Nome: TCHELLO D'BARROS
Profissão: Sou Escritor e Artista
Visual. Eventualmente desempenho funções
diversas na coordenação de ações culturais
nos segmentos da Literatura e das Artes
Visuais.
Quer falar um pouco da terra onde mora?
Embora seja catarinense nascido em
Brunópolis (SC), tendo morado em mais dez
cidades brasileiras e andado por uns 20
países, morei em Blumenau (SC) por 15 anos,
onde comecei a escrever. Mas desde 2004 que
moro em Maceió, capital do estado de
Alagoas, no Nordeste do Brasil. Alagoas é
conhecida como Terra dos Marechais, pois
aqui nasceram os dois primeiros presidentes
do Brasil, Marechal Deodoro da Fonseca e o
Marechal Floriano Peixoto. É terra de
Calabar, o primeiro herói brasileiro. Terra
do herói negro Zumbi dos Palmares. Terra de
milagres do Frei Damião. Terra onde o
cangaceiro Lampião foi muito atuante. Mas é
também terra de Djavan, e do músico univeral
Hermeto Paschoal. Terra de Marta, a melhor
jogadora de futebol do mundo. Terra de
Heloísa Helena, a mulher mais corajosa do
Brasil. Territorialmente é um dos menores
Estados do país, no entanto, deu grandes
contribuições ao país na seara da
Literatura, com nomes como o poeta Jorge de
Lima, o romancista Graciliano Ramos, o poeta
Lêdo Ivo e o dicionarista Aurélio Buarque de
Holanda, entre outros. Interessante anotar
que aqui viveram por algum tempo os
escritores Monteiro Lobato, Clarice
Lispector e José Lins do Rego. Aqui ainda se
encontram repentistas e cordelistas, sendo
que em Alagoas também viveram diversos
poetas populares integrantes da história da
Literatura de Cordel. A capital Maceió tem a
orla urbana mais bonita do país com suas
praias cor de jade e esmeralda. E as praias
alagoanas em geral competem em beleza com as
praias caribenhas. Maceió tem mais de
800.000 habitantes e aqui faz calor o ano
todo, clima propício para as atividades nas
praia e lagoas. Não por acaso essa terra é
conhecida como Paraíso das Águas. Aos amigos
que me visitam digo que são 3 coisas que
fazem com que o sujeito acabe ficando por
aqui, por isso, ele deve ter muito cuidado
ao provar: o tempero do caldinho de sururu;
o doce de quebra-queixo; e o beijo de uma
alagoana...
Quando começou a escrever?
Desde criança sempre desenhei muito e também
sempre gostei de ler e escrever. No entanto,
penso que comecei tarde na literatura, pois
meu projeto inicial era ser desenhista
profissisonal e no paralelo, como meio de
expressão, me dedicar as artes plásticas, o
que acabou de fato acontecendo, quando fui
morar em Blumenau(SC). Então, já com 25 anos
de idade, lá por 1993, comecei a me
interessar por poesia experimental, poesia
de vanguarda, poesia visual, poesia marginal
e afins, pois tive contato com diversos
poetas da cidade e ao ler seus trabalhos
percebi que muita coisa que eu traduzia em
desenhos, poderia ser expressa na forma de
poemas, e assim surgiram os primeiros
versos.
Teve a influência de alguém para começar
a escrever?
Penso que a influência maior tenha sido
menos o estilo de algum escritor ou escola
literária, que o contexto cultural onde eu
vivia na época, onde conheci a obra de
autores locais como Dênnis Radünz, José
Endoença Martins, Jairo Martins, Lauro Lara,
Lindolf Bell, Marcelo Steil, Terezinha
Manczak, Urda Klueger e Wilson do
Nascimento, entre outros. Além disso, lia os
autores universais, e no meio dessa
tessitura toda, foi surgindo minha escrita,
inicialmente na poesia experimental e nas
formas fixas de poema, e depois, já no novo
milênio, começaram a surgir os contos e
crônicas.
Lembra-se do seu 1º trabalho literário?
Bem, o primeiro poema a gente nunca esquece!
Hoje me parece que comecei de uma forma
talvez estranha, senão tola mesmo, mas é que
na época, nos idos de 1993/94, ainda não
havia Internet, então me parecia
interessante a estratégia dos concursos
literários. O fato é que eu nada conhecia de
teorias literárias, cânones poéticos, formas
fixas, escolas de estilo e tal, e escrevi os
primeiros poemas de maneira totalmente
intuitiva, e enviei as quatro primeiras
produções para quatro concursos. O estranho
é que os trabalhos foram aceitos nos quatro
concursos. Obtive o 1º lugar num concurso
estadual com prêmio em dinheiro e também o
1º lugar num concurso local. Fiquei em 3º
num concurso nacional também com premiação
em dinheiro. E dois poemas foram aceitos num
concurso onde os textos selecionados foram
publicados na antologia Blumenália Poética,
organizada pelo Lauro Lara. Embalado por
esses sucessos, que hoje considero sorte de
principiante, optei por não enviar mais
trabalhos para concursos e dediquei-me a
estudar a obra de vários autores e a ciência
da poesia e da prosa, com muita teoria
literária e história da arte e da literatura
brasileira e universal. Aliás, a gente nunca
para de estudar essas coisas.
Foi divulgado (como)?
Naqueles tempos, esses primeiros poemas
foram divulgados nas publicações relativas
aos concursos, que basicamente eram
coletâneas com textos dos vários
participantes selecionados. Mas esses livros
tinham uma circulação muito restrita, o que
me levou a enviar novos poemas para jornais
e revistas, atingindo dessa forma um público
mais amplo. Também logo nesse início produzi
meus primeiros poemas visuais, que
participaram de exposições locais. Aos
poucos os escritos foram participando de
outras coletâneas e antologias até que
depois vieram os primeiros livros solo e a
divulgação na Internet.
Tem livro (s) impresso (s) (editora e
ano)?
Até o momento tenho publicados:
Cordéis - Poesia de Cordel - Ed. de autor –
Maceió/AL - 2006
À Flor da Pele - Poesia - Ed. Cultura em
Movimento – Blumenau/SC - 2003
Olho Zen - Poesia - Ed. Multi-prisma –
Blumenau/SC - 2000
Letramorfose - Poesia - Ed. Cultura em
Movimento – Blumenau/SC - 1999
Palavrório - Poesia - Ed. de Autor –
Blumenau/SC - 1996
Olho Nu - Poesia - Ed. Letras Contemporâneas
– Florianópolis/SC - 1996
No paralelo, além de ter textos publicados
em diversos jornais, revistas, periódicos e
sites, vários textos em prosa e poesia foram
bublicados em cerca de 30 coletâneas e
antologias.
Tem livro(s) electrónico(s) (e-books),
editora e ano?
Fiz a opção de publicar em site próprio, nos
meus 8 blogs e também em sites de
relacionamento.
Projectos literários para este ano de
2008/09 ?
Costumo não revelar as coisas que estão em
andamento, no entanto, como parceiro do CEN
desde o início, e em respeito aos seus
leitores, posso adiantar que há vários
projetos andando ao mesmo tempo. Não vou
dizer datas, mas possivelmente em breve
deverá ser publicado meu novo livro de
poemas, que está com o nome provisório de
Vide-verso. No horizonte também a publicação
de um livro de contos. Há o caso de meus
relatos de viagens, que já deviam estar
publicados e há anos que se arrastam por
editoras, mesma coisa os textos de
literatura infantil. No momento estou
preocupado ainda com a exposição de Poesia
Visual "Convergências", que já foi
apresentada em João Pessoa (PB), em Maceió (AL)
e em Blumenau (SC), a qual já está recebendo
novos convites. É que com as quarenta
primaveras que levo nos ombros a gente
aprende a dizer não para um bocado de
propostas. A gente se preocupa
principalmente com a qualidade, por conta do
respeito aos que terão contato com essas
obras. Depois disso penso em cuidar da
reedição dos primeiros livros. E no
paralelo, vou publicando por aí os novos
textos, bem como participando de eventos
literários, congressos, viagens,
declamações, performances, efemérides,
eclipses, alumbramentos e epifanias.
Como vão ser editados ?:
Serão publicados por editoras brasileiras, à
princípio, mas sempre com versão virtual
mediante meus já citados blogs e no site,
com acesso gratuito para os que não tem
acesso ao livro impresso. Minha preocupação
maior é sempre com os estudantes. Gosto
muito de ir palestrar e ministrar oficinas
literárias em escolas, já que em todas as
que estudei, nenhuma foi visitada por algum
escritor. Considero as bibliotecas de
escolas lugares realmente sagrados.
Fale-nos um pouco de si, como pessoa
humana?
Não sou nenhum santo, mas rezo a cartilha do
bom-mocismo, procurando ser simpático sempre
que possível, e pratico a arte da tolerância
com todos e até comigo mesmo, às vezes! São
princípios que utilizo em debates literários
e culturais, sempre respeitando posturas e
opiniões alheias. Sou daqueles que posso até
não concordar com o ponto-de-vista de uma
pessoa, mas sou o primeiro a defender seu
direito a ter uma opinião pessoal, mesmo que
seja diferente da minha. O exercício do
comedimento e da aceitação do outro, com
suas idiossincrasias e valores, tem
resultado em parcerias produtivas,
relacionamentos gratificantes e amizades
duradouras.
Como Escritor (a)?
A melhor resposta para essa pergunta talvez
fosse o julgamento dos leitores sobre meus
textos. Talvez não seja exagero mencionar
aqui uma postura de interação e atuação no
chamado meio literário. Isso se traduz na
organização de projetos literários,
coordenação de cursos, concursos, militância
em associações literárias, participação em
eventos, congressos, seminários, antologias,
produção de edições independentes, resenhas
sobre outros autores, palestras, exposições,
campanhas em bibliotecas e escolas, enfim,
penso que o lugar do escritor contemporâneo
não é em nenhuma torre de marfim, digital ou
não, mas onde a literatura se fizer
necessária como agente de transformação do
meio sócio-cultural em que vivemos.
Para se inspirar literariamente, precisa de
algum ambiente especial ?
Decepção para os mais românticos, sou um
escritor que não gosta de escrever. Quero
que dizer que não gosto do ato físico de
escrever. Gosto é de viajar, de estar na
praia, de dançar, de cinema, de namorar, de
conversa de boteco, essas coisas bem
normais. Quando estou escrevendo, gostaria
mesmo é de estar fazendo alguma dessas
outras coisas. Aliás, minha produção é
lenta, pois me dedico também à outras formas
de expressão, como o desenho, a gravura, a
fotografia e outras experimentações. Só
escrevo mesmo quando não tem outro jeito,
quando as artes visuais não dão conta, é que
parto para as letras. As biografias de
grandes autores nos informam que não há dois
escritores que tenham a mesma forma de se
inspirar ou uma ritualística semelhante para
o ato da escrita. Enquanto uns buscam e
provocam a chamada inspiração, exercitam-se,
escrevem disciplinadamente, cotidianamente,
outros apenas desligam tudo e deixam o
insight chegar. Faço parte desses últimos,
pois realmente não gosto de escrever, não
gosto nem de digitar as respostas dessa
entrevista. Apenas para não fugir à resposta
da pergunta, gostaria de mencionar que em
meu caso, tudo ocorre com pequenos estalos -
os tais dos insights - que chegam em
momentos inesperados, a qualquer hora, por
isso sou desses que anda munido de caneta e
bloquinho, escrevo em guardanapos, na
agenda, mando e-mails para mim mesmo,
torpedos pelo celular e outros
comportamentos meio absurdos. E vou anotando
e guardando tudo. Quando tudo fica um pouco
insuportável, então meio que na pressão vou
lá e escrevo, lapidando tudo, e imprimindo,
como que sentindo um tipo de alívio. É assim
que acontece comigo, as coisas vem chegando
aos poucos, como uma onda que vai crescendo.
Jamais sento e digo pra mim mesmo:_Bem,
agora vou escrever um conto! Não. Deixo que
o texto ou a idéia, seja qual for, me
procure e me encontre. E procuro também me
livrar disso tudo o mais rápido possível.
Penso que um texto, depois de publicado,
deve ter vida própria e andar com as
próprias pernas. Se for bom, os leitores
saberão multiplicá-lo.
Tem prémios literários?:
Prefiro esquecer as já citadas premiações
mencionadas acima, ainda que eu seja grato
pelas oportunidades que me foram
apresentadas. Não sou contra participações
em concursos, aliás, já tive o privilégio de
organizar alguns. Apenas não tenho esse
interesse. Há concursos realmente éticos e
que de fato fomentam uma produção literária
de qualidade. Talvez alguns literatos de
ocasião devessem refletir a respeito
daqueles concursos onde se paga para ter seu
texto publicado. Há quem argumente que em
alguns casos assim não se está privilegiando
o talento, mas a capacidade financeira das
pessoas que querem publicar. Há mesmo casos
onde se a pessoa tiver mais dinheiro, pode
comprar um número maior de páginas numa
coletânea, assim ela terá mais páginas
publicadas do que a outra pessoa que dispõe
de menos recursos. É também verdade que
nunca foi tão fácil publicar, basta chegar
em qualquer gráfica e mandar editar pagando
os custos de impressão, e assim: plop! da
noite para o dia o sujeito vira um escritor.
Isso alimentado todo um mercado - mais
gráfico, que editorial - que ficou conhecido
com o conceito de vanity-press, ou 'imprensa
da vaidade'. Por isso sou adepto dos
conselhos editoriais, com crivos que apostam
no talento da pessoa, na qualidade literária
do texto. Questão de mérito. A mesma coisa
vale para tantos sites por aí que publicam
qualquer coisa de qualquer um.
Tem Home Page própria (não são
consideradas outras que simplesmente tenham
trabalhos seus)?
www.tchello.art.br
www.tchellodbarros-poesia.blogspot.com
www.tchellodbarros-poesiavisual.blogspot.com
www.tchellodbarros-contosecronicas.blogspot.com
www.tchellodbarros-literaturainfantil.blogspot.com
www.tchellodbarros-cordeis.blogspot.com
www.tchellodbarros-artesvisuais.blogspot.com
www.tchellodbarros-fotografia.blogspot.com
Conhece as vantagens que os Autores do
CEN têm em ter sua Home Page ou (e) Livro
(s) electrónicos, nos nossos sites?
Conheço e recomendo para os escritores que
querem ter seu trabalho divulgado num portal
sério e comprometido com a literatura de
língua portuguesa em todo o mundo lusófono.
Que conselho daria a uma pessoa que
começasse agora a escrever ?
Não sou de dar conselhos, e quando ainda
assim insistem, não raro, acabo dizendo algo
diferente do que a pessoa gostaria de ouvir.
Nesse caso por exemplo, talvez o sujeito
devesse meditar um pouco e concluir que
talvez fosse melhor dedicar-se à alguma
atividade ou profissão de fato útil aos
semelhantes. Se ainda assim o vírus da
literatura lhe coçar os dedos, peço que o
candidato desista, pois talvez suas
idiossincrasias tão urgentes não valham a
árvore que será derrubada para que se
produza o papel onde será impresso sua
supostamente necessária escrevinhação. Mas
digamos que se trate de uma daquelas mulas
teimosas, daqueles que não sabem o quanto de
entrega a verdadeira literatura lhe exigirá,
ou pior, daqueles que apenas pensam no lucro
fácil ou na fama fóssil, bem, a esses
imploro que sejam razoáveis e abandonem a
idéia. O mundo pode passar muito bem sem
suas letrinhas. E o tempo que alguém poderia
perder em ler suas catarses confessionais,
esse alguém poderia estar usando para ler um
clássico, um autor de verdade. Mas se para
além de toda ambição e pretensão, o sujeito
quiser ainda seguir em frente, peço outra
vez que pare agora mesmo. É melhor que você
seja um bom leitor do que um péssimo
escritor. Como último recurso, mas já
sentindo alguma pena dessa pessoa, eu que
não dou nem vendo conselhos, apresento a
clássica pergunta de Rilke, em Cartas À Um
Jovem Poeta: "Você conseguiria viver, se lhe
fosse tirada a possibilidade de escrever?"
Bem, se a resposta for sim, ainda assim acho
que se trata de uma pessoa equivocada e
movida meramente pela vaidade e deveria
abandonar de vez a idéia. Mas entre dez que
responderem "sim", é possível que um ou dois
sintam nas veias aquele fervor das letras,
aquela paixão pela palavra, aquela entrega
pela atividade da escrita, um
sentimento de amor pelo idioma, por sua
cultura e pela capacidade que a literatura
tem em criar emoções estéticas e de
influenciar e mesmo transformar o meio. Se é
daqueles que realmente tem o que dizer e
sentem na veia que a atividade literária,
veículo de sonhos, é a ferramenta ideal para
a construção de obras de arte, seja em verso
ou em prosa, então, por conta de toda essa
obstinação, penso que esse sujeito saberá
extrair a qualidade da quantidade, o ouro do
chumbo, o joio do trigo. E sua escrita será
uma contribuição na história da literatura,
seja em sua cidade, em seu país, em seu
idioma. Quero o livro dessa pessoa em minha
biblioteca. E quero autografado.
Para terminar este trabalho, queira fazer o
favor de colocar um pequeno (e original)
trabalho seu (em prosa ou em verso) :
"A FACE FACEIRA"
Não vou dizer que ela é bonita. Prefiro dizer
que era bonita, como se fosse no passado ou como
se ela já não estivesse entre nós, tanto faz.
Vez em quando mudava o corte de seus cabelos
louros, muito finos, cheirosos, cor de corda
crua. Rapunzel pós-moderna. Gostava de vê-los ao
sol do fim de tarde, quando adquiriam uma
tonalidade de ouro. Mas a lisura de sua face eu
preferia ver pela manhã, cuja luminosidade
denunciava um cálido brilho de mármore, textura
de porcelana, tez de areia clara. Nas maçãs do
rosto, nuas nuances de pêssego. Gostava de
passear o olhar demoradamente pela pele de seu
rosto, sobrevoar aquele semblante sublime, que
ora revelava uma pequena pinta, aqui ou ali, ora
apresentava relevos e declives, como sua testa
levemente arredondada, quase sempre escondida
pelas douradas madeixas, testa que descia para
um nariz equilibrado, elegante. Um pouco mais ao
sul, aquele par de lábios naturalmente rubros,
duas pétalas úmidas de tulipas escarlates, cujos
breves sorrisos tímidos, revelavam um colar de
pérolas e acentuavam o raro róseo das bochechas.
Pousava minha atenção sobre aqueles lábios
túmidos, tépidos, que mesmo silentes pareciam
sussurrar segredos. Vistos de lado, um morango
orvalhado. De frente, um coração dobrado. Um
pouco mais ao sul, o queixo de curva suave,
cujas linhas de contorno se prolongavam até
encontrar as pequenas orelhas, vigiadas por
brincos discretos, que se escondiam entre
aqueles cabelos que emolduravam sua face de
esfinge. Mas é preciso falar de como eu
acompanhava o desenho de suas sombrancelhas, de
tons castanhos, simetricamente arqueadas,
afinando nas pontas, com os fios perfilados como
jardins próximos ao oásis de seus olhos. Deles,
vou revelar apenas que aquele par de mandalas
fugazes eram guarnecidos por um conjunto de
cílios arredondados, que ao piscar das pálpebras
pareciam duas pequenas folhas de palmeira a
cobrir aqueles olhos inocentes, indecentes,
incandescentes. Conforme a luz do ambiente, era
possível notar pequenas mudanças na cor da íris,
cujos detalhes mínimos mais pareciam tintas na
paleta de um pintor que misturasse tons entre o
jade e o esmeralda, com breves pinceladas de
azul e prata. Quando menstruava, as pupilas
diminuíam e eles ficavam ainda mais claros, mais
luminosos. Duas certezas me confidenciou: sua
inabalável crença no amor e seu amor somente por
mulheres.
Tchello d'Barros
www.tchello.art.br
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