(O Condestável do Reino - nasceu a 24 de Junho
de 1360)
"Filho ilegítimo de D. Álvaro Gonçalves Pereira,
prior do Hospital. Veio para a corte aos 13
anos, e é armado cavaleiro por D. Leonor Teles
com o arnês do Mestre de Avis, de quem se torna
amigo. Adere à causa do Mestre, que o nomeia
fronteiro da comarca de Entre-Tejo-e-Odiana. Foi
depois condestável do reino e mordomo-mor.
Recebeu de D. João I os títulos de 3º conde de
Ourém, de 7º conde de Barcelos e de 2º conde de
Arraiolos. Professou em1423 na Ordem dos
Carmelitas, tomando o nome de Frei Nuno da Santa
Maria. Mandou edificar o Convento de Santa Maria
do Carmo, em Lisboa,, onde morreu, já com fama
de santo. Desde o século XV que é objecto de
culto, o que foi reconhecido pelo Papa, em 1918.
É chamado Santo pelos Portugueses e pelos
Carmelitas, e Beato pela restante Igreja"
Nos fins do século
XIV uma transformação muito importante aconteceu
em Portugal: a morte do rei D. Fernando em 1383,
deu origem a uma crise política que, envolvendo
os vários grupos sociais, veio a levar ao poder
uma nova família real e a iniciar uma orientação
diferente na vida dos portugueses.
D. Fernando tinha uma única filha, D. Beatriz,
que, apenas com doze anos de idade, casara com o
rei de Castela, pondo-se assim termo a uma série
de guerras em que D. Fernando se envolvera com
aquele reino.
Essas guerras tinham agravado os problemas do
país, provocando o descontentamento popular:
gastou-se muito dinheiro com a guerra, muitos
homens morreram, a falta de mão-de-obra
agravou-se, os produtos alimentares subiram de
preço.
D. Fernando morreu alguns meses depois deste
casamento. Nem D. Beatriz tinha filhos, nem,
entretanto, nascera nenhum outro sucessor
legítimo do rei.
A viúva de D. Fernando - D. Leonor Teles - nunca
fora bem vista pelo povo. De fato, quando o rei
se apaixonara por ela, D. Leonor já era casada,
e foi necessário obter, por influência de D.
Fernando junto ao Papa, a anulação de seu
primeiro casamento. Por outro lado, por causa de
Leonor Teles, D. Fernando desistiu de outros
casamentos que teriam sido, politicamente, mais
úteis ao país.
A agravar tudo isto, depois de ser rainha, D.
Leonor vingou-se duramente de todos os que
tinham desaprovado o seu casamento, levando o
rei a condenar a morte ou tormentos muitos
deles, especialmente os homens dos ofícios da
cidade de Lisboa que tinham declarado
abertamente a sua discordância.
O povo não gostava, pois, da viúva de D.
Fernando. No entanto, pelo contrato de
casamento, cabia-lhe governar o reino como
regente até que um filho de D. Beatriz
completasse 14 anos.
Assim, D. Leonor Teles, a regente, depois de não
ter comparecido ao funeral de D. Fernando - o
que agravou o descontentamento popular - mandou
aclamar rainha D. Beatriz.
Naquele tempo, a aclamação de um novo soberano
era feita através de "pregões" lidos por
emissários da Corte nas principais vilas e
cidades do Reino.
Em lisboa, Santarém, Elvas e outros lugares, a
leitura dos pregões desencadeou revoltas
populares: as populações dessas localidades
injuriavam os pregoeiros e recusavam-se a
aceitar a aclamação de uma rainha que era mulher
de um rei estrangeiro (Castela), o que poderia
dar origem à união dos dois países e em
consequência a perda de independência de
Portugal.
Entretanto, o descontentamento com a regência de
Leonor Teles e a grande influência que junto
dela tinha o Conde de Ourém - João Fernandes
Andeiro - levaram a que fosse planejado o
assassinato deste, prevendo-se desde logo o
apoio do povo de Lisboa. D. João, Mestre de Avis
ficou encarregado de matar o "Andeiro"; à mesma
hora Álvaro Pais, antigo funcionário de D.
Fernando, chamaria o povo ao palácio para
proteger o Mestre de Avis.
Realizado o plano e morto o "Andeiro", o povo de
Lisboa pediu a D. João que aceitasse ser o
"Regedor e Defensor do Reino", ficando a seu
cargo a direção da luta contra D. Beatriz e o
rei de Castela.
Leonor Teles refugia-se em Alenquer e pede
auxílio ao seu genro, D. João de Castela. Este,
aproveitando-se da situação, avançou com seus
exércitos sobre Santarém, retirou a regência de
Leonor Teles e , intitulando-se "Rei de
Portugal", dirigiu-se para Lisboa, cercando a
cidade.
Este abuso do rei castelhano fez com que muitos
burgueses, até aí hesitantes, aderissem á causa
do Mestre de Avis, juntando-se ao povo que o
apoiava. Pelo contrário, a maior parte do clero
e da nobreza respeitavam a legalidade da
sucessão e apoiavam D. Beatriz.
Entretanto, um pequeno exército português,
chefiado por D. Nuno Álvares Pereira - um dos
nobres que tomara o partido do Mestre de Avis -
vence os castelhanos no lugar de Atoleiros, no
Alentejo.
Em Lisboa, o cerco prolongou-se por vários
meses. Os lisboetas resistiram no meio das
maiores privações e dificuldades. O aparecimento
da peste nas tropas castelhanas obrigou o rei de
Castela a levantar o cerco e retirar.
Os partidários do Mestre de Avis e da
independência de Portugal começavam a ter uma
maior certeza da vitória.
Foram convocadas Cortes em Coimbra em março de
1385 e o Mestre de Avis foi aclamado rei de
Portugal.
Os castelhanos reagiram a esta decisão, como era
de se esperar, invadindo novamente Portugal. Mas
os portugueses saíram ao seu encontro e
travou-se em Aljubarrota, em agosto de 1385, uma
batalha decisiva: usando a tática do quadrado e
aproveitando as vantagens da colocação no
terreno(os inimigos estavam de frente para o
sol), as tropas portuguesas, chefiadas pelo
próprio rei D. João I e por D. Nuno Álvares
Pereira, conseguiram a vitória, pondo o exército
inimigo em fuga.
A paz definitiva com Castela só veio a ser
assinada alguns anos depois, em 1411.
Para assinalar o acontecimento, D. João I mandou
iniciar, no local, a construção do mosteiro de
Santa Maria da Vitória, conhecido por mosteiro
da Batalha.
Nuno Álvares Pereira
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Militar brilhante, sem Nuno Álvares Pereira
Portugal poderia não existir. A vitória na
batalha de Aljubarrota foi o seu momento de
glória. Compensou a sua extrema juventude com
uma inata vocação de liderança. Um homem
corajoso e obstinado, que não perdeu uma única
batalha. Tinha uma dilatada resistência de
soldado. Depois, tornou-se condestável e um dos
homens mais poderosos do reino. Após a glória,
abandonou tudo e entrou para a Ordem dos
Carmelitas: passou a ser frei Nuno de Santa
Maria. “Uma tão grande reviravolta só uma grande
alma consegue fazer”, diz D. Manuel Clemente,
bispo auxiliar de Lisboa. Foi beatificado pelo
Papa Bento XV.
Nuno Álvares Pereira foi um homem com várias
facetas: general intrépido, frei humilde,
soldado corajoso e homem frágil, sempre próximo
dos outros. Nas palavras do historiador José
Sarmento Matos, “esta figura polarizou em si a
grande viragem portuguesa de finais do século
XIV”.
Sob o prisma militar, Nuno Álvares Pereira foi
brilhante. Tinha o perfil de um jovem falcão.
Era, sem dúvida, comandante, com um traço
obstinado e irreflectido. Era ele quem dava
sentido ao campo de batalha. Absorveu de forma
inteligente as novas técnicas de guerra
desenvolvidas em finais do século XIV. A sua
capacidade de inovação só lhe proporcionou
vitórias: não perdeu uma única batalha. Tinha
uma prolongada resistência militar. Para meter
medo ao inimigo, bastava pronunciar o seu nome.
Nuno Álvares Pereira nasceu em 1360. Era filho
de D. Álvaro Gonçalves Pereira e de D. Iria
Gonçalves do Carvalhal. Tinha 13 anos quando o
pai o enviou para a corte de D. Fernando I. Uma
vez na corte distinguiu-se de todos os outros
rapazes que por lá andavam. A rainha D. Leonor
decidiu tomá-lo como escudeiro. Foi também ela
que o armou cavaleiro.
Tinha 16 anos quando lhe foi comunicado pelo pai
que tinha chegado a altura de casar. O casamento
não fazia parte dos planos do futuro
condestável. Teria mesmo o propósito de se
manter casto. Não conseguiu contrariar os
desejos do progenitor e acabou por casar com D.
Leonor, jovem viúva minhota, com quem teve uma
filha. Deixou a corte e foi viver para o Entre
Douro-e-Minho, onde permaneceu até 1379.
A vida no Minho não satisfazia Nuno Álvares
Pereira, que sempre se viu talhado para a
guerra. Joaquim Ferreira do Amaral, ex-ministro
da Obras Públicas, afirma: “Foi, talvez, o
melhor caudilho militar que Portugal teve.” E o
País precisava muito de homens de armas. O reino
encontrava-se em crise e a sofrer as investidas
dos exércitos castelhanos.
Em 1381, em fins do reinado de D. Fernando I,
tendo 21 anos e uma energia imparável, Nuno
Álvares Pereira partiu para a fronteira de
Portalegre, onde se encontravam as forças
invasoras de Castela. Esta terá sido a sua
primeira grande incursão bélica. Aos 21 anos o
excesso é uma virtude. Com a morte de D.
Fernando I, em 1383, a sucessão do trono ficaria
entregue à sua filha, D. Beatriz, mulher de D.
João I de Castela. A independência de Portugal
estava em perigo. Por esta altura, Nuno Álvares
Pereira já era um experiente e determinado chefe
militar. Não hesitou um instante em tomar
partido pela causa de Portugal. “Estava sempre
pronto para servir a pátria”, diz Hélio
Loureiro, cozinheiro da selecção nacional de
futebol. Nuno Álvares Pereira, um dos primeiros
nobres a apoiar D. João, mestre de Avis,
tornou-se na espada de D. João. Os seus irmãos
não o seguiram e optaram pelo lado castelhano.
Isto confirmou a capacidade de o jovem Nuno “ter
ideias próprias”, sublinha a escritora Isabel
Alçada. Como exímio cavaleiro, sabia que metade
dos erros da vida advém do facto de se travar o
cavalo durante o salto. Metaforicamente, ele
deixou o cavalo saltar.
Em Abril de 1384, obteve o primeiro êxito
militar: venceu a batalha dos Atoleiros. Apesar
da inferioridade numérica, as tropas portuguesas
conseguiram debandar o adversário, utilizando,
pela primeira vez em território luso, a táctica
do quadrado. A sua senda vitoriosa continuou por
Tomar, Santarém e Lisboa, que se encontrava
cercada. Passado algum tempo, o soberano de
Castela desistiu do cerco e deu ordem para a
retirada das tropas.
Em 1385, realizaram-se as Cortes de Coimbra. O
mestre de Avis foi aclamado rei de Portugal,
tornando-se D. João I. No dia seguinte à
coroação, sua majestade nomeia Nuno Álvares
Pereira condestável do reino - o cargo militar
mais importante da nação. Tornou-se um homem
muito poderoso. “Era, sem dúvida, a figura
número dois do país”, diz o padre António Vaz
Pinto. D. João I e Nuno Álvares Pereira são
personagens inseparáveis. “As duas figuras
iluminavam-se mutuamente”, afirma José Sarmento
Matos.
Uma vez terminadas as Cortes de Coimbra, era
necessário subjugar localidades que permaneciam
hostis ao rei. Esta tarefa coube ao condestável.
Durante este período, Castela foi organizando as
suas tropas para nova invasão. A batalha
decisiva deu-se no dia 14 de Agosto de 1385, em
Aljubarrota. António Sousa Cardoso, director da
Associação Nacional de Jovens Empresários,
questiona-se: “Como é que pouco mais de 5 mil
portugueses, com alguns ingleses, conseguiram
vencer 30 mil castelhanos?” A resposta é
simples: Nuno Álvares Pereira dominava, como
ninguém, o campo de batalha. A sua estratégia
foi ardilosa. O condestável dispôs as suas
forças em três alas, com uma reserva na
retaguarda, comandada por D. João I. A cavalaria
castelhana avançou para o centro das forças
portuguesas. Com grande coesão, as linhas lusas
fecharam-se sobre si mesmas, constituindo um
quadrado. A retaguarda inimiga ficou cortada. D.
João avançou imediatamente com os seus homens.
Perplexos, os castelhanos começaram a recuar. O
pânico alastrou-se por todo o campo inimigo.
Tendo perdido toda a esperança numa vitória, o
rei de Castela fugiu. A partir desta data, o
inimigo reduziu as suas operações militares a
escaramuças na fronteira.
Nuno Álvares Pereira ficou viúvo em 1388. No ano
seguinte, deu início à construção do Convento do
Carmo. Depois de ter dedicado uma vida inteira
ao serviço do reino, o condestável decidiu
abandonar o mundo terreno. Distribuiu largos
bens pelos seus netos e pela Ordem do Carmo e
professou votos em 15 de Agosto de 1423, tomando
o nome de Nuno de Santa Maria. D. Manuel
Clemente impressiona-se com facto de um homem
tão poderoso se ter transformado “num frade
mendicante”.
Nuno Álvares Pereira morreu no dia 1 de Abril de
1431, numa cela austera do mosteiro que tinha
mandado construir. Com o decorrer do tempo, o
povo começou a prestar culto à sua figura,
atribuindo-lhe inúmeros milagres. Ficaram
criadas as condições para que o nome de santo se
associasse ao de condestável. Foi beatificado em
1918.
Nuno Álvares Pereira foi uma figura maior da
nossa história. Um homem corajoso, caridoso e
humilde que, para o padre António Vaz Pinto,
“marcou de maneira muito prematura a ideia de
nação”. Nuno Álvares Pereira consolidou o país a
que hoje chamamos Portugal.