Raymundo de Salles Brasil

 

 

SUBLIMAÇÃO
Raymundo de Salles Brasil

 

Ela se despediu e nunca mais nos vimos,
Nunca mais nós trocamos um alô, sequer,
Longe o tempo já vai, que brincamos e rimos,
Ela era um botão, longe de ser mulher,

E eu era um fedelho quando, os dois, sorrimos...
Despetalando aquela flor do mal-me-quer,
Pra ver se o nosso amor era coisa de primos,
Ou se tinha embutida outra coisa qualquer.

Hoje com meus botões, refletindo maduro,
Eu concluí que sim, era muito mais puro,
Era mais para santo o nosso amor fraterno.

Sem ter a marca vil dessa coisa carnal,
Ele se fez sublime, quase divinal,
Talvez, por isso mesmo, ele ficasse eterno.

23/11/07
Raymundo de Salles Brasil

 

UM LUGAR ENCANTADOR
Raymundo de Salles Brasil

 

Essas paisagens têm um belo santo,
Virgens parecem-me, parecem puras,
Aqui o homo sapiens, por enquanto,
Não quis usar as suas mãos impuras.

É tardezinha já no seu quebranto,
Um tom de nostalgia nas molduras,
E enquanto desce a noite, mais encanto,
Nas meninas, nas moças, nas maduras.

O sol vai recolhendo a sua luz,
As farpas de ouro, imensas, que produz,
Que há pouco derramava sobre as ondas.

E esses rostos que passam são tão belos
Que inspirariam (se pudesse vê-los)
Ao Leonardo da Vinci outras Giocondas.

Raymundo de Salles Brasil

 

CONSTATAÇÃO
Raymundo de Salles Brasil

 

Estou passando uns tempos no meu sítio,
Na pacífica e remansosa gleba
Onde exercito o prazeroso ócio
E onde me refaço das refregas.

É lá que eu vejo a liberdade plena,
Não é que a veja em mim, que ainda tenho
Alguns grilhões que me acorrentam o voou,
Mas nas aves, nas árvores, nos campos...

Eles me dão a mais perfeita ideia
Da perfeição de Deus na sua obra,
Imunes do pecado original.

Se os homens permitirem todos crescem
E viverão felizes para sempre
Como nem as pessoas que se querem.

Raymundo de Salles Brasil

 

O SONO DO SOL
Raymundo de Salles Brasil

 

Tinge-se de lilás a tarde mansa;
Quebra o silêncio, apenas o cantar
Das aves e, das árvores, a dança
Dos galhos e dos ramos, ao ruflar.

E, lentamente, o sol, que já se cansa,
Exausto, já, de tanto iluminar,
No horizonte debruça e luzes lança,
Tingindo de fulgor o céu e o mar.

E pouco a pouco vai adormecendo...
Entre as nuvens de sombra se envolvendo,
Até pegar num sono bem profundo.

Nem chega a ver que Deus teve o cuidado
De estender um lençol todo estrelado,
Para cobrir de pérolas o mundo.

Raymundo de Salles Brasil

 

2012

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