DOCE MENTE
Dermeval Pereira
Neves
Oh! Mente que docemente mente ao meu coração...
O tempo passa... e a cada hora mais vazia fica minha
alma...
Oh! Doce Mente, porque você não vem de mansinho,
chega bem dentro de mim e arranca do meu peito esta
solidão???... Mata essas lembranças de amores
perdidos que me torturam e me tiram a razão???...
Por horas a fio medito e tristemente lamento... Por
que tanto sofrer e chorar???...
Oh! Doce Mente! Como me enganas!
Faz-me crer que tudo vai voltar, que novamente feliz
vou ficar!
E eu... tolo e inconsciente, em loucura total, ainda
espero...
Perdido nesse estranho ninho de loucos, ladeado por
alguns Cristos e muitos Napoleões...
Neste hospício cheio de pobre gente rica que tudo
tem e... nada... em vão... no profundo mar da
escuridão...
A vida escorrega lentamente pelos sábios dedos do
Tempo...
O chão de minha cela almofadada se enche de
quadrados...
Lá fora, na fria noite calma, cheia de lampejos, a
alva lua com sua beleza nua, os prados e minha grade
prateia...
Lentamente, uma pequenina esvoaçante luz invade meu
covil...
E eu a vejo... atordoado, meio ofuscado na
penumbra...
Em meu torpor, demoro a reconhecer o que é...
e pouco a pouco um sorriso desvairado invade minha
face...
lembranças felizes de minha infância...
papai, mamãe, vovô, vovó...
folguedos de criança...
brincadeiras sem fim...
a eterna espera por Papai Noel...
É Vida!.... Vejo Vida enfim!...
Eu não morri!... Eu não sou louco!...
Estão todos enganados!... Eu sei quem eu sou!... Eu
sou EU!...
Os volteios do pequeno vaga-lume enchem o ar de
rabiscos foscos, esverdeados, oscilantes... cada vez
mais perto... cada vez mais perto...
levanto a mão trêmula em busca da luz...
busco a vida e encontro a vida que dança e lampeja
no vazio...
Por horas a fio, novamente volto a meditar... a
pensar... a olhar...
e com carinho, na mão semi-aberta segurando a vida,
vejo a vida iluminar...
a manhã clareia... o sol se acende... a consciência
renasce...
porque minha mente docemente... já não mais mente ao
meu coração...
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