Ano IV – Fevereiro de 2009
 
Edição e Arte Final:
 
Iara Melo
 
 

 

 

 

 

 

Quando me for desta vida,
não quero choro, senão
uma velinha acendida
com flores soltas no chão!
 
***
 
Em nossa casa, de outrora,
- quero o teu riso escutar!
Em vez de risos, agora,
ouço um cão triste me uivar...

 
***

Chega de tanta desgraça,
de tantas chuvas – ouvir!...
Nem lua-cheia aqui passa;
nem lua-nova quer vir!...

 
***

Vejo meu céu lá, de cá:
luzes se põem a correr...
- qual das estrelas de lá,
eu vou morar ao morrer?

 
***

Quando me for desta vida:
- lá na supra dimensão
vou cumprir pena contida
já de sentença na mão!

 
***

Meu demônio faz pirraça:
quer usar meu coração...
- Se deixar me faz de graça,
do seu fogo, uma paixão!

 
***

Vou à noite, na janela,
mergulhar na escuridão:
sobre as sombras, vulto dela,
me assossega o coração!
 
***

Do seu posto, à sentinela,
- sobre o teto do galpão,
galo duro de panela,
abre a goela, canta em vão!...
 
***

Vou de braços à bebida,
- já devorei mil barris...
Para que serve esta vida,
se não me fazes feliz!
 
***
 
Galopei na corda bamba:
- fiz do mundo um desafio...
Sobre a vida que descamba,
hoje eu sou um vento frio!

 
***

Vou remando de partida
num mar imenso de paz...
Mas as ruínas da vida
vão nadando, logo atrás!...

 
***

A paixão que a gente sente
é perfume duma flor.
Mas do doce que se sente,
de repente é um amargor!
 
 ***

Bate a chuva na janela,
o seu vento me assobia...
vou morrer tão longe dela:
dessa luz que me alumia!...

 
***

Fico pasmo quando penso
na velhice que chegou:
com demônio nunca venço...
- Meu vigor já me levou!...
 
***

No sertão, à luz de vela,
vou buscar minha rainha:
- minha vida, vida bela...
Para sempre, toda minha!
 
***
 
Nos velórios, nos enterros,
minha mente se desperta
às lembranças dos meus erros
...na garganta um nó me aperta!
 
 
***
 
Nossas vidas, mar de rosas...
- Somos sim, caras-metades:
bem jungidas são dengosas,
desjungidas são saudades!
 
 
***

No vai e vem desta vida
meu troféu é um descaso:
- a mazela desmedida
faz visagem dum ocaso...
 

 

 
 
 
 
 

 

Naquele dia Encontrei-a…


Carlos Leite Ribeiro
 


Num outono já distante
Em meio ao pouso do sol
Encontrei-a pela primeira vez
À entrada do lugar combinado
Via-a ao longe,
Tez aveludada, tal porcelana...


Ainda relembro suas vestes,
calças e blusa castanha
Silenciosamente, pensei:
"Como é bela e sensual"


Aproximei-me, sorriso nos lábios
Retribuiu-me com um largo belo sorriso
Beijamo-nos, desejando-a já apertá-la
Contra o meu peito


Falámos pouco …
Com os olhos imaginei como seria o seu corpo...
Perguntas que ficaram sem perguntar,
e portanto, sem respostas...


Desde o momento que a vi
Gotejos caíram sobre o meu corpo
E muitos sonhos na mente,
ainda hoje, por concretizar...

 

 

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Me encante,
como as ondas encantam o imenso mar,
como a cigarra encanta pelo canto outra cigarra,
como o pássaro canta para outro encantar...

Encante-me, assim,
como o marulhar das águas no regato,
contornando as pedras que encontram no caminho...
Encante-me com seu sorriso na boca que me espera,
como a ave que nunca abandona o seu ninho,
como as flores que aguardam pacientes  sua primavera...

Se não puder me encantar como tudo isso,
que somente nós dois saibamos nosso compromisso,
através dos maravilhosos versos de sua poesia,
vestida propositadamente de conveniência,
de sabedoria...
e de sinestesia!
 

 

 

 

FrancisFerreira
 

Em meu entender
Amor difere de paixão,
Esta vem aquecer
O lugar daquele no coração.
 
Amor é serenidade.
Paixão é encantamento,
Vivida com a intensidade
Própria do momento.
 
Amor supera a rotina,
Vence crises financeiras,
É um brilho na retina,
É um partilhar brincadeiras.

 

O entusiasmo e a admiração,
Por vezes exagerados,
São próprios da paixão,
É o mundo dos apaixonados.
 
Amor, problema não desaba,
Ele é dividir, conviver, admirar,
Com a distância não acaba.
A isto se chama AMAR.
 
A paixão pode chegar a cegar,
É como sentimento infantil
Que faz os amantes pensar
Que o resto do mundo é senil.
 
O evoluir de uma paixão
Pode desencadear um outro valor
E então o que fica no coração,
Não é mais paixão, mas AMOR.
 

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 PEDIDO
 
Gislaine Canales

 
Peço aos irmãos, aos filhos e aos amigos,
que no dia em que a morte me levar,
não ponham o meu corpo nos abrigos
cimentados, tão frios e sem ar!
 
Na solidão eterna dos jazigos
é  lugar onde não quero ficar!
Silêncio e solidão serão castigos
e minha alma quer livre navegar!
 
Por isso eu peço aos que me querem bem,
levem meu corpo, longe, até o mar,
onde haja céu e água e mais ninguém!
 
Nesse lugar azul, só de beleza,
joguem ao mar, o que de mim restar,
quero ser parte dessa natureza!

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Estilhaços de um corpo sem alma

Iara Melo
 


Cansada sangra pobre alma
De tantas lutas perdidas.
Abatida pela incompreensão
Dos insensatos, sem vida.

Migram dores latejantes
Vísceras despedaçam-se
No lodo da luta vencida

Não há mais um corpo
Não há mais uma luz

Fez-se escuro no calabouço
Sucumbindo desfaleceu,
Perdendo-se do azul do céu,
Desagregou-se,
Não mais sorriu.

Parada além-mar
Despoja-se por completo
Procurando uma resposta
Para tão amarga vida

Culpa e medo dos desacertos
Da luta mal conduzida
A justiceira se despede
Amargurada em suas feridas.

Pobre coração galopante
Perdeu seu rumo, sua vida.
Quem lhe dera ser curandeira
Ressuscitar sua própria vida.

Já vais tarde pobre vida
Ninguém tolera tuas feridas.
Foste luz, mas foste trevas
Atiram-te pedras, viram-te costas,
Contabilizando simplesmente;

teu ar felino.

 

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Fátima Cardoso

 

 

 

 

Iara, poeta


"Estilhaços de um Corpo sem Alma"


A profundidade desse poema traduz o sentimento

da monotonia de um viver solitário 

- triste solidão -
Espectro de vida, segues em frente,

cada passo um desatino,

cada levantar uma sina.
Que houve na alegria de outrora ?
Mágoas acumuladas,

delas faz seu regaço nesse corpo sofrido,

 nessa  alma que sangra.


Ah ! houve um  tempo onde as andorinhas, em bando,

alegravam seu viver,

tão pequeno eram seus desejos,
por que não os realizei?

deves perguntar !


Sentes falta dos teus, sentes falta da pátria mãe,

embora do Alem Mar vislumbre o que a vida
lhe reservou, fazendo-a escolher esse destino.
Tudo passa, como os pássaros migram e voltam as suas origens,

também voltarás.
Sim, estilhaços do seu corpo perpetuar-se-ão na

 franqueza da sua alma.


Como "Fênix" ressurgirás das cinzas no poder e na glória

 do corpo que finalmente encontrou
sua alma.
Amiga querida, que lindo e triste esse seu momento .
Impossível deixar passar em branco algo tão belo.
Meu carinho, revestido da solidão que encarno também

como minhas essas palavras por você
bem - ditas.
Bendita foste ao conceber e dissecar de forma

quase  divina essa composição entre
corpo e  alma.
 

Fátima Cardoso

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FANTASMAS E ASSOMBRAÇÕES
 
(IGdeOL)


 
No ventre da noite
os fantasmas se formam
e são paridos, um a um,
nas esquinas e encruzilhadas.
 
E os viandantes noturnos,
Soturnos e embuçados de medo
recolhem as criações
ao ambiente seguro,
as casas mal-assombradas

 

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“O QUE ESPERO DA VIDA”

 

Natália Vale

(Portugal)

 

 

O que espero da vida,

Se me sinto perdida,

Ansiosa por saber,

O que ela me reserva,

E o que irei ainda padecer.

 

Apenas posso desejar,

Que a vida me reserve,

Saúde, Paz e Amor,

E que sempre preserve,

Todos os que dela fazem parte,

Para ter a quem amar.

 

Que ainda me possa proporcionar

Um tempo longo e viçoso,

Me permita vir a realizar,

Um sonho…

Um tanto ou quanto caprichoso,

Confesso,

De não perder o dom de amar,

E para a poesia poder transportar,

Tudo aquilo que a vida

Tenha ainda para me dar.

 

03.11.2007

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PARTIDA

Patricia Neme

 


Já me desfiz de todos os guardados
e das lembranças que abrigava em mim.
Joguei ao vento, sonhos tão sonhados...
Triteza, anseios... Tudo teve fim.

Álbuns com fotos dos meu bem amados...
E as conchas brancas, qual flor de jasmim.
Agora vou juntando meus trocados...
Já nada resta, nada mais... Enfim!

E desnudada de qualquer lembrança,
tendo nos versos a melhor herança,
outros caminhos eu irei trilhar.

A solidão? Ah, essa vai comigo,
pois nela sempre tive meu abrigo...
Pois ela sempre me soube embalar.

 

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UM TANGO!

Rô Lopes

 

 

Venha...

Vamos dançar um tango

Tome-me em seus braços

E me dispa no salão

(Com)passo cadenciado

Lindo tango aveludado

De um colorido sutil

Sorrindo como as rosas

Sob o céu azul anil

 

Venha...

É o tango que ensandece

O envolver das mãos

O fitar de olhos

Falso rubor nas faces

O entrelaçar das pernas

O envolver intimidades

E o deslizar no salão

Tomando olhares atentos

Como águias no céu

Rompendo a imensidão

 

É um tango.... Somente um tango

Disfarçado de alegria

Onde pares se trejeitam

Com lindas alegorias

Porque em sua essência

O tango esconde melancolia

É um trivial simples

Da tristeza do dia a dia...

 

Antes... Dança de bordel

Hoje... De iluminados salões

Nasceu num cabaré

Domando corações

De bordel, de cabaré...

De salão, multidão...

Solitário? Não sei!

 

O tango me faz esquecer

Aquele ser que um dia amei.

Desnude-se... É só começar

Há muito me desnudei

Um tango vamos dançar...

Dê-me a honra.

Vamos bailar!

 

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O Que Restou de Mim

Sandra Almeida

 

 

Não me peça pra sair

Juro não pretendo ouvir

quero juntar os cacos

em silêncio, eu prometo.

Depois... ah! depois...

vou te contar histórias.

Você vai gostar.

 

Lembra

Do dia que esqueceu

os óculos em casa?

Da noite que choveu

e a janela estava aberta?

Do meu medo de um gato

fazendo barulho no telhado?

Daquele seu Cd que arranhou?

 

Eu não esqueci

Saí do trabalho e fui levar seus óculos,

ganhei um beijo leve (gostei).

Apenas gargalhamos, fechamos a janela.

e no outro dia a faxina foi feita (tudo no lugar).

Meus medos, você sempre se achegava mais,

e, como jeitinho eu adormecia (meu porto seguro).

O Cd... ih! Esse me deu um trabalhão, mas procurei,

ferrenhamente e comprei outro (era seu preferido).

 

Ainda quer que eu me vá?

Eu vivo você!

Como ficarei sem nossa cumplicidade?

Vai pensar? Eu esperarei, pois sequer

sou EU!

 

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Carnaval

Tarcísio Ribeiro Costa
 

Neste carnaval vou me colorir
Com a cor dos teu olhos,
Com o vermelho dos teus lábios,
Vou sair fantasiado de arco-íris.
 
Quero nos teus sonhos, sambar,
Sairei lá do meu barracão
E vou para a rua pular,
De mãos dadas com o teu coração.
 
Quero ao ritmo da percussão,
Embalar-me no teu amor,
Transpirar com o teu calor,
Ouvir o ritmo do teu coração.
 
Na quarta-feira voltarei à realidade,
Pensando em tudo o que fiz,
Mas, com certeza, feliz,
Cheio de saudade!

 



O meu muito obrigada a todos, até a próxima edição.

Participem enviando os vossos trabalhos para

iarameloportalcen@sapo.pt

 

 

 


Foto topo da página:
Grutas de Alvados - Portugal

Fundo Musical: Valsa Cigana -
Marisa Cajado/Cancioneiros do Infinito
Arranjo - Sibélius


Formatação e Arte Final: Iara Melo

 

 

 

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