A
INTELIGÊNCIA E O CHORO - Artur da Távola
Estou deslumbrado com os Serviços de Inteligência
norte-americanos.! Após alguns anos a destruição do Iraque em
nome de retirar um sanguinário ditador que esconderia armamentos
atômicos, em relatório da semana passada, informaram creio que
ao Departamento de Estado, que a invasão do Iraque gerou efeitos
contrários ao inesperado, aumentou o ódio ao ocidente e o
número de organizações terroristas no Oriente, dando-lhes uma
causa justa para defenderem.Estou deslumbrado com tanta
“inteligência”.... Aliás há muitos anos os serviços de
inteligência norte-americanos ( o novo nome de espionagem),
desde a guerra do Vietnam demonstram a excelência de sua
burrice. Saídos da Segunda Guerra Mundial como heróis da
democracia, de lá para cá, Os Estados Unidos se transformaram no
mais detestado país pelo resto do mundo. Aí entrou o senhor Bush
no governo, logo ele, a mais alta “inteligência” (basta prestar
atenção no seu olhar) de quem se tem notícia na história. Para
fazer jus ao título, ele começou por desorganizar o já precário
equilíbrio mundial e despertou reações que redundaram no aumento
do terrorismo. Conseguiu ajudar a enterrar o justo prestígio de
uma nação com tantos aspectos positivos em seu plano interno,
grandes universidades, professores luminares, muita cultura.
Tudo acabou em John Wayne.
Agora, a mesma “inteligência” que levou o genocida Bush a mentir
para o mundo sobre os armamentos atômicos (in)existentes no país
governado pelo tirano Saddam, depois de profundas meditações,
chega à conclusão que o efeito da invasão do Iraque foi um tiro
que saiu pela culatra.
Aliás, cá pelos Brasis. em matéria de inteligência, a do Partido
do atual governante não fica atrás...
RAZÕES PARA
O CHORO
Foi lançado ontem um livro sensacional e de grande utilidade
para a cultura brasileira: Na Cadência do Choro. Ele segue a
tradição do Na Cadência do Samba, escrito por esse grande
brasileiro que é o Haroldo Costa. Este, o do choro, foi escrito
em dupla por dois craques, seja como músicos, seja como
escritores: Afonso Machado e Jorge Roberto Martins, o nosso
Jorginho. É um trabalho completo e fartamente ilustrado por
fotografias de época e talvez o primeiro estudo sobre este
maravilhoso gênero musical que o aborde além do habitual
saudosismo. Possui um capítulo só sobre São Pixinguinha (única e
justa exceção pessoal), no mais acompanha toda a evolução do
choro (que é notável) até os nossos dias. É livro da mais alta
qualidade, em edição primorosa (merecia uma edição popular) que
honra qualquer biblioteca e indispensável às velhas e novas
gerações de músicos de resistência diante do aluvião de músicas
do Bush, digo do Rock.
Como vêem, temos vários motivos para o choro.
FILHO OU FILHA QUE GOSTA DE MÚSICA
Artur da Távola
Passagem interessante da novela Páginas da Vida refere-se à
jovem com bulimia, dançarina a contragosto, forçada pela mãe, e
que passa a gostar de música e do próprio balé, ao descobrir um
novo vizinho, rapaz diferente da média, pianista em formação,
daí resultando a aproximação de caráter amoroso. E há que se
ressaltar: isto numa juventude intoxicada de rock e outras
porcarias que a maioria de rádios e televisões lhe impinge.
Remeto-me à leitora-mãe que observa o amor pela arte latejar em
seu filho e que tem coragem de lhe incentivar a vocação
artística, em vez de sugerir que ele se torne uma “celebridade”
do programa TV Fama ou das revistas de fofoca; ou que ele siga
uma dessas profissões tradicionais, carreiras já entupidas de
gente, tidas como as “que dão dinheiro”.
Lembro-me, agora, do grande e imortal compositor alemão, Robert
Schumann, nascido em 1810, cuja vocação musical se manifestou
desde a infância e que quase foi abafada, porque a família o
queria advogado. Um dia, o pai, que era livreiro, o levou para
assistir ao concerto de um então grande pianista europeu chamado
Moscheles. Deu-se aí, no garoto Schumann, um encontro decisivo
consigo mesmo. Os verdadeiros encontros com a destinação
profunda de cada ser são inenarráveis momentos de certeza
absoluta, na verdade raros momentos que nos são dados ter em uma
vida em que dúvida, enigma, mistério, angústia ou necessidade
são as marcas centrais. Após ouvir Moscheles, o menino Robert
Schumann tem uma e só convicção: será também um grande artista.
A intuição, o inconsciente, a natureza da alma são
antecipatórios. Proféticos, melhor dito. Ao encontrar a própria
destinação, cada ser humano excita-se de susto e esperança por
antecipar realização e dor nela contidas. E, realmente, ele mais
adivinhou do que soube.
Depois que o pai morreu, a família enfrentou dificuldades.
Schumann cresceu e chegou a efetuar estudos em busca de formação
como advogado, sem jamais deixar de fazer música. Não resistiu,
porém. Logo escreveria à sua mãe, pedindo-lhe desculpas e
comunicando-lhe a sua inteira opção pela arte. A mãe compreendeu
e lhe deu força e conselhos. Hoje ele é um dos imortais da arte
dos sons.
Por isso, mãe ou pai que lerem esta crônica, prestem acurada
atenção à vocação de seus filhos.
CASTRADOS FÍSICOS E MENTAIS
Artur da Távola
A humanidade é mesmo cruel. Quem trata de música sabe que,
durante pouco mais de dois séculos, pela restrição à presença de
mulheres em atividades artísticas de óperas e outros espetáculos,
compravam-se meninos, em geral pobres, entre oito até os treze
anos de idade, de seus pais, para castrá-los. Com a castração,
garantia-se que as cordas vocais, por motivos hormonais, jamais
ganhassem o timbre masculino, unindo-se assim a força vocal de
pulmões masculinos a vozes muito altas e agudas, como as das
mulheres. Essa prática começou creio que na segunda metade do
século 16 e, até os anos de 1800, há notícias desses “castrati”,
palavra italiana que quer dizer castrados. Ainda resiste uma
gravação de 1902, das primitivas, com a voz do último castrado
de quem se tem notícia.
Em julho de 2006, li no noticiário da BBC de Londres
e estou há tempos para comentar, que os adiantamentos da ciência
levaram o Centro de Estudos Farinelli a abrir o túmulo do mais
famoso, rico e temperamental dos castrados(ele, Farinelli), para
estudar, via DNA, algumas singularidades. Recordo-me de um
pensamento de Pope, que me foi mencionado pelo José Roberto
Whitaker. Ele (Pope) dizia: “Diversão é a felicidade dos que não
pensam”. Grande verdade. Consta do noticiário da BBC que,
somente na Itália, chegaram a existir cerca de quatro mil
castrados ao longo do tempo.
A ciência do século vinte quer descobrir, através do
DNA de Farinelli (considerado o melhor dos “castrati”), como era
a sua constituição, qual a alimentação, seu processo hormonal
etc. Imagino que outros e mais nobres sejam os interesses da
ciência, porque estes já citados pela BBC representam apenas a
expressão viva da cultura inútil, além de trazerem à tona o
caráter macabro de atos humanos de grande covardia e vileza.
É verdade, por outro lado, que, como pregavam os cátaros há
quase mil anos, o ser humano vive a dualidade entre o bem e o
mal. Esta vida pertence simbolicamente ao mal e só a prática da
espiritualidade crescente o aproximaria do Bem Absoluto que
residia em outro plano, atingido pela sobrevivência da alma, da
reencarnação e expiação das culpas. Os cátaros ou albigenses
eram cristãos verdadeiros e puros, que foram trucidados pelas
cruzadas, na França, na Itália, na Alemanha e na Inglaterra...
Confesso temor por essa profanação do túmulo de Farinelli.
Quantas experiências científicas foram aproveitadas para o mal!
Ademais, o Brasil e o mundo andam repletos de castrados mentais.
Já pensaram se a moda pega...
A RIVALIDADE NO AMOR
Artur da Távola
Costumo
dizer que o ciúme é uma loucura repleta de razão. Ou uma razão
repleta de loucura...
Pessoas em estado de rivalidade tendem a diminuir o antagonista.
Fosse, porém, cada ser humano aberto e inteligente o suficiente
para aceitar o rival e compreendê-lo (compreender-se através
dele) em profundidade, muito descobriria acerca de si próprio.
O poeta Walmyr Ayala, em verso belíssimo, dizia: "O lobo, no
espelho, reconhece-se na vítima". Tem razão.
Algo se completa nos antagonistas em função da disputa do mesmo
objeto amoroso. Cessada a disputa, pode vir compreensão e até
amizade. Por alguma razão oculta e profunda, quase nunca nítida,
pessoas tornadas rivais envolveram-se entre si. O que as separa
é o começo primitivo e belicoso da descoberta do que as une. Mas
quem aceitará esta verdade na prática da vida, feita de choques
primários?
Houvesse coragem de prosseguir, descobrir, aceitar e seríamos
melhores e mais evoluídos. Há muito em comum entre os que se
desavêm...
Esta mistura de raiva, ressentimento e ao mesmo tempo
curiosidade e procura (ocultas), entre pessoas tornadas rivais,
revela a natureza intrincada e engenhosa do psiquismo humano.
Pessoas que se odeiam enquanto em disputa de um mesmo amor
seriam até capazes de se entender e mutuamente se admirar,
cessada a disputa.
O impulso - às vezes expresso de modo agressivo - de conhecer o
ou a rival, é um disfarce de ânsia mais funda de
auto-conhecimento através de alguém que se interessou pelo mesmo
objeto amoroso e de certa forma o conquistou.
A curiosidade é a forma preliminar (e, às vezes, distorcida) da
necessidade de comunhão com o outro. Fácil de entender mas
difícil de aceitar na vigência de uma relação...
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