Ano VI –  Janeiro de 2010
 
Edição e Arte Final:
 
 
 

 


 
Alice Tomé

"Só TU"

Versus "Só Nós"

"Só tu" diz o amigo
"Só tu" diz o enamorado
"Só tu" diz quem ama
"Só tu" diz o apaixonado

Nos caminhos desta vida
O "Só tu" se perdeu
"Só nós" é maravilha
O mundo a si se rendeu

E ficou assim contado
Às gerações que temos
O "Só tu" é atribulado
Porque... "Só nós" podemos...

E...

© Alice Tomé, Lisboa, Portugal.
http://atome.no.sapo.pt/index.htm
 
 
 
 
 


SER POETA  

(Ari Santos de Campos)

           
Tingida de sonhos a noite a mim vem
com  asas quimeras do meu querubim:
num vôo de repente descubro no além
meus versos perdidos ao longo confim.
 
Abraço esses traços e junto, também,
os dogmas impostos às vidas e assim 
vou destro na fonte e me torno refém
das bravas mazelas grudadas em mim.
 
Num horto sagrado, sem vidas, estão
meus versos trazidos, iguais a buquê 
de flores morridas, ornando o jardim.
                                                  
E junto das folhas, aos ventos, se vão
comigo a magia, dos sonhos, porque
eu sou um poeta das sombras do fim. 

 
 
 
 
 

BUSCA

Edson Carlos Contar
 

Em cada canto que se faz novo, eu me apego,
 Em novos sonhos de esperanças, eu navego,
Qual marinheiro aventureiro eu me entrego,
Num viajar sem fim que é  meu destino...
Buscar, no etéreo, o amor perfeito que imagino,
Seja o mais puro e, ao mesmo tempo, libertino.

E nessa busca, vai passando a existência...
Nas minhas rugas escrevendo ilusões,
A solidão desenha um quadro de demência,
Carência pura de impuras conclusões.

Em cada canto, um novo canto, um velho cisma,
Um duvidar, uma certeza, um sofrimento,
Um castigar a velha alma escravizada,
Abandonada na tristeza e no lamento.

E, nessa busca ambiciosa, o desenlace,
A conclusão , a solução, cruel verdade.
Minha procura não terá fim nesta existência,
Nem na vivência de toda uma eternidade.

 


 


Século XX

Edson Gonçalves Ferreira
 

O século XX agoniza
Eu não
Revejo Cecília escrevendo delicado
Lembro-me dela atravessando a avenida no Rio
Eu adolescendo
E Drummond sentindo-se torto
No meio do caminho, contemplo, na minha estante, poetas
Menotti, Bandeira, Quintana...
Revejo Brasília onde com Jorge, o Amado, lancei livro
E com Zélia sorri para as anarquias da vida
Mas é com Adélia e Ziraldo  e foi com França que senti e sinto a vida
Ela tem mais pureza que eu
Ziraldo mais magnitude,
França, meu doce amigo,
Já está longe dos julgamentos mortais e paira digno no santuário do Verbo
Eu, eu sou o miserável e o que me salva é a minha poesia
Nela sou esplendoroso
Como Castro Alves
Volto um século atrás
E vejo o passado do que fui
Amante de todos e de tudo
E toco o lira dos teus seios e te faço ardente
Para saciar esta fome que tenho de amar demais.

Divinópolis/2000
 
 
 
 

 
TROCA DE PENSAMENTOS

(eron)


Valho-me do meu pensamento para te encontrar
depois de o teu pensamento ler em belo versejar
como se a um filme na tela acabasse de assistir...

E concluo, pensativo, como é bela uma amizade
que não mede distância, nem elasticidade,
se ela deseja entre dois seres brotar e prosseguir...

Recebe, pois,  sem carimbo ou protocolo,
um beijo ardente no  provocante colo,
que o meu pensamento me leva a desejar!

Quem sabe um dia  me diga que valeu a pena
sentir desse colo o cheiro  da açucena,
que se espalha no teu corpo feito para amar!

 
 
 
 
 

Os meus dedos errantes

Eugénio de Sá


Os meus dedos, amor, dedos errantes
Úteis partes de mim, mas que eram teus
Sem o altar do teu corpo são ateus
Não se enternecem a orar como antes
 
São as extremidades destas mãos cativas
Da saudade que as tuas lhes deixaram;
Os meus dedos nos teus, como brincaram
Entrelaçados eles e nossas vidas
 
É triste que hoje os saiba acarinhados
Por outros que talvez não te amem tanto
Enquanto estes meus sofrem, ignorados
 
Mas sensações perduram entretanto;
Nestas mãos que te amaram sem pecado
Ficaram as memórias do encanto!
 


 
 
 
 
A CAMINHO DO TRABALHO!

Ilda Maria Costa Brasil
 

É impossível não visualizar cenas deprimentes,
todas as manhãs, quando me dirijo ao trabalho.
Dependendo do bairro, o céu é totalmente cinza,
o ar pesado e poluído, o trânsito lento e caótico
e, o pior, marquises e calçadas abrigam
inúmeras crianças, jovens, adultos e cães.
Meus olhos, frequentemente, ficam embaçados
e uma grande dor toma conta de meu peito.
Por que essas pessoas foram as escolhidas
para se tornarem vítimas do sistema social?
Será que está dura realidade já sufocou
suas capacidades de contemplação do belo,
a auto-estima e o estabelecimento de metas?
Por que a estes seres não foi dada a chance
de fazerem a diferença de outra forma?
Sem sonhos e esperanças entregam-se,
por completo, a degradação e a destruição.
Corpo e alma se destroem precocemente,
e uma intensa fumaça escura passa a ocupar
as ideias e as emoções dos que vivem nas ruas.
Despidos de amor, afeto, respeito, emoções,
sonhos, casa, agasalhos, alimentos e alegrias;
só lhes restam perdas e frustrações.
 
 
 
 
 
 

Amor Gramatical

J.R.Cônsoli
 

Do teu amor fui objeto direto,
o verbo ter de tuas exigências,
quis ser preposição pra ser correto,
só consegui ser mesmo reticências.
 
Continuei co’ amor mais que perfeito,
pensando chegar salvo ao infinitivo,
sem me afastar um ponto, e desse jeito,
aprender como agir no imperativo.
 
Depois das reticências fui sinal,
passei por  trema, fui exclamação...
até bater-me a interrogação.
 
Meu verbo ser então ficou oculto,
o zeugma fez com que virasse um vulto,
e a história se acabou... ponto final!

 

 
 
 
 
Madrugada do Adeus
Lígia Antunes Leivas

 

Madrugada
profana
obscura
Fantasmas dançam
(- à minha volta?
  - dentro de mim?)
Testam meus passos
na melodia espectral
deste silêncio...
A madrugada prossegue
... sepulcral ...
Me perco na dança
meu corpo balança
Perco meu rumo
... me sumo.


 

 
 
 
 
 
NO IDIOMA DA TUA LÍNGUA 

Luiz Poeta

Luiz Gilberto de Barros – às 23h e 11 min do dia 28 de janeiro de 2010 do Rio de Janeiro, especialmente para a Gruta da Poesia – Portal CEN

 
Tu me buscavas, mas eu não te percebia...
Por ironia, quando eu menos esperava,
Era minha alma que em teu ser se diluía
E em fantasia, eu sempre te procurava.
 
Afetuoso, o teu amor delineava
No meu amor, uma carícia tão macia,
Que eu me perdia, quando confidenciava,
Que te buscava... mesmo em forma de poesia.
 
E cada linha solitária que eu traçava,
Repaginava o meu livro e eu descobria
Que cada estória fictícia que eu contava
Sempre inventava o teu amor por companhia.
 
Hoje, o silêncio recompõe o que dizias
Nos meus ouvidos e a linguagem que usavas
Com tua língua amorosa, traduzias
O que eu sentia, toda vez que me beijavas.
 
Nesse idioma de desejo e fantasia
Cada palavra que o desejo não calava
Se transformava num sussurro que dizia
 Que me querias no instante em que eu te amava.
 
Ah, essas flechas que repousam nas aljavas
Desses cupidos produtores de utopias,
Oh, minha amada, eras tu que arremessavas,
E me alvejavas  com o amor que me trazias.
 
 
 
 
 
 

LEVITANDO

Raymundo de Salles Brasil
 

Acordei hoje querendo
Fazer versos e cantar,
Estava um pouco chovendo
Havia um clima no ar,
O sol estava nascendo
E eu comecei a pensar:
 
Vou contar o meu segredo,
Quebrar tabus e voar,
Fiz um sonho de brinquedo
E me pus a levitar
Navegando o vento ledo,
Não consegui mais parar.
 
Foi quando eu pude encontrar
A inspiração dos poetas,
Por aqui e no além-mar,
Minhas musas prediletas,
Burilar meu versejar,
E achar as rimas corretas.
 
Eu sou poeta pequeno,
Meu brilho não tem fulgor,
Por isso padeço, peno,
Mas quando vejo uma flor
Regada pelo sereno
Meu verso muda de cor.
 
Às vezes é nas estrelas
Que eu vou buscar meu talento,
Inspira-me tanto vê-las
Brilhando no firmamento!
Fico um tempo, a protegê-las
Com os meus olhos, ao relento.
 
O sol também me traz luz
Quando o meu verso se cala,
Se a lua nova seduz,
Quando cheia, nem se fala,
Troco a palavra que pus,
Mudo o tom, troco de escala.
 
Um rio correndo no leito
Enche-me de inspiração
Faz suspirar o meu peito,
Bater forte o coração,
E foi assim desse jeito
Que eu compus esta canção.


 
 
 

A Chuva

Roze Alves
 

E a chuva enfim cai sobre mim.
Abençoada chuva, lava-me,
desnudo-me, corpo e alma entregues
 
Lava-me os pecados, os desejos frívolos,
faz-me outra vez inocente, não carente,
limpa o caminho, meus vícios carnais
 
Fascínio, sentimento duvidoso
 
Bocas, beijos e se vai todo corpo.
 
Amanhecer-M
RJ: 18/09/2009
 
 

 


SAUDADE QUE ENLOUQUECE

Sueli do Espírito Santo

Essa saudade que permanece
e essa tristeza que enlouquece
por não esquecer o nosso amor
outrora tão bonito e encantado
agora, tão perdido no passado
desbotado, ele perdeu sua cor
mas ainda tenho uma fantasia
eu vou reencontra-lo na poesia
trazendo-me a mais bela flor....

http://www.sue2001.recantodasletras.com.br
 

 
 



Ciência do Ser

Tania Montandon
 

Ser ou ter a vida que se leva, é, torna-se
Ter, o fruto do trabalho subordinado
Ser, o fruto do trabalho marginalizado

Valores de época, espaço, espécie?
Princípios perdidos na mídia, distraídos
Lembrados a alto preço, a dor incalculável

Espírito, no fundo, restaurado, cego, traído
Amante, luzidio, à espera estéril, séria
Ser, ter, compreender: a alma desperta transforma-se!

 

 

 

 

O AVIÃO
 
Tito Olívio

 
Vi um avião voar,
Eu sei lá para onde ia,
E era para assustar
O barulho que fazia.
Se fosses no avião,
Eu queria ir também;
Nasci com os pés no chão,
Tu para ires mais além.
Se me levasses contigo,
Não sei no que iria dar:
Tenho medo e não consigo
Andar lá cima no ar.
Talvez que, por ser tão doce,
Este meu amor profundo,
Mesmo com medo, eu fosse
Contigo ao fim do mundo.
 

 

 

 

Muito obrigada pela participação de todos

e até a próxima edição.

Abraços.

Iara Melo

 

 

Foto topo da página:
Grutas de Alvados - Portugal

Fundo Musical: CANTEIROS
Composição: Cecília Meirelles e Raimundo Fagner
( Baseado no Poema "Marcha" de Cecília Meirelles)

Formatação e Arte Final: Iara Melo

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