Zeca Afonso, foi um
compositor/cantor português, nascido na
cidade de Aveiro a 2 de Agosto de 1929.
Depois de ter feito o Liceu, formou-se em
Ciências Histórico-Filosóficas na
Universidade de Coimbra, tendo exercido o
magistério liceal. A partir de 1969,
dedicou-se em exclusivo à actividade
musical, principalmente as chamadas música
de “intervenção”. O seu nome impôs-se com
Baladas e Canções. A Casa da Imprensa
galardoou-o em 1969, 1970 e 1971, como o
melhor compositor e interprete da música
ligeira. “Grândola, Vila Morena”, canção
utilizada para o arranque da Revolução de 25
de Abril de 1974 (conhecida por Revolução
dos Cravos), tornou-se uma espécie de hino
das Forças Armadas Portuguesas.
Suas Canções:
A Acupunctura Em Odmira; A Cidade; A
Formiga No Carreiro; A Morte Saiu à Rua; A
Mulher Da Erva; Adeus Serra Da Lapa; Ailé
Ailé; Ali Está O Rio; Alípio De Freitas;
Altos Castelos; Arcebispada; Avenida de
Angola; Balada Do Outono; Balada Do Sino;
Canção Da Paciência; Canção De Embalar;
Canção Do Desterro; Canta O Colie; Canta O
Juiz; Cantar Alentejano; Cantiga Do Monte;
Cantigas Do Maio; Canto Moço; Carta A
Miguel Djéjé; Chamaram-me Cigano; Chula Do
Póvoa; Com As Minhas Tamanquinhas; Como Se
Faz Um Canalha; Coro Da Primavera; De Não
Saber O Que Se Espera; Enquanto Há Força;
Era Um Redondo Vocábulo; Eu Vou Ser Como A
Toupeira; Fui Beira Do Mar; Fura Fura;
Gastão Era Perfeito; Grândola Vila Morena;
Já O Tempo Se Habitua; Lá No Xepangara; Lá
Vem Os Nossos Soldados; Lá Vêm Subindo O
Abismo; Maio, Maduro Maio; Maria Faia;
Minha Mãe; Não Meu Bem; Não Seremos Pais
Incógnitos; Natal Dos Simples; Nefretite
Não Tinha Papeira; O Avô Cavernoso; O
Canarinho; O Cavaleiro E O Anjo; O
Comerciante; O Homem da Gaita; O Homem
Novo Veio Da Mata; O Homem Voltou; O
Pastor De Bensafrim; O Que Faz Falta; Os
Enucos; Os Fantoches De Kissinger; Os
Índios Da Meia-Praia; Os Vampiros; Papuça;
Paz, Poeta E Pombas; Por Trás Daquela
Janela; Que Amor Não Me Engana; Rio Largo
De Profundis; Ronda Dos Paisanos; Senhor
Arcanjo; Tecto Do Mendigo; Tenho Um Primo
Convexo; Teresa Torga; Ti Alves; Traz
Outro Amigo Também; Utopia; Vejam Bem;
Venham Mais Cinco; Viva O Poder Popular.
Zeca Afonso foi criado pela tia Gé e pelo
tio Xico, numa casa situada no Largo das
Cinco Bicas, em Aveiro, até aos 3 anos
(1932), altura em que foi viver com os pais
e irmãos, que estavam em Angola havia 2
anos. A relação física com a natureza
causou-lhe uma profunda ligação ao
continente africano que se reflectirá pela
sua vida fora. As trovoadas, os grandes rios
atravessados em jangadas, a floresta
esconderam-lhe a realidade colonial. Só anos
mais tarde saberá o quão amarga é essa
sociedade, moldada por influências do
apartheid.
Em 1937, volta para Aveiro onde é recebido
por tias do lado materno, mas parte no mesmo
ano para Moçambique, onde se reencontra com
os pais e irmãos em Lourenço Marques (agora
Maputo), com quem viverá pela última vez até
1938, data em que vai viver com o tio
Filomeno, em Belmonte. O tio Filomeno era,
na altura, presidente da câmara de Belmonte.
Lá, completou a instrução primária e viveu o
ambiente mais profundo do Salazarismo, de
que seu tio era fervoso admirador. Ele era
pró-franquista e pró-hitleriano e levou-o a
envergar a farda da Mocidade Portuguesa.
«Foi o ano mais desgraçado da minha vida»,
confidenciou Zeca.
Zeca Afonso vai para Coimbra em 1940 e
começa a cantar por volta do quinto ano no
Liceu D. João III. Os tradicionalistas
reconheciam-no como um bicho que canta bem.
Inicia-se em serenatas e canta em «festarolas
de aldeia». O fado de Coimbra, lírico e
tradicional, era principalmente interpretado
por si. Os meios sociais miseráveis do
Porto, no Bairro do Barredo, inspiraram-lhe
para a sua balada «Menino do Bairro Negro».
Em 1958, José Afonso grava o seu primeiro
disco "Baladas de Coimbra". Grava também,
mais tarde, "Os Vampiros" que, juntamente
com "Trova do Vento que Passa" (um poema de
Manuel Alegre, musicado e cantado por
Adriano Correia de Oliveira) se torna um dos
símbolos de resistência antifascista da
época. Foi neste período (1958-1959)
professor de Francês e de História na Escola
Comercial e Industrial de Alcobaça.
Em 1964, parte novamente para Moçambique,
onde foi professor de Liceu, desenvolvendo
uma intensa actividade anticolonialista o
que lhe começa a causar problemas com a
polícia política pela qual será, mais tarde,
detido várias vezes.
Quando regressa a Portugal, é colocado como
professor em Setúbal, mas, devido ao seu
activismo contra o regime, é expulso do
ensino e, para sobreviver, dá explicações e
grava o seu primeiro álbum, "Baladas e
Canções".
Entre 1967 e 1970, Zeca Afonso torna-se um
símbolo da resistência democrática. mantém
contactos com a LUAR (Liga Unitária de Acção
Revolucionária) e o PCP o que lhe custará
várias detenções pela PIDE. Continua a
cantar e participa, em 1969, no 1º Encontro
da "Chanson Portugaise de Combat", em Paris
e grava também o LP "Cantares do Andarilho",
recebendo o prémio da Casa da Imprensa pelo
melhor disco do ano, e o prémio da melhor
interpretação. Zeca Afonso passa a ser
tratado nos jornais pelo anagrama Esoj
Osnofa em virtude de ser alvo de censura.
Em 1971, edita "Cantigas do Maio", no qual
surge "Grândola Vila Morena", que será mais
tarde imortalizada como um dos símbolos da
revolução de Abril. Zeca participa em vários
festivais, sendo também publicado um livro
sobre ele e lança o LP "Eu vou ser como a
toupeira". Em 1973 canta no III Congresso da
Oposição Democrática e grava o álbum "Venham
mais cinco".
Após a Revolução dos Cravos continua a
cantar, grava o LP "Coro dos tribunais" e
participa em numerosos "cantos livres". A
sua intervenção política não pára, tornou-se
um admirador do período do PREC e em 1976
apoia Otelo Saraiva de Carvalho na sua
candidatura à presidência da república. Os
seus últimos espectáculos decorreram no
Coliseu de Lisboa e do Porto, em 1983,
quando Zeca Afonso já se encontrava doente.
No final desse mesmo ano, é-lhe atribuída a
Ordem da Liberdade, mas o cantor recusa. Em
1985 é editado o seu último álbum de
originais, "Galinhas do Mato", em que,
devido ao avançado estado da doença, José
Afonso não consegue cantar na totalidade.
Devido a isso, o álbum foi completado por:
José Mário Branco, Helena Vieira, Fausto e
Luís Represas. Em 1986, já em fase terminal
da sua doença, apoia a candidatura de Maria
de Lourdes Pintassilgo à presidência da
república.
José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de
1987, no Hospital de Setúbal, às 3 horas da
madrugada, vítima de esclerose lateral
amiotrófica. Será certamente recordado como
um resistente que conseguiu trazer a palavra
de protesto antifascista para a música
popular portuguesa e também pelas suas
outras músicas, de que são exemplo as suas
baladas.
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal |