Desabafo
Já vivi a dor por medo de viver
o amor;
mas também por viver o amor, já
vivi a dor.
Eu já fui sincero, outras vezes
eu menti;
algumas vezes não, outras, eu me
arrependi.
Muitas vezes eu chorei em ombros
amigos,
minhas mágoas, por vezes
precisaram de ouvidos.
Já magoei pessoas caras que me
amavam,
já fui ferido pelas mãos que me
acalentavam.
Passei noites em claro pelos
dias escuros,
e vi estrelas de dia, clareando
os céus impuros.
Desejei amar para sempre um Amor
perfeito,
mas o amor perfeito é amar o
Amor imperfeito.
Já sorri na tristeza, já chorei
na alegria,
vivi representando, pois na vida
eu mentia.
Já me olhei no espelho querendo
saber quem sou,
só vi miragens em nuvens que o
tempo formou.
Cri em mentiras, e de verdades
duvidei.
Fui feliz e não sabia, vivi e
não sonhei.
Já errei convictamente pensando
que eu sabia;
disse o que queria, calei quando
não devia.
Já chorei num caixão, por levar,
quem eu amava.
Já chamei a mãe, quando um bicho
à noite assombrava.
Chamei de “meu amigo” quem nunca
mereceu,
outros são irmãos queridos que a
vida me deu.
Já caí muitas vezes pensando que
aprendi,
mas cada vez foi mais fácil,
quando me reergui.
Sempre estou diferente, porque
na eternidade,
todos nós seremos distintos pela
igualdade.
José Luiz da Luz |

Que celeste rosa
Que celeste rosa, que estranha
ternura!
Que delícia teu nome em minha
voz rouca,
onde eu grito, e minha alma já
quase louca,
respira o perfume de tua
doçura...
Lembro ainda aquela mão!
Melíflua a aquentar a minha,
dando a ela o que ela não tinha,
e fogo ao meu coração.
Que júbilo te olhar, que alva
criatura!
Que lábios amantes de beijos
fervidos,
a jorrar caudais de néctar aos
sentidos.
E a sussurrar melodias de
ventura.
Vem a noite em véus risonhos.
E pelo amor eu me esvoaço,
e no afã a ti me abraço,
pelas viagens dos meus sonhos.
Tenho o coração dos anjos
imortais.
Sinto na terra o amor de um
paraíso,
que transcende meu corpo, puro e
preciso.
Esquecer-te? Nunca! Nunca! Nunca
mais!...
E o olhar... Quanta polidez!
Do mistério do oceano,
que jamais pudera humano,
sondar sua profundez
Rosa rainha, a mística dos
florais.
Minha alma levaria este doce
afã,
tomada de amor, se eu morresse
amanhã...
Esquecer-te? Nunca! Nunca! Nunca
mais.
José Luiz da Luz |

Equilíbrio.
O humano está expresso no
universo,
como a lua está no espelho
d’água.
O humano e o espelho são o
inverso:
a imagem vívida que deságua.
Há o “Ser” real de divino nexo.
circunscrito no complexo anexo,
de lama e de vida perecível.
Que olha o fundo do mundo
tangível.
O “Ser” verdadeiro está na luz,
como o pão sagrado está no
altar,
como a porta ao céu está na
cruz.
Mas, nem sempre o “Ser” consegue
amar.
O “Ser” voa e sonha, mas não
como um pássaro liberto.
Não é assim! A liberdade é a
vida em fulguras,
Como a borboleta que abandona o
casulo aberto.
O casulo é o inverso, o nó que
prende as criaturas.
Uma parte de nós é pó do mundo:
a outra é luz.
Uma parte de nós é cruz: a outra
é amor profundo.
Uma parte de nós é reflexo: a
outra é real.
Uma parte de nós ilegal: a outra
parte exige nexo.
No inverso há morte, no verso há
vida.
No inverso do verso reina a
cruz.
Além do inverso há o verso de
luz.
Depois da porta vem a partida.
José Luiz da Luz |

Anima Mea
“Eu sou”
Neste vaso, que a terra há de
quebrar,
do mundo do viver e do atuar;
No berço do morrer e renascer.
Anima Mea: eu sou o ascender.
“Eu sou”,
etéreo fogo no mundo amarrado.
Meu vaso de sangue é um nó
apertado,
que tempera minha alma
renascida,
e faz da pedra uma joia polida.
Minha alma, natural da
imensidade,
imortal nesta morredoura vida.
joia lapidada no pó da lida,
que após a morte volta a
eternidade.
Neste peito exausto, põe-se a
sonhar:
minha alma atada tentando
escapar.
Anima Mea, presa a sete espadas,
todas, para o coração apontadas.
“Eu sou”. Anima Mea, eu sou.
Explode alegria na eternidade...
Brilhar! Brilhar!.. Em todos os
lugares.
Anima Mea, após a liberdade,
retornará para os suaves ares.
José Luiz da Luz |

2012
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