José Carlos do Patrocínio,
mulato, filho de um padre e de uma
escrava que vendia fruta, foi
farmacêutico, jornalista e escritor
brasileiro. Nasceu em Campos
Goytacazes RJ, a 9 de Novembro de
1853.
Membro fundador da Academia
Brasileira de Letras, com a cadeira
Nº 21 cujo patrono é Joaquim serra,
e um dos mais notáveis
propagandistas da Abolição. De cor
mulata, filho de escrava alforriada
e do cónego João Monteiro, foi para
o Rio de Janeiro aos 13 anos de
idade, concluindo o curso de
Farmácia na Faculdade de Medicina,
em 1874.
Logo ingressou na imprensa
tornando-se redactor da “Gazeta de
Notícias”. Em 1881, com dinheiro
emprestado pelo sogro, adquiriu a
“Gazeta da Tarde”, à frente da qual
permaneceu por seis anos e onde deu
início à campanha abolicionista
(01).
Em 1887 fundou a “Cidade do Rio”,
intensificando os ataques à política
da escravatura. Com o advento da
República, o jornal foi interditado
e, em 1892, seu director era
desterrado para Cucuí, no Amazonas,
em virtude da sedição de 10 de Abril
daquele ano, mas foi libertado pouco
depois. Orador de alta estirpe, de
verbo inflamado e vivo poder de
improvisação, foi um dos maiores
jornalistas brasileiros. Sua acção
como líder da causa abolicionista
não ficou apenas na palavra; foi
muito além, dando fuga a muitos
escravos e organizando núcleos
abolicionistas.
Começou a vida como servente de
pedreiro na Santa Casa de
Misericórdia do Rio. Pagando o
próprio estudo, formou-se em
farmácia. Em 1875, porém, descobriu
a verdadeira vocação ao um jornal
satírico chamado "Os Ferrões”
Começava ali a carreira de um dos
mais brilhantes Jornalistas
brasileiros de todos os tempos. Dono
de um texto requintado e viril, José
do Patrocínio - que de início
assinava Proudhon -- se tornou um
articulista famoso em todo o país.
Conheceu a princesa Isabel, fundou
seu diário, a "Gazeta da Tarde"
virou o "Tigre do Abolicionismo". Em
Maio de 1883, criou, junto com André
Rebouças, uma confederação unindo
todos os clubes abolicionistas do
país. A revolução se iniciara. "E a
revolução se chama Patrocínio»,
diria Joaquim Nabuco. Pouco depois
de a princesa Isabel assinar a Lei
Áurea, sob uma chuva de rosas no
paço da cidade, a campanha que, por
dez anos, Patrocínio liderara enfim
parecia encerrada. “Minha alma sobe
de joelhos nestes paços", diria ele,
curvando-se para beijar as mãos da
"loira mãe dos brasileiros”. Aos 35
anos incompletos, era
difícil difícil supor que, a partir
dali, Patrocínio veria sua carreira
ir ladeira abaixo. Mas foi o que
aconteceu: seu novo jornal, “A
Cidade do Rio”, fundando em 1887),
virou porta-voz da monarquia – em
tempos republicanos. Patrocínio foi
acusado de estimular a formação da
"Guarda Negra", um bando de escravos
libertos que agiam com violência nos
comícios republicanos. Era um "isabelista".
Consagrou seus derradeiros anos
de existência a uma curiosa e
malograda empresa: a construção de
aeróstato Santa Cruz.
José do Patrocínio realizou
algumas incursões na ficção, tendo
escrito três romances: “Mota
Coqueiro ou A Pena de Morte – em
1877”; “Os Retirantes – em 1879” – “
Pedro Espanhol – em 1884”.
No dia 29 de Janeiro de 1905,
José do Patrocínio sentou-se em
frente da sua pequena escrivaninha
no modesto barracão em que vivia no
bairro de Inhaúma, no Rio de
Janeiro. Começou a redigir: “Fala-se
na organização de uma sociedade
protectora dos animais. Tenho pelos
animais um respeito egípcio. Penso
que eles têm alma, ainda que
rudimentar, e que têm
conscientemente revoltas contra a
injustiça humana. Já vi um burro
suspirar depois de brutalmente
espancado por um carroceiro que
atulhava a carroça com carga para
uma quadriga, e que queria que o
mísero animal a arrancasse do
atoleiro...” Não terminou a palavra
nem a frase – Um jacto de sangue
jorrou-lhe da boca. O “Tigre do
Abolicionismo” – pobre e desamparado
– morria, imerso em dívidas e
mergulhado no esquecimento.
Sua obra literária:
1875: Os Ferrões, quinzenário
satírico, 10 números, em colaboração
com Dermeval Fonseca ; 1877: "Mota
Coqueiro ou A Pena de Morte",
romance ; 1879 "Os Retirantes",
romance ; 1883 "Manifesto da
Confederação Abolicionista" ; 1884
"Pedro Espanhol", romance ; 1885, 17
de Maio: Conferência pública, no
Teatro Politeama, em sessão da
Confederação Abolicionista ;
Associação Central Emancipadora, 8
boletins.
(01): A campanha
abolicionista termina com a
promulgação da Lei Áurea, que
extingue o regime da
escravidão originário da colonização
do Brasil. A escravidão havia
começado a declinar com o fim do
tráfico de escravos em 1850.
Progressivamente, imigrantes
europeus assalariados substituem os
escravos no mercado de trabalho. Mas
é só a partir da Guerra do Paraguai
de 1865 a 1870, que o movimento
abolicionista ganha impulso.
Milhares de ex-escravos que retornam
da guerra vitoriosos, muitos até
condecorados, se recusam a voltar à
condição anterior e sofrem a pressão
dos antigos donos. O problema social
torna-se uma questão política para a
elite dirigente do Segundo Reinado.
O Partido Liberal, de oposição,
compromete-se publicamente com a
causa, mas é o gabinete do visconde
do Rio Branco, do Partido
Conservador, que promulga a primeira
lei abolicionista, a Lei do Ventre
Livre, em 28 de Setembro de 1871. De
poucos efeitos práticos, ela dá
liberdade aos filhos de escravos
nascidos a partir dessa data, mas os
mantém sob a tutela de seus senhores
até atingirem a idade de 21 anos. Em
defesa da lei, o visconde do Rio
Branco apresenta a escravidão como
uma "instituição injuriosa", que
prejudica, sobretudo, a imagem
externa do Brasil.
Em 1880, políticos e intelectuais
importantes, como Joaquim Nabuco e
José do Patrocínio, criam, no Rio de
Janeiro, a Sociedade Brasileira
contra a Escravidão, que estimula a
formação de dezenas de agremiações
semelhantes pelo país. Da mesma
forma, o jornal O Abolicionista e o
manifesto O Abolicionismo, de
Nabuco, e a Revista Ilustrada, de
Ângelo Agostini, servem de modelo a
outras publicações antiescravidão.
Advogados, artistas, intelectuais,
jornalistas e parlamentares
engajam-se no movimento e arrecadam
fundos para pagamento de cartas de
alforria, documento que concedia
liberdade ao escravo. O Brasil é
tomado pela causa abolicionista. Em
1884, o Ceará antecipa-se e decreta
o fim da escravidão no seu
território. A decisão cearense
aumenta a pressão da opinião pública
sobre as autoridades federais. Em
1885, o governo cede mais um pouco e
promulga a Lei Saraiva-Cotegipe.
Conhecida como Lei dos Sexagenários,
ela liberta os escravos com mais de
60 anos, mediante compensações a
seus proprietários. A lei não
apresenta resultados significativos,
já que poucos cativos atingem essa
idade e os que sobrevivem não têm de
onde tirar o sustento sozinhos. Os
escravizados, que sempre resistiram
ao cativeiro, passam a participar
activamente do movimento, fugindo
das fazendas e buscando a liberdade
nas cidades. No interior de São
Paulo, liderados pelo mulato António
Bento e seus acólitos, milhares
deles escapam das fazendas e
instalam-se no Quilombo do
Jabaquara, em Santos. A esta altura,
a campanha abolicionista mistura-se
à republicana e ganha um reforço
importante: o Exército. Descontentes
com o Império, os militares pedem
publicamente para não mais ser
utilizados na captura dos fugitivos.
Do exterior, sobretudo da Europa,
chegam apelos e manifestos
favoráveis ao fim da escravidão. Em
13 de Maio de 1888, o governo
imperial rende-se às pressões, e a
princesa Isabel assina a Lei Áurea,
que extingue a escravidão no Brasil.
A Lei Áurea não indemnizava os
cafeicultores cariocas com a perda
dos escravos; eles, então,
transformaram-se em republicanos de
última hora. Republicanos de 14 de
Maio. Assim, o Império perde o apoio
dos senhores do café com trabalho
escravo, ou seja, perde o apoio dos
barões da escravidão cariocas.
Perde, assim, o alicerce social que
o apoiava, o último sustentáculo de
apoio da Monarquia, e
consequentemente a Monarquia cai. O
fim da escravatura, porém, não
melhora a condição social e
económica dos ex-escravos. Sem
formação escolar nem profissão
definida, para a maioria deles a
simples emancipação jurídica não
muda sua condição subalterna, muito
menos ajuda a promover sua cidadania
ou ascensão social.
E.book "A Campanha Abolicionista"
de José do Patrocínio
(Ministério da Cultura do Brasil)
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000110.pdf