Conto de Natal

 

 

 

 

"Ti-Manel"

- conto de Natal de Carlos Leite Ribeiro

 

 

A minha vida nunca foi fácil : aos dez anos já era órfão de pai e de mãe.

Como não tinha família, fui criado, como soe dizer “ao Deus dará”, por um pobre velhote, que na véspera de um Natal me levou para a sua barraca de madeira e, que tudo fez para me alimentar e ensinar as primeiras letras. Tudo fez para que eu pudesse ser um homem honesto e digno.

O ambiente onde vivíamos não era nada agradável, pois a barraca de madeira ficava no meio de outras barracas (favela). Mas, pior que isso, algumas pessoas que lá viviam eram pouco recomendáveis: ladrões, prostitutas, drogados, etc.

Era um lugar, por assim dizer, muito degradado.

Os anos foram passando e eu fui crescendo e adaptando-me aquele ambiente. Comecei então a roubar e a drogar-me, com grande desespero do Ti Manel, o bom velhote que, anos antes tinha tomado conta de mim.

Um belo dia, revoltado com os conselhos que me dava o bom velhote, resolvi fugir de casa e tornar-me um “profissional” do roubo.

Lembrava-me muitas vezes do bom velhote e daquilo que ele me dizia:

- Menino, para seres um homem, tens de aprender a ler e a fazer frases completas…

Frases completas ...

Tinha-me esquecido completamente delas, tão excitado andava com o roubo, a prostituição e a droga.

Frases completas ...

Eu, sabia que um dia podiam proporcionar-me uma vida honesta, e ser realmente um grande homem, culto e respeitado.

O Natal aproximava-se a passos largos, e eu comecei a ficar farto daquela vida. 

Naquele dia senti-me muito nervoso e, para com os meus botões, comentei:

- Devia de voltar novamente para junto do Ti Manel, nem que fosse só para aprender a ler e a escrever ...

Assim, enchi-me de coragem e fui ter com ele.

Ao abrir a porta da barraca, o bom velhote encarou-me, perguntando :

- Vens para ficar ?”.

– Sim, Ti Manel, e desta vez será para sempre – respondi-lhe.

Mandou-me entrar e logo foi dizendo :

- Hoje mesmo começaremos a escrever frases .

Ele sabia tudo o que eu tinha feito, as companhias com quem andava, mas nem seus lábios, nem seus olhos revelaram a menor censura. Sorri para o Ti Manel, como quem pede perdão, e o sorriso apareceu por si mesmo, sem qualquer esforço.

A partir daquele dia meti-me em brios. Comecei a trabalhar e a frequentar a escola.

 

Está a fazer um ano...

No Natal como já era habitual, o Ti Manel foi passar a noite da Consoada em minha casa, com minha mulher e minha filha, a que ele chamava carinhosamente de neta.

Depois da ceia, o Ti Manel sentou-se num sofá em frente do televisor. Pediu um cobertor e embrulhou-se nele. Minutos depois morreu, quase sem nós darmos por tal.

 

Parecia que sorria, e quem sabe se sorria mesmo, contente por ter feito de mim, um homem  honesto e trabalhador.

 

“Glória a Deus nas alturas e Paz na Terra ao Homens de boa vontade”.

 

Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal

 


 
 

Registre sua opinião no

Livro de Visitas:

 


 

.......

.........

.........

...... ...

Divulgação directa para o mundo Lusófono e Núcleos espalhados pelo Mundo,Presidentes, Minitros, Senadores, Deputados e vários países; Universidades, Institutos, Liceus; Professores de vários níveis de ensino; entidades oficiais e particulares; etc.
51.172 e.mails autorizados.