ENSAIOS SOBRE A CRIAÇÃO

 

Luiz Eduardo Caminha

 

 

 

 

ENSAIO 1

 

“No princípio eram as trevas. A Terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam os abismos” (Gênesis 1, 1-2)

 

... E Deus se fez poeta e se pôs a pensar e agir!

 

 

No céu, os luzeiros,

Estrelas cintilantes,

Para pontilhar,

Como contas de diamantes,

O ébano manto de brigadeiro.

 

O Sol, calidamente,

Fará suas jornadas,

Para aquecer,

Com fagulhas doiradas,

Os seres caminhantes.

 

Águas para saciar a sede,

Sejam criadas,

Para vingar a criação,

Animais terrenos, das águas,

Toda a Terra, todo o verde.

 

O ar, de límpido azul,

Imaculado,

Píncaros, montanhas,

Florestas, mananciais.

 

Nas matas, o som da bicharada,

O canto dos pássaros,

Lembrarão uma sinfonia,

De anjos celestiais.

 

E pensou Deus: O berço,

Onde deitarei o ápice da Criação,

Está pronto. Falta preenchê-lo!!!

Falta-lhe minha obra prima,

O sumo fruto de minhas mãos,

Escultura de meus sentimentos,

Minha imagem e semelhança,

Reflexo de meu ser.

 

Formosa obra que guarde,

Na razão,

A fonte do equilíbrio,

Um ser tão perfeito

Quanto Eu que o crio.

 

E faço deitar neste berço,

A síntese de minha obra,

Um menino, um homem,

Minha Imagem,

Minha semelhança!!!

 

A Criação está pronta,

Deixemos que o Homem a cuide,

Zele por ela e... dela usufrua!!!

 

 

 “...Tendo Deus terminado a obra que tinha feito, descansou de seu trabalho”.” (Gênesis 2, 2).  

 

ENSAIO 2

 

“...e Deus viu que tudo isto era bom... Deus criou o homem, à sua imagem. Imagem de Deus o criou. Homem e mulher os criou” (Gênesis 1, 25; 27)

 

...Será que Deus se enganou?

 

Sou

A antítese do paradoxo

A lógica do irracional.

A água que passa o moinho,

E a gota que se fez oceano.

A corporificação do etéreo,

O éter da matéria,

E o pouco, quase nada,

Que sobra de concreto,

No abstrato.

O resultado adolescente da marginalidade

E a esperança do menino travesso.

A paz alvissareira da guerra

E o pipocar sanguinário da metralha.

Sou ensejo,desejo, inveja,

Do ódio dos amargurados.

Sou a luz numa caverna

E a solidão do ébano,

Nas noites sem luar.

Sou,

O início do fim,

E o epílogo do começo.

Sou,

O erro da bala perdida,

O alvo certo do tiro errado,

Eu sou produto desta sociedade,

Que prefere o sangue

Fora das veias, nas calçadas,

As ruas tingidas

De feridas pútridas,

A carniça fétida,

Que o abutre abandonou.

Eu sou o reflexo

De uma humanidade

Pérola prima do Pai eterno,

Riscada, toldada,

Amassada, pisoteada,

Desfigurada, desalmada.

 

Eu sou o Homem,

O bicho homem,

Criatura errática,

O erro

Que contrasta o belo,

A magnífica Criação.

 

Aliás, talvez eu seja,

O engano do Criador!!!

 
ENSAIO 3

“Serpentes! Raça de víboras! Como escapareis ao castigo do inferno? Eu vos envio profetas, sábios e doutores. Matareis e crucificareis uns e açoitareis outros... Em verdade vos digo: todos estes crimes pesam sobre esta raça” (Mateus 23, 33-36)



E Deus falou ao homem,..
Por sábios e profetas,
Tentou, em vão,
Corrigir seu rumo,
Aprumar-lhe a mente,
Fazê-lo recompor a Criação,
Da qual lhe confiara ser,
O Senhor.

... E o homem prosseguiu,
Sua errática caminhada,
Trilhando veredas de incertezas,
Descaminhos da sedução,
Sendas da cobiça,
Da inveja, ganância,
Da perdição!!!

 

ENSAIO 4

“E o Anjo Gabriel disse a Maria: o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus” (Lucas 1,35)



E Deus perdoou..

Não! Eu não posso deixar
Minha obra abandonada.
Salvá-los-ei,
Uma, duas,
Mais uma vez,
A última por certo:
Enviarei Meu Filho!!!

...E veio o Filho!
Que sequer ousou,
Tirar um único traço da Lei,

... E ensinou:
O caminho da volta é um só!
AMOR! Amar o Pai,
O Criador,
Amar o próximo,
A Criação...
 


ENSAIO 5

“Deus, o Senhor, viu que a maldade dos homens era grande na terra, e que todos os pensamentos do seu coração estavam continuamente voltados para o mal” (Gênesis 6,5)

E o Homem O matou!!! ... E maculou a Criação!


Não parou aí!
Agora se dispõe,
Matar a Criação.

Irmãos, animais,
Florestas,
Mares e águas,
Planeta Terra, Gaia,
Uni-vos, todos!

Ele está aí.
A todo tempo!
O tempo todo!
E quer matar,
Destruir,
Queimar,
Dilapidar,
Poluir
Assombrar!!!


ENSAIO FINAL

“Porque a quem muito se deu, muito se exigirá. Quanto mais se confiar a alguém, dele mais se há de exigir” (Lucas 12, 48)


E continua insandecido,
Nesta cruzada insana,
Matando, ultrajando,
Humilhando,
Plantando guerras,
DESAMOR!!!
Destruindo a Criação!
Opondo-se ao CRIADOR!

Até quando, oh! Senhor!
Até onde irá o homem
Para merecer,
De novo, Teu perdão?
Até o apocalipse?
Holocausto do planeta?


P.S. Assim que comecei a escrever este texto, eu pensei fazê-lo uma poesia. Depois virou Ensaio. E aí está, entre ganchos e garranchos, aos trancos e barrancos, este texto-poema, um pouco angústia, do que sinto, senti, ou fui sentindo, na medida em que os versos-semi-versos escapuliam de minha mente e declinavam, como a torrente das cascatas, pela ponta de meus dedos, no teclado de meu computador. Eles não têm nada de rima, de métrica, nem tampouco de estética. Neles, a métrica, a rima, a estética que me valeram foram aquelas que a própria Criação faz perceber, seja em nossas mentes, seja em nosso olhar.

Eu os dedico à escritora e poeta Lígia Leivas, não somente porque está assumindo este desafio de presidir a Academia Sulbrasileira de Letras, mas sobretudo, por sua incontida e incansável luta em defesa do Meio-Ambiente, da Criação!!!

 
 
 
 
 
 

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