Fim de tarde. Lá
fora, a água cai
torrencialmente. Em meu
peito, tristeza e dor. De
meus olhos chovem
desencantos e nostalgia. Os
ruídos da chuva e os das
lágrimas se confundem, um
misto de melancolia e
solidão. Em meu peito, uma
energia estranha, sufocante
e forte. Acredito ser partes
de minhas inquietações que,
após algum tempo reprimidas
e sufocadas, rompem suas
represas e se aventuram por
caminhos entremeados por
medos e por incertezas. O
momento é de muita ansiedade
e de busca. Corro atrás de
uma verdade que não sei
identificar e tão pouco
explicar.
Não há expectadores,
apenas eu e meu desconforto
emocional repentino. Embora
com os olhos lacrimejantes,
amedrontada e apreensiva,
procuro arrancar de mim este
mau estar. A vida é efêmera,
complexa e frágil. As minhas
sensações e emoções estão
desordenadas. Não é possível
entendê-las e, contrapondo
os conflitos de minh’alma,
está o Criador a regar a
natureza e a semear a
esperança de dias vindouros.
O que está acontecendo? Não
estou sabendo lidar com os
diferentes núcleos das
minhas emoções.
Uau! Que trovoada
estridente! Chuva, lágrimas,
relâmpagos... De repente,
como nos contos de fadas, o
cenário se transforma.
Desaparece a melancolia e
surge uma alegria contida de
menina sedenta de afeto e de
carinho.
Com serenidade e
com calma, olho
distraidamente para o
infinito e, num curto
espaço, vejo-me a brincar na
chuva quando garotinha.
Levanto-me do sofá e vou à
porta que dá para o pátio.
Paro e olho para o céu
carregado de nuvens negras e
deixo-me envolver pela chuva
que cai. Neste momento,
lembranças e vivências da
infância afloram. A
garotinha sente-se dona de
belíssimos sonhos e de
fantasias; no entanto, a
mulher madura, que ali está,
encontra-se só e muito
triste.
Continuei, por
algum tempo, sem saber
explicar e definir meus
sentimentos; era incapaz de
compreender o que estava
acontecendo comigo. De
repente, uma força interior
diz-me para agir e, a passos
lentos, deixo-me levar pela
menina que renascera há
poucos minutos. Sorrindo,
corro para a chuva.
À proporção que a
água cai sobre o meu corpo,
reencontro a minha essência.
Ilda Maria Costa Brasil -
Porto Alegre - RS - Brasil