Fátima Mota

 

 

Esperas

Fátima Mota


Corre a lua atrás da boca da noite
enquanto o sol, mansamente brinca
de se esconder, ladino
entre sombras de concretos urbanos.

Viaja o vento em volta das flores
a brincar de esconde- esconde
criando impressões nas folhas
que se aventuram, buliçosas.

Deitam-se as flores
girandolas com cheiros
de antigos amores
em tardes silenciosas.

Corta a noite, de silêncios tantos
meu pensamento insofismável
enquanto devotado coração espera-te
para dividir segredos na calçada.

Fátima Mota

Tigresa

Fátima Mota


Como um gato
tinha sete vidas
e ligeiros saltos.

Transitava sem medos
e de pelo eriçado
pelo toque do vento norte.

Compunha a sua história
entre parcos olhares
e discretos calendários.

Fátima Mota

Meus papéis de seda

Fátima Mota


Entre quimeras e cores
recortei papéis
de seda pura
em tons de vermelho e azul.

Outrora usava tesoura e cola
fina linha e hastes
subia ao céu
imaginação ao léu
bailando cores
sem destino.

De seda os meus papéis
perambularam pelo mundo
coração vagabundo
refugiou-se entre céu e mar.

Fátima Mota

Afoite

Fátima Mota


Ousei ser madrigal
e macerar as sementes
trazidas pelos ventos matinais.

Ousei malabares
e deitei-me sob o céu
a contar estrelas sem pre_ocupações.

Caminhei sem olhar para trás
e para as in_verdades
fechei os olhos ciente do que não vi.

No meu outro lado
deixei somente o amor
tomar forma e andar sem aviso.

No toque entre plumas
aspirei todos os perfumes
mesmo os mais efêmeros.

Ousei ser feliz.

Fátima Mota

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