LOAS À FILOSOFIA

Junho de 2009

Lairton Trovão de Andrade

 

 

PLATÃO E O MITO DA CAVERNA


Uma das talentosas inteligências da Antiguidade Clássica, que prosperou no mundo grego, foi sem dúvida a do extraordinário Platão (427-347 a.C.).

Não é à-toa que a posteridade tenha conferido àquele filósofo o título de “Divino”.

Beneficiado pelos deuses, concentrou-se em sua personalidade todos os quesitos, exigidos pela cultura ateniense, para que a História o reverenciasse como um “grego perfeito”. Era belo de corpo e belo de espírito, corpo atlético e intelecto enriquecido pela alma da filosofia e da poesia*.

Dir-se-ía que Platão fora, para a cultura antiga, homem perfeito, assim como Leonardo da Vinci o fora, para os tempos modernos.

O Divino Platão é venerado pela Filosofia, tendo em vista suas obras que frutificaram no seio da civilização ocidental.

Acredita-se que a íntegra da filosofia platônica tenha ultrapassado os séculos e chegado até nossos dias, para o enlevo intelectual daqueles que cultivam a arte do saber.

Vangloriamo-nos, pois, de possuir os trinta e cinco diálogos, atribuídos a Platão, onde expõe de forma espontânea todo seu pensamento filosófico.

Além do que, Platão, que fora o mais distinto e aplicado discípulo de Sócrates (469-399 a.C.), teve a diligência de escrever à civilização vindoura os ensinamentos filosóficos do seu mestre.

Justiça seja feita, Sócrates fora o mais virtuoso mestre da Grécia Antiga. Não escreveu uma linha sequer, mas ensinava nas esquinas e praças públicas, usando a didática primorosa do diálogo.

Parece-me que o “nada escrever” é sina de alguns dos maiores mestres, pois, da mesma forma, vários séculos depois, o Mestre dos Mestres, Jesus Cristo, também nos legou o seu Evangelho, apenas apregoado, sem nada ter escrito**.

Na verdade, a filosofia de Platão se confunde muitas vezes com o pensamento de Sócrates. Tal como a impressionante narrativa que faz num dos seus livros, o Fedon, onde coloca na boca de Sócrates fascinante dissertação sobre a virtude, a imortalidade da alma e os novíssimos***do homem: A morte, o juízo, o céu ou o inferno, antecipando em quatro séculos alguns dos fundamentos evangélicos de Jesus Cristo.

Por estas questões e outras, encontramos na História da Filosofia Patrística,  santos padres da Igreja que associaram o pensamento platônico com algumas das  importantes doutrinas do Cristianismo, tendo sido Santo Agostinho (354-430)  o mais importante deles.

Neste panegírico, não poderíamos deixar de lado o fantástico Mito da Caverna, certamente, o coração de toda filosofia platônica.

Em toda História da Filosofia, não existe, possivelmente, analogia mais inteligente e interessante que a do Mito da Caverna, descrita no livro sétimo de “A República”, um dos seus importantes diálogos filosóficos. HHhhhHistó

“Suponhamos a existência de um elevado muro que separa o mundo exterior, do imaginário interior de uma caverna.

Na caverna, há seres humanos que jamais conheceram a realidade do mundo exterior. Estão acorrentados, imobilizados, e de costas para o mundo.

No muro, há uma fenda, por onde passa tênue luz e,  na parede do fundo da caverna, sombras são projetadas, graças aos homens com objetos que passam em frente à luz, projetada por uma suposta fogueira.

Os acorrentados julgam que essas sombras não sejam sombras, mas realidades existentes.

Entretanto, um dos prisioneiros consegue, através de um instrumento, quebrar os grilhões e sair da caverna.

Qual não é seu espanto em contemplar e compreender as coisas reais do mundo, iluminadas não por uma fogueira, mas pela brilhante luz do Sol?

Então, fica maravilhado em saber que a realidade não é a que ele via na caverna, mas a que presencia na atualidade do mundo.

Não contendo em si, volta à caverna com o único intuito de participar aos seus companheiros acorrentados de que o que veem lá são apenas sombras, enquanto que a realidade encontra-se num outro mundo muito mais lindo, mais atraente e perfeito .

Evidentemente, muitos daqueles acorrentados não acreditam no que ouvem e continuam adeptos das crenças antigas e falsas”.

Platão, nesta alegoria, coloca a inteligência do filósofo como causa eficiente, e a Filosofia, como condição indispensável  à libertação intelectual dos cidadãos deste mundo.

O filósofo, através da luz da Filosofia, poderá alcançar a sabedoria, e, com seu magistério, iluminar as mentes de outros seres humanos.

O Mito da Caverna concede-nos, outrossim, lições importantes de sabedoria. Não  nos esqueçamos das duas formas de conhecimento – o sensível e o intelectual, sugeridas naquela alegoria ****.

Outra importante lição é a de que vivemos num mundo frágil, onde tudo é relativo, contingente, imperfeito e passageiro, em contraposição ao mundo consistente, absoluto, necessário, perfeito e eterno.

Como os habitantes acorrentados da caverna, muitíssimos de nós estão presos nas ilusões deste mundo. Satisfazendo-se de fugazes sombras de felicidades, interrompidas por decepções e múltiplos enganos.

A realidade suprema encontra-se noutra dimensão, no paraíso de Deus, fonte verdadeira da felicidade eterna, onde a corte dos anjos e dos santos festeja em comunhão com seres humanos que, de alguma forma, mereceram as delícias dos arcanos celestiais.

Notas:

*A cultura grega supervalorizava os dotes físicos e intelectuais dos cidadãos. Por isso, os ginásios eram muito frequentados.

** Foram os apóstolos, principalmente os evangelistas (Mateus, Marcos,  Lucas e João), que escreveram, sob a inspiração do Espírito Santo, as doutrinas apregoadas pelo próprio Filho de Deus.

*** Os novíssimos sãos as três realidades que todos os seres humanos deverão passar após o final das próprias vidas. Portanto, conforme os ensinamentos católicos,  os novíssimos são a morte, o juízo, o céu, ou inferno.

**** Sobre o conhecimento sensível e o intelectual tivemos oportunidade de tratar largamente. Porém, em síntese, o conhecimento sensível é particular, mutável e relativo. É alcançado através dos nossos sentidos. Atinge os seres do mundo fenomenal, isto é, tem por objeto os corpos ou as realidades materiais que compõem o universo em toda a sua extensão (imagens do interior da caverna). O conhecimento intelectual é universal, imutável e absoluto que ilumina o conhecimento sensível. Através do conhecimento intelectual, formamos nossos conceitos e idéias. Pelo conhecimento intelectual a ciência se torna possível, porque haverá conhecimento das coisas pelas causas (mundo exterior à caverna ou mundo das idéias).  A fonte de tal conhecimento é a inteligência humana em contraposição ao conhecimento sensível cuja fonte encontra-se nos órgãos dos sentidos.

AD MAJORA NATUS SUMUS!
(Nascemos para as coisas maiores)

***

Lairton Trovão de Andrade
Subscritor da Liga dos Amigos do Portal CEN:


 
 
 
 
 

 

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Arte Final: Iara Melo

Fundo Musical: O Bailado da Colméia

Compositor: Lairton Trovão de Andrade

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