Ano V – Outubro de 2009
Edição e Arte Final:

Pela Metade
Donzília Martins
Por detrás do tempo
Em vidraças partidas
Olham vazias o entardecer
E pela metade deixam a vida por
cumprir.
Olhares apagados
Silhuetas de sombras
Em línguas de fogo afiadas
Perscrutam madrugadas no poente.
Desfeitas pelo pó dos caminhos
Roseiras sem rosas, com
espinhos,
Esvaídas no pólen inflorido
Olham o vazio deitado na alma.
Tiveram alma? Ventre? Terão
tido vida?
No vácuo do caminho andado
Sentem-se nada de nada, de
ninguém.
Nem o ventre lhes pariu
Nem o seu jardim floriu!
São pétalas secas, mirradas,
Vagueando nos silêncios do
desdém.
Hoje choram a flor cardida que
fechou
O leito frio que ninguém ocupou
A ternura que não deram
Aos braços dos meninos de sua
mãe.
Povoa, 13/08/09

Chuva Miúda
Maria Nascimento Santos
Carvalho
A chuva fina molhou o meu mundo
...
O mundo que eu ergo,
orgulhosamente,
embora deformado agora pelos
excessos.
A chuva molhou meus pés;
pés antigamente delicados,
de solas aveludadas.
A chuva molhou minhas pernas
que foram torneadas
e hoje estão visivelmente
volumosas,
meio disformes
e marcadas pela vaidade das
depilações.
A chuva molhou meu tronco,
que, com o passar do tempo se
alargou,
se desenvolveu em todas as
dimensões,
sofrendo não ainda a
deterioração do tempo,
mas obedecendo as inflações da
idade;
tomou o porte das prestações a
longo prazo:
expandiu-se, degenerou-se,
multiplicando as carnes, antes
em desfalque.
A chuva molhou a minha cabeça,
que, feita para pensar,
pensa que não sabe o que pensar,
o que deseja pensar do mundo,
das coisas, das pessoas,
da vida ...
A chuva continuou pingando ...
Pingando ... pingando ...
pingando ...
R e s p i n g a n d o...
e inocentemente molhando o meu
mundo,
o meu eu ...

ALGUMAS TROVAS
Vânia Ennes
Eu não mudo de país,
nem de cidade ou estado,
porque aqui sou bem feliz...
exatamente... ao seu lado!!!
Romântico e apaixonado,
meu pensamento flutua,
vai ao céu... volta zoado:
Vive no mundo da lua!
Acalmar gesto impulsivo
num conflito sem razão:
Medicinal... curativo...
é a humildade e o perdão!
Reconheço que a razão
me exerce extremo fascínio,
mas, se acerta o coração...
perco o rumo e o raciocínio!
Mãos que orientam crianças,
seja na escrita ou leitura,
mostram sinais de alianças
de nobreza e de ventura!
Educação e cultura,
seriedade e competência
é alvo certo de ventura
que aguardamos com urgência!
Quero um planeta perfeito,
sem guerra, sem corrupção.
Povo justo e satisfeito,
respeitando seu irmão!

PAPELÃO
Gonçalves Viana
Eu cato ilusão
Daquelas perdidas
Que ninguém quer mais não,
Projetos de vidas, abortados ou não;
Pedaços de corações, frustradas
orações,
Que anjo algum ouve não.
Eu cato ilusão
Sou um marginal à margem da vida
Sempre na contramão.
Cansado da lida, que nunca dá pé,
Remando contra a maré
Na mais completa solidão.
Eu cato ilusão
Notícias de amores
Que outros viveram... mas eu não!
Fantasias... que penso em vão,
Sonhos... que se ouso tê-los
Tornam-se pesadelos.
Eu cato ilusão
Neste velho carrinho
Que, trôpego arrasto pelo chão;
Cheio de quinquilharias,
Lixo, sucata, velharias...
Pranto, fome, cansaço, decepção,
Eu cato ilusão
Amargura, desengano,
Entra ano, sai ano,
E eu não percebo não
Que tudo isso, apenas são
Cacos do meu próprio coração.

Presença
O mistério de te saber tão longe,
Tão distante... E eu amar-te tão perto,
Induz-me a crer que a felicidade
Vem cá de dentro, de um cantinho certo
Inda que longe, é amor presente,
E tua imagem está aqui, decerto!
E onde estejas, eu sou só saudade
Do teu sorrir, do teu beijar, enfim...
Sonho apertar-te e, no sonho, me abraço
O teu calor eu sinto e me desfaço,
No abrir o peito e te encontrar em mim!

TALVEZ
Eron Vidal Freitas
Talvez eu não seja o alvo, a meta pretendida,
como sua mente desenhou pra ter um grande amor...
Mas, se não sou pleno, que seja a fração que em sua vida
em algum momento a aqueceu com seu calor!
Talvez... é palavra que não tem força de "sim", de "não",
tem uma porta estreita chamada "Porta da Esperança",
diante da qual deposito toda a minha confiança
de ser agraciado com um "sim" meu pobre coração !
O dito popular me diz que "quem espera alcança",
por isso me planto diante da "Porta da Esperança",
desafiando no combate as armas dos cansaços!
Aguardo... que chegue a hora deste acontecimento,
Para que ponha fim à espera do feliz momento,
em que possa tê-la finalmente nos meus braços... Garanhuns, Pernambuco, Brasil

Devaneios Heralda Víctor Se eu fosse
medir em versos
Meus sonhos e fantasias
Daria uma longa distância,
Uma estrada imensa.
Seriam dias...
Pedaços de momentos que vivi
Juras de amor que recebi
Carícias, beijos que dei
Em pensamentos,
Tantos que nem sei...
Ah, Como eu queria
Flertar com teu destino
Agarrar esta alegria
Oferecer meus doces sentimentos
Realizar teus desejos de menino
Aconchegar-me vagarosamente
Descobrir e mostrar tudo...
Silenciosamente.
Na verdade adoraria tão-somente
Acreditar que temos esperança
Para correr, pular, brincar feito criança
Sair livre, sem rumo estrada afora,
Crescer junto contigo sem demora
Viver amando sendo amada
Simplesmente... (Do livro Atrás de um Pôr do Sol - O amor resplandece em
versos, Heralda Víctor)

Momento
José Luiz Grando
Em um momento... só para si
A mente descansa na lembrança
mais viva de toda cultura de gueto.
Em cada verso de rebeldia
Em cada movimento...
...de resposta a todo preconceito.
A frente de seus olhos,
Um eclipse entre a fé !
E um rompante de violência...
Em um momento só para si...
...medita em torno de sua vida.
O homem precisa ser realista.
Falar sobre tudo que discorda...
...contra tudo o que o e massacra.

Nós e a Nostalgia
ermindo gomes rocio
De tua boca eu guardo o sabor,
de teu riso guardo só a alegria,
de teus lábios eu guardo a cor,
de nosso amor tenho nostalgia.
Do sabor uma doce lembrança,
da alegria daquela juventude,
na cor do poente só confiança,
que nostalgia era uma ilicitude.
Tempos de tempestade enfim,
nuvens negras povoando o céu,
vi mares empolados e ao alfim,
palavras toscas jogadas ao léu.
Hoje, amor tatuado pela nostalgia,
como um vergão que não se apaga,
de nosso amor acabou aquela magia,
no peito trago cravado tua adaga.

Que se abram as
cortinas Sofia!
Luciana Tannus
Botão de rosa
Criança onírica
Menina mulher
Provida de anseios
Desponta para a vida
Repleta de dúvidas e devaneios
Canta, sorri, chora, disfarça...
A natureza indicia
A mudança é iminente
Não cabe recurso
Está virando mulher
O conflito é eterno
A inocência insiste
A biologia impõe
Limiar de um novo caminho, pleno
De descobertas
Curvas
Apelos e
Desejos

VIVA!!!
Milton Roza Junior
Viver é a primeira maravilha do
mundo,
pois tudo advém deste mandado divino
podemos ver o mar em cima de nossas
cabeças
e flutuarmos para mergulhar, nossa
sina
Quando há Primavera
vejo mais a face de Vera
algo se altera na matéria
sua palavra parece ser mais sincera
Ouvir os seus passos à uma distância
anos-luz
não é mais utopia para mim
é apenas mais uma forma de ouvir "I am the walrus"
Beatles e suas músicas enfim
O que mais posso implorar a Deus
talvez as palavras não estejam
concatenadas
talvez erradas
ou enfim, caladas.
Sorria!!!
não mutila
não definha
não expira
só enaltece
o que apetece
meu realce
nosso enlace.

VOAR
Raquel Gastaldi
Hoje eu quis
Voar,
Como a andorinha
Azul e branca
Que baila
Ao meu olhar.
Só isso,
Quis voar e
Abraçar o mundo,
E com gigantes braços
Amparar
As crianças sem lar.
Só isso,
Quis voar,
E a todas dar um
Pouco do verbo amar,
Mas como humana
Que sou,
Só fiquei a sonhar,
Só isso,
Quis voar,
Para quem sabe
Um mundo futuro
Nossas crianças abrigar...

FALAR COM O ECO
Carmen Lucia da Silva Cardoso
Falar com o vácuo
vazio, solitário.
falar sem palavras,
falar com incógnitas,
falar para o triste,
para o distante.
Instante que olho sem ver
o olhar que lanço,
que com dedos danço,
transfiguro, figuro,
em figuras, que não vejo,
imagino, idealizo,
não sinto, pressinto.
Seres solitários,
ausentes, carentes,
fracos, covardes,
misto de letras,
digitando sonhos,
que criam, recriam,
idealizam, desfazem,
porque não fazem,
não procuram,
não querem,
não mostram.
E a sós, calam-se.
MURO!
Tânia Regina da Silva Guimarães
Pedras quadradas,
lado a lado
erguidas,
na vertical
dividem
dois mundos,
inutilmente.
Tolas, rígidas, frias...
Não percebem
a árvore
de copa rala
que tenta,
também, inutilmente,
esconder
a lua cheia.
Ela, solitária
e soberana,
mostra-se e
mostra-me
o mundo,
o qual pertenço,
verdadeiramente!
INCENSAÇÃO
Juraci da Silva Martins
Contemplo a natureza em seus
alvores,
É toda um hino de louvor intenso
Que vai surgindo gradativamente
Qual fumaça perfumada do incenso
Que ao céu se eleva em santo
ofertório
De risos e prantos de humanos
seres,
Pra que no mundo haja mais
amores
E a vida seja um jardim em
flores...
A incensar caminhos na busca da
paz!
Ergue-se a fumaça sacrossanta
Como oferta em nossas liturgias
De tantos risos e de muitos
prantos
Que dão sentido ao viver em
busca
Do sonho maior: a paz e a
alegria.
E nos rituais de petição e
gratuidade
O incenso que perfuma e
purifica,
Retorna em bênçãos para o bem
que apraz!
TOQUE DE AMOR
Diva Helena da Silva Fontana
Ouço o amor.
Da janela sinto a suavidade de
seu toque,
Numa melodia harmônica,
Porém indecifrável,
Que toca de leve a alma,
E faz o coração bater mais
forte.
O tempo de chuva se faz dia
ensolarado,
E aumenta a vontade de estar
perto.
Se essa música soubesse que mexe
comigo,
Entenderia o que sinto,
Mas um dia hei de olhar o
infinito,
Junto daquele que me encanta;
E talvez a incompreensão que me
fere,
Faça-me sorrir perto de meu
grande amor.
O MAR
Natália Lohmann Mendel
Ao acordar, fui ao mar
olhar as ondas.
Lá pensei na vida
e me questionei:
“- O que fazer
a partir de agora?
Todos os dias,
ao voltar ao mar,
uma resposta ele me dava.
Encantada, deixo-me
molhar pelas ondas.
Certa tarde, o mar
trouxe até mim, alguém
que lá, no fundo, surfava.
Esbarramo-nos,
Leve e enfeitiçada fiquei.
O MEU LINDO
JARDIM
Pedro Jorge Pedersen Baptista
Há muitos anos, vivo numa casa
onde minha mãe dez, antes de
morrer,
um lindo jardim, onde crescem
os mais lindos tipos de flores e
plantas.
Em um dos canteiros, a orquídea
que plantei quando menino
dá, a cada dia, flores
belíssimas
que me faz lembrar de minha mãe.
Todos os dias, converso, no
jardim,
com a natureza, e ela me dá
de volta o lindo frescor das
plantas.
Quando elas morrem, fico muito
triste;
contudo, não entro em depressão;
pois sei que logo renascerão
outras flores.
AS ROSAS
Daniela Wainberg
Com suas graciosas pétalas
iluminam e dão mais alegria
aos nossos corações.
Dependendo da cor,
as rosas nos transmitem
valores diferentes.
Todas elas: brancas, vermelhas,
rosas, amarelas, brilham nos
jardins
com intensa beleza e exalando
agradabilíssimo brilho.
As rosas brotam com suavidade
e delicadeza, exibindo
lindos brotos ao amanhecer
tal qual inúmeros pergaminhos
que, ao serem desenrolados,
revelam-nos expressivas
surpresas
e alegrando nossa vida.
DELICADA
Diego Carvalho Duarte
Traços vindos da Sicília
alguns talvez de Veneza
saudade minha que não concilia
tamanha falta pela tua beleza.
Cabelos que desenham rios
vermelhos como o pôr do sol
refletido
tamanho sentimento de falta
que tenho sentido
que transforma meus dias
sem ela sombrios.
Figura alva divina
trago a ti mil rosas celestes
pois somente tu me fascina.
Formosa dos cabelos ao vento
dos beijos quentes
pelos quais me derreto.
EMOÇÕES E
SENTIMENTOS
Felipe Araújo Mendes
Transpassam movimentos
e canções
tal qual um lindo jasmineiro
num lindo jardim.
Seu perfume espalha-se no ar
e suas flores,
no gramado do prédio,
formam um majestoso tapete.
Envolvido pela beleza
da natureza
e pelas agradáveis emoções,
sou tomado por doces
sentimentos.
Nesse clima de magia,
vou ao encontro do vento,
chegando sorridente ao mar,
sendo acariciado e envolvido
por sedutora brisa.
E como não poderia ser
diferente,
revelo algumas de minhas
fantasias
nesta poesia com muita alegria.
Quantos sentimentos e emoções!
DOCES LEMBRANÇAS
Tobias Tres
Lembrar de momentos
felizes e alegres
é resgatar o passado,
trazendo a memória
antigas paixões,
amizades íntimas,
festas inesquecíveis
e momentos especiais.
Memória cheia
de doces lembranças
é alimentar o presente
e o futuro,
fazendo do passado
uma agradável melodia.

Muito
obrigada pela participação de todos
e até
a próxima edição.
Abraços.
Iara
Melo

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Fundo
Musical: CANTEIROS
Composição: Cecília Meirelles e Raimundo Fagner
( Baseado no Poema "Marcha" de Cecília Meirelles)
Formatação e Arte Final: Iara
Melo
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