Renã Leite Pontes

 

 
Entalhe à amazônica

 

Vou entalhar a golpes de martelo,
na tábua de carvalho da esplanada,
o teu “retrato”, em letra esbranquiçada,
no meu poema mais castiço e belo,

E augusto, e luso... mas verde-amarelo!
borda fresada e ricamente ornada.
vou retocá-lo, na ogival chapada,
com arte sem padrão, nem paralelo.

Vou definir-te como és, cem por cento,
depois, num transe de arrebatamento,
imaginar te ver sorrindo inteira.

E envernizando o teu nome encravado,
quero, por fim, amor, meu anjo amado,
deixar-te eternizada na madeira.

Renã Leite Pontes

 

Reminiscências

No andar de cima, num delgado leito,
amei uma mulher perdidamente.
janela aberta para o sol nascente.
o sol resplandecia no seu peito.

Pescoços para trás, na ação cadente,
pés calcados no chão do parapeito.
ninguém jamais amou daquele jeito.
se alguém disser que amou é porque mente!

Depois riu, me abraçou, se fez calada.
partiu muda, no fim da madrugada,
como se nada houvesse acontecido.

Levou consigo todo o amor que eu tinha;
deixou comigo esta saudade minha...
e nunca mais eu me senti querido!

Renã Leite Pontes

 

O Que Eu Penso de Vós

Vedes carrascos santos, vis chacais,
nos males mergulhadas vizinhanças.
roubastes tantas vidas das crianças:
tempo perdido que não volta mais!

Vão ver desesperanças que causais,
travestidas à moda de mudanças.
oportunistas, seres ilegais,
vão ver que perigosas seguranças.

Têm transcendido o nosso grau de espanto.
quando pensamos que não há mais canto
a comportar maiores peraltices,

A casa serve à massa um prato novo
e faz de “pizzaiolo” e bobo ao povo:
depois brincam de leis com pieguices.

Renã Leite Pontes

 

Jardim De Inverno

Rosa Clarpúnia, a flor de Júlio César.
formosa Cláudia, o lírio de Pilatos.
lindas mulheres! Mais que exemplos natos.
foi bem por eles que eu ousei casar.

Lá nos Açores há rosas e extratos
que emanam brisas letras pelo mar,
com poesias pela água e ar,
pois nos Açores, letras são regatos.

Se julgarmos por esta sua Filha,
é a Ilha Terceira, a maior ilha,
em paz, cultura e em civilidade.

Rosa Maria traz-nos, com seus versos,
seus amores profundos, submersos,
para a mais fina flor da claridade.

Renã Leite Pontes


Dedicado - com carinho - à distinta poetisa Rosa Maria, de Angra do Heroísmo, Ilha Terceira de Açores.

 

 Índice de autores