Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro
8 de Agosto de 1709
Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, jesuíta
luso-brasileiro e precursor aeronáutico.
Irmão de Alexandre de Gusmão (a).
Distinguiu-se como pregador, vindo a ser
nomeado por D. João V capelão da Casa Real.
Concebeu um aeróstato, a que chamou
instrumento de voar, conseguindo interessar
o rei na realização do projecto (b). A
primeira tentativa de voo foi realizada na
pátio da Casa da Índia, em Lisboa, no dia 8
de Agosto de 1709, na presença da corte, voo
que não teve êxito, pois o balão
incendiou-se na solo. Realizou mais duas
tentativas, conseguindo, numa delas, que o
balão se eleva-se a quatro metros de altura.
Desfrutou, então, de grande popularidade,
tendo o povo o cognominado o aparelho de
“Passarola” e ao padre “Voador”. Além desse
invento, quando ainda muito jovem, construiu
uma máquina elevatória de água para o
abastecimento do Seminário da Bahia.
Concebeu, também, um sistema de bombeamento
para tirar água das naus, chegando a
efectuar uma conferência perante a corte
intitulada “Vários modos de esgotar sem
gente as naus que fazem água”, em 1707. De
1713 a 1716, viveu fora de Portugal.
Supõe-se que tenha sido o padre Gusmão que
nessa época, tenho registado na Holanda, um
invento que consistia num sistema de lentes
para assar carne ao sol. No Memorial do
Convento, Saramago retrata a personalidade
do rei D. João V e também de um operário que
participou daquela quixotesca construção, de
seu nome, Baltasar, e do seu grande amor por
Blimunda, mulher dotada do estranho poder de
ver o interior dos Homens. Também o padre
Bartolomeu de Gusmão (a quem se deve a
invenção da “Passarola”) é personagem deste
livro.
(a) Seu irmão Alexandre de Gusmão chegou a
ocupar o cargo de secretário do rei D. João
V e tornou-se conhecido como o negociador
que consolidou as fronteiras brasileiras
expandidas para oeste pelos bandeirantes.
(b) Bartolomeu de Gusmão escreveu um
"Manifesto" sobre o seu invento. Na
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra
guarda-se, além deste, uma cópia da petição
que o padre, formado na Companhia de Jesus,
dirigiu ao rei D. João V para lhe ser
concedido o privilégio de só ele poder
fabricar instrumentos para voar:
"Senhor - diz Bartolomeu Lourenço - que ele
tem descoberto um instrumento para se andar
pelo ar, da mesma sorte que pela terra e
pelo mar, e com muito mais brevidade,
fazendo-se muitas vezes 200 e mais léguas de
caminho por dia, no qual instrumento se
poderão levar os avisos de mais importância
aos exércitos e terras mui remotas quase no
mesmo tempo em que se resolverem: o que
interessa a Vossa Majestade muito mais que a
nenhum dos outros Príncipes pela maior
distância do seu domínio, evitando-se desta
sorte os desgovernos das conquistas, que
procedem em grande parte de chegar muito
tarde a notícia deles a Vossa Majestade."
O despacho régio foi favorável ao pedido,
que hoje designaríamos de registo de
patente. O feito de Gusmão é um bom exemplo
do engenho luso. Mas, como em tantos outros
casos, este engenho não teve sucesso...
Padre Bartolomeu de Gusmão . Fonte:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
Bartholomeu Lourenço de Gusmão, teria
nascido em Santos (Brasil) no ano de 1685, e
morreu em Toledo (Espanha) a 18 de Novembro
de 1724) foi um sacerdote secular, cientista
e inventor luso - brasileiro, famoso por ter
inventado o primeiro aeróstato operacional.
Como tal, é uma das maiores figuras da
história da aeronáutica mundial. Bartolomeu
Lourenço de Gusmão, nascido simplesmente
como "Bertholameu", foi baptizado em 19 de
Dezembro de 1685 na Igreja Paroquial da vila
de Santos pelo padre António Correia Peres.
Era o quarto filho de Francisco Lourenço e
Maria Álvares. O casal teria ao todo doze
descendentes, seis homens e seis mulheres,
um dos quais, Alexandre de Gusmão, viria a
tornar-se importante diplomata do reinado de
D. João V. Já a maioria dos outros membros
da irmandade optou ou foi orientada pelos
pais a devotar-se à vida eclesiástica,
dentre esses, Bartolomeu.
O menino cursou as primeiras letras
provavelmente na própria Capitania de São
Vicente, no Colégio São Miguel, então o
único estabelecimento educacional da
região. Prosseguiu os estudos na Capitania
da Bahia. Aí ingressou no Seminário de
Belém, em Cachoeira, onde teria início a
sua profícua carreira de inventor. A
edificação, situada sobre um monte de 100
metros de altura, possuía precário
abastecimento de água, que tinha que ser
captada e transportada em vasos a partir de
um brejo subjacente. Percebendo o problema,
Bartolomeu inteligentemente planejou e
construiu um maquinismo para levar a água do
brejo até o seminário por meio de um cano
longo. O invento, testado com absoluto
sucesso, foi considerado admirável e de
grande utilidade por todos os integrantes do
estabelecimento, inclusive pelo próprio
reitor e fundador do seminário, o renomado
sacerdote Alexandre de Gusmão.
Terminado o curso no Seminário de Belém em
1699, Bartolomeu transferiu-se para
Salvador, a capital do Brasil à época, e
ingressou na Companhia de Jesus, de onde
saiu antes de se formar jesuíta, em 1701.
Viajou para Portugal, onde chegou já famoso
pela memória extraordinária, ficando
hospedado em Lisboa, na casa do 3º Marquês
de Fontes, que se impressionara com os dotes
intelectuais do jovem. Contava ele então
apenas 16 anos. Em 1702 Bartolomeu retornou
ao Brasil e deu início ao processo de sua
ordenação sacerdotal. Três anos depois ele
pediu patente à Câmara da Bahia para o seu
aparelho de anos atrás, o "invento para
fazer subir água a toda a distância e altura
que se quiser levar", expedida em 23 de
Março de 1707 pelo rei Dom João V. Foi essa
a primeira patente de invenção outorgada a
um brasileiro. Em 1708, já ordenado padre,
Bartolomeu embarcou mais uma vez para
Portugal, onde ao chegar tratou logo de
matricular-se na Faculdade de Cânones da
Universidade de Coimbra, o que fez em 1º de
Dezembro; passados alguns meses, contudo,
abandonou a faculdade para ir instalar-se em
Lisboa, aonde foi recebido com sumo agrado
pelo Rei Dom João V e pela Rainha Maria Ana
de Áustria, apresentado que fora aos
soberanos por um dos maiores fidalgos da
Corte, D. Rodrigo Anes de Sá Almeida e
Menezes. Esse homem era ninguém menos que o
3º Marquês de Fontes, o mesmo que o havia
recolhido à sua casa quando de sua primeira
estada em Portugal. Na capital portuguesa o
padre Bartolomeu Lourenço pediu patente para
um "instrumento para se andar pelo ar" - que
se revelaria ser, mais tarde, o que hoje se
conhece por "aeróstato" ou "balão" -,
concedida no dia 19 de Abril de 1709. O fato
casou celeuma na cidade e a notícia
rapidamente se espalhou para alguns reinos
europeus, que deram a devida publicidade. O
invento, divulgado por meia Europa em
estampas fantasiosas que em geral o
retratavam como uma barca com formato de
pássaro, ficou conhecido como "Passarola".
As primeiras ilustrações da Passarola haviam
sido na verdade elaboradas pelo filho
primogénito do 3º Marquês de Fontes, D.
Joaquim Francisco de Sá Almeida e Menezes,
com a conivência de Bartolomeu. O futuro 8º
Conde de Penaguião contava 14 anos em 1709 e
era, então, aluno de matemática do padre,
sendo a única pessoa à qual ele permitia
livre acesso ao recinto em que o engenho
voador era guardado. Como o rapaz vivesse
assediado por curiosos, que constantemente
lhe faziam indagações acerca da invenção,
resolveu ele, para parar de ser importunado,
elaborar o exótico desenho da Passarola, em
que tudo era propositadamente falseado. E
para preservar o verdadeiro princípio da
invenção - o Princípio de Arquimedes -,
atribuiu a ascensão da engenhoca ao
magnetismo, então a resposta para quase
todos os mistérios científicos. Esperava
dessa maneira melhor proteger o segredo
confiado à sua guarda e ainda ludibriar os
bisbilhoteiros. Comunicou o plano a
Bartolomeu, que o aprovou, e fingiu deixar o
desenho escapar por descuido. A Passarola,
inspirada ao que parece na fauna fabulosa de
algumas lendas do Brasil, foi rapidamente
copiada pelos primeiros que a apanharam,
logo se espalhando pela Europa em várias
versões, para grande riso dos dois
embusteiros. Toda essa trama seria
descoberta anos depois por um autor
italiano, Pier Jacopo Martello [1625 -
1727], e revelada por ele na edição póstuma
do livro Versi e prose de 1729, em que fazia
um longo e meticuloso histórico das
tentativas do homem para voar, das mais
antigas às mais recentes daquele tempo. Em
Agosto, finalmente, Bartolomeu Lourenço fez
perante a corte portuguesa cinco
experiências com balões de pequenas
dimensões construídos por ele: na primeira,
realizada no dia 3 na Casa do Forte (Palácio
Real), o protótipo utilizado pegou fogo
antes de subir; na segunda, feita no dia 5
noutra dependência do palácio, a Casa Real,
o aeróstato, provido no fundo duma tigela
com álcool em combustão, se elevou a 4
metros, quando começou a arder ainda no ar,
sendo imediatamente derrubado por dois
serviçais armados de paus, receosos dum
incêndio aos cortinados do recinto; na
terceira, feita no dia 6 novamente na Casa
do Forte, o balão, contendo no interior uma
vela acesa, logrou fazer um voo curto, mas
se queimou no pouso; na quarta, feita no dia
8 no Terreiro do Paço (hoje Praça do
Comércio), o balonete elevou-se a grande
altura, pousando lentamente minutos depois;
na quinta, feita no dia 8 na Sala das
Audiências, no interior do Palácio Real, o
globo subiu até o teto do aposento, aí se
demorando, quando enfim desceu com
suavidade. Em 3 de Outubro de 1709, na ponte
da Casa da Índia, o padre fez nova
demonstração do invento. O aparelho
utilizado era maior que os anteriores, mas
ainda incapaz de carregar um homem. A
experiência teve êxito absoluto: o aeróstato
subiu alto, flutuou por um tempo não medido
e pousou sem estrépito. Cinco testemunhas
registaram essas experiências: o cardeal
italiano Miquelângelo Conti, eleito papa em
1721 sob o nome de Inocêncio XIII, os
escritores Francisco Leitão Ferreira e José
Soares da Silva, nomeados membros da
Academia Real de História Portuguesa em
1720, o diplomata José da Cunha Brochado e o
cronista Salvador António Ferreira,
portugueses. Em 1843 o escritor Francisco
Freire de Carvalho disse haver tomado
conhecimento, por intermédio de um ancião
chamado Timóteo Lecussan Verdier, de uma
outra experiência aerostática, assistida
pelo diplomata português Bernardo Simões
Pessoa, em que o balão partiu da Torre de
São Roque e caiu junto à costa da Cotovia
por detrás de S. Pedro d'Alcântara. Segundo
Carvalho, Verdier, por sua vez, assegurava
que o relato da ascensão lhe fora
transmitido pelo próprio Pessoa em tempos
muito anteriores ao ano de 1783, quando dos
primeiros voos de balões na França.
Lamentavelmente, todas essas experiências,
embora assistidas por ilustres
personalidades da sociedade portuguesa da
época, não foram suficientes para a
popularização do invento. Os pequenos balões
exibidos, além de não haverem sido encarados
como inovação importante ou útil, por serem
desprovidos de qualquer tipo de controle -
eram levados pelo vento -, foram
considerados perigosos, pois podiam, como se
vira, provocar incêndios. Esses factores
desestimularam a construção de um modelo
grande, tributável.
Entre 1713 e 1716 viajou pela Europa. Em
1713 registou na Holanda o invento de uma
"máquina para a drenagem da água alagadora
das embarcações de alto mar" (patente que só
veio a público em 2004 graças a pesquisas
realizadas pelo arquivista e escritor
brasileiro Rodrigo Moura Visoni). Viveu em
Paris, trabalhando como ervanário para se
sustentar, até que encontrou seu irmão
Alexandre como secretário do embaixador de
Portugal na França. O padre Bartholomeu de
Gusmão voltou a Portugal, mas foi vítima de
insidiosa campanha de difamação. Acusado
pela Inquisição de simpatizar com
cristãos-novos, foi obrigado a fugir para a
Espanha. Ao passar pela cidade de Toledo
(Espanha) adoeceu, devido ao que se recolheu
ao Hospital da Misericórdia daquela cidade,
onde veio a falecer em 18 de Novembro de
1724. Foram feitas ao longo das décadas
várias tentativas para localizar a sua
tumba, o que só ocorreu em 1856. Parte de
sua ossada foi transportada para o Brasil e
se encontra desde 2004 na Catedral
Metropolitana de São Paulo.
Passarola - Fonte: Wikipédia, a enciclopédia
livre.
A primeira aeronave conhecida no mundo a
efectuar um voo foi baptizada de Passarola,
e antecede 74 anos o famoso balão dos
Montgolfier. A Passarola era um aeróstato,
cujas características técnicas não são
actualmente conhecidas na totalidade,
inventado por Bartolomeu de Gusmão, padre e
cientista português nascido no Brasil
colónia, tendo voado no ano de 1709.
Bartolomeu de Gusmão era um padre jesuíta
nascido em Santos, no então território
português do Brasil que, depois de se
matricular na Universidade de Coimbra em
1705, começou aí a desenvolver dois dos seus
interesses de há muito, a Matemática e a
Física. Segundo se sabe, a observação de uma
bola de sabão a subir no ar, inspirou-lhe a
concepção de um balão e o desenvolvimento de
estudos na área da aerostação. Na sequência
dos seus estudos em aerostação, no ano de
1708, Bartolomeu de Gusmão pede ao Rei de
Portugal, D. João V, uma petição de
privilégio para o que chamou o seu
"instrumento de andar pelo ar". Em 19 Abril
de 1709, por Alvará é-lhe concedido esse
privilégio. Além do privilégio, D. João V
decide passar a financiar o projecto de
desenvolvimento e construção do aparelho.
Bartolomeu de Gusmão dedica-se então por
inteiro ao projecto, que é desenvolvido na
Quinta do Duque de Aveiro em S. Sebastião da
Pedreira (Lisboa). Alguns meses depois, em 8
de Agosto de 1709, perante uma importante
assistência presente na Sala dos
Embaixadores da Casa da Índia que incluía o
Rei, a Rainha, o Núncio Apostólico (Cardeal
Conti, mais tarde Papa Inocêncio XIII), bem
como outros importantes elementos do Corpo
Diplomático e da Corte Portuguesa,
Bartolomeu de Gusmão fez voar um balão
aquecido a ar, que subiu até ao tecto da
sala. Depois da espectacular demonstração,
Bartholomeu de Gusmão inicia o
desenvolvimento de uma versão tripulada e
maior do seu balão. Esse desenvolvimento vem
culminar num balão de enormes dimensões
baptizado de Passarola. O enorme balão é
lançado da Praça de Armas do Castelo de S.
Jorge em Lisboa, tripulado provavelmente
pelo seu próprio inventor, e faz uma viagem
de cerca de 1 Km, vindo aterrar no Terreiro
do Paço.
Com a Passarola de sua invenção, Bartolomeu
de Gusmão torna-se assim num dos mais
importantes pioneiros da aeronáutica
mundial, ficando conhecido como "o Padre
Voador". Este acontecimento está descrito no
romance do português José Saramago, Memorial
do Convento. Apesar de existirem desenhos e
descrições da época, não se sabe hoje em dia
quais as exactas características técnicas da
Passarola, devido à perda dos projectos e
documentos originais e ao desconhecimento
dos autores da época em questões de ciência
aeronáutica. O desenho mais conhecido da
passarola não deve passar de uma
especulação, feita por um autor que nunca
observou o aparelho original e que tentou
reproduzi-lo como um navio voador. Sabe-se
apenas que a Passarola era um aeróstato
aquecido a ar quente, aquecimento esse que
era produzido através de uma fonte de
ignição instalada numa barca sob o aparelho.
Tecnicamente a passarola devia ter as
características dos actuais balões de ar
quente.