Um velho abacateiro e
muitas emoções...
Ilda Maria
Costa Brasil

Ao som do gorjeio dos pássaros, reflito sobre o
comportamento dos homens e sobre a vida. Meu olhar anda de
um lado a outro. Buscará respostas? Ora se fixa nas folhas
que estão a sua frente: folhas verdes, folhas verde-amarelas,
folhas amarelas, folhas marrons; ora se fixa,
superficialmente, nos candidatos que prestam concurso para a
Procuradoria-Geral da Justiça; contudo, acaba sempre
voltando ao seu ponto inicial. No tronco desta imponente e
perseverante árvore, há fungos e sinais de que enfrentou
muitas noites frias e dias de intenso calor. Os diversos tons das folhas que repousam nos
fortes e robustos galhos, úmidos e rejuvenescidos pela chuva
da madrugada, trazem pequeninos brotos florais que,
certamente, num amanhã, transformar-se-ão em belíssimos
frutos que alguns irão apreciar, outros não. Ao admirar este
patrimônio frutífero, reconheço que não se encontra num
local muito comum. O habitat mais recomendado, seria um
grande pomar; no entanto, vive no pátio do Colégio Júlio de
Castilhos, entre os prédios A e B. É observador, analítico,
gosta da rotina e do convívio com os jovens. Seu fascínio me fez estabelecer comparações que,
para alguns, poderão parecer devaneios mas, para outras
pessoas sensíveis como eu, os diferentes tons nada mais são
do que metáforas das fases da vida por nós vivenciadas. As
folhas verdes, a infância; as verde-amarelas, adolescência;
as amarelas, a maturidade e as marrons, a velhice. Os homens
nem sempre aceitam essas mudanças! Gostariam que o tempo
parasse e a velhice não chegasse! Quantas histórias teria o velho abacateiro para
contar-nos? Com certeza, faltar-lhe-ia tempo para tantos
relatos! Inúmeros alunos aqui passaram e muitas emoções
foram vividas e presenciadas!... Alunos que marcaram por
valorizem o contato humano e respeitarem a área verde do
Colégio; alunos abertos às opiniões alheias e dispostos a
assimilarem novos ensinamentos; alunos atentos à realidade
sócio-econômica e à política e engajados a movimentos de
conservação do meio ambiente; alunos não preocupados com o
saber, ainda que transbordassem simpatia e encantos. Esses
fizeram do Julinho um maravilhoso espaço para o social:
bate-papos, ouvir som, ficar, jogar, enfim, badalar... Uma
caminhada gostosa e sem estresse! Vejo a manhã passar preguiçosamente! O céu,
nublado.. As folhas do abacateiro parecem me observar
cuidadosamente, pois giram com calma e com sutileza de um
lado para o outro. Suas cores, entusiastas e sedutoras... Ao
longo dessas horas, os pássaros não interromperam o musical
um só instante. Grandiosa sinfonia! A ansiedade e a tristeza
dos homens não os atingiram. Eram, são harmonia, beleza,
inocência e pureza! Há, no local, outras árvores próximas da
minha musa inspiradora. Algumas vivem um momento especial;
estão entrelaçadas e trocam, baixinho, palavras dóceis e
importantes com seus pares e grupos. A naturalidade, a
simplicidade e a magia desses seres vivos causam-nos inveja.
Entre elas não há mentiras, falsidades, luxúrias e avarezas,
e sim, aconchego, ternura, espontaneidade. Ah, o que teria o velho abacateiro para dizer de
mim? Por ventura, seria o medo e o pânico de uma futura
aposentada? A tristeza e a dor de uma professora ao ter
consciência que em breve, muito em breve, irá se afastar da
seiva que a mantém viva, os seus pupilos? Não sei! Não quero
pensar!... Quero viver e curtir cada segundo com muita
paixão! Duas horas e quinze minutos se passaram e uma
ponta de sol surge dissimuladamente entre os galhos e as
folhas e, com ele, a esperança de ainda muito realizar na
área lítero-educacional. Porém, ao mesmo tempo, uma lágrima
de saudade "Deste Gigante" embaça meus olhos e sufoca meu
coração pois, nesses anos que o adotei como extensão de
minha casa, despertou em mim o gosto de escrever!
Ilda Maria Costa Brasil - Porto Alegre - RS - Brasil
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