Dia de Camões
10 de Junho

Trabalho e pesquisa de
Carlos Leite Ribeiro
Luís Vaz de Camões
Príncipe dos poetas portugueses, autor imortal dos LUSÍADAS
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Pormenor -
Monumento dos Descobrimentos -
Lisboa |
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associazionecamoes.blogspot.com
Após a morte de Luís Camões, o diplomata e
escritor espanhol Valera, que por esse tempo esteve em Portugal, escreveu que Os
Lusíadas «son el mayor obstáculo à la fusion de todas las partes de esta
Península. Camões se levanta entre Portugal y España qual firme muro, más
difícil de derrubar que todas las plazas y los castillos todos».
As informações sobre a sua biografia são relativamente escassas e pouco seguras,
apoiando-se num número limitado de documentos e breves referências dos seus
contemporâneos. A própria data do seu nascimento, assim como o local, é incerta,
tendo sido deduzida a partir de uma Carta de Perdão Real de 1553. A sua família
teria ascendência galega, embora se tenha fixado em Portugal séculos antes.
Pensa-se que estudou em Coimbra, mas não se conserva qualquer registo seu nos
arquivos universitários.
Serviu como soldado em Ceuta, por volta de 1549-1551, aí perdendo um olho. Em
1552, de regresso a Lisboa, esteve preso durante oito meses por ter ferido, numa
rixa, Gonçalo Borges, um funcionário da corte. Data do ano seguinte a referida
Carta de Perdão, ligada a essa ocorrência. Nesse mesmo ano, seguiu para a Índia.
Nos anos seguintes, serviu no Oriente, ora como soldado, ora como funcionário,
pensando-se que esteve mesmo em território chinês, onde teria exercido o cargo
de Provedor dos Defuntos e Ausentes, a partir de 1558.
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Macau |
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Em 1560 estava de novo em Goa, convivendo
com algumas das figuras importantes do seu tempo (como o
vice-rei D. Francisco Coutinho ou Garcia de Orta). Em 1569
iniciou o regresso a Lisboa. No ano seguinte, o historiador
Diogo do Couto, amigo do poeta, encontrou-o em Moçambique,
onde vivia na penúria. Juntamente com outros antigos
companheiros, conseguiu o seu regresso a Portugal, onde
desembarcou em 1570. Dois anos depois, D. Sebastião
concedeu-lhe uma tença, recompensando os seus serviços no
Oriente e o poema épico que entretanto publicara, "Os
Lusíadas". Camões morreu a 10 de Junho de 1580, ao que se
diz, na miséria. No entanto, é difícil distinguir aquilo que
é realidade, daquilo que é mito e lenda romântica, criados
em torno da sua vida.
Da obra de Camões foram publicados, em vida do poeta, três
poemas líricos, uma ode ao Conde de Redondo, um soneto a D.
Leonis Pereira, capitão de Malaca, e o poema épico Os
Lusíadas. Foram ainda representadas as peças teatrais,
Comédia dos Anfitriões, Comédia de Filodemo e Comédia de
El-Rei Seleuco. As duas primeiras peças foram publicadas em
1587 e a terceira, apenas em 1645, integrando o volume das
Rimas de Luís de Camões, compilação de poesias líricas antes
dispersas por cancioneiros, e cuja atribuição a Camões foi
feita, em alguns casos, sem critérios rigorosos. Um volume
que o poeta preparou, intitulado "Parnaso", foi-lhe roubado.

Praça
Camões-Lisboa
em 2º
plano: consulado do Brasil |
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Na poesia lírica, constituída
por redondilhas, sonetos, canções, odes, oitavas, tercetos,
sextinas, elegias e éclogas, Camões conciliou a tradição
renascentista (sob forte influência de Petrarca, no soneto)
com alguns aspectos maneiristas. Noutras composições,
aproveitou elementos da tradição lírica nacional, numa linha
que vinha já dos trovadores e da poesia palaciana, como, por
exemplo, nas redondilhas «Descalça vai para a fonte»
(dedicadas a Lianor), «Perdigão perdeu a pena», ou «Aquela
cativa» (que dedicou a uma sua escrava negra). É no tom
pessoal que conferiu às tendências de inspiração italiana e
na renovação da lírica mais tradicional que reside parte do
seu génio.
Na poesia lírica avultam os poemas de temática amorosa, em
que se tem procurado solução para as muitas lacunas em
relação à vida e personalidade do poeta. É o caso da sua
relação amorosa com Dinamene, uma amada chinesa que surge em
alguns dos seus poemas, nomeadamente no conhecido soneto
«Alma minha gentil que te partiste», ou de outras
composições, que ilustram a sua experiência de guerra e do
Oriente, como a canção «Junto dum seco, duro, estéril
monte».
No tratamento dado ao tema do amor é possível encontrar, não
apenas a adopção do conceito platónico do amor (herdado da
tradição cristã e da tradição e influência petrarquista) com
os seus princípios básicos de identificação do sujeito com o
objecto de amor («Transforma-se o amador na cousa amada»),
de anulação do desejo físico («Pede-me o desejo, Dama, que
vos veja / Não entende o que pede; está enganado.») e da
ausência como forma de apurar o amor, mas também o conflito
com a vivência sensual desse mesmo amor.
Assim, o amor surge, à maneira
petrarquista, como fonte de contradições, tão bem expressas
no justamente célebre soneto «Amor é fogo que arde sem se
ver», entre a vida e a morte, a água e o fogo, a esperança e
o desengano, inefável, mas, assim mesmo, fundamental à vida
humana. A concepção da mulher, outro tema essencial da
lírica camoniana, em íntima ligação com a temática amorosa e
com o tratamento dado à natureza (que, classicamente vista
como harmoniosa e amena, a ela se associa, como fonte de
imagens e metáforas, como termo comparativo de
superlativação da beleza da mulher, e, à maneira das
cantigas de amigo, como cenário e/ou confidente do drama
amoroso), oscila igualmente entre o pólo platónico (ideal de
beleza física, espelho da beleza interior, manifestação no
mundo sensível da Beleza do mundo inteligível), representado
pelo modelo de Laura, que é predominante (vejam-se a
propósito os sonetos «Ondados fios de ouro reluzente» e «Um
mover d'olhos, brando e piedoso»), e o modelo renascentista
de Vénus.
Temas mais abstractos como o do desconcerto do mundo
(expresso no soneto «Verdade, Amor, Razão, Merecimento» ou
na esparsa «Os bons vi sempre passar/no mundo graves
tormentos»); a passagem inexorável do tempo com todas as
mudanças implicadas, sempre negativas do ponto de vista
pessoal (como observa Camões no soneto «Mudam-se os tempos,
mudam-se as vontades»); as considerações de ordem
autobiográfica (como nos sonetos «Erros meus, má fortuna,
amor ardente» ou «O dia em que eu nasci, moura e pereça»,
que transmitem a concepção desesperançada, pessimista, da
vida própria), são outros temas dominantes da poesia lírica
de Camões.
No entanto, foi com Os Lusíadas que Camões, embora
postumamente, alcançou a glória. Poema épico, seguindo os
modelos clássicos e renascentistas, pretende fixar para a
posteridade os grandes feitos dos portugueses no Oriente.
Aproveitando a mitologia greco-romana, fundindo-a com
elementos cristãos, o que, na época, e mesmo mais tarde,
gerou alguma controvérsia, Camões relata a viagem de Vasco
da Gama, tomando-a como pretexto para a narração da história
de Portugal, intercalando episódios narrativos com outros de
cariz mais lírico, como é o caso do da «Linda Inês».
Os Lusíadas vieram a ser considerados o
grande poema épico nacional. Toda a obra de Camões, de
resto, influenciou a posterior literatura portuguesa, de
forma particular durante o Romantismo, criando muitos mitos
ligados à sua vida, mas também noutras épocas,
inclusivamente na actual. No século XIX, alguns escritores e
pensadores realistas colaboraram na preparação das
comemorações do terceiro centenário da sua morte,
pretendendo que a figura de Camões permitisse uma renovação
política e espiritual de Portugal.
Amplamente traduzido e admirado, é considerado por muitos a
figura cimeira da língua e da literatura portuguesas. São
suas, a colectânea das Rimas (1595, obra lírica), o Auto dos
Anfitriões, o Auto de Filodemo (1587), o Auto de El-Rei
Seleuco (1645) e Os Lusíadas (1572)
Canto lll (20-21)
Eis aqui, quase cume de cabeça
De Europa toda, o reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floreça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora; elá na ardente
África estar quieto o não consente
Esta é a ditosa pátria minha amada
À qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz ali comigo.
Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso ou Lira, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros,
E nela antam os íncolas primeiros. |
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Além de Poeta, Luis Vaz de
Camões foi um grande guerreiro, tendo combatido no Norte de
África, onde cegou do olho direito, e na Índia (Goa). Morreu
a 10 de Junho de 1580, pouco tempo antes de Portugal perder
a independência. Conta-se que, ao exalar o último suspiro,
terá exclamado angustiado: “Ao menos morro com a Pátria”.
Camões teria nascido em Coimbra em 1524, filho de Simão Vaz
de Camões e de Ana de Sá e Macedo. A vida deste grande homem
foi uma vida de aventuras e adversidades.
A sua cultura clássica abarcou tanto os poetas latinos como
os filósofos gregos. Além destes, Dante e Petraca eram os
seus autores predilectos. A Geografia, a História Antiga,
tanto dos Romanos e dos Gregos como dos povos da Península
Ibérica, a Astronomia e as artes militares, tudo ele
conhecia e, mais do que conhecia, tinha sempre presente,
pois afigura-se quase certo que as paráfrases de versos
latinos escritos na Ásia e na África foram feitas de
memória..
Porto
Editora-) p. 515
É pouco
provável que os preciosos livros da época andassem na
bagagem de Camões, que, apesar da nobreza da sua família,
foi um pobre soldado endividado, tendo permanecido dezassete
anos afastado da Pátria.
Mas a vida de Luís de Camões não foi só o estudo. Em
Coimbra, quando contava menos de vinte anos, misturava já os
prazeres do espírito com os do corpo. Autores portugueses
afirmam que o poeta aprendeu nessa época a arte de
conquistar os corações femininos, tornando-se ainda mais
invejado pelos fidalgos que, apesar de terem fortuna, não
conseguiam o seu êxito junto das belas damas da nobreza.
Depois de ter frequentado durante curto tempo a corte de D.
João III, partiu em 1547 para Ceuta, onde ali perdeu seu
olho direito numa escaramuça com os árabes.
Três anos depois, regressou a Portugal, onde teve vários
duelos e rixas, onde numa delas feriu gravemente um servidor
do Paço Real.
Constância - no desterro
http://ivanirfaria.wordpress.com/
Custou-lhe isto um ano de prisão,
durante o qual compôs o primeiro canto dos Lusíadas
As armas e os barões
assinalados,
Que da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram ainda além da Toprobana,
E em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles que por obras valerosas
Se vão de lei da Morte libertando
- Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
A disciplina militar
prestante
Não se aprende, Senhor, na fantasia,
Sonhando, imaginando ou estudando,
Senão vendo, tratando e pelejando
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É chamado a Goa. Naufraga
na costa do Camboja, junto à foz do rio Mekong e salva-se,
nadando com um braço e erguendo com o outro, acima das
vagas, o manuscrito dos Lusíadas
Chegado a Goa, sofre acusações caluniosas e é
preso novamente.
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na prisão
em Goa - óleo de Maureaux |
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Em Goa, Luís de Camões convidou cinco nobres portugueses
para um banquete em sua casa. Estes ficaram surpreendidos
por lhes serem apresentados pratos cheios de folhas
manuscritas de poesia, em vez de iguarias que esperavam. O
Poeta e nobre soldado, com humor e uma nota de tristeza,
anunciou-lhes o seu deplorável estado de finanças:
Se não quereis padecer
Uma ou duas horas tristes,
Sabeis que haveis de fazer ?
Volveros por dó veniste,
Que aqui não há que comer ... |
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A muito custo consegue justificar-se,
recuperando a liberdade, mas ainda passa por grandes
trabalhos e baldões, antes de iniciar o regresso a Portugal.
De um capitão de uma nau conseguiu passagem gratuita até
Moçambique, onde esperava encontrar a protecção de um amigo.
Porém, as suas esperanças frustraram-se e a situação
tornou-se-lhe catastrófica. Quem o encontrou nessas tristes
circunstâncias foi o historiador Diogo do Couto, que faz
referências ao caso nas suas “Décadas da Índia”: “Em
Moçambique achamos aquele Príncipe dos Poetas, Luís de
Camões, tão pobre que comia de amigos, e, para se embarcar
para o Reino, lhe juntámos toda a roupa que houve mister, e
não faltou quem lhe desse de comer. E aquele Inverno que
esteve em Moçambique, acabando de aperfeiçoar as suas
Lusíadas para as imprimir, foi escrevendo muito em um livro,
que intitulava Parnaso de Luís de Camões, livro de muita
erudição, doutrina e filosofia, o qual lhe furtaram. "E
nunca pude saber, no Reino, dele, por muito que inquiri. E
foi um furto notável”.
brumasdesintra.wordpress.com
Camões voltou a Lisboa com Diogo do Couto, chegando por
ocasião da grande peste que dizimou a população (1568 /
1569). Aí, teve conhecimento de que uma das suas grandes
amadas havia morrido cedo, com vinte cinco anos, quando ele
ainda estava em Macau. Assim, escreveu Camões, provavelmente
em memória de D. Catarina de Ataíde:
Perfeita formosura em terra
idade
Qual flor que antecipada foi colhida
Murchada está da mão da morte dura |
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Em 1572, sai a primeira edição dos
Lusíadas, tendo o rei D. Sebastião lhe concedido uma tença
anual de quinze mil reis.
Os últimos tempos da vida de Camões foram amargurados pelas
enfermidades e pela miséria. Um escravo de nome Jau, que
trouxera de Goa, salvou-o de morrer de fome, pois segundo
reza tradição, todas as noites ia esmolar para ele, pelas
ruas de Lisboa. Em 10 de Junho de 1580, expirou numa
miserável enxerga, dentro de uma barraca de madeira, para os
lados do Campo de Santana. Foi um dos maiores poetas que a
humanidade teve, e que era ao mesmo tempo notável homem de
ciência em História, em Geografia, em Humanidades Clássicas
e em Literatura Geral.
O seu poema espelha a alma portuguesa com a sua feição
sonhadora e amorosa, o seu entusiasmo, o seu espírito de
aventura, o seu belicoso ardor.
Camões criou um estilo seu, enriquecendo a Língua Portuguesa
do seu tempo com formas elegantes e originais, que ainda
hoje são admiradas e estudadas.
Para servir-vos, braço às
armas feito;
Para cantar-vos, mente às Musas
dada;
Só me falece ser a vós aceito,
De quem virtude deve ser prezada.
Se me isto o céu concede, e o vosso
peito
Digna empresa tomar de ser cantada
- Como a pressaga mente vaticina,
Olhando a vossa inclinação divina -,
O fazendo que, mais que a de Medusa,
A vista vossa tema o monte Atlante,
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
Os muros de Marrocos e Trudante,
A minha já estimada e leda Musa
Fico que em todo o mundo de vós
cante,
De sorte que Alexandre em vós se
veja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja. |
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Jaz no Mosteiro dos Jerónimos, em
Lisboa
 Trabalho e Pesquisa de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande
– Portugal
Revisão: Carmo
Vasconcelos
Réplica a "O Amor é fogo que arde sem se
ver", de Camões:
SE
AMOR É...
Carmo Vasconcelos
Se amor é fogo que arde sem se ver,
E senti-lo se faz contraditório...
Sendo ou não, fogo-fátuo e ilusório,
Por que tanto queimamos de o querer?
Se é ferida que dói e não se sente,
Por que insistimos nessa dor sarar,
Vendo apenas recobro nesse amar
Daquele que de amor nos faz contente?
Se tal contentamento é descontente,
Por que alegria tamanha lá se afunda
Nos meandros da tristeza que a alma inunda?
Se é dor que desatina sem doer,
Que eu frua do controverso amor em
mágoa,
E extinga-se o meu fogo ao fluir-lhe a água!
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O monumento, da autoria de Clara Menéres,
1987, no Boulevard Delessert, no cruzamento com a Av. Camões/Paris.

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