O Amor: De Aristóteles a Freud
 
 
 
 

 

Helder Alexandre Ferreira
 
 
 
          Do que li sobre o amor, ficou um pouco, muito pouco, mas dá para o “gasto". Vamos lá: Aristóteles. O que teria dito o grande filósofo sobre este tema tão marginalizado pela filosofia. “o amor é a força que une os quatro elementos da natureza, o fogo, a terra, a água e o ar, força unitiva e armonizadora, que se debruça sobre o fundamento do amor sexual, da política e da concórdia. O amor é a força que move as coisas, e as conduz, e as mantêm juntas. O Reino do amor é o esfero, ou seja, a fase culminante do ciclo cósmico na qual todos os elementos estão ligados na mais completa harmonia. Nessa fase não há nem sol, nem terra, nem mar, visto que não há nada além de um Todo uniforme, uma divindade que frui a sua solidão."  Em Aristóteles, o amor é uma força metafísica, Platão, porém, escreveu o primeiro tratado filosófico a respeito do amor. Aqui se conservam os caracteres do amor sexual, mas ao mesmo tempo tais caracteres são generalizados e SUBLIMADOS.
 
Segundo Platão, o amor é FALTA, INSUFICIÊNCIA, NECESSIDADE, e, ao mesmo tempo, desejo de adquirir e de conquistar o que não se possui. Amor é desejo e desejo é o apetite daquilo que é agradável, por isso o amor está dirigido para a Beleza, que outra coisa não é que a aparência do bem, logo, desejo do bem. O amor também é o instinto de vencer a morte, a via pela  qual o ser mortal procura salvar-se da mortalidade, não permanecendo sempre o mesmo, deixando após si, em troca do que envelhece algo novo que se lhe assemelha. Para alcançar o AMOR PERFEITO, o ser mortal vai passando dos degraus inferiores aos superiores, da beleza sensível à Sabedoria, que é o SUMO BEM, a mais alta de todas as belezas, a saber, a filosofia. A teologia platônica do amor propõe mostrar a via pela qual  o amor sensível pode tornar-se amor de sabedoria, isto é, filosofia, e o delírio erótico tornar-se uma virtude(disposição para a prática do bem), que afasta o homem dos  modos de vida usuais e o empenha na difícil procura dialética. Mas vamos lá para o Romantismo, século XIX. Vou condensar o assunto em pensamentos dos mais eminentes filósofos e cientistas que trataram desse tema tão encantador.

A palavra amor designa a relação intersexual, quando essa relação é seletiva e eletiva, sendo por isso acompanhada de amizade e de afetos positivos (solicitude, ternura, etc.). Com a palavra amor fica designada uma vasta gama de relações interpessoais, quando se fala do amor do amigo pelo amigo, do pai pelo filho e reciprocamente dos cidadãos entre si, dos cônjuges entre si. Além das relações intersexual e interpessoal, o amor também existe na forma do interesse coletivo, amor a comuni9dade, amora pátria, amor ao partido, etc. O que caracteriza o amor é a solidariedade e a concórdia entre os indivíduos que participam do amor; o desejo de posse não entra no amor, porque a possessividade é uma característica dominante que fica nos limites da paixão, da personalidade de quem ama com “amor” apaixonado, e isso não é bem o amor.
 
Aristóteles e o Amor
 
Amor é força unitiva e harmonizadora, e tal força cósmica permeia o amor sexual, a concórdia, a política e a amizade, mas o amor também é necessidade, imperfeição ou deficiência; ao amor unem-se a tensão emotiva e o desejo: ninguém é afetado pelo amor se antes não foi tocado pelo gozo da beleza. Toda paixão (amor ligado ao prazer) termina em amizade, que é a vontade de viver junto.
 
Platão
 
Aqui, as características do amor sexual são generalizadas e sublimadas. Amor é falta. Amor é insuficiência. Amor é necessidade. Amor é desejo de adquirir e possuir o que não se possui, é o interesse incorporado à alma, mas que pode se dirigir para a Beleza, a aparência do bem, o desejo do bem, desejo de vencer a morte. O amor é uma entidade que evolui da beleza sensível (delírio erótico) para a Sabedoria, que é a mais alta de todas as belezas, a beleza altíssima, a saber, a filosofia, beleza pura, nobre, e que empenha o homem na difícil busca da dialética. O amor é a beleza que só alcança o seu termo dentro de uma ordem precedida com as noções da verdade e do bem. O amor alcança a felicidade por degraus, passando dos bens inferiores aos bens superiores, seu termo é a revelação da Verdade (o Belo). Ao contemplar o Belo, o homem torna-se caro aos deuses e atinge a imortalidade. O amor platônico, portanto, está definitivamente desvinculado da experiência do cotidiano, da precariedade, provisoriedade e finitude da vida.
 
SCHOPENHAUER
 
O amor é a força infinita que rege o mundo, a força soberana de viver, o gênio da espécie. Os homens não trabalha para si mesmos e sim para a perpetuação da espécie, e, conseqüentemente, os homens são os provedores da dor do mundo sem saberem que o são, pois o gênio da espécie os ludibria com essa grande invenção dos românticos, o amor. Se os homens soubessem que trabalham apenas para a manutenção da espécie, assim como a formiga trabalha tão-somente para o sustento da rainha, não se assujeitariam a esta farsa, os homens não se deixariam enganar pelas mulheres, este bicho de idéias curtas e unhas cumpridas, que, quando nova, usa seus encantos para negociar com a fraqueza e a loucura do homem. Não existe amor. O amor é uma invenção do romantismo, o que existe é o interesse dessa força soberana que se impõe aos interesses do homem, e o homem sabe que sofre, mas não sabe por que sofre, o homem é tocado pelo gozo da beleza, e desde então, vive na ânsia desse louco e inexistente amor.
 
O amor a Deus é impossível porque Deus não é um objeto dos sentidos.

Sto. AGOSTINHO
Amar a Deus significa amar o amor, mas ninguém pode amar o amor, se não se ama quem ama. Não é amor o que não ama ninguém. O homem não pode por isso amar a Deus, que é Amor, se não ama o outro homem. O amor fraterno (intelectual) entre os homens não só deriva de Deus, mas é o próprio Deus, é a revelação de Deus em um de seus aspectos essenciais à consciência dos homens.

FREDERICO SCHLEGEL
A fonte e a alma de todas as emoções é o amor.

JOÃO DUNS ESCOTO
O amor é a conexão e o vínculo de que está ligada a totalidade das coisas em amizade inefável e em indissolúvel unidade.

DESCARTES
O amor é uma emoção da alma produzida pelo movimento dos espíritos vitais que a incita a unir-se voluntariamente aos objetos que lhe parecem convenientes.
 
VAUVENARGUES
Na amizade, o espírito é o órgão do sentimento, no amor são os sentidos.
 
KANT
O amor a Deus é impossível porque Deus não é um objeto dos sentidos.
 
Santo AGOSTINHO
Amar a Deus significa amar o amor, mas ninguém pode amar o amor, se não se ama quem ama. Não é amor o que não ama ninguém. O homem não pode por isso amar a Deus, que é Amor, se não ama o outro homem. O amor fraterno (intelectual) entre os homens não só deriva de Deus, mas é o próprio Deus, é a revelação de Deus em um de seus aspectos essenciais à consciência dos homens.

FREDERICO SCHLEGEL
A fonte e a alma de todas as emoções é o amor.
 
FREUD
O amor é a especificação e a sublimação de uma força instintiva originária que é a LIBIDO. A libido não é um impulso sexual específico (dirigido para o indivíduo do outro sexo), mas simplesmente a tendência à produção e à reprodução de SENSAÇÕES VOLUPTUOSAS relativas as chamadas zonas erógenas, tendência que  se manifesta desde os primeiros instantes da vida humana. O impulso sexual específico seria uma formação tardia e complexa, formação que, por outro lado não é nunca completa, como se demonstra pelas perversões sexuais, tão variadas e numerosas. Essas perversões não são, portanto, desvios de um impulso primitivo normal, mas modos de comportamento que remontam aos primeiros instantes da vida, que se subtraíram a um desenvolvimento normal e se fixaram na forma de uma fase primitiva (fase oral, primeiro ano de vida; fase anal, a partir do segundo ano de vida; fase fálica, dos três anos até os seis, que são estágios psicossexuais do desenvolvimento). Outros estágios são os períodos de latência (dos seis até os nove ou onze anos, quando a criança fica voltada para as atividades acadêmicas, e a fase genital que equivale à puberdade e onde começa a crise de identidade nos jovens). A crise de identidade reflete uma confusão de papéis dado que os conflitos anteriores não foram resolvidos de maneira positiva, a saúde mental é o reflexo da solução positiva dos conflitos nas diversas fases do desenvolvimento. O amor adolescente é uma tentativa de encontrar a identidade, o jovem vê no outro o ideal do eu e tem o outro como o objeto de suas aspirações, o que é muito comum no amor apaixonado, quando a pessoa o indivíduo passa a se amar no outro, o que não é outra coisa do que uma tentativa de aprimoramento das figuras paternas, que , em fases anteriores não proporcionaram CONFIANÇA BÁSICA, AUTONOMIA, INICIATIVA e DILIGÊNCIA, ou seja, os pais não deram amor e segurança o suficiente para a formação de um ego saudável, o resultado é o desajustamento de conduta.
 
Helder Alexandre Ferreira
E-mail:
vitralhelderalexandre@yhaoo.com.br
Fonte bibliográfica: Manual de filosofia, verbete Amor.

 

 

 

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