendo o Rei de Castela fugido. Ficou esta grande batalha, memorável pelo grande feito das forças portuguesas em desvantagem de homens e armamento. Em comemoração da Batalha de Aljubarrota, edificou D. João I o Convento de Santa Maria da Vitória na Batalha, e D. Nuno Alvares Pereira o Convento do Carmo em Lisboa. 
D. João 1º e D. Nuno Álvares Pereira, reunindo as suas melhores tropas, num total de um pouco mais de 6 mil homens, onde se encontra a famosa Ala dos Namorados, formada por estudantes da Universidade de Coimbra, comandados Rui de Vasconcelos e Mem Martins, resolveram impedir o avanço dos Castelhanos, para o que tomaram posições de combate nos campos de Aljubarrota. Os dois exércitos encontraram-se no dia 14 de Agosto de 1385. Em face da grande diferença de número entre os combatentes, o Condestável do Reino, D. Nuno Álvares Pereira anima a sua gente com palavras de conforto e patriotismo, repassadas de fé em Deus e na Virgem. Trava-se depois uma grande Batalha, que terminou pela derrota completa dos invasores. O rei de Castela, abandonando o campo mesmo antes de a luta terminar, fugiu a toda a pressa para Santarém e dali para Lisboa, onde embarcou para Sevilha (Andaluzia – Sul de Espanha).
Após a Batalha de Aljubarrota, D. Nuno Álvares Pereira, passou à ofensiva. Saindo de Extremoz com um reduzido exército, invadiu o reino de Castela pela fronteira de Badajoz e derrotou mais uma vez os castelhanos, em Outubro de 1385, na Batalha de Valverde.
Apesar de estar absolutamente garantida a independência do Reino de Portugal com as continuas derrotas infligidas aos castelhanos, as hostilidades continuaram ainda durante alguns anos. O rei de Castela, porém, sentindo-se cada vez mais enfraquecido, propôs a paz, que só veio a assinar-se em 1411. Assim, terminou a Guerra da Independência, que durara 27 anos.
Durante este período, a forma de governo foi monarquia hereditária, sob o regime absoluto. As três classes ainda se mantiveram, ou seja: clero, nobreza e povo. Embora a Santa Fé, como Beneplácito régio, tivesse perdido parte da sua da sua preponderância, o clero continuou a gozar de muita consideração e influência. A nobreza perdeu grande parte do seu prestígio e poderios antigos. O povo, desde de D. João 1º até D. João 2º, cresceu na estima e importância, tendo defendido em cortes, muitas vezes convocadas, os seus direitos.
No fim do século XIV, a Europa encontrava-se a braços com uma época de crise e revolução. A Guerra dos Cem Anos devastava a França, epidemias de peste negra levavam vidas em todo o continente, a instabilidade política dominava e Portugal não era excepção.
Em 1383, el-rei D. Fernando 1º morreu sem um filho varão que herdasse a coroa. A sua única filha era a infanta D. Beatriz, casada com o rei D. João de Castela. A burguesia mostrava-se insatisfeita com a regência da Rainha D. Leonor Teles e do seu favorito, o conde Andeiro e com a ordem da sucessão, uma vez que isso significaria anexação de Portugal por Castela. As gentes alvoroçaram-se em Lisboa, o conde Andeiro foi morto e o povo pediu ao mestre de Avis, filho natural de D. Pedro 1º de Portugal, que ficasse por regedor e defensor do Reino.
O período de interregno que se seguiu ficou conhecido como crise de 1383-1385. Finalmente a 6 de Abril de 1385, D. João, mestre da Ordem de Avis, é aclamado rei pelas cortes reunidas em Coimbra, mas o rei de Castela não desistiu do direito à coroa de Portugal, que entendia advir-lhe do casamento. Em Junho invade Portugal à frente da totalidade do seu exército e auxiliado por um contingente de cavalaria francesa.
Quando as notícias da invasão chegaram, João 1º encontrava-se em Tomar na companhia de D. Nuno Álvares Pereira, o Condestável do reino, e do seu exército. A decisão tomada depois de alguma hesitação foi a de enfrentar os castelhanos antes que pudessem levantar novo cerco a Lisboa. Com os aliados ingleses, o exército português intersectou os invasores perto de Leiria. Dada a lentidão com que os castelhanos avançavam, D. Nuno Álvares Pereira teve tempo para escolher o terreno favorável para a batalha, assistido pelos experientes ingleses. A opção recaiu sobre uma pequena colina de topo plano rodeada por ribeiros, perto de Aljubarrota. Pelas dez horas da manhã do dia 14 de Agosto, o exército tomou a sua posição na vertente norte desta colina, de frente para a estrada por onde os castelhanos eram esperados. Seguindo o mesmo plano de outras batalhas do século XIV (Crécy e Poitiers são bons exemplos), as disposições portuguesas foram as seguintes: cavalaria desmontada e infantaria no centro da linha, rodeadas pelos flancos de archeiros ingleses, protegidos por obstáculos naturais (neste caso ribeiros). Na retaguarda, aguardavam os reforços comandados por D. João 1º de Portugal em pessoa. Desta posição altamente defensiva, os portugueses observaram a chegada do exército castelhano protegidos pela vertente da colina.
A vanguarda do exército de Castela chegou ao teatro da batalha pela hora do almoço, sob o Sol escaldante de Agosto. Ao ver a posição defensiva ocupada por aquilo que considerava os rebeldes, o rei de Castela tomou a acertada decisão de evitar o combate nestes termos. Lentamente, devido aos 30 mil soldados que constituíam o seu efectivo, o exército castelhano começou a contornar a colina pela estrada a nascente. As patrulhas castelhanas tinham verificado que a vertente Sul da colina tinha um desnível mais suave e era por aí que pretendiam atacar.
Em resposta a este movimento, o exército português inverteu a sua disposição e dirigiu-se à vertente Sul da colina. Uma vez que era muito menos numeroso e tinha um percurso mais pequeno pela frente, o contingente português atingiu a sua posição final ao início da tarde. Para evitar o nervosismo dos soldados e manter a moral elevada, D. Nuno Álvares Pereira ordenou a construção de um conjunto de trincheiras e covas de lobo em frente à linha de infantaria. Esta táctica defensiva, muito típica dos exércitos ingleses, foi talvez uma sugestão dos aliados britânicos presentes no terreno.
Pelas seis da tarde, os castelhanos estão prontos para a batalha. De acordo com o registo escrito por el-rei de Castela depois da batalha, os seus soldados estavam bastante cansados do dia de marcha em condições de muito calor. Mas não havia tempo para voltar atrás e a batalha começou.
A iniciativa de começar a batalha partiu de Castela, com uma típica carga da cavalaria francesa: a toda a brida e em força, de forma a romper a linha de infantaria adversária. Mas tal como sucedeu na batalha de Crécy, os archeiros colocados nos flancos e o sistema de trincheiras fizeram a maior parte do trabalho. Muito antes de sequer entrar em contacto com a infantaria portuguesa, já a cavalaria se encontrava desorganizada e confusa, dado o medo dos cavalos em progredir em terreno irregular e à eficácia da chuva de flechas que sobre eles caía. As baixas da cavalaria foram pesadas e o efeito do ataque nulo. A retaguarda castelhana demorou em prestar auxílio e em consequência, os cavaleiros que não morreram foram feitos prisioneiros pelos portugueses.
Depois deste percalço, a restante e mais substancial parte do exército castelhano entrou na contenda. A sua linha era bastante extensa, pelo elevado número de soldados. Ao avançar em direcção aos portugueses, os castelhanos foram forçados a desorganizar as suas próprias fileiras, de modo a caber no espaço situado entre os ribeiros. Enquanto os castelhanos se desorganizavam, os portugueses redispuseram as suas forças dividindo a vanguarda de D. Nuno Álvares em dois sectores, de modo a enfrentar a nova ameaça. Vendo que o pior ainda estava para chegar, D. João 1º de Portugal ordenou a retirada dos archeiros ingleses e o avanço da retaguarda através do espaço aberto na linha da frente. Foi então que os portugueses necessitaram chamar todos os homens ao combate e tomaram a decisão de executar os prisioneiros franceses.
Esmagados entre os flancos portugueses e a retaguarda avançada, os castelhanos lutaram desesperadamente por uma vitória. Nesta fase da batalha, as baixas foram pesadas para ambos os lados, principalmente no lado de Castela e no flanco esquerdo português, recordado com o nome Ala dos Namorados. Ao pôr-do-sol a posição castelhana era já indefensável e com o dia perdido, D. João de Castela ordenou a retirada. Os castelhanos debandaram desordenados do campo de batalha. Soldados e povo das redondezas seguiam no seu encalço e não hesitavam em matar os fugitivos.
Da perseguição popular surgiu uma tradição portuguesa em torno da batalha: uma mulher, de seu nome Brites de Almeida (*), recordada como a Padeira de Aljubarrota, muito forte alta e com seis dedos em cada mão, emboscou e matou pelas próprias mãos muitos castelhanos em fuga. Esta história é apenas uma lenda popular, mas o massacre que se segui à batalha é histórico.
Na manhã de 15 de Agosto, a catástrofe sofrida pelos castelhanos ficou bem à vista: os cadáveres eram tantos que chegaram para barrar o curso dos ribeiros que flanqueavam a colina. Para além de soldados, morreram também muitos fidalgos castelhanos, o que causou luto em Castela até 1387. A cavalaria francesa sofreu em Aljubarrota mais uma derrota contra tácticas defensivas de infantaria, depois de Crécy e Poitiers. A batalha de Azincourt, já no século XV, mostrou que Aljubarrota não foi o último exemplo.
Com esta vitória, D. João 1º tornou-se no rei incontestado de Portugal, o primeiro da dinastia de Avis. Para celebrar a vitória e agradecer o auxílio divino que acreditava ter recebido, D. João I mandou erigir o Mosteiro de Santa Maria da Vitória e fundar a vila da Batalha.
Fontes Consultadas:
A. H. de Oliveira Marques, História de Portugal, vol. 1, Lisboa, Presença, 1997
Fernão Lopes, Crónica de D. João I, vol. 1, s.l., Civilização, imp. 1994.
João Gouveia Monteiro, Aljubarrota: 1385: a batalha real, Lisboa, Tribuna da História.
(*) - A Lenda de Brites de Almeida - a Padeira de Aljubarrota
 A Padeira de Aljubarrota é uma das personagens mais curiosas ligadas à famosa Batalha de Aljubarrota (século XIV), onde, mais uma vez, os portugueses venceram os castelhanos.
Não se pode afirmar com certeza que esta pessoa tenha existido, nem sequer que a história que se conta acerca dela seja verdade, mas ela vai estar sempre ligada à Batalha!
Uma coisa é certa: existiu alguém, de nome Brites de Almeida, que foi padeira naquela terra. E parece que era tão corajosa como a da lenda.
Brites de Almeida nasceu em meados do século XIV em Santa Maria de Faaron (hoje conhecida como Faro) e os seus pais eram gente muito humilde.
Conta-se que quando era pequena já era alta, muito forte e musculada. E como era meio «Maria rapaz», gostava de resolver tudo com a ajuda dos punhos.
Parece que quando tinha 20 anos os pais morreram e ela usou o pouco dinheiro que eles lhe deixaram para aprender a usar uma espada (só os homens nobres é que o faziam!).
Então, para ganhar dinheiro, começou a usar os seus conhecimentos em feiras, onde fazia combates contra homens.
Ora esta história chamou a atenção de um soldado que a desafiou: se o soldado ganhasse, Brites casava com ele. Se perdesse, ela matava-o. O que acabou por acontecer...
O problema é que matar (um soldado) é crime, mesmo nessa época. Por isso Brites fugiu. Roubou um bote com o objectivo de ir para Espanha, mas um grupo de piratas raptou-a e levou-a para Argel (na Argélia), onde a vendeu a um árabe rico.
No entanto, a «nossa Brites» não era pessoa para ficar presa. Passado um ano convence outros dois escravos portugueses a fugir para Portugal.
 Disfarçou-se de homem e seguiu para Torres Vedras, onde comprou dois machos e se transformou em almocreve (quem aluga e conduz bestas de carga).
Mesmo assim, os sarilhos não a largaram e, depois de se envolver em várias lutas e provocar algumas mortes na zona de Lisboa, Brites apanhou um barco para Valada, de onde, já vestida de mulher, acabou por ir parar a Aljubarrota.
Para sobreviver, já cansada e sem maneira de ganhar dinheiro, começou a pedir esmola à porta de um forno, o que chamou a atenção da padeira, já idosa, que reparou que Brites era uma mulher forte e que a podia ajudar. Assim, começou a carreira de Brites como padeira. Um dia, já depois da velha padeira ter morrido e já sendo Brites a dona do negócio, deu-se uma grande batalha em Aljubarrota.
Como a maioria do povo português, ela também estava do lado de D. João, Mestre de Avis, e não queria os espanhóis a governar Portugal. Conta a lenda que, depois de Nuno Álvares Pereira vencer os espanhóis nessa batalha, Brites chefiou um grupo de populares que perseguiram os espanhóis em fuga.
Nessa noite de 14 de Agosto de 1385, ao regressar, a padeira chegou a casa e encontrou sete espanhóis escondidos no forno onde costumava cozer o pão.
Sem hesitar, pegou na pá de levar o pão ao forno e bateu-lhes até os matar, um a um, à medida que saíam do forno.
Várias versões desta lenda aumentam o número de castelhanos e também o número de crueldades que a padeira lhes fez...
Nós preferimos a versão mais simples em que, mesmo assim, a Padeira de Aljubarrota faz parte da História de Portugal, nunca mais sendo esquecida.
Claro que a sua história não acaba na época da Batalha. Parece que quando fez 40 anos se casou com um lavrador rico que a admirava muito e chegou a ter filhos.

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande - Portugal