Reencontro da Essência

 

 Ilda Maria Costa Brasil



 
          Fim de tarde. Lá fora, a água cai torrencialmente. Em meu peito, tristeza e dor. De meus olhos chovem desencantos e nostalgia. Os ruídos da chuva e os das lágrimas se confundem, um misto de melancolia e solidão. Em meu peito, uma energia estranha, sufocante e forte. Acredito ser partes de minhas inquietações que, após algum tempo reprimidas e sufocadas, rompem suas represas e se aventuram por caminhos entremeados por medos e por incertezas. O momento é de muita ansiedade e de busca. Corro atrás de uma verdade que não sei identificar e tão pouco explicar.
         Não há expectadores, apenas eu e meu desconforto emocional repentino. Embora com os olhos lacrimejantes, amedrontada e apreensiva, procuro arrancar de mim este mau estar. A vida é efêmera, complexa e frágil. As minhas sensações e emoções estão desordenadas. Não é possível entendê-las e, contrapondo os conflitos de minh’alma, está o Criador a regar a natureza e a semear a esperança de dias vindouros. O que está acontecendo? Não estou sabendo lidar com os diferentes núcleos das minhas emoções.
         Uau! Que trovoada estridente! Chuva, lágrimas, relâmpagos... De repente, como nos contos de fadas, o cenário se transforma. Desaparece a melancolia e surge uma alegria contida de menina sedenta de afeto e de carinho.
         Com serenidade e com calma, olho distraidamente para o infinito e, num curto espaço, vejo-me a brincar na chuva quando garotinha. Levanto-me do sofá e vou à porta que dá para o pátio. Paro e olho para o céu carregado de nuvens negras e deixo-me envolver pela chuva que cai. Neste momento, lembranças e vivências da infância afloram. A garotinha sente-se dona de belíssimos sonhos e de fantasias; no entanto, a mulher madura, que ali está, encontra-se só e muito triste.
         Continuei, por algum tempo, sem saber explicar e definir meus sentimentos; era incapaz de compreender o que estava acontecendo comigo. De repente, uma força interior diz-me para agir e, a passos lentos, deixo-me levar pela menina que renascera há poucos minutos. Sorrindo, corro para a chuva.
         À proporção que a água cai sobre o meu corpo, reencontro a minha essência.

 

 

Ilda Maria Costa Brasil - Porto Alegre - RS - Brasil

 

 

 

 

 

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