DONZILIA DA
CONCEIÇÃO RIBEIRO MARTINS
- Paredes Portugal -
NATAL! NATAL!
NATAL!
Nestes dias não se fala noutra coisa. São os
media a querer encher o tempo, a esvaziar
vazios, a vender futilidades, a esbanjar enganos
e fantasias.
Natal! Tempo de paz! Qual paz?!A paz dos dias
sem luz, sem dádivas, sem compreensão, sem amor?
Onde vive a paz se no coração dos homens se
carrega o egoísmo, o ódio, o cálice de veneno em
vez de mel, a palavra oca, vazia que sai da boca
balofa a estremecer a alma?
Natal não é isso, não. Natal deve ser o todos os
dias o renascer do coração, a palavra amiga, o
perdão, a generosidade, a humildade, o ombro
como pedestal para o outro se encostar. Só esta
época do ano? Para quê este engano, esta
falácia? A quem pretendemos enganar? Aos outros
ou a nós próprios?
Natal é erguer a taça e esquecer o brinde; é
suspender o olhar a todo o tempo para fazer
nascer; é ressuscitar na saudade de cada hora o
escuro acendendo estrelas; é eternizar a aurora
que chega cada manhã; é apanhar o sol e
distribuir os fios pelos que têm frio e morrem
de cansaço cada instante; é murmurar para nós
que o Natal somos nós cada vez que renascemos. É
também, e não só, falar a todos que os amamos.
Natal! As luzes piscam! Por que não carregar no
interruptor do nosso inconsciente e fazer piscar
cá para fora os silêncios que o magoam? Por que
não acendemos nas palavras a consciência do
erro, da angústia e nos quedamos humildes no
presépio?
Natal! Cálida noite! As crianças riem com
promessas de esperança. Os adultos fingem que
tudo vai bem. Por que fecham o peito da alma à
verdade?
Natal! Na sonolenta luz tudo se esvai. Até o
frio aquece aqueles que não têm frio! E os
outros? Os que choram de verdade?
Natal, Natal; Natal, ouve-se na Televisão e
nenhum eco fica no oco da palma da mão.
Olho a rua. Não vejo senão gente apressada a
olhar para dentro de si.
Aqui há tempos entrei por engano num comboio que
mais parecia uma prisão.
Apenas uma jovem num banco solitário daquele
fechado caixote. Pedi para me abrir a porta. Fez
que não ouviu! Roguei para me avisar quando
chegasse à estação; Fingiu!" Valeu-me noutro
compartimento pedir auxílio a uma velha senhora
que sabia o que era Natal. A jovem com certeza
que vai ao shoping, carrega-se de sacos de
prendas vazias de valores porque ela não sabe
carregar o amor num caixote de comboio onde
viaja o pai natal.
Vamos repensar o natal. O natal não é quando
Deus quer, é quando o homem quer. Quando no
escuro acendo o sol e o luar; quando as estrelas
iluminam de verdade a minha verdade; quando
antes de dormir a paz beija o nosso sonho e
adormeço na almofada, tranquila, a minha
consciência; quando para além do sonho eu vivo o
Natal na felicidade do outro; quando, esquecida
de mim eu faço nascer em cada instante um novo e
santo Natal em cada alma.
Feliz Natal.
JANDYRA ADAMI
- Belo Horizonte-Minas Gerais-Brasil -
MEU PAPAI
NOEL
Quando eu era
pequena e acreditava em Papai Noel, ocorreu,
certa vez um caso que jamais me saiu da
lembrança. Meu pai já estava doente e a Mãe com
os encargos da casa, não tinha meios de atender
o meu pedido feito a Papai Noel. Não me lembro
do que pedi, pois sempre tive facilidade em
esquecer os sonhos impossíveis e receber de bom
grado o que me era dado.
Ao amanhecer do dia 25 de dezembro, encontrei
uma caixa com um joguinho de bolas de gude,
bonitinho mesmo, e uma carta de Papai Noel:
“Minha querida Jandyra Não posso levar para você
o presente que me pediu. Mas, como sei que gosta
muito de brincar com coisas de menino, estou
deixando este jogo que, espero, seja do seu
agrado.
a) Papai Noel
Fiquei boquiaberta.... Chamei minha Mãe e
perguntei:
-Mãe, como foi que Papai Noel descobriu que eu
gosto de brincar com coisas de meninos?
- É porque ele sabe tudo, minha filha.
- E veja, que letra bonita ele tem
- Papai Noel é como um Santo. Sempre faz as
coisas para agradar a todas as crianças
boazinhas...
Essa passagem jamais me saiu da lembrança. Eu
não conseguia imaginar aquela descoberta de
Papai Noel. Como sempre, guardei a cartinha por
muitos anos e quando soube da verdade, contada
por uma “ amiga da onça”, recordei-me de que, de
fato, aquela letra bonita me era familiar: Era
da Mãe.
Naquele tempo não havia nada unissex. Menina
sempre brincava com boneca, bateria de alumínio,
conjunto de xícaras, etc. E eu só brincava com
meninos mesmo...
Depois de tomar conhecimento do fato, passei uma
borracha em tudo. A carta continuaria sendo de
Papai Noel; ele tinha a letra linda como a da
minha Mãe... Ele descobriu que eu gostava do
joguinho...E gostei mesmo!!! Tanto, que até hoje
não me esqueci daquele Natal, quando a situação
financeira era ruim, mas “nosso” Papai Noel não
me deixou na mão. Aliás, esse Papai Noel fazia
tudo por nós nos 365 dias do ano.
E continuou fazendo pela vida afora, até que
Deus o chamou para a Vida Eterna.
Obrigada Papai Noel! Eu sempre serei grata por
tudo o que fez por nós.
Jandyra Adami
Do Livro: Rosas e Espinhos