Ano II - Setembro - 2009

Editada por Iara Melo

Participação de Diversos Autores e

Amigos do Portal CEN

 

 

 
 
Amor de Primavera...
(Conto a 4 mãos)

Carlos leite Ribeiro e Maria Nascimento Santos Carvalho


     
Final de setembro ... A primavera estava chegando e, com ela, continuava o longo período de chuva, ainda com resquícios do inverno que castigara a cidade de Coruripe, no Litoral Sul de Alagoas. Além da tempestade que castigava a cidade, os relâmpagos riscavam a amplidão, e os trovões fortes e continuados davam a sensação de que estava tudo desabando no firmamento, trazendo um calor enorme, contrastando com o aspecto do tempo.
      Como os relâmpagos sempre me causaram pavor, entrei no primeiro lugar que me parecia oferecer mais segurança, que, por acaso, era o restaurante Fênix, que eu costumava frequentar.
      Era o único restaurante considerado classe A que existia em Coruripe, frequentado geralmente por clientes de poder aquisitivo mais elevado, vindos de outras cidades por motivo de negócios, para as festas religiosas ou políticas, por usineiros e seus familiares e pelos funcionários públicos mais bem remunerados.
      Os trovões continuavam cada vez mais fortes e os relâmpagos espalhavam raios dourados em todas as direções, projetando uma luz intensa por toda a cidade. Era realmente uma tempestade assustadora.
      Eu estava esperando cessar a chuva e, como estivesse se aproximando a hora do almoço, me sentei à mesa onde costumava ficar, naquele restaurante sempre cheio e barulhento. Enquanto aguardava a minha refeição, de repente se aproximou um moço desconhecido e como as demais mesas estivessem ocupadas, pediu licença para ocupar também aquela mesa.
      Eu não costumava compartilhar com estranhos os meus "solenes" momentos de refeições e detestava quando alguém tentava invadir a minha privacidade, mas, percebendo que não havia outro lugar desocupado, secamente disse que ele poderia ficar à vontade (desde que não viesse com conversa fiada, pensei).
      Eu fingia que não o estava observando, mas volta-e-meia, descobria um ou outro detalhe interessante no meu imposto companheiro de mesa, que àquela altura já saboreava um vinho tinto como se fosse a bebida mais saborosa do mundo.
     Olhando de vez em quando, de relance, percebi que era um rapaz charmoso, muito bem cuidado, e tinha olhos os castanhos e e amendoados, traços de pessoa fina; enfim, não deixava de ser um homem muito interessante.
      Antes de consultar o cardápio, me perguntou se a comida daquele restaurante era de boa qualidade, se o meu marido não se incomodaria se soubesse que a esposa estava à mesa com outro homem, se eu tinha filhos etc., e quando respondi que era solteira pareceu-me mais calmo calmo e menos tímido.
      De início, eu não me senti à vontade com o rumo que a que a conversa estava tomando e fiquei nervosa ao perceber que algumas pessoas conhecidas estavam nos lançando olhares atravessados, imaginando não sei o quê...
      Como em cidade pequena quase todas as pessoas se conhecem, no mínimo estavam censurando a minha "prosa" forçada com um cavalheiro desconhecido. Contudo, depois de algumas frases trocadas fiquei mais descontraída e até fiz algumas indagações de somenos importância.
      Nesse ínterim, ele aproveitou para dizer que era aluno de Engenharia de uma faculdade da Capital, mas trancara a matrícula por incompatibilidade de horário por estar em novo emprego, que o obrigava a viajar, não lhe sobrando tempo para continuar, embora já estivesse em mais da metade do curso.
      Como se já me conhecesse há meio século, confessou que mudara de emprego porque trabalhava com sua ex-noiva na mesma empresa em que ela o havia traído com um gerente chegado recentemente de uma filial do interior e, envergonhado, pediu desculpas. Num gesto de confiança, embora fosse ele um desconhecido, eu disse que lamentava profundamente pelo acontecido, que aquilo poderia acontecer com qualquer pessoa e que a minha história não era muito diferente: comigo havia acontecido coisa pior porque eu tinha sido "trocada" pela minha melhor "amiga", o que tornava a traição muito mais dolorida...
      Logo depois de pagar suas despesas, sem comentários, despediu-se, delicadamente, e foi embora com seu ar de tristeza.
      Malgrado eu não quisesse admitir, fiquei muito decepcionada com aquela despedida apressada, que mais me parecia uma

      Fuga

      Cansei de mendigar felicidade,
      e te pedir que me ames como eu te amo ...
      de me iludir com provas de amizade
      e te implorar que venhas, quando eu chamo.
     
      Não vou mais ultrajar minha saudade,
      nem vou clamar carinho como clamo,
      ou macular tua serenidade
      por ter que me aturar quando reclamo.
     
      Não vou mais vasculhar nosso passado,
      nem julgar se foi certo ou foi errado
      o que fiz por amor ou por loucura !
     
      Quero é me libertar de qualquer jeito
      deste amor que sufoco no meu peito ...
      ... este bendito amor que me tortura !

      Fiquei ainda alguns minutos a pensar no que tinha acontecido naquele almoço. Mas a vida tinha de continuar e eu tinha que voltar ao escritório.
      Realmente eu precisava retornar ao trabalho e aceitar a minha realidade. Em cidade pequena há uma escassez muito grande de cavalheiros disponíveis e, querendo ou não, eu tinha que continuar a minha vidinha pacata e sem grandes perspectivas. Mas, mesmo desencantada, fiz uma trova que dizia:

      Às vezes, na despedida,
      num simples modo de olhar,
      se diz o que em toda a vida
      não se pôde revelar ...

      Durante muitos dias ainda alimentei a secreta esperança de que ele aparecesse, mas em vão. Continuei levando aquela vida de sempre: casa, emprego, casa e, de vez em quando, ida ao cinema, e nada mais, porque em cidade pequena não há muita opção de divertimento, mas confesso que aquele homem não saía da minha cabeça ... Era tão forte a presença dele no meu pensamento que parecia que eu já o conhecia há muitos anos... Era uma espécie de "namorado virtual"... " O namorado que era... sem nunca ter sido "...
      O tempo foi passando ...
      Eu já estava perdendo a esperança que tinha de reencontrá-lo e cada dia a mais ficava ainda mais decepcionada comigo mesma por perder tanto tempo esperando por um milagre que, talvez, nunca acontecesse .
      Em setembro do ano seguinte, na mesma data e hora, o tempo estava esplendoroso, com muito sol, temperatura agradável, e eu sentada à mesma mesa do mesmo restaurante em que, pela primeira e última vez, o tinha encontrado.
      Eu pensava em como seria maravilhoso se ele estivesse ali, mesmo que fosse só para mostrar os seus olhos castanhos com aquela tristeza quase indecifrável. E, de vez em quando, me perguntava como uma mulher podia trair um homem como aquele, elegante, de traços finos, cavalheiro, e que, mesmo não sendo um " bonitão ", tinha uns olhos castanhos tão lindos, tão expressivos, apesar da tristeza que tentava ofuscar o seu brilho...
      De repente, como num toque de magia, ouvi uma voz que me parecia familiar, olhei de relance, e quase sem acreditar no que via dialoguei imaginariamente com o meu Destino. E o meu coração pulsou mais forte, quando tive certeza de que era ele mesmo e pensei então na minha

      Espera ...

      Eu te esperei a minha vida inteira,
      muitos anos sofri, e a te esperar,
      minha alma transpôs mar, venceu fronteira,
      porém não conseguiu te reencontrar.
      
      E eu não achei, amor, melhor maneira
      de esta saudade infinda amenizar,
      senão pôr água fria na fogueira,
      para, aos poucos, a chama se apagar.
      
      Entretanto se em cartas mais amenas
      me desses uma, uma esperança apenas,
      a vida inteira, ansiosa, esperaria ...
      
      E quando, um dia, então, tu regressasses,
      por mais sublime o amor que desejasses,
      este sublime amor eu te daria.

      Ele dirigiu-se logo para a mesa onde eu estava sentada.
      Aproximou-se de mim e, como se quisesse contar um segredo, foi logo me dizendo : " Não acredito que, um ano depois, você esteja sentada no mesmo lugar, no mesmo restaurante, e parecendo a mesma "garotinha" assustada que eu conheci aqui, sem este sorriso lindo estampado no rosto".
      E encostando-se em mim, quase ousadamente me perguntou, tentando parecer engraçadinho :
      — Por acaso tínhamos marcado alguma comemoração um ano depois do nosso primeiro encontro ?
      E, parecendo velhos amigos, ficamos rindo como duas crianças que apreciavam as mesmas brincadeiras.
      Desta vez nem pediu licença, sentou-se logo e eu senti um enorme desejo de que ele me conhecesse melhor... Mas limitou-se a contar que tinha voltado para o Rio de Janeiro para resolver uns problemas pendentes, mas que nunca me tinha esquecido.
      Eu nem podia dizer que não acreditava, porque parece que ele estava em todas as coisas bonitas que eu via, e embora eu ainda não soubesse nem o seu nome, eu não o havia esquecido em momento nenhum, e, para falar a verdade, estava ali quase chorando de tanta felicidade !
      Foi aí que, embora não fizesse muito sentido, porque o local não era apropriado, eu lhe disse, quase murmurado:

      Felicidade  

      Felicidade é feita de momentos,
      e eu sou feliz, amor, por comprovar
      ao não tirá-lo dos meus pensamentos,
      que ser feliz é ver você chegar ...
      
      E, juntos, misturando sentimentos,
      pedimos para o Tempo não passar ...
      E o Tempo, sem ouvir nossos lamentos,
      revela que é seu tempo de voltar...
     
      À medida que nossa idade avança,
      entregues às promessas da esperança,
      enriquecemos mais nossa amizade.
      
      E, em cada sua volta, eu vejo que,
      ao me encontrar de novo com você,
      posso entender o que é felicidade! ...

      Nesse dia, um ano depois, tivemos oportunidade de revelar nossos verdadeiros nomes: Douglas e Mariana.
      Alguns anos se passaram, mas para nós parece que o tempo não porque parecemos eternos namorados.
      Douglas trabalha numa cidade vizinha, onde moram seus pais, mas não deixa de voltar para casa todos os dias porque somos muito amigos e não podemos ficar separados muito tempo pois sentimos muita falta um do outro... Por isso, até hoje agradecemos a Deus por aquele dia de temporal em que nos conhecemos.
      Temos dois filhos, e a nossa vida em comum cada dia se torna mais bonita... Temos gostos e gênios bem parecidos, e naquilo em que não combinamos, respeitamos mutuamente as nossas diferenças.
      Aqueles olhos castanhos, um tesouro inesgotável de beleza, me conquistaram e abriram as portas para a nossa felicidade... E dessa felicidade nasceu um singelo poema, que mostra a importância que o Douglas deu à minha vida ...

      Confidências

      Meu coração era um "ser" angustiado,
      um museu abstrato que guardava
      meu tesouro ambulante de lembranças...
      Alimentava-se do passado, respirava o passado,
      e se negava a viver o presente,
      com medo das violências sentimentais ...

      Descrente da trilogia do tempo,
      se esqueceu de que todo o "ser",
      por menos que viva, passa pelo passado,
      vive o presente e morre no futuro
      porque, no cenário da vida,
      cada partícula de tempo,
      é quase ao mesmo tempo
      presente, passado e futuro.

      Desencantado, o "museu abstrato"
      depois de engavetar o meu tesouro maior,
      a alegria, a esperança, a felicidade
      e meus pensamentos poéticos e devassos,
      fechou suas portas e jogou as chaves fora,
      no precipício do esquecimento ...

      Um dia, como um raio de sol,
      você iluminou a minha vida ...
      E com as chaves do seu sorriso,
      abriu a porta da minha alegria...
      Com sua perseverança quase utópica,
      abriu a porta da minha esperança ...
      Com sua generosidade, seu desprendimento,
      abriu a porta da minha felicidade ...
      
      Com o seu imensurável carinho,
      despertou meus sentimentos eróticos,
      há muito adormecidos.
      
      E com a comunhão de todos esses bens
      que ajudou a vida a me devolver,
      você me fez deixar para trás o passado,
      acreditar no presente e nas possibilidades
      que nos pode oferecer o futuro,
      despertando, em mim, o sentimento maior :
      
      O amor infinitamente infinito por você ...

      E assim, de maneira extraordinariamente feliz, termina a história de um grande amor, escrita por Carlos Leite Ribeiro, escritor,  professor mestre, radialista, historiador, fundador/presidente do Portal CEN e jornalista português, domiciliado em Marinha Grande, Portugal, e Maria Nascimento Santos Carvalho, nascida em Coruripe, no Litoral Sul de Alagoas, poetisa, escritora, e advogada, radicada no Rio de Janeiro, desde novembro de 1962.
 
Do livro  "Mar de Versos" de Maria Nascimento Santos Carvalho
Primeira edição, ano 2008
Editor: Antonio de Oliveira Pereira
 
Agradecendo a ilustre escritora e grande amiga, Maria Nascimento, por nos ter enviado tão enriquecedora obra literária.
 
 
 


 


A felicidade é simples
por Tania Montandon


Pela primeira vez resolvi escolher o título do que estou a escrever antes de o fazer. Por quê? Vários fatores me vêm à mente, entre eles o velho clichê que escrever pra ajudar com dicas e conselhos é coisa de quem quer chamar a atenção, ensinar a tal  "auto-ajuda", a classificação do único tipo de livro que nunca me foi de auto-ajuda de fato, ao contrário de tantos outros considerados pessimistas, depressivos, desaconselhados aos temperamentos mais sensíveis, os polêmicos, os censurados, os marginalizados, os imorais, os ousados, inovadores, "perigosos"… Outro fator seria o dos conceitos e valores para temas e palavras abstratas que, por mais que se destrinche, nunca se chega a consenso pela inerente condição humana de ser impossível que todos valorizem por igual tudo, pensem o mesmo, vivam uma mesma história e conheçam as mesmas culturas.

Felicidade, você saberia defini-la? Provavelmente poderia pensar uma concepção desta palavra que satisfizesse a sua subjetividade e talvez outras ou muitas, dependendo de suas habilidades linguisticas, familiaridade com a inter-comunicação, empatia, capacidade de percepção e expressão, etc. Mas certamente não conseguiria cria um conceito aceitável para todos. Isso é complicado? Alguém com quem conversava a respeito me disse que sim. Para mim é tão simples! Assim como o que é complicado para um é simples para outro, o que é felicidade para um não pode ser infelicidade para outro?

Ser presidente de uma grande nação do Primeiro Mundo (se é que alguém ainda entende essa obsoleta expressão), ter poder de decisão sobre a vida e a morte de milhões de pessoas, ter o poder de manter o conforto de "seu" país à custa da destruição veloz, assustadora e global do meio ambiente, clima e natureza, suponho que isso seja a "felicidade" de uma pessoa. Sim, precisa ser uma pessoa aquém dos valores humanos mais nobres, talvez alguém que precisasse de mais vidas para conseguir aprender mais sobre as coisas triviais e ordinárias do cotidiano em detrimento de uma paixão descontrolada pelo extraordinário, pela tentativa de descobertas sublimes que lhe dessem aprovação social, sem saber que esse instinto de um pouco de insatisfação e busca constante por algo faz parte de todos os seres humanos e a aprovação alheia de muitos não garante a auto-satisfação e realização, provavelmente mais a afasta e esconde onde menos se procura: dentro de si.

Sabe? Na verdade, alguém realmente me provou que a felicidade pode sim ser simples e atingida com muito poucos recursos. Um grande amigo ensinou-me que viver feliz é viver por inteiro no presente, sentir tudo que sem esquiva, aceitar a dor com humildade e resignação de quem sabe que não controla muita coisa mesmo. Viver feliz é alegrar-se como as crianças pequenos quando a sensação aparece e acolhê-la no momento, sem preocupações, ressentimentos, sem apego a passado e futuro. Um grande amigo ensinou-me que ser feliz é precisar de pouco, vibrar com cada oportunidade de contato com a natureza, os sorrisos, a ternura, o conforto, tolerar os momentos em que nada disso está disponível e, mais forte que tudo isso, ser feliz este grande amigo ensinou-me que está mesmo na difícil e simples habilidade de conseguir amar, compartilhar, estar presente em momentos significativos, sejam de prazer ou dor, entregar-se com ingênua confiança à devoção de um outro ser desejando-lhe o melhor, aproveitando e valorizando sua companhia, completamente sem outro interesse que não o simples desejo do compartilhar e buscar momentos de alegria.

Também sei que, assim como o que este meu grande amigo tanto me ensinou e provou tocou-me de uma maneira que não há como ter sido igual com a mais ninguém que o conheceu, o que escrevo aqui também não tocará as pessoas por igual. E, com certeza, se eu começasse dizendo que este meu grande e melhor amigo é meu cãozinho Billy, com quem convivi em média quinze horas por dia por mais de sete anos e que morreu atropelado na última quinta-feira, a leitura teria sido diferente, com "velhas opiniões formadas sobre tudo", ou que todos que perdem um cachorro passa pelo mesmo e demais clichês.

No entanto, não escrevi pra ser aprovada por muitos, escrevi pra aliviar meu coração e mente, pra colocar pra for a pra quem quiser ler, comentar ou criticar. Escrevi por mim, para você, numa confissão que gostaria de alguma compreensão e na esperança de que, alguém que leia, possa dizer algo do que pensa pra compartilhar comigo, assim como, vulneravelmente, compartilho aqui minha mais profunda intimidade, na imprudência das almas sensíveis de fazer isso nos momentos de maior fragilidade, quando menos o deveriam.

Mas digo que sim. A felicidade é simples, pros poucos que a sabem distinguir e captá-la, e transbordo em gratidão por tão sublime ensinamento vindo de um ser com tão poucos recursos e, misteriosamente, tanta humanidade que parece faltar em "humanos" de espécie! Obrigada, Billy!
 
 
 

 
 

Visitação
Maria de Lourdes Camelo
 

          Marieta trazia um pão-de-ló fofinho e um bule de café quando a conheci. Era alta, forte, sorridente, reverente. De gestos suaves compunha-se sua pessoa. Diziam que na infância rachou lenha, varreu terreiros, apartou gado, plantou roça, ninou crianças. E que, na juventude, não conheceu sandálias, não usou rouge, não ganhou abraços. Nasceu numa fazenda de escravos e era Filha de Maria. Gostava da primeira missa, de madrugada, para não incomodar ninguém. Dormia num catre simples entre tufos de capim.  Fechava os olhos quando ouvia rádio. Nunca foi triste. Para ela, como na Bíblia, tudo era bom. Minha mãe dizia que Marieta era santa, mas eu não entendia.

          Todas as tardes de domingo, depois da janta, minha avó materna me tomava pela mão e íamos visitar tia Naná. Só de pular o degrau de nossa casa e alcançar o passeio, eu já era só alegria.  Mas, continha os passos, porque vovó não tinha pressa. Havia sempre um presentinho para eu oferecer à chegada: uma barra de toalha, um pote de arroz doce, uma latinha de café moído em casa. Tia Naná e Marieta sempre nos esperavam no fim da escada, entre samambaias e avencas. Na grande sala, as duas irmãs conversavam sobre chuvas, colheitas, novenas, chás para o fígado e parentes distantes. Rezavam o "Magnificat", às vezes, o terço. Em silêncio, eu aguardava o chamado de Marieta, da cozinha. Enquanto esperava, ia revendo a galeria de retratos e o pêndulo do velho relógio. Em pouco tempo eu já não estaria mais na sala. Aguardava-me um cenário inesquecível, mítico, transcendental. A cozinha quente, o fogo intenso e o crepitar da lenha inspiravam reverência, vontade de rezar.  O fogão vermelho era peça principal. Marieta engradava a lenha e soprava os tições com propriedade de quem sabe o que faz.  Labaredas imensas lambiam as paredes, povoando-as de monstros e cisnes. Nas trempes, panelas de ferro enfileiradas, água fervendo para o café. Bem à mão, latas com biscoitos de nata e araruta, bolos e doces picados em losangos. No alto, sobre o fogão, um jirau, como gangorra, revelava, entre picumãs, tiras de toucinho, lombos, linguiças, tripas de porco e queijos. A fumaça embaçava nossos olhos.  Por uma pequena janela entrava a brisa suave da noite. Este espetáculo me reprimia quase à dor, tamanho o prazer. Marieta estava ali, meiga, altiva, como uma deusa africana.  De seu pescoço pendia um terço rústico.

          Nossas visitas só terminavam quando o fogo esmorecia e começávamos a bocejar. Voltávamos com os potes cheios. Era uma farinha torrada, urucum para tempero, figos em calda. Da horta vinham ramos de losna e boldo, para o fígado.

          Deixamos tudo para trás, minha avó e eu. Ainda mantenho em casa o boldo e a losna, mas o fogo, aquele fogo, perdi-o no tempo. Hoje, evoco a lembrança de Marieta. Não, não mais para aquelas delícias, mas para pedir uma bênção ou, quem sabe, um leve aceno.

Maria de Lourdes Camelo é alvinopolense e reside em Lorena-SP
 
 
 
 
 
 

 
Momentos de uma vida
Eliane Gonçalves***
 

Quando criança, conheci uma senhora chamada Guiomar que todos os dias no início da noite abria a porta de sua casa para que as crianças vizinhas fossem ver as novelas com Censura Livre. Lá acompanhei "Meu pé de laranja lima" entre outras novelas das 6 horas.

Como esquecer essa imagem?

Muitas crianças sentadas no chão da grande sala e o refresco de groselha com biscoitos na hora do intervalo. rsrs
Sua sala era disputada, mas tinha um acordo: precisava estudar, e não podia brigar ou fazer bagunça.
Muitas crianças deixavam a televisão de sua casa para ir na casa de Dona Guiomar, que  ao iniciar as novelas "de adulto", como eram chamadas,  dava fim ao evento e íamos pra nossa casa ou brincávamos na rua de amarelinha, pique, peteca etc.
 
Esse relato mostra  que comecei vendo a TV  de forma interessante. Ainda cheguei acompanhar algumas "novelas de adulto" como Selva de Pedra, Simplesmente Maria, Nino o Italianinho, Bandeira 2, mas com o passar do tempo desanimei e  me detive aos jornais, filmes e documentários.

A televisão passou a ser um raro momento de lazer em minha vida.

De  dois meses para cá tenho procurado assistir alguns capítulos da novela “Caminhos da Índias” por causa dos comentários na escola sobre o tal jovem rebelde e seus pais permissivos. Creio que poderiam ser chamados de amigos do ECA. rsrs
 
Na semana passada  vi uma cena da Maitê Proença conversando com uma amiga e no diálogo  sofria a decepção  de um sentimento.
O tom era de amargura ao dizer que havia sido boba ao se encantar com as palavras do tal homem e sua expressão passava a sensação da mensagem.

No final da conversa veio a palavra mágica, quando  disse que o motivo de sua cegueira foi por estar carente.
 
Realmente quando a carência aparece, o ser humano imagina coisas, cria as suas próprias verdades e muita  vezes sofre ao ver que a sua realidade era apenas uma grande ilusão.
 
Que o lindo príncipe, nada mais era do que a fantasia infantil vivida nos contos de fadas e que a sua carência afetiva a fez buscar como porto seguro de suas fragilidades.
 
Creio que essa cena fez muitas mulheres chorarem e algumas tiveram a sua dor ou raiva confortada por esse momento de terapia televisiva.
 
Carência! palavra com tantos significados mas em todos,  a sua presença marca a ausência de algo quase vital pra a vida do ser humano.
Todos nós vivemos momentos de carência, mas não podemos ter atos de demência... rs

Quem nunca se viu diante de um príncipe com fala maravilhosa e se sentiu uma verdadeira princesa?

Mas...
... O verdadeiro príncipe é aquele que percebe esse seu momento e sabe recuar, sabe entender que a tal química poderá virar a pior bomba atômica se não for bem manipulada.

... O verdadeiro príncipe é aquele que sabe entender esse momento e fica ao seu lado, mesmo que distante, te fazendo sentir amada e querida como pessoa e ser humano.

Príncipes verdadeiros, não transformam minutos de uma vida numa vida de minutos.
 

Minutos de uma vida
Eliane Gonçalves***


Você estava tão lindo
Foi impossível resistir
Sem ousar
Não te desejar

Se pudesse
Velaria seu sono
Faria você sonhar
O sonho dos anjos

Mas...
O preço seria alto
Impossível
Fingi não perceber

Seu gesto de afeto
Minutos de uma vida
Na imaginação
Sonhos e fantasias

 
 
 
 

INQUIETUDES D’ ALMA...
Ilda Maria Costa Brasil - Porto Alegre - RS
 

           Nuvens escuras espalhavam-se pelo céu. Um vento suave embalava as preguiçosas árvores e um ar úmido açoitava meu rosto. Sentei-me próxima à porta onde permaneci por longo tempo, às escuras, tomada de um temor da vida.
A violência está a criar-me obstáculos. Atualmente, pego-me receosa em sair às ruas e desconfiada de tudo e de todos. Tal insegurança é conseqüência das notícias divulgadas nos meios de comunicação. Não sabemos mais onde e quando estamos, realmente, protegidos.
Por trás de belos rostos, demônios; por trás de largos sorrisos, traição; por trás de fortes abraços, mentiras; por trás de dóceis palavras, hipocrisia.
Louise adorava escrever. Bem antes de ser alfabetizada, já dominava essa arte. Por três anos, armazenou, em uma gaveta, pequenas narrativas e alguns poemas. Certo dia, alguém ao ler uma de suas produções colocou em dúvida a sua autoria. Ela ficou bastante triste e magoada. Por que a achavam incapaz de criar belos textos? Ser criança seria um obstáculo? Ou os adultos tinham dificuldades em aceitar que crianças traziam em suas almas habilidades que eles não dominam?
Demônios, traição, mentiras, hipocrisia... como lidar com isso? Por mais que tentasse entender, não conseguiu. Assim, ferida em seu orgulho, decidiu parar de escrever. Era preciso sufocar esse dom que trazia consigo. E, seu primeiro passo foi parar de ler. A partir desse dia, o olhar de Louise e seu modo de ser perderam o brilho e o encantamento.
Ao vê-la, fiquei preocupadíssima. Pareceu-me uma plantinha a caminho da morte. Sua altivez e energia desapareceram. Os adultos haviam absorvido a sua seiva.
Sentei-me ao seu lado e procurei mostrar-lhe que os seres humanos, às vezes, têm atitudes mesquinhas, gerando profundas inquietações à nossa alma, mas, nem por isso, vamos fazer de nossas vidas campos tórridos.  Faz-se necessário vermos, por trás de grossas gotas de chuva, um lindo céu azul. 

 

 

 

ESCREVER
Amália LOPES

 

É a mania de actualizar a vida, os passos, o sol, o gosto pelas palavras, os minutos que penso em ti.
Esta mania de falar de ti,  nem sei se existes, se és sonho ou uma quimera.
Mas, porque existo e amo, existe algo, e um dia vou aprender a viver tão só, sem ti.
Eu sei que és bocados duma história, minutos do meu dia.
Eu sei que estás aqui entre as paredes que olho,  na aquarela que pintei sem que alguém tivesse olhado entre o pincel e  a tua presença, entre o prateado do teu cabelo e as cores dum céu azul, onde a inspiração me devorou o olhar. Vou escolher outro caminho, outro sol, mas à noite sinto o teu colinho e adormeço tão enroscada, que nem sei se existo.
No canto esquerdo do meu corpo, estão as emoções, o cheiro de ti, o jardim das minhas lágrimas, o silêncio do meu céu.
No alvorecer duma noite, espero,  espero-te sempre, em cada momento, e sei que tu és o meu melhor caminho. Que loucura é esta que me faz de louca e poeta, de mulher e amante?  Encontro pedaços de ti em cada esquina da minha vida, percorro a minha alma e encontro nobremente a delicia e os néctares que sorvo de ti em goles e taças de quimeras e nos teus gestos há sempre um amanhã.
Talvez me permita em devaneios de  silêncio para te sentir mais perto, não te quero roubar nada, nem um minuto, mas sinto que te quero todo para mim.
Podes não voltar mais, mas nunca hei-de deixar o vento apagar as lembranças de ontem, nem o fogo da tua existência que sobrevive dentro da volúpia do meu ardor.
Sempre tu, sempre eu, quero escrever sobre borboletas e lilases, mas estes destinos entrelaçados pela saudade só me deixam falar de ti.
Não quero mais, sinto que dei um basta neste desvario que me consome, basta mais uma vez, vou lembrar de gaivotas e papoilas, vou escrever sobre tudo e nada.
Vou amar o vento e as rosas porque as pétalas têm o teu cheiro, não quero mais falar de ti e dos beijos que me queimam em cada minuto, sufocas-me em abraços, não, não posso falar de ti.
Tenho que aceitar a minha decisão, mas ontem senti o teu cheiro dentro da minha boca que me pede tanto os teus beijos, não, não posso falar de ti.
Quero tanto falar de bosques encantados, de riachos e água cristalina, quero tanto falar de ti.
Em cada minuto eu espero que a rosa branca abra para te ver inteiro nas pétalas que vão abrindo como o teu abraço. Na fresta da porta, abracei-te tanto meu amor, mas eu não posso falar de ti.
As crianças são o ponto mais alto da nossa visão, as suas palavra são dóceis, o olhar duma ternura encantadora, falam tão debilmente que o mundo é sempre tom rosa suave, tão suave como os seus sonhos de algodão, tu, meu amor, fazias-me sonhar assim, envolta em algodão doce, lembras quando sonhámos em paralelo, eram iguais os nossos sonhos, sempre iguais, mas eu não posso falar de ti.
Numa partilha de sonho eu queria voltar a sonhar sempre, contigo meu amor...
O mar estava sempre calmo e a areia escorria entre os meus dedos, contei os teus beijos em cada grão de areia, lembrei-me tanto de ti, as cócegas que as ondas me faziam  na minha pele lembrava-me os teus carinhos, uma ternura deixada ao acaso, o acaso és tu ali tão visível, tão meu, esta liberdade de viver contigo faz-me sentir aquela onda solta na areia.
Não queria falar de ti. Mas, lembro-me tanto de ti...
Escrevo palavras, escrevo esta história cheia de pormenores e virgulas, cheias da minha vida e da tua, falando de sentimentos, é uma verdade, é um sonho feito loucura que percorro nobremente em caminhos perdidos.
Quero sentir uma brisa bailar no meu rosto, quero sentir  do beijo o seu gosto, quero encontrar-me dentro de mim, nos meus desejos ganhar sabor, na poesia existir como uma embriaguez solta e ganhar a vida dentro de mim.
Pedi à solidão um tempo, porque estava a escrever para ti, esta carta.
Mas eu não queria falar de ti...


 



PÉTALAS BEM DEFINIDAS
 
Autoras: Alba Pires Ferreira e Luciane Pires Ferreira (Entrelace)


Colocou o carro na garagem, consultou o relógio, estendeu a mão para o banco do carona, apanhou a pasta de documentos, mais uma sacola, sorriu, e, procurando algo debaixo do banco, franziu a testa. Com todos os diabos, esquecera o Notebook na firma. Ocorrendo-lhe voltar, logo desistiu da ideia. Estava muito bem guardado em sua sala. E depois, havia os seguranças. Desalentado, mirou a sacola repleta de revistas de celebridades, agora perfeitamente inúteis para o fim a que se destinavam. Pensando melhor, talvez não de todo. Marcinha, linda, sedutora, gostosa, (só de pensar em suas diabruras na cama, sentia tesão invadi-lo) afora isso, futilidade personificada, adoraria conferir os modelitos usados por figuras em destaque na sociedade local. Quem sabe, comprar um parecido. Absorto, abriu a porta de casa, entrou, sendo recebido com alegre sorriso por uma linda loura, curvilínea, que foi logo indagando:
– Tem jogo de futebol hoje, Carlos Eduardo?
Pronto, sexta feira, deseja com certeza sair para balada, com sua produção impecável de sempre. E eu, com todo trabalho que preciso concluir no PC, até a manhã sem falta. Os pedidos, fornecedores... Pensando negociar, trouxe as revistas. Eu trabalhando, ela entretida lendo, tecendo comentários que sequer escuto.
– Não meu amor, futebol só amanhã; e depressa, estendendo-lhe a sacola acrescentou: – Trouxe-lhe várias revistas, muito interessantes, pois, ocorreu-me, hoje coloco alguns trabalhos da firma em dia e, noite de sábado você escolhe o programa.  
Distraída, apanhou a sacola de revistas, agradeceu, e toda contente declarou, que não se preocupasse com passeios, adoraria permanecer em casa este final de semana, ele trabalhando, ela, com suas aulas de crochê.
– Aulas de crochê? – estranhou ele.
– Pois é, amado, iniciei hoje, por isso a pergunta sobre futebol, temia que você desejasse dar uma banda por aí, enquanto eu, não trocaria minhas aulas por nada deste mundo!
Carlos Eduardo, respirando puro alívio, concordou de imediato com Marcinha, e tranquilidade espelhada no rosto, largou a pasta de documentos no escritório e foi preparar-se para o jantar, após o qual, observando sua mulherzinha, que apressada retirava a mesa, falou, daria alguns telefonemas, e logo estaria junto dela. Mais ou menos quinze minutos depois, dirigiu-se ao gabinete. Ao aproximar-se, escutou uma voz feminina. Marcinha estaria com visitas? Colou o ouvido à porta. A voz em alto e bom som:
– “Bom, para fazer a rosa é bem simples... faça uma correntinha de 60 pontos, não precisa apertar muito. Faça uma laçada, dê um ponto alto... faça mais uma correntinha, outro ponto alto, até formar um quadrado... Na segunda carreira, suba mais duas correntinhas...”
Num safanão o rapaz escancarou a porta, e surpresa sua, ninguém, absolutamente ninguém se encontrava na sala, a não ser Marcinha, sentada frente ao PC. Pé ante pé, achegou-se por detrás da mulher, que atenta, cercada de novelos de lã por todos os lados, agulha de crochê entre o polegar e o indicador da mão direita, repetia baixinho:
– ... uma correntinha de 60 pontos...
Carlos Eduardo, um olhar de esguelha para a tela, vislumbrou a dona da voz que ouvira, ou melhor, a mão da dita cuja. Gordinha, assemelhando-se a um pãozinho sovado, empunhava também uma agulha de crochê, entre os dedos polegar e indicador da mão direita. Sem poder conter-se, o rapaz bateu de leve no ombro da mulher, que saltou da cadeira gritando:
– Mas o que é isto, Carlos Eduardo? Assustou-me, interrompendo minha aula desse jeito brusco!
– Deixe-me ver se entendi bem, você recebe aulas deste... desta coisa... digo desta mão, no meu PC? Gritou ele.
– E qual é o problema? Esta mão pertence a uma pessoa igual a você e a mim, que está realizando maravilhas comigo, seu ingrato! E eu que pensei em fazer uma rosa para sua mãe – choramingou a mulher.
– E como vou dar conta do MEU TRABALHO, com você aboletada no meu computador com essa mão gorda?
Marcinha apontando para o lado esquerdo da sala:
– Veja, pensei o tempo todo em você, coloquei até uma mesa em frente a outra janela, para colocarmos seu Notebook. 
Irritado, Carlos Eduardo, respirando fundo, explicou, o Notebook, esquecera na firma. Com um dar de ombros desdenhoso, um aceno para a poltrona onde jazia jogada a sacola de revistas, Marcinha dizia:
– Azar o seu. Da próxima vez preste mais atenção nas coisas. Por agora, sugiro, pegue as revistas e entretenha-se lendo para eu ouvir, qual eu sempre fiz enquanto você trabalhava. E tranquila, continuou sua aula:
– “...depois de completar a tira, enrole uma das extremidades para formar a flor... sobreponha as pétalas e costure alguns pontinhos com a agulha de tapeçaria... Ah, não esqueça de abrir bem os leques para deixar as pétalas bem definidas!”
 
 
 


 

 

TRISTE REALIDADE
Daniela Silva de Camargo - Porto Alegre - RS


            Muitas coisas na vida me revoltam, como a fome, a injustiça, a desordem e, sobretudo, o problema de corrupção que o nosso país está enfrentando. Mas têm algumas coisas que, ao invés de me deixarem revoltada, me deixam entristecida, como por exemplo, os idosos que são abandonados nos asilos por suas próprias famílias. Eu imagino que esses velhinhos, dos quais a maioria já tem a saúde debilitada, sofrem com o desprezo da família e com a solidão.
            Outra coisa que me deixa triste são as crianças de rua. É muito doloroso vê-las nas sinaleiras, fazendo malabarismos em troca de algumas moedas. Eu fico me perguntando como pode uma mãe exigir que seu próprio filho vá para as ruas e ponha sua vida em risco? Com certeza essas mães se interessam somente pelos trocados que as crianças irão lhes trazer do que se seus filhos vão voltar vivos pra casa.
            Os animais que são maltratados também me deixam bastante entristecida, principalmente aqui na capital, quando vejo os cavalos puxando carroças entulhadas de coisas, e seus donos sequer hesitam em dar as chicoteadas.
    Essas são algumas coisas que me deixam realmente tristes, pois sei que não posso fazer nada para ajudar a mudar essa realidade.
 

 
 

 

UM OFÍCIO EM CRISE
Luciane Fernandes Rodrigues - Salto do Jacuí - RS


 – Bem, lá vou eu. Está na hora e não adianta relutar. Respire fundo..., isso, agora novamente..., muito bem. Agora vai. Quem sabe hoje não será diferente? Difícil, esta turma está sempre com o mesmo espírito, o mesmo propósito, aliás, para isso eu devo tirar o chapéu, eles são bastante decididos: decididos a tirar os professores do seu eixo, do seu nível, do seu equilíbrio... da sua razão. Acho mesmo que eles ficam esperando o momento em que o professor sairá correndo corredor a fora, ou o momento em que o pobre coitado começará a pedir-lhes desculpas, com licença, ou responder-lhes: “Sim senhor!” ao mesmo tempo em que bate continência.
Ah, não, imagina, isso é perseguição do professor, aquele idiota, miserável, que ganha um salário de fome, e desconta toda a sua frustração nos alunos. Idiota! Burro! Claro, só pode ser um burro mesmo, afinal estudou anos e anos, faculdade, pós-graduação, para quê? Ouvir grosserias de alunos, sim, infelizmente, há algumas preciosidades que acreditam que podem discutir com o professor da mesma forma como fazem com o seu irmão, tolerar a petulância de alguns adolescentes que acreditam piamente que não precisam de ninguém, muito menos de um sujeito que, imagina só, estudou para ser PROFESSOR, quer coisa pior. “– Eu é que não serei professor!” É claro que não serão (alguns de fato não serão nada) não conseguiriam administrar a insatisfação de 22 adolescentes ao mesmo tempo. Mas nós, os idiotas, temos que administrar não só a insatisfação, mas também a arrogância  de alguns, a pouca demonstração de educação de outros...
RESPEITO? RESPEITO? O que é mesmo que essa palavra significa? Saber ouvir, entender, ser solidário, pedir, agradecer, perguntar, responder, exercer seus direitos e deveres com CORDIALIDADE, não com arrogância. Já pensou, como seria bom. Ah, já sei: tenho diante de mim engenheiros (cujos prédios ruirão em poucos anos), advogados (defensores da corrupção), médicos (esquecidos do seu lema), presidentes (vulneráveis), prefeitos (adeptos do nepotismo), cidadãos sábios e competentes que não precisam de PROFESSORES para chegar a lugar algum. Pelo menos, não desses de escola pública.
           Entendi, bom para eles seria uma escola particular, onde pagariam bem caro e viriam às aulas com o firme propósito de estudar, afinal os seus pais estariam pagando, exigiriam dos professores sempre o máximo, os respeitariam para serem respeitados (enquanto que aqui querem ser respeitados sem respeitar), reconheceriam a autoridade do professor em sala de aula, em vez de continuar as suas conversas paralelas, as mensagens no celular, o som no ouvido, os bilhetinhos... enquanto o IDIOTA tenta fazer o seu trabalho, ainda que se sinta invisível. Alguns são mais espertos, conseguem exercer a política do medo, mas e quem não consegue? IDIOTA!
           IMPOTENTE, é assim que o professor se sente diante de algumas turmas, não de todas, é claro. Há lugares em que o professor consegue exercer o seu papel: auxiliar na busca do conhecimento, fazer a ponte, apontar caminhos... Se engana quem pensa que o professor é ou quer ser o dono da verdade. “Nós só queremos trabalhar, e o nosso trabalho é fazer o melhor para o maior número de alunos possível dentro da nossa sala de aula...”
           – Bom dia! Vamos começar...
 
 



Socorro... soooocorro, Senhor JR!    
Lucas Cozza Bruno - Porto Alegre - RS


    
          As coisas não andam bem entre eu e a Geografia. O Sistema Uno, livro adotado pela Escola, está trazendo-me  muitos mistérios e eu preciso resolvê-los. Assim, quando o Senhor  aparece   com  aquele   exército  de   questões,  transformo-me   num  detetive atrapalhado, perseguindo e caçando informações e esclarecimentos.
          Em minha casa, antes de iniciar minhas atividades, joguei um pouco d'água no rosto, respirei fundo e mergulhei no problema. Sentado em meu escritório, pensei bastante e o considerei um excelente local para desvendar os mistérios que me atormentam. Imediatamente, resolvi que iria achar uma saída. Para um poeta detetive, nada pode ser impossível?!... Tudo sobre controle. Ação, muita ação!
          Senhor JR, o senhor terá que agüentar firme e tranqüilo a minha solicitação de ajuda. Dê-me uma chance!  Não sei se aceitará o meu pedido de socorro, ou se ao menos irá lê-lo, mas tenho certeza que irei levantar uma polêmica, uma controvérsia, uma boa discussão. Certamente, que vou! Lembre-se que os gaúchos aprendem, desde cedo, a agüentar no osso; porém como paulistano não tenho este jogo de cintura. Olho para o livro e penso: "- Toma poeta, vira-te! Não recue!"
          Com todo o meu respeito, não quero queimar o meu filme com o Senhor, logo agora, no 2º ano do Ensino Médio. Não me leve a mal! E um papo de macho para macho! Logo, vamos em frente.
          Bem, a  ÁFRICA, afinal é considerada o mais tropical de todos os continentes. Seu clima é tropical, quente, úmido e tórrido tal qual a situação que eu me encontro; altíssimas e assustadoras temperaturas, seguidas de tornados que estão se mantendo ao longo do ano.
         A diversidade paisagística está intimamente  ligada  à  distribuição  das  chuvas. O contraste entre áreas apresenta altos índices pluviométricos e outras com escassez nas precipitações, variando desde a floresta pluvial equatorial até as formações xerófilas das terras secas. Próximo ao Equador, a umidade é maior e mais constante, encontra-se uma floresta densa, a Floresta do Congo, uma das mais importantes formações vegetais pluviais do planeta. A África Oriental sofreu intensos movimentos tectônicos geologicamente recentes, resultado de linhas de falhamento e separação entre a Placa Continental, a Península Arábica e a formação do Mar Vermelho e do Golfo de Áden. Sabe-se que outros falhamentos geraram os lagos do leste: Vitória, Tanganica, Niassa e outros. Estes movimentos teuctônicos devem ser semelhantes aos que ocorrem na minha  casa quando vem o resultado das provas. Sinto vontade de subir os 6.000 m do Monte Quilimanjaro. Lá, ninguém me encontrará; há rios e planaltos bons para a energia elétrica como o Zambeze, o Limpopo, o Orange e o Vaal que atravessam os altos platôs da África, desembocando no Índico ou no Atlântico.
          Na África Ocidental, pode-se ver o Rio Niger com curvas caprichosas, bordejando as terras semi-áridas que emolduram o Saara, antes de correr pelo vale tropical que conduz ao Golfo da Guiné.
          Na África Equatorial, o Rio Congo, com afluentes que nascem nos platôs orientais, forma a imensa bacia que sustenta a floresta pluvial. O Nilo, o mais extenso dos rios africanos, nasce próximo ao Lago Vitória, percorrendo ecossistemas cada vez mais secos até atravessar o Saara e desembocar no Mar Mediterrâneo. Por momentos, senti-me no deserto, afinal 1/3 do território a eles pertencem. Vi-me, lá, perdido!
          Ao Sudoeste, o Deserto do Kalahari, o qual ocupa os platôs interiores e é, praticamente, um prosseguimento do Deserto Namíbio. Deserto, esse, que é condicionado pela ação da corrente marítima fria de Benguela, que bloqueia a influência das massas de ar úmido do Atlântico.
         O Saara desde o Atlântico até o Mar  Vermelho  tem mais de 8.000.000 km2, com paisagens desoladas; arenosas, em certos trechos, e pedregosas em outros, interrompido  pelos oásis, formados pelo afloramento de águas subterrâneas. É atravessado pelo Trópico de Câncer e as altas pressões tropicais direcionam as massas de ar para a região equatorial; os ventos alísios. Um dos destaques são os oásis, como vegetação verdejante que surgem, nos véus de água subterrâneos, onde se destacam as palmeiras fornecedoras de tâmaras.
          Senhor JR, acho que estou progredindo. Imagine, eu, um adolescente, tentando provar a um mestre da Geografia que tenho vontade de melhorar o meu aproveitamento na sua matéria.
          Hum, como mortal, preciso relaxar um pouco.  Dobro o canto da página do livro e dirijo-me à janela. Que bela paisagem geográfica! Do 8º andar, observo o Guaíba. Que vontade de estar dentro de um barco à vela que navega livre, leve e solto em suas águas. Puxa, o proprietário do barco deve estar aposentado ou ser um grande apreciador da natureza pois, numa 4ª feira ensolarada, velejando; é claro, que não é estudante em apuros com suas dificuldades de aprendizado! Tampouco o Senhor, que a esta hora deve estar mergulhando em provas, livros ou aulas. Decididamente, para mim foi um dia nefasto. Nefasto? É prejudicial, triste...
         O admirar o Guaíba, recarregou as minhas energias e me levou a retornar os meus escritos, voltando à África. Nilo?  Rio Nilo... Ah, esse nasce próximo ao Lago Vitória, com o nome de Nilo Branco, daí segue rumo ao norte, onde, na Cidade de Cartum, junta-se ao Nilo Azul, e passam a formar um único curso de água, que atravessa o Deserto do Saara com o nome de Nilo. É um imenso delta de grande proveito para atividades agrícolas; local onde foi construída a Barragem de Asseia e a formação do Lago Nasser que aumentaram, significativamente, a área irrigada.
         Transcorrido, alguns minutos, respirei fundo, virei os olhos para a estante e observei um Atlas. Eureka! Atlas? Sim, na porção norte, do Continente Africano está a cadeia montanhosa do Atlas. De formação recente, chega a alcançar 4 mil metros de altitude, ocupando terras da Argélia e do Marrocos (Monte Tubkal, 4. 165 m). Na porção sul, a Cadeia do Cabo, de formação geológica bem antiga, mais desgastada onde se sobressai os Montes Drakensberg com 3.300 m de altitude.  E para reduzir distâncias em 1869, após dez anos de construção, inaugurou-se o Canal de Suez, que separa a Europa da costa oriental da África, do Oriente Médio e do sul, sudeste e leste asiáticos, por via marítima. No noroeste do continente, localiza-se o Estreito de Gibraltar com 12 a 14 km de largura que separa Marrocos, na África, da Espanha, na Europa. Que barato! Fantástico!
         Senhor JR, tenha certeza, por um curto espaço de tempo, o poeta detetive conseguiu desvendar os mistérios da África. Diga-me no que deu?
         Cansado, vejo a caneta e o papel sorrirem  para mim. Neste momento a minha preocupação passou a ser outra. Será que irei conseguir entregar esse Manifesto Geográfico ao Senhor, sábio mestre da Geografia? Espero, que o tenha lido com carinho.              
        Agora, resta-me aguardar a sua reação, Senhor JR e, se eu não obtiver  um resultado  positivo, roubo aquele barquinho à vela, que vi no Guaíba, e sigo viagem para a África.
 
        Felizmente, meu serviço acabou, pois sinto-me exausto.
        - Meu Deus, e se o Senhor JR não quiser ler?  Ah, alguém terá que ler para ele! Com certeza, outros profissionais da área da educação ou, até mesmo colegas, irão se sensibilizar com o meu sofrimento e me ajudarão.Todavia, se isso não acontecer, apelarei para uma cúmplice e o mando por tele-entrega.
 

 


Pra não esquecer jamais
Lígia Antunes Leivas


Chegou quieto. Poucas palavras naquele seu jeito envolvente.
Foi um gesto rápido. Qualquer coisa como se feito sem querer.
Mas tinha sido feito...  aí é que tudo ganhou efeito abrasador.
A mão, num gesto de convite, deslizando sobre seus ombros, deixou-a em estado de êxtase. Aquilo não era comum. E por isso ela não podia fingir não ter entendido. Levantou-se decidida, mas serenamente. Entrou no quarto. Chaveou a porta. Ele já estava.

Foi tudo e muito mais que toda a mais incandescente imaginação poderia pensar... pra não esquecer jamais.
 
***

Sobre qualquer sorte ou... quando do amor só resta a morte.

Lígia Antunes Leivas

Ao som do violão, o poema foi-se chegando.
Dizia de amores passados.
De paixões vividas.
Falava da mulher divinal que tudo fazia, nada exigia.
Contava das noites de amor... densas, intensas, puro ardor!
Da entrega... sombras desenhadas diluídas no chão.
Das horas apetecidas no leito de lençóis de plumas.
Trazia o poema algumas lembranças
dos que em silêncio se inflamam
pelo prazer brotado da carne e do coração!
Contava o poema da festa da ansiedade...
a próxima estrela a beber gestos e jeitos
em mãos já descontroladas.
Braços, bocas, sussurros perpetuando as madrugadas.
...cães ladrantes da noite... mudos para os amantes
...formas em movimento... feminino/masculino
sensações, suspiros, trejeitos... luta das imagens acesas.
    
O poema dizia... sobre qualquer sorte
da solidão da alma
da insalubridade da vida
quando do amor ...só resta a morte.
  
 
 

 


O LEGADO E O PRESENTE
Tchello d’Barros


Estavam algumas deidades de terceiro escalão reunidas em um quadrante próximo à Alfa Centauro, em um recente 24 de dezembro, como fazem todo ano, desta vez tramando sobre o destino de uma certa cidade provinciana do sul do Brasil, quando o assunto se encaminhava para a constatação de que o projeto foi inviável, que foram mais de 150 anos perdidos e não valeria a pena continuar com aquele nome no mapa.
 
Claro que isso gerou muito calor na discussão, pois as divindades andavam sobre a Terra e tinham lá suas convicções, algumas bem disparatadas, é verdade, pois tudo se tratava de distribuir bênçãos ou castigos aos que tinham feito boas ações o ano todo. E aquela cidade estava na corda bamba.
 
Os mais otimistas argumentavam que não, que deveriam deixar a cidade como está pra ver como é que fica, pois é um povo trabalhador, muito trabalhador, trabalham 24 horas por dia, são um exemplo para o país. Mas aí um deusinho meio comunista levantou a mão e disse que isso não quer dizer nada, que são como formigas, que trabalham demais e a vida não é feita só de trabalho. Então, um terceiro entrou na parada, lembrando que não era verdade, que lá o povo gosta de festa também, promovem grandes festanças esvaziando tantos barris de chope quanto possível. Logo, entraram na discussão mais alguns, lembrando que além de tudo, é a terra que mais tem mulheres bonitas no país, que lá se fazem cristais maravilhosos, que se faz roupa bonita como ninguém, que as bandinhas são as mais animadas, e assim debatiam, cada vez botando mais lenha na fogueira da discussão.
 
Nisso a ala pessimista entrou na briga, lembrando que apesar de tudo, era um povo meio frio, desconfiado com visitantes, que não se abraçavam com freqüência, que muitos nem queriam saber de falar português, que no time de futebol da cidade só tinha pernas-de-pau, que no inverno não caía neve, que o rio fazia uma curva, que o chucrute estava azedo e assim por diante. Foi o que bastou para que quase caíssem na porrada, cada um reverberando suas certezas e proposições.
 
Foi nesse momento que entrou na cena um grupo de uns deuses esquisitos, com cada de mau, que pediram a palavra, imediatamente concedida, e contaram que a tarefa não era tão simples quanto se pensava, e que eles mesmos já tinham feito tentativas individuais nesse sentido, mas sem grandes resultados, que era preciso entrar em consenso e somente com uma ação coletiva poderiam efetivar seu intento, pois destruir uma cidade inteira como aquela não é tarefa fácil, ainda mais com aquelas casas em estilo enxaimel, resistentes a tudo. A turma toda ficou surpresa com esse depoimento e pediram mais explicações.
 
Um deles contou que tentou riscar a cidade do mapa, com algumas inundações, que isso incomodou de fato o povo, mas sempre deram um jeito de tirar tudo de letra. Isso causou certo pavor em alguns participantes da reunião, mas outro apartou logo e contou que tinha tentado pelo fogo, mas o máximo que conseguiu foi queimar o tampo de um morro das redondezas. Outro disse então que por muitas vezes espalhou pela cidade políticos corruptos, gente consumista, empresários fominhas, poetas ruins e toda uma laia de gente maledicente, invejosa  e mesquinha. Lamuriou então que não adiantou de nada, esses apenas trataram de se miscigenar com os habitantes e o resultado está aí. Outros ainda quiseram enumerar suas tentativas, pra contar das favelas, capivaras, academias, hermanos, pagodeiros e outras presepadas, mas o conselho superior interrompeu.
 
Estavam para concluir e tomar uma decisão que resultasse numa ação conjunta, pois estava visto que somente um esforço coletivo poderia levar a cabo tão importante tarefa, quando de repente, um deusinho que até estava meio escondido, lendo absorto qualquer coisa num livro, pediu  a palavra, ou melhor, interrompeu o conselho e foi logo dizendo que sabia de algo na cidade que justificaria sua continuidade, sua permanência. Todos ficaram espantados e queriam saber do que se tratava, sendo que um já foi logo dizendo que era o apfelstrudel, que faziam num bairro da periferia. Outro perguntou se por acaso se tratava dos ipês-amarelos que na primavera enfeitavam de ouro a cidade. E já estavam todos animadinhos para darem seus pitacos quando ele mostrou à todos o livro que tinha descoberto e trouxe da biblioteca pública da cidade: um livro de poemas haicais. Todos ficaram estupefatos a princípio, mas em seguida ele lhes contou que naquela cidade viveu um grande poeta e que este escreveu inúmeros poemas nesse estilo e até publicou vários livros e que esses livros hoje estão à disposição do povo na biblioteca.
 
Já era quase meia noite, quase 25 de dezembro, e então os deuses ouviram a leitura dos poemas, causando comoção à todos. E foi assim que decidiram naquela noite que a cidade deveria permanecer no mapa. Todos deram sua benção antes de dormir.
 

 

 
"Tributo a paz"
Flóra Cavalcanti


Dificilmente encontraremos palavras para
aliviar a dor e a saudade de alguém que
não esta mais entre nós.
Nada justifica a violência, o terror e o ódio.
Ninguém agrada a Deus, ferindo pessoas
usando de violência
praticando o terror e matando,
mas aqueles que acima de tudo tem respeito a vida.
" ... Paz na terra aos homens de boa vontade... "
O mundo anseia pela Paz, e com
certeza ficaremos livres de todas as formas
de violência.
Por toda a história da humanidade,
estarão sempre erguidas as
"Torres Gêmeas"
em homenagem as milhares de pessoas
que ali perderam suas vidas.
Que seus familiares sejam capazes de superar
a dor e a saudade de seus entes queridos,
que continuem acreditando na vida,
e nos homens de bem.
Um dia haveremos de viver a Paz,
pois não mais teremos guerra, fome e terror.
Que todos sejamos uma só nação,
onde nossos direitos, deveres e respeitos
sejam nossas metas e principalmente,
nosso compromisso com a vida e o
verdadeiro respeito e Amor a Deus.
Viva a paz.
Que a Paz esteja com todos nós
e entre nós
e em todas as nações e idiomas deste planeta;
Terra.
 


 
 

MUNDO...

José Geraldo Martinez

 

Se na palma da mão tivesse o mundo...
Eu o acolheria neste triste peito!
Incapaz de mudá-lo, em longa agonia...
Tão pequeno sou, não tem jeito!
E morrem pessoas por aí...
Cuspidas pela ignorância!
Crianças que seguem perdidas pelas ruas,
sem qualquer importância...
E eu sofro a tudo!
Tola imbecilidade...
O mundo é do homem que o pariu
em toda sua insanidade!
Que o carregue se o fez assim!
Mundo coberto de desamor...
Triste realidade, é tão ruim!
Clama ele um cobertor...
Fecho os olhos ou entrego?
Abraçando o pobre infeliz...
Ignoro a dor que carrego
e que se dane, não fui eu quem o fiz!
Entregam-me nos braços um bebê abandonado!
Maldito este, que fez isto!
Talvez num ato desesperado...
Não quero com o mundo compromisso!
As enchentes engolem casas!
Não são as minhas, porém...
Chora minha alma, que não apaga
as feridas profundas que tem!
Mataram Osama?
Amém!
Sadan já foi, porém...
Ainda vivem quantos por aí?
A matarem os pobres africanos...
Osamas e Sadans americanos!
Não bastassem os palestinos,
muçulmanos...
Quantos judeus não morreram
na história que longe vai?
Hitler é passado...
Amém!
Não sou um deles, porém...
Somos filhos do mesmo Pai!
Isto não é Brasil!
São dores que minha alma sentiu!
Amém!
Mundo que morre de frio, além...
Desse pequeno que passa aos olhos meus!
Choro, copiosamente, e
a Deus imploro!
Faz-me pedra simplesmente...
Entregam-me o mundo assim!
Querendo meu colo...
São tão pequenos meus braços, é tão ruim...
Choro!
Queria aninhá-lo no peito,
mimá-lo...
Qual filho cheio de defeitos,
que o pai tenta mudá-lo!
Ainda mais olhando a mãe chorar
o filho morto no noticiário...
Pagando com a vida a dívida ao
traficante ordinário!
O velho sendo surrado...
Câmaras malditas filmaram e
meus olhos não queriam ver...
Ah! Mundo, se na palma da
 mão o tivesse!
Não fosse eu tão pequeno,
tão incapaz, com certeza,
não sofreria tanto!
Não tivesse minha alma mania de grandeza...

23/9/2009
 
 
 
 
 

 
... A luz que não se apaga
Heralda Víctor


Um homem recebeu uma luz
No dom do amor e da alegria.
Saiu a andar pelo mundo...

Ao seu encontro veio a multidão
Aflita, carente, precisando de Luz,
Mas o homem não a dividiu com ninguém.
Considerando sua propriedade, a escondeu.

Pelos caminhos sobreveio a tempestade.
Temeroso, o homem tentou proteger sua Luz,
Porém um forte vendaval a apagou.

O homem chorou numa súplica aos céus
Ao entender o sentido da doação:
Dom recebido deve ser partilhado.
Deus teve clemência,
Devolvendo-lhe Luz.

Em sua travessia pela vida
O homem voltou a encontrar
A multidão sofredora em busca de Luz...

Compadecido, mostrou solidariedade.
Sobreveio, porém, a grande tempestade.
Ele tentou defender-se, no entanto,
Um vendaval implacável o atingiu
Deixando-o na escuridão sem forças.

Mas vejam!
Eis que surge uma pequenina luz...
Outra...
Mais outra...
Muitas outras...
Tudo resplandece!
As pessoas que o homem auxiliou
Chegam e o retiram das trevas.

Amigo!
Ao receber um Luz,
Não tenha medo de perdê-la
Deus proverá
A Luz que não se apaga.
Ilumine a vida de alguém...

Do Livro "NOS DEGRAUS DO SILÊNCIO ... Suaves versos que a vida delcama" de Heralda Víctor a ser lançado em Novembro de 2009, em Florianópolis, Santa Catarina, Brasil.
 
 
 
 

ESTILHAÇ...ÂNSIAS
Luiz Poeta

Luiz Gilberto de Barros - Rio de Janeiro - Brasil
 
 
Meu espelho só reflete a tua face
Sobreposta ao meu olhar amargurado
Tudo é como se o mundo inteiro gritasse
E eu ficasse a ouvir meu outro lado.
 
Os meus olhos são teus olhos penetrantes,
Diamantes cortando minhas retinas
Cujas lágrimas  são trôpegos brilhantes,
Enfeitando solidões... de bailarinas.
 
Meu espelho só me mostra o impreciso:
É o teu rosto nebuloso... é fantasia
Que passeia dentro do meu próprio riso
Pelas ruas da tristeza e da agonia...
 
Desistindo de  fitar-me e ver-te... inteira,
Quebro o vidro e noto, multifacetado,
Teu olhar e tua face... derradeira
A mirar meu coração...estilhaçado.
 
 
 
 

 

MAR DE ROSAS
Tito Olívio


Momentos há que a vida nos sorri,
Como se tudo fosse um mar de rosas.
É quando posso estar ao pé de ti
E as horas vão passando vagarosas.
 
Depois, porque partiste ou eu parti,
O vazio das horas dolorosas
Ofusca a f’licidade que senti,
Deixando a vida em trevas tenebrosas.
 
É difícil gerir a solidão,
Quando, à noite, os ruídos só nos dão
As emoções de dor e de tormento.
 
Agarramos, então, sonhos e beijos,
Revemos os carinhos, os desejos
E a ilusão, assim, é alimento.
 

 
 
 

Amor em silêncio
(Maria Granzoto da Silva)


Na noite de sono agitado,
Insone, clamo teu corpo sem rosto...
Grito em silêncio teu nome, amado!
Lavro a palavra lavada
em silencioso silêncio...
Esse silêncio que pensa
e produz a miragem
da tua imagem...
Talvez sejas a pergunta
que em silêncio faço ao vento silente!
Quantas coisas me dizes na quietude,
que eu, demente, doente de amor,
arquiteta da dor, não decifro esses
planos que não são compartilhados.

Quando nada é dito, nada fica combinado.
Num frágil fragmento de silêncio,
tento harmonizar o silêncio e a solidão.
O nosso silêncio tão cortado
pela imagem da ilusão.
Na indagação de gestos tão vários,
há o silêncio
das palavras várias,
com tantas variantes!
E o silêncio, vibrante,
mostra as variáveis
incontroláveis
que me expõem ao avesso da dor que explode
ao abrir-se em amor...
Então, na tela fico à espera da poesia que há por vir,
que há de ir com certeza, exprimir
a tua meiguice
e a minha sandice...
E em silêncio a minha poesia começa
onde termina a tua ternura
e prossegue a minha desventura.
Em silêncio...
 

 
 


QUANDO O OUTONO CHEGAR
Penhah Castro

 
Quando o outono chega ás nossas vidas
Caem as folhas de muitas tristezas
Caem todos os vestígios de raiva
Desaparece o medo irracional,
dando lugar a toda a beleza
contida em profusão dentro do coração
que se renova em cores e canções....
 
As folhas secas caem e mudam nossas vidas...
Tristezas são levadas pelo vento do esquecimento
transportadas para a terra do triturador,
onde são destruídas e deletadas,
dando lugar para uma terra tratada e renovada
com carinho, experiência e muito amor...

Á medida que o vento leva as folhas
busco entrar em sintonia
com esta Natureza por Deus criada...
Deixo-me invadir por um amor renovado
que de dentro de mim está como um poder
que se recicla nas estações da vida...
Que explode em alegria,
dentro de mim contida...
 
Outono é época de renovação
Vai embora todo o velho, o desgastado
deixando um espaço inusitado...
Limpamos todo o lodo de tristezas
Abrindo espaço para muitas e muitas belezas...
Um campo com AMOR ADUBADO...
 

 
 
 

O QUE PASSOU... PASSOU
Eron Vidal de Freitas
(eron)

 

O pensar é livre e sem impedimento,
dom que Deus, generoso, deu ao homem...
Mas as angústias, sem querer, não somem,
se não mudas o rumo de teu pensamento.

O coração, por sua vez, sempre conserva
o que a ele aconteceu de bom ou de ruim,
Lembranças boas ou amargas, nada leva fim,
depositadas inteirinhas, nalguma reserva.

Vê, as formiguinhas continuam trabalhando,
as abelhas, sem parar, o seu mel fabricando,
e, nos jardins, flores e pássaros em interação...

Reaja... pois na vida o que passou... passou,
erigindo um sonho como o que o vendaval levou,
cimentado com mais segurança no seu coração

Garanhuns, Pernambuco, Brasil
 
 

 
 

QUANDO ME FALA O CORAÇÃO
Joana Rodrigues Alexandre Figueiredo


Quando me fala o coração,
Fecho os ouvidos para outras vozes,
E meus pensamentos penetram minha alma;
Sei que é no meu íntimo que tu moras,
E quero que aí permaneças quieto,
Intocável e absoluto.
Ainda que não sejas perfeito,
É assim que te vejo,
Não pelos olhos, mas pela imaginação;
É assim que te sinto,
Sempre e mais, a cada dia meu amor;
Tão sereno, ainda que inquieto,
Tão brando, mesmo que rude,
Mais que nunca minha vida.
Só meus,
O teu amor, os teus dias,
Os teus dizeres e os teus gostares;
Sinto-me louca
Só em cogitar perder-te,
Confronto-o com a sorte,
Com o inusitado e o impecável,
Mas sei que só tu me satisfazes,
E me completas como necessito.
Somente por ti ainda existo,
Guardo-me e me supero;
Retiro das dores o alento,
E por ti, amo;
E só por ti confesso,
Fecho os ouvidos para outras vozes,
Quando me fala o coração.
 

          
 

 
INDOMÁVEL PENSAMENTO
Jussára C Godinho - Ju Virginiana

 
Meu pensamento voa, vaga
Arrisca e se perde em ti
 
Constrói sua morada
E em segredo
Brinca, sonha e ri
 
Acorda calado
E em silêncio
Deixa uma lágrima cair
 
Vaga, divaga,
Insiste, desiste
E ali volta a residir
 
Fica, demora, devora
Para e quer sair
 
Aquece, endoidece
Dilacera, explode
E não me deixa dormir
 
Indomável pensamento
 
Domina meu coração de menina
Cavalga em seu poder
 
Sua imagem passeia em mim
Desnuda meu ser
 
Seu nome chama pelo meu
E baila no salão do sonho
E o sono não vem
 
O pensamento insiste,
Não desiste
 
Exausta me entrego, deixo fluir
E o pensamento voa, vaga
 
E paira definitivamente em ti.
 
 
 
 

 
Perdoo sim!
Iara Melo


No dia em que eu não souber amar
Mas valerá desistir de existir
No dia em que eu não souber perdoar
Não serei digna de ser chamada de filha de Deus.
 
De um DEUS DO AMOR, DE UM DEUS QUE PERDOA AS NOSSAS FALHAS.
Criada, gerada a sua imagem e semelhança, tenho
Obrigação de condizer com o Seu exemplo de Pai Maior.
 
Obrigada Senhor, por  possuir dentro de mim,
O sentimento do perdão.
Obrigada, minha amada mãe "Caçula", por ter me dito
Que se não soubesse perdoar,
Não poderia rezar a oração que Cristo nos ensinou e que tanto louvo,
O Pai Nosso.
 
Não perdoo "por ser nordestina",
Tantos nobres corações não o são e vivem o perdão.
Perdoo por ter tido bons ensinamentos Cristãos,
Perdoo porque creio na oração que Cristo nos ensinou
E quero rezá-la enfatizando bem as palavras:


"PERDOAI-NOS AS NOSSAS OFENSAS ASSIM COMO NÓS

PERDOAMOS A QUEM NOS TEM OFENDIDO".


Perdoo porque também necessito ser PERDOADA.
E um dia, quando senti na pele, mesmo tendo razão num caso ocorrido
O NÃO PERDOAR,
LATEJAM DÉCADAS DE LÁGRIMAS AINDA HOJE,
EM MEU CORAÇÃO.
 
Que Deus me conceda sempre este dom que considero NOBRE:
O DOM DO PERDÃO.
E que você consiga como eu, viver este tão necessário GESTO.
Não adiantam palavras, SEM ATOS.
Não adianta orar, ler a Bíblia, citar os seus ensinamentos,
Se não os vive?!?...
A sua responsabilidade será maior, por conhecer o que Deus quer de si.
 
PERDOE-ME...
 
MAS QUERO CONTINUAR VIVENDO O PERDÃO.
 
PERDOE-ME, POR TER QUE DIZER-LHE ISTO, DESTA FORMA.
 
PERDOE e lembre-se que:
 
 "Você é filho do universo, irmãos das estrelas e astros, você merece estar aqui".

Perdoe-me, por atrever-me, a querer ver-lhe perdoando...
 
* Iara Melo
 
* Falha sim, mas que tento viver o que Cristo nos ensinou, dando a sua vida por nós.
Que a sua vinda, não tenha sido em vão.
Comecemos por nós!

 

 

 

 

 

 

 

Arte topo da página criada por Iara Melo

Fundo Musical: Catedral

Compositor: Tanika Tikaram

Versão: Christiaan Oyens/Zélia Duncan

Resolução do Ecrã 1024 * 768

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 

Copyright © 2007 - 2009 *  Portal CEN - Cá Estamos Nós Web Page

Todos os Direitos Reservados