Revista "Aquilo
que a Gente Sente "
Ano
II - Número 04
- Janeiro/2010
Criação : Carlos Leite Ribeiro
Edição: Iara Melo

Glenn Miller e a dama do
cabaré
Benedita Azevedo
As constantes crises do
diabetes deixavam Raquel
deprimida. Lamentava-se com
a irmã, Lia o amor perdido
na juventude. Em sua
avaliação achava que seu
casamento não valera a pena.
Tivera cinco filhos e
gostava muito deles, mas o
marido não a fazia feliz.
Segundo ela, sempre fora
traída e precisava trabalhar
muito, pois o dinheiro dele
era gasto com as outras
mulheres. Ela se via como a
própria mulher do cabaré,
daquela música do Chico
Buarque.
Nas ocasiões em que a crise
batia forte, ia visitar a
irmã que a ouvia com carinho
e paciência, pois sabia de
suas queixas, e até achava
exageradas, porém, mesmo
assim, procurava
confortá-la. Algumas vezes
lhe dizia que ela poderia
estar sendo injusta com o
marido, entretanto, Raquel
insistia que seu casamento
fora um erro, que se a
prima, no passado, não se
tivesse atravessado em seu
caminho, com certeza teria
sido muito feliz com Jorge,
seu amor da juventude. O
pior é que o casamento dele
também não dera certo.
Casara-se com uma moça muito
jovem, de treze anos de
idade, tiveram três filhos e
se separaram. Ele acabou
tornando-se alcoólatra,
fizera o tratamento no AAA e
agora participava do
programa ajudando a
recuperar outras pessoas.
Raquel à época tinha vinte
anos. Estava preparando o
enxoval e o noivo, Jorge,
parecia apaixonado. Gostavam
de bailes e a música
preferida deles era a de
Claudinha Teles “Estúpido
Cupido”. Na hora do refrão,
“oh, oh Cupido, vá longe de
mim!”, eles faziam que não
com o dedo um para o outro.
Raquel quase se desmanchava
com tanta alegria! De uma
hora para outra ela começou
a perceber as brincadeiras
da prima com seu noivo.
Pensou em falar com a tia,
mas se achou meio ridícula
de pensar tal bobagem.
Afinal a outra era apenas
uma menina de doze anos.
Concluiu que, na verdade,
estava era enciumada com as
atenções do noivo com a
prima, uma criança... Acabou
abandonando a idéia e
continuou sua rotina. Mas
deixou de frequentar a casa
da tia, passou meses sem
aparecer.
As coisas pareciam normais,
até que um dia o noivo
chegou e disse que
precisavam conversar,
marcando um encontro. Ela
imaginou que seria algo em
relação ao casamento. Quem
sabe resolvera fixar a data?
Foram ao cinema e depois ao
restaurante. Ao final do
jantar, ele começou
elogiando-a, que ela era uma
moça muito prendada, muito
companheira e que qualquer
homem seria um sortudo de
encontrar alguém com tantas
qualidades. Mas que,
infelizmente, ele não era
digno de uma pessoa tão
especial. Precisava se
afastar para colocar a
cabeça no lugar, pois estava
muito confuso.
Raquel levou um susto e
ficou sem saber o que
pensar. Perguntou se tinha
feito alguma coisa que o
aborrecesse. Ele disse que
não. Que ela era a pessoa
mais encantadora que
conhecera, ele que não a
merecia. Jorge a deixou em
casa e se despediu com um
beijo no rosto. Dois meses
depois soube que se casara
com a prima dela, às
pressas, pois a “criança”
estava grávida. O Cupido se
fora mesmo, conforme ela
cantava nos bailes! Parecia
maldição.
A essa altura da narrativa,
Raquel se emocionou e
perguntou à Lia se não se
lembrava de Jorge, disse que
ele era alto, corpo esbelto,
cabelos cortados rente,
olhos azuis pele muito
branca, ressaltada pelo
verde-oliva da farda do
exercito. “Parecia o Marlon
Brando”, exagerava a
apaixonada. A irmã disse que
lembrava, vagamente, já que
mantivera pouco contato com
ele. Pois ela estudava em
outra cidade.
Segundo Raquel, após ele se
separar da mulher, Jorge
viajou três mil quilômetros
atrás dela. No entanto, ela
já estava casada e com cinco
filhos. O ex-noivo
dissera-lhe que se
arrependia de não lhe ter
dado mais atenção e nem ter
permitido que ela
argumentasse e tentasse
convencê-lo. A irmã quis
saber se já fazia muito
tempo que Jorge a
procurara. Raquel respondeu
que ainda estava jovem e
bonita, mas tinha de cuidar
dos filhos, pois o marido
saíra de casa e fora morar
com outra mulher, e ela não
queria se envolver com
ninguém, principalmente com
alguém que já a tinha
abandonado uma vez. Disse
ainda, que havia duas
semanas recebera um
telefonema dele querendo um
encontro, pois agora morava
no Rio, relativamente perto
dela.
Aquela amargura na voz de
Raquel comoveu a irmã. Lia a
abraçou e convidou-a a tomar
um chá. Foram até a cozinha
e sentaram-se à mesa
enquanto esperavam a água
esquentar. Ela continuou a
lamentação. Disse à irmã que
no tempo em que esteve
separada do marido
apareceram vários
pretendentes, inclusive um
médico, mas naquele momento
os filhos eram seu único
objetivo. Depois, o marido
resolvera voltar para casa.
Ela aceitara, porque estava
muito difícil cuidar das
tarefas de mãe e pai.
Entretanto, perdera o
encanto por ele. Parecia-lhe
um estranho, que não lhe
despertava nenhuma emoção.
Contou que, certo dia estava
em casa e recebeu um
telefonema avisando que o
marido sofrera um enfarto
fulminante. Quando chegar ao
hospital o encontrou sobre a
pedra fria do necrotério.
Lia perguntou se ela
lembrava o momento exato, em
que o casamento começara a
esfriar. Ficou surpresa ao
saber de Raquel que nunca
fora apaixonada pelo marido.
Gostava dele, que fora
bastante convincente quando
começaram a namorar, logo
após o rompimento do noivado
dela, mas nunca sentira
aquele amor ardente que
tivera por Jorge, e na
verdade, jamais o esquecera.
A lembrança daquela figura
ágil, alegre, de olhos azuis
e a pele muito branca,
contrastando com o
verde-oliva do uniforme e o
quepe caindo ligeiramente
para a direita, permanecia
em suas retinas, tal qual
uma foto na moldura ou um
cartaz de cinema. Lágrimas
desceram pelo rosto de
Raquel.
Comovida, Lia não sabia o
que dizer para animar a
irmã. Falou que Raquel
precisava se concentrar nos
filhos, que todos estavam
muito bem, tinha um neto
lindo. Insistiu que
precisava tirar partido
daquilo que a vida lhe
oferecera, que seus filhos
eram maravilhosos... De
repente, Raquel secou os
olhos com as mãos e disse
quase áspera, que a irmã não
sabia de nada. Que a sua
angústia era ainda maior
pelo fato de ter descoberto,
antes da morte do marido,
que seu segundo filho estava
com AIDS. Por que a vida
fora tão cruel com ela? Por
que logo o seu filho? Tanto
que orientara dos riscos e
dos cuidados que deveriam
ter. E agora estava ali, sem
saber o que fazer diante de
tal fatalidade.
Raquel estava arrasada. A
morte do marido acontecera
no momento em que ele a
estava ajudando a lidar com
a AIDS do filho. Quando
cedera aos argumentos e
pedidos de perdão dele,
passando por cima de todas
as humilhações que sofrera
ao ser abandonada e iniciara
um lento e tateante retorno.
Enfraquecida diante da
doença do filho, resolvera
rever seus conceitos e levar
uma vida plena de casal,
para que juntos pudessem
cuidar dele.
Lia quis saber o que ela
ainda sentia por Jorge, seu
amor da juventude. Então ela
revelou à irmã que no último
telefonema, quando soube que
ele estava tão perto, sentiu
uma revolução interior,
então, achou que deveria lhe
dar uma chance. Ela também
precisava sentir-se beijada
e abraçada. Só de pensar
suspirava e amortecia, por
momentos, a dura realidade.
Os bons tempos do “oh, oh,
Cupido” voltavam e ela
ouvia, de fato, os acordes
metálicos e vibrantes dos
bailes e da animada
orquestra de Glenn Miller.
Era o Paraíso! Raquel
volteava dançando sozinha
pela sala, de olhos
fechados, os braços
imaginariamente abraçando
seu “Marlon Brando”. Nem se
importava de parecer
ridícula beijando o ar.
Entretanto, não aceitou a
proposta dele de se
encontrarem. Um grande amor
do passado poderia voltar
como se nada tivesse
acontecido? Ou seria melhor
permanecer na fantasia dos
bons tempos? Dúvidas,
muitas dúvidas. Talvez fosse
melhor esquecer e levar uma
vida sem grandes emoções.
A doença do filho, a morte
do marido, as dúvidas se
deveria aceitar o convite de
Jorge acabaram por lhe
provocar uma grave crise de
hiperglicemia, que a levou
ao hospital. Os filhos,
aflitos, pediram ajuda à
tia. Lia telefonou para
Raquel e perguntou o que
acontecera para lhe provocar
uma crise tão séria? Ela
contou de suas dúvidas,
Jorge em seu último
telefonema dissera-lhe que
estava morando no Rio e
insistira para que se
encontrassem, o que a deixou
muito ansiosa. A irmã lhe
disse que ela deveria sim,
se encontrar com Jorge,
afinal, não tinha nada a
perder. Depois de tanto
sofrimento o que viesse
seria lucro.
Ao sair do hospital, Raquel
foi levada pela irmã e os
filhos para a casa desta, a
fim de repousar e se
recuperar mais rápido.
Conversavam na sala de
visitas quando a campainha
tocou. Lia atendeu. De
imediato reconheceu Jorge
que se apresentou e
justificou sua presença.
Telefonara para Raquel e
soubera que saíra do
hospital e estava em casa da
irmã. Depois de explicar que
era um amigo da família,
conseguiu que lhe dessem o
endereço. De fato, o cara
era mesmo bonito! Ele estava
preocupado e queria notícias
de sua ex-noiva. A dona da
casa o conduziu até a sala
e, em seguida saiu com os
sobrinhos, para que
deixassem a mãe à vontade
com o amigo.
Fechando a porta atrás de
si, Lia ainda pode ouvir
Jorge, ajoelhado ao pé do
sofá, pedindo a Raquel que o
deixasse cuidar dela e dos
filhos. Queria recompensá-la
por todo o sofrimento que
lhe causara. Ela finalmente
acedeu. Era o que ela
queria mesmo. Um beijo selou
o reencontro. E a voz de
Claudinha Telles cantando ao
som do rock, “oh, oh Cupido,
vá longe de mim!”...
mistura-se ao som da
orquestra de Glenn Miller
enchendo o ambiente com o
som vibrante e alegre das
músicas que tantos bailes e
sonhos embalaram. E os
aplauso de Lia e sobrinhos
os fez voltar à realidade.
Os bons tempos voltaram!!!!
A felicidade, enfim!!!!
Praia do Anil, 06 de
setembro de 2009

Recordações
Cibele C. Teixeira
Nós nem sequer
suspeitamos
do tanto que armazenamos
no fundo da nossa mente.
Não sabemos o que rompe,
derruba a represa, e libera
as recordações da gente.
São muitas causas, ou nada,
que se juntam e escavam
da mente, cada detalhe:
toda parte examinada,
cada curva, cada entalhe.
E, as recordações rolando,
consigo vão arrastando
fragmentos de emoção
que passam à nossa frente,
sacodem a alma da gente,
tiram nossos pés do chão.
Ao final desse desfile,
nós saímos renovados
ou ficamos derrotados...
não há terceira opção.
A MULHER DA MALA DO CORREIO
Eduardo de Almeida Farias
Xaile preto, pés descalços
Pra mais livre o caminhar,
Lá vai a mulher da mala do
correio
Sempre andar, sempre andar;
Para trazer notícias do Zé,
do Manel,
Que andam longe, no
além-mar.
Quanta vez, rezou, e chorou
baixinho,
Não por piedade cristã,
Mas para mitigar a solidão
do seu caminho
Tão igual, hoje, como era no
seu amanhã.
Sob o sol supino,
Ao vento de frias
madrugadas,
No dia a dia das suas
caminhadas
Aquela mulher
Era esperada com muito
anseio,
Ao fim de cada tarde.
-Há de trazer notícias
boas, se Deus quiser,
E levar mais saudades.
Amélias, Alexandrinas,
Madalenas, “Cantadeiras,”
Andarilhas, cheias de
canseiras;
Carregavam a sardinha
Na canastrinha,
Lado a lado,
Com as cartas, um nadinha,
-Ai Deus seja louvado...
Sob o sol ardente do verão,
Ou sobre a geada invernal,
Aquelas mensageiras, por
pouco mais
Que um naco de pão,
Gastaram suas vidas,
Doaram o seu coração.
NB. No tempo a que me
refiro, o correio era
transportado por mulheres a
pé, pelo menos na minha
serrana Agadão, assim o
era, cuja mala devidamente
lacrada era guardada em uma
casa que servia como uma
espécie de agência do
correio, e a
correspondência era
levantada pelos respectivos
destinatários. O responsável
pela guarda da
correspondência, aos
domingos, após a missa, no
adro da igreja distribuía a
mesma aos destinatários dos
lugares mais longínquos da
freguesia.
Contudo, terras havia
igualmente remotas, cujo
correio era transportado a
cavalo. A precariedade das
estradas nesses lugares que,
pouco mais eram que caminhos
de carros de bois, a tais
práticas obrigava.
Faz muito tempo,
como não podia deixar de
assim ser, o correio é
entregue em todas as aldeias
de porta a porta, todos os
dias, em modernos veículos
automotores, ainda que em
lugares de um só habitante.
Aquelas mulheres,
verdadeiras heroínas, bem
que mereciam para lhe
perpetuar a lembrança ainda
que, fosse um simples busto
em praça publica, pelo tanto
que
fizeram.
Eduardo de Almeida Farias
e-mail: edumendo@gmail.com
Pel. 10.de jan. de 2010

Glosando Clarindo Batista
Gislaine Canales
BONITO ESTOJO
MOTE:
A vida é uma caminhada
na qual se tem pela frente,
em cada curva da estrada,
uma emoção diferente.
A vida é uma caminhada,
nos dá alegria ou tristeza.
Trovador tem na jornada,
da Trova, toda a beleza!
Cada esquina que
encontramos,
na qual se tem pela frente,
sabemos por onde vamos
se em Jesus, a fé, for
crente.
A Trova é nossa aliada,
surge fazendo amizade
em cada curva da estrada,
trazendo felicidade.
Cada verso de uma Trova,
trabalhada, ou num repente,
nos traz uma emoção nova,
uma emoção diferente.

'ELE"
Hermoclydes Siqueira
Franco
ÊLE passou pelo mundo
e sofreu a
incompreensão.
Seu evangelho, profundo,
nos convida à
reflexão...
ÊLE nos trouxe a
mensagem
de esperança, luz e amor
e, num pálio de
esplendor,
da imensidão nos acena!
ÊLE nos tornou irmãos
e fez de nós seguidores
da fé que salva pagãos
e vence o mal com
amores...
ÊLE salvará humanos,
com verdadeira lhaneza,,
fazendo, no fim dos
anos,
renascer a natureza!
E ÊLE voltará, decerto,
para, em nova redenção,
fazer, de um mundo
deserto,
nova civilização!...
Depressão
Ilze Soares
Ela está ali. Parada,
imóvel, paralisada...
Nada nem ninguém a
importuna. Cabelos
emaranhados, roupas
desbotadas,
pele sem viço, olhar sem
brilho... A vida, para ela,
perdeu a graça.
O silêncio estancou o riso e
emudeceu a voz.
Não enxerga mais os encantos
da vida, a magia das noites
enluaradas,
o fascinante piscar das
estrelas, a beleza do
desabrochar das flores
colorindo
e perfumando as manhãs...
Seu sol interior apagou-se,
não aquece mais sua alma.
Não ouve o canto dos
pássaros, o murmúrio do mar,
a canção do vento, o riso
inocente de uma criança...
Nem vê o ballet das
borboletas coloridas no
jardim,
a suavidade do beija-flor se
alimentando de nectar,
a agilidade das abelhas
polinizando as flores.
Um novo dia...Mais uma
noite...
Sucessão interminável de
horas, dias, semanas...Puro
tédio!
Depressão...Doença da alma e
do coração. Mina as forças,
destrói as emoções.
O PÃO DA PALAVRA
Joaquim Moncks
O pensamento é o pão da
palavra. É necessário ter
com quem dividi-lo. Saborear
o naco de pão dormido e o
olor do recém-saído do
forno, em que se mastiga o
céu da boca e se sente
palavras escondidas entre
dentes.
Na linguagem artística, o
belo nasce como a flor:
sempre de dentro pra fora. A
palavra vê o mundo com olhos
de espanto. Respira em
orfandade, solta no mundo. O
rótulo se constrói pelo seu
revelar-se. E ela se
traveste segundo a passagem
do tempo. Nunca morre,
porque é mutante em nome do
entendimento.
Sempre desejo que este seja
o pão dos famintos. Muito
além da fome do corpo.
– Do livro DICAS SOBRE
POESIA, 2009/10.
http://recantodasletras.uol.com.br/pensamentos/2022653

E por falar em amor...
Lígia Antunes Leivas
Dia desses, alguém me
pediu que dissesse um algo
mais sobre o amor.
Confesso que na hora ri
muito... - Logo eu??? Eu...
que sou uma desastrada, uma
extraviada, uma péssima
resolvida nas questões
amorosas... escrever sobre
o amor??? Mas fiquei
pensando e achei que poderia
aceitar o desafio feito pelo
portuguesinho que já nem sei
mais por onde anda...
Então... o AMOR:
O que primeiro me
veio à cabeça foi "Abelardo
e Heloísa" (aquela história
lá do século 12... faz
tempo... mas sempre muito
atual...) em que lá pelas
tantas ele pergunta à amada
mais ou menos assim: "- Mas
que será esse nosso amor? A
minha demência ou a tua
inocência?"
Amor é por aí... a
gente fica meio que em
estado de demência... ou
então se é tão inocente, que
se acredita em tudo... ledo
engano!!!!!... ...
Cazuza - o nosso
Cazuza - em uma de suas
letras/músicas, também
pondera algo curioso sobre o
amor... "O amor é o ridículo
da vida... ... uma pureza
que está sempre indo
embora." Lindo isso!
Mas sempre penso
que a unicidade do ser
humano o faz passar as
coisas a seu próprio jeito.
Sente-se cada coisa de uma
forma peculiar. O que poderá
ser ótimo para um, para
outro poderá ser mais ou
menos, para mim poderá ser
indiferente... e assim
sucessivamente. Também com o
amor acontece o mesmo.
É de Balzac (aquele
francês estranho que muito
escreveu graças ao amor por
uma mulher e depois por
outra) a frase 'o amor é o
único sentimento que não
admite nem passado nem
futuro'. Também outro
francês - Stendhal (séc.18,
e que ainda menino se
revoltou contra a família, e
que foi defensor do
romantismo) deixou-nos:
"Amor - sempre o único e o
grande tema" - amo de paixão
esse pensamento!!! Concordo
plenamente. O amor, quando
chega, se esquece do
tempo... tudo é amor, e 'sem
essa' de se falar em 'foi-é-será';
pois o amor quando chega se
esquece que há outros
'temas'... basta o amor.
Mais nada.
Esse amor até aqui
'tematizado' é o amor
romântico; o amor que sonha
ter "o outro/a" para si,
para desfrutar a vida lado a
lado... palmo a palmo...
face a face... e também no
leito de lençóis de
plumas...
Mas há aquele amor
transcendental - o
verdadeiro, me parece...
aquele que dispensa a posse,
a propriedade... É o amor
universal, em que se ama
acima de nós mesmos e só se
pensa no bem do /a
'amado/a'. O amor em que se
quer o intacto e não apenas
o fragmento que há dentro do
coração do outro; se quer
não o contingente, mas o
absoluto, o mistério, o
eterno...
Sobre o AMOR...
tanto o que dizer... mas o
melhor mesmo é AMAR !!!
AME! ! ! ... ainda
que esse amor seja aquela
flor belíssima que precisa
ser colhida à beira do mais
assustador precipício...
(Stendhal)
Lígia Antunes
Leivas
litterisll@yahoo.com.br
Pelotas, RS, BR
-13.01.10 -18h
DOWNLOAD DE UM NOVO AMOR
Mário Feijó
Eu não queria lamentar
A falta que tu me fazes
Mas nada posso contra
As forças do destino...
Sei que é um desatino
Dizer que somos parecidos
Mas não posso mais negar
Que tu perturbas minha
mente...
Eu só queria poder
Sair por aí e te apagar
simplesmente
Andar pelas ruas e colocar
os meus pés
Na água do mar sem lembrar
de ti...
Queria que minha mente
Pudesse deletar todas as
tuas imagens
Mas sei que é impossível
pois tudo já foi salvo
“na placa mãe do meu disco
rígido”...
Cada vez mais percebo
Que a cibernética entrou em
nossa vida
Para ficar definitivamente
Então vou fazer um
“download” de um novo
amor...
SANTO PECADO
(*) Nelson Valente
Noite fria e chuvosa. O
vento é suave como a brisa a
entoar nas ramagens e nas
frinchas das venezianas, a
canção da tristeza e da
saudade.É a mística sinfonia
da natureza.
A igreja imponente no alto
da colina, iluminada pelos
relâmpagos, proporcionando
lascas e aços espelhados no
horizonte sem fim. Dentro da
igreja, a amargura: um
estupro.
Alguns anos depois...
Amanhece...aí pelas onze,
bateu à porta do Mosteiro um
rapaz que há tempos andava à
cata de emprego. Como não
era hábito abrir-se a porta
a qualquer, Frei Bonifácio
olhou pelo buraquinho.
Disse que queria falar ao
Diretor ( sabia lá o nome do
cargo ?) e foi levado à
presença do dito cujo, com
visível satisfação. Aquele,
de comovida aparência,
deixou-se beijar os cordões
e declarou que realmente lá
precisavam de alguém. Na
cozinha pelo menos Napoleão,
o cozinheiro chefe,
queixava-se há bocado do
excesso de trabalho.
Indagado, como era praxe,
sobre a sua origem, etc...e
tal, soube-se que era de
parcos recursos, filho mãe
solteira, que embora com ela
não vivesse, andava saudoso
e muito. Como soubera do
emprego questionaram, mas a
inocência das respostas nada
tirou nem acrescentou.
Dia seguinte lá estavam de
emprego novo. Feliz,
Evandro, nome sonoro, a cara
não era de todo má. E
Ademias os ares santos do
lugar poderiam toma-lo
melhor. Tiritando de frio
(era inverno grosso),
espaventou-se Mosteiro
adentro, deixando a vida a
correr atrás de si, lá fora,
assim que o frade o mandara
entrar.
Frequentemente dado a
introspecções, não sabia bem
porque sua alma, sentia-a
dilacerada de uns tempos
para cá. Trocava-se as
bolas, mal silabava o
Pai-Nosso à noitinha
arrumava pretextos,
dissimulava (será isso ódio?
Amor?). Não sabe nem quer
saber. Quase nem percebe o
blém-blém do sino que o
desperta.Ouve uma voz suave
tem ciúmes da paz. Era tudo
o que esperava. Podia ter
ido para outro lugar, mas
aquele, não se sabe bem
porque, fora o mais
indicado.
Uma voz chama-o com êxtase
sobe ao patamar, confiando o
frade um sorriso
empalidecido e ensaia
algumas palavras. O que
consegue é um bom dia
sufocado.
Atravessam os claustros, o
céu baixo e cinzento,
procura abrigar-se na blusa
desgastada que a mãe lhe
tecera. Torce-se dentro
dela, como os caracóis
quando amolados. Alguém
desce as escadas do primeiro
andar. Sente um frio no
cangote, mas o clima cheira
a santidade e isto o
fortifica. Ademais, a
limpeza, o rafiné,o todo no
lugar, a resina dos
pinheiros excitam-no mais e
mais. Tenta outras
excitações, mas não resiste
à curiosidade de, por
instantes, esticar as
pestanas até uma janelinha
indiscreta que rasga seu
esperar uma parede
amarelecida.
Mexe com botões e os enche
de perguntas, tirando-os e
recolocando-os nas casas, e
continua a seguir o Frei
Bonifácio, que bochechudo
mais parece uma moranga
madura. Bate uma saudade da
horta da mãe!
Na sua dispersão, perdera
até o frio, aquecera-se
mais, com satisfação observa
que chegaram. Entram na
cozinha e então,
rompendo-lhes as inibições e
numa simplicidade familiar,
sorri ao cozinheiro chefe.
Ele, os olhos estatelados,
corresponde - "Anda, ajudar!
A gente precisa se entender.
Tem muita coisa pra você já
ir fazendo", disse-lhe
Napoleão.
Há qualquer coisa nele de
forte que satisfaz Evandro.
Fica ali como se protegido,
de repente, e cinco minutos
depois já descasca os
inhames para a sopa.
-Que é que trouxe aqui?
A vontade de trabalhar.
Talvez o fascínio de um
lugar como este. Não sei
porque, mas conventos e
padres sempre me atraíram.
Invejo os frades, sua cara
de alienados, sempre de bem
com a vida, podem exigir se
quiserem o que quiseram, em
nome de uma absolvição.
Podem 'beber e comer como
abades (rindo-se), e não
precisam invejar nada o que
está lá fora, não acha?
Não é bem assim, creio eu,
às vezes, levantam com
cabelo repartido do lado
errado e de ovo virado.
Riram-se os dois e
continuaram os afazeres.
Lavada a louça, Evandro
perguntou a que horas
costumavam jantar os frades.
Que às seis, e que hoje,
além da sopa, comeriam filé
de pescada e medalhão. O
rapaz franziu o nariz.
O certo é que a fradaria,
aos poucos, já exauria as
potencialidades do novo
habitante, que afinal tinha
vinte e um anos e já
trouxera um pouco mais de
agitação para o lugar. Ele,
por sua vez, não ousava ser
inconveniente.Introduzia-se
na intimidade do Mosteiro,
ora a ensaiar alguma
observação mais ousada, ora
a arriscar uma gargalhada.
Logo de manhã levava um
cafezinho com licor ao Frei
Bernardo, o manda chuva,
como o chamava; afinal não
se trata de convento
mendicante! Sobrava lá o que
faltava cá fora!
Percebia que ra bem
recebido, mas importante não
deixar a prudência. Afinal
certos atrevimentos se
expressos de forma correta,
pensava ele, passam a ser
lisonja. Por isso, sempre
que possível engolia a
língua para não vomitar mais
asneiras. Talvez o excesso
de zelo o reprimisse um
pouco, mas antes assim.
Já há vinte dias que lá se
encontrava e pela primeira
vez fora advertido pelo Frei
Teodósio, por ter deixado
cair o galheteiro. Como às
vezes é necessário que se
retraiam emoções faciais,
contraiu-se também por
dentro e calou-se. Calou-se
com cara apoplética, o que
provocou risos de outros
padres. Percebeu que estava
perdoado. Não resistiu
também e viu que já se
contaminava com aquela frase
que diz "padre ri a toa".
Não que o galheteiro
engrossasse as dificuldades
do Mosteiro, mas assim que
pudesse compraria um outro
para substituir o quebrado.
Além do mais, pensava
Evandro, talvez há muito
tempo os habitantes da
santidade não tiveram
sentido alguma diferença
entre o quebrar ou não o
galheteiros, uma vez que
isso não implicasse ter a
barriga agarrada às costas
por pança vazia!
Levantaram-se após as
orações e, breve aviso de
procissão da penitência. Foi
nessa procissão que Evandro
teve, que indesejavelmente,
castigar-se com um jejum
obrigatório. O que até agora
era cor-de-rosa passou a ser
bege. "-Afinal, nem sempre o
semáfaro tem a cor que a
gente quer!", pensou.
Achava demais ter de beber
óleo de rícino. De madrugada
aproveitou-se do trabalho
que seus intestinos lhe
deram para arriscar uma
visita até a adega -
"Imunda! Não via limpeza,
sabe-se lá desde
quando".Entrou ingênuo e
saiu aguçado. O vinho fazia
um efeito celestial! Dormiu
como um anjo e sonhou com
prazeres da carne. - "Aí que
saudade da Ditinha".Mas seus
humores faziam cócegas na
hora da procissão. Não
entendia nada daquele
aparato todo, o que lhe
provocava pensamentos
estupidamente hereges. Não
que fosse rebelde.Mas se
dessem por isso, seria
certamente castigado por
Deus e pelos homens. Deduzia
que fosse um dos grandes
penitentes, pois fora
colocado na cabeça da
procissão; mas sentiu-se
importante, porque ali ia o
regimento principal e todos
almejavam a mesma coisa: a
salvação das almas. Ele,
mais que ninguém! -"Que
fedor! É mal daqueles que
têm a alma perfumada
demais".
Viu-se interrompido nas
conjeturas, quando uma voz
apocalíptica mandou que
rezasse o "mea culpa, mea
culpa, mea máxima culpa".
Todos se ajoelharam. Evandro
abalou-se. A mãe
ensinara-lhe a rezar a tal
oração quando ia pra cama.
Dizia que se a gente
morresse dormindo, já morria
perdoado. Achou que tinha
chegado a sua hora. Quase
chorou de susto. Não
compreendia bem a liturgia,
lembrava-se pouco.
Só percebeu que luzia na mão
de um dos frades algo
redondo e lindo. Era a
custódia. Olhou para aquilo
e sentiu-se levitar. Quase
entrou em alfa como um bocó
e quase delirou. Acordou com
uma mão cabeluda
sacudindo-lhe a cabeça - o
"show" terminara,
finalmente. Pediu rápido
licença para se retirar. A
fraqueza atravessava-lhe os
ossos, pelo jejum, e tinha
vontade de dormir. O corpo
exangue e flácido
escorregava das bases.
Sombras e manchas azuis,
verdes, amarelas, quase
extintas. Amava aquele
lugar. As pálpebras pesadas
imploravam por descanso e o
céu de chumbo lá fora
apagava-se mais uma vez.
Olhou para o Cristo na
parede e só viu a metade.
Acordou com um torpor
inexplicável. Um latinório
ouviu-se ao longe. Ruído de
paramentos, pigarros do
frade mais velho -Esse já
está com um pé na cova e
outro na casca de
banana".Uma lufada de vento
o entristeceu
voluptuosamente. A própria
carne estaca e friorenta.
Lembrou-se do pacto. Não
podia esquecer-se da mãe.
Veio-lhe o impulso de fugir.
-Ah! Bons dias de sol, em
que jogava bola no adro da
igreja. Armar redes,
sentar-se à sombra dos
arvoredos!".
Estremeceu. Levantou-se. O
ar estagnado cheirava-lhe
mal. Tudo caía em cima dele.
A voz da mãe desabava. E nem
as genuflexões, nem os
sinais-da-cruz, as atitudes
compenetradas dos padres na
capela, o impediram de
dirigir-se àquele quarto,
onde alguém quase jazia.
-Mea culpa, mea máxima
culpa...".Tinha medo, mas
não podia fugir. Chegou,
parou , entrou.
-Frei Apolinário!". (o
coração fechara-lhe a razão.
Descompreendeu a bondade e a
generosidade ).
O Frei curvara-se e parecia
murmurar algo.
Num gesto desmedido falou:
-"Quem é você e o que quer?
Como entrou aqui?".
-"A farsa acabou. Se Deus
pra você sempre significou
luz, pra mim a pra minha mãe
sempre significou treva. Sou
filho de seu estupro e
sangue de sua indiferença."
O sol irrompeu pela porta
afora, uma melodia suave no
ar. O nevoeiro dissipara-se
e Evandro, o pequeno
vingador, desapareceu na
escola da vida, deixando
para trás o rastro da morte.
(*) professor universitário,
escritor e jornalista
Quietude!
Nídia Vargas Potsch
Silencio!
Na arrebatadora
Quietude das lembranças
Sensações
De memórias
Não envelhecidas
Que perpassam
A nos conduzir
Pela teia da vida,
Pelas trilhas,
Amargas ou amorosas,
Do caminho percorrido
Em busca do ser e ... de ser
...
* * *
@Mensageir@
Rio, 10/01/10
Fax - Tecnologia pré-histórica
Paulo Roberto Bornhofen
A tecnologia da comunicação
vem experimentando avanços
extraordinários em nossos
dias. A internet tem lá sua
parcela de “culpa” com os
e-mails, programas de
mensagens instantâneas,
blogs, redes sociais e
tantas outras.
Não faz muito tempo que o
suprassumo da tecnologia da
comunicação era o aparelho
de fax, ou melhor, o
fac-símile. Nos primórdios
da era do fax era preciso
ter uma linha telefônica
dedicada exclusivamente para
a engenhoca tecnológica. Era
coisa pra pouca gente, como
se costuma dizer.
Para minha surpresa, o tal
do fax resiste aos avanços
tecnológicos. Até pensei em
dizer que ele resiste
bravamente, mas acontece que
o verdadeiro bravo é quem
inadvertidamente resolve
operar um destes aparelhos.
É uma verdadeira operação de
engenharia.
Dias destes fui testemunha
ocular, e por pura
incompetência não me tornei
coautor no ato de operar uma
destas geringonças.
Garbosamente a jovem
instalou o aparelho sobre
sua mesa. Algo enorme, para
os nossos padrões, um
trambolho pavoroso, talvez
seu volume fosse igual ao de
uns quatro ou cinco laptops
empilhados, ou de no mínimo
uns trinta celulares.
Egoisticamente passou a
ocupar mais de trinta por
cento da superfície da mesa.
Ligar o equipamento foi
tarefa mais fácil e que foi
vencida rapidamente. Agora a
jovem estava diante de um
enorme desafio: fazê-lo
funcionar. Primeiro era
preciso instalar uma bobina,
mas não a de papel em
branco. Era uma bobina de
papel carbono. Isso mesmo,
presenciei a união de duas
tecnologias altamente
obsoletas, o fax e o
carbono. Bela dupla, se
fosse o nome de uma dupla de
cantores ao estilo
sertanejo-universitário
poderiam até fazer sucesso:
“fax e carbono”.
Foi neste momento que eu
quase participei como
coautor, mas tive que
render-me diante da total e
completa incompetência em
manusear tal artefato
paquidérmico. Pedi para ver
o manual e quando li a
primeira linha de instruções
fui tomado por um estado de
puro pânico. Um pavor se
apossou de minha alma, o tal
do manual mandava virar o
conjunto da bobina de cabeça
para baixo... Desisti! Se
assim era o começo não
queria saber o restante.
Mas a jovem não.
Diferentemente do restante
do universo feminino, ela
não se intimidou diante de
tal desafio tecnológico. Eu
até sei que as mulheres são
obstinadas, que não desistem
perante o primeiro
obstáculo, desde que este
não seja um equipamento
eletrônico. Todos já
presenciamos as nossas
ladies operando, ou tentando
operar, um simples controle
remoto.
Voltemos ao herdeiro do
sinal de fumaça, sim, ao
fax. Mexe daqui, mexe dali,
vira de ponta cabeça (a
bobina, depois o fax e quase
que a própria jovem), enrola
pra lá, enrola pra cá; agora
desenrola tudo e eis que o
aparelho ganha vida. Começa
a funcionar, só faltou uma
palmadinha, como se faz com
os recém-nascidos.
Faltava ainda a prova final.
Seria o aparelho capaz de
enviar e receber uma
mensagem, ou melhor, um
texto impresso em papel?
Isto já não era mais um
simples questionamento, era
um verdadeiro dilema.
Naquele momento representava
a pedra filosofal da
comunicação por via
eletrônica.
Em um devaneio, imaginei
como teria sido a sensação
do inventor do fax ao
realizar o primeiro teste.
Se não funcionar? Retornando
ao nosso amigo fax, só tinha
um jeito de saber. Um texto
deveria ser enviado.
Imediatamente uma folha
impressa foi providenciada.
Uma euforia tomou conta do
ambiente. Sem nos
importarmos com o seu teor,
aquele texto adquiriu
importância ímpar, tal qual
a carta de Pero Vaz de
Caminha que deveria ser
entregue ao Rei, aquele
texto deveria ser
transmitido e acima de tudo,
recebido por outro
“fax-sauro”. Pronto, texto
enviado.
Passados alguns instantes,
eis que surge a jovem
exibindo uma pálida folha de
papel com a reprodução do
texto anteriormente enviado.
Majestosamente ergueu o
texto com ambas as mãos, e
assim como faz o ganhador da
maratona olímpica do alto do
pódio, exibiu o troféu
representando sua vitória.
Maravilha.
Pensando bem até que faz
sentido todo este sentimento
de vitória, pois preservadas
as devidas proporções, o que
eu havia presenciado tinha
sido uma autêntica batalha
épica, pelo menos as armas
usadas pertenciam a um tempo
muito, mas muito longínquo.

Filosofema
Priscila de Loureiro Coelho
Quem passeia pelas
vias da reflexão, percorrendo a
trajetória das considerações
sobre a relatividade das coisas
e sobre o papel que exerce o
"pecado", não pode deixar de
reconhecer com extrema lucidez e
perspicácia, a conotação
determinante deste aspecto na
vida do ser humano.
Interessante
partirmos desta premissa, qual
seja, a de considerarmos o
pecado como instrumento de
evolução do Ser.
Penso que se faz
necessário estabelecer com
clareza o que se considera
pecado, para que se possa
perceber a extensão dos
equívocos que envolvem a conduta
humana.
Tomemos como
definição de pecado, a
explicação mais simples, concisa
e objetiva.
Pecado -
transgressão de preceito
religioso. Em sentido mais
amplo, falta, erro, falha.
Desrespeitar qualquer regra
moral ou disciplinar. Em sentido
legal, delito.
Assim, partindo
desta definição mergulhamos na
essência da idéia de pecado e
abrimos a possibilidade de
compreender a sutileza da
afirmação de um amigo filósofo,
que afirma ser o pecado
responsável pela própria
evolução.
Quando nos deixamos
conduzir por preceitos, dogmas,
regras, sem que as questionemos,
as analisemos e as elaboremos
com toda atenção, nos colocamos
em estado debilitado de
raciocínio, abrindo mão da
prerrogativa máxima do Homem,
que é a liberdade de pensar por
si.
Neste sentido, muito
bem colocado, meu amigo não
deixa dúvida sobre sua
conclusão. Há que se pagar um
alto preço pela desatenção em
algo de importância vital ao ser
humano.
Não pensar por si,
não utilizar a capacidade de
concluir, elaborar e escolher,
de forma consciente, os atos que
se pratica é, para se dizer o
mínimo, "ser vivido" e não
VIVER!
Aceitar meramente a
imposição de limites com o nome
de "pecado", é declinar de uma
regalia preciosa, uma dádiva que
qualifica todo homem ao livre
arbítrio.
A ousadia do Homem
que busca verdades, que utiliza
prodigamente a capacidade de se
descobrir como energia criadora;
que exerce conscientemente a
liberdade de opção, esse
atrevimento é a variável que
distingue seres que se anulam e
tornam-se amorfos, dos seres que
desabrocham na totalidade de sua
existência.
Percebermos a
relatividade das verdades; das
premissas; dos dogmas que nos
são impostos; das regras, muitas
vezes sem sentido ou
tendenciosas, que apenas visam
engessar a condição humana e
impedir que se realize em
plenitude, é darmos o primeiro
passo para a evolução de nosso
espírito, possibilitando que ele
alcance estágios sem
precedentes...
A Religião, o
Estado, a Moral, como
instituições, são códigos que
têm seu valor, relativo, mas que
precisam ser flexíveis,
modificarem-se com o tempo, e
irem adaptando-se conforme o ser
humano vai evoluindo. É lícito
lembrar que "a Lei existe para
servir ao homem e não o homem
para servir a Lei"
A religiosidade do
indivíduo, o autêntico senso de
grupo e a compreensão da vida
como uma unidade, estas sim, são
condições absolutas, perenes e
eternas, que possibilitam o
homem nortear-se na jornada da
expansão de suas
potencialidades.
Toda descoberta
exige audácia, coragem de deixar
o conhecido e explorar o
desconhecido!
Assim, temos que a
sabedoria nos aponta para
detalhes que fazem toda a
diferença. Descobrirmos os
limites onde transitam o
Absoluto e o
Relativo talvez seja a
habilidade determinante em nossa
busca de perfeição.
Vale a pena refletir
sobre isso.

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