São
Martinho
"Pelo S. Martinho
vai à adega e prova o teu vinho"
Este dia é comemorado um pouco por todo o
Portugal, junto à lareira ou aquecedor. É o dia em que se vai à adega e se prova o vinho da
última colheita.
Chama-se os amigos à adega, para beber um
copo de "água-pé" (*), e comer umas castanhas assadas num braseiro de pinhas, pondo
muito sal por cima para estalar a casca da castanha e dar-lhe paladar algo salgado.
Também se coze as castanhas - a
propósito: - Sabe como se coze as castanhas?
Experimente esta receita: faça um
recipiente de cerca de 0,5 l de chá preto (2 embalagenzinhas), enquanto corta a parte de cima das
castanhas e de dá-se um corte oblíquo no corpo destas na parte mais saliente. Coloque o chá
ainda quente no recipiente onde vai cozer as castanhas, juntando sal q.b., um pedaço de casca de
limão, um pedacinho de pau-de-canela, um pedacinho de baunilha e uma colherzinha pequena de
erva-doce. Junte depois as castanhas já cortadas, adicione água até as cobrir, assim como uma
pitadinha de erva-doce.
As castanhas cozem o mesmo tempo que as
batatas. Logo após a cozedura, escoa-se a água e abana-se muito bem as castanhas ainda
fumegantes, para soltar a casca e a entre-casca. Bom Apetite !
(esta receita será para um quilo de
castanhas).
Nota: Conhecemos dois S. Martinho e não
sabemos o que se comemora nesse dia.
S. Martinho, bispo de Tours
(França), nascido em 306, na Panónia, país da antiga Europa central. Bastante caridoso com os
indigentes, chegou, num rigoroso Inverno, a dar metade do seu manto a um pobre que encontrou
tiritando de frio. Num deserto, perto de Poitiers, fundou o primeiro mosteiro que existiu na
Gália. Converteu muitos pagãos. O seu culto espalhou-se nas Gálias e estendeu-se depois à
Europa cristã.
S. Martinho de Dume,
arcebispo de Braga (Portugal), parecendo que era também natural da Panónia, tendo nascido pelo
ano de 500. Pregou o Cristianismo na antiga corte sueva de Braga. Converteu muitos pagãos, tendo
convertido também o próprio rei Teodomiro e seu filho, que seguiam a doutrina de Arius. A suas
instâncias, fundou em Dume, próximo da cidade de Braga, um convento de frades bentos (perto da
igreja de S. Bento da Porta Aberta). Faleceu aí por 580 e foi sepultado no seu convento de Dume,
tendo, mais tarde, o seu corpo sido transferido para a Sé de Braga.
(*) "Água-Pé" : é um vinho
mais ou menos fraco, preparado com água que se deita no resídio do pé das uvas, depois do vinho
feito.
"VOZ DO POVO - VOZ DE DEUS"
(alguns adágios populares referentes ao dia de São Martinho)
"Dia de São Martinho lume,
castanhas e vinho".
"No dia de São Martinho fura o teu
pipinho".
"No dia de São Martinho mata o teu
porco e bebe teu vinho".
"Pelo São Martinho abatoca o teu
vinho".
"Pelo São Martinho nem nado
nem no cabacinho".
"Pelo São Martinho mara teu porquinho
e semeia o teu cebolinho".
"Pelo São Martinho prova o teu vinho;
ao cabo de um ano já não faz dano.
"Por São Martinho nem favas
nem vinho".
"Por São martinho todo o mosto é bom
vinho".
.
A Castanha:
Actualmente olhamos para a castanha e
associamo-la a uma época particular, vendo-a praticamente como uma deleite outonal. Contudo,
noutros tempos, este fruto do castanheiro, encerrado num invólucro, lembrando um
ouriço-caicheiro, possuía uma enorme importância na dieta alimentar dos portugueses. Assadas ou
cozidas, as castanhas estão intimamente ligadas à tradição portuguesa.
O fruto dos frutos, o único que ao mesmo
tempo alimenta e simboliza, cai dumas árvores altas, imensas, centenárias (
) só em
Novembro as agita a inquietação funda, dolorosa, que as faz lançar ao chão lágrimas que são
ouriços. Abrindo-as, essas lágrimas eriçadas de espinhos deixam ver numa carne fofa a maravilha
singular de que falo. Miguel Torga "Portugal".
O castanheiro, árvore de grande porte da
família das fagáceas ou das castaneáceas, atinge grande longevidade; considerado para muitos
povos, como um símbolo de perenidade, de fartura e abastança. O fruto do castanheiro, a
castanha, eclode ao fim de 10 anos de vida da árvore, formando-se dentro de um ouriço.
O termo castanheiro aparece citado num
documento em 960 d.C. muito antes da formação de Portugal (1143). A castanha foi, a par da
bolota, um produto básico na alimentação, até aos séculos XV/XVI, altura em que se introduz
no nosso país a batata e o milho. No decorrer do século XVI, em terras do Norte e das Beiras,
consumiam-se mais castanhas do que pão.
No século XVII, a castanha era considerada
um dos produtos básicos da alimentação dos beirões. Em anos maus chegou a ocupar o lugar do
pão, que escasseava, (fazia-se a "falacha"), e a substituir as batatas.
Para além do valor económico que ainda
hoje representa para algumas terras de Trás-os-Montes, a castanha utiliza-se cada vez menos em
sopa no Minho e, com significado, no Alto Douro e Terra Fria Transmontana.
No Norte e na Beira Interior, regista-se a
existência de grandes soutos, mas também há castanheiros na região de Entre-Douro-e-Minho e em
serras como Sintra e Monchique. No Barroso fazia-se ainda há poucos anos um caldo de castanhas em
que estas eram reduzidas a puré, a que se juntava apenas um pouco de unto.
Pensa-se que a castanha assada seja
criação de pastores e lenhadores há mais de mil anos, quando nas noites frias do Outono e
Inverno juntavam à chama da fogueira que acendiam para se aquecer, as castanhas colhidas nas
proximidades.
Embora o resultado final seja muito
semelhante, certo é que a castanha assada encontra, em diversas proveniências, forma diferente
de se preparar. Indispensáveis são as boas brasas e o golpe na castanha para que esta não
rebente. Depois, fica ao engenho e aos recursos de cada povo a forma de as preparar assadas.
Na Galiza, a castanha é assada num tambor
giratório em ferro e com buracos. Possui uma pequena porta por onde se deitam as castanhas.
Coloca-se o tambor sobre brasas bem puxadas e gira-se lentamente, até as castanhas estarem
assadas.
Noutros locais usa-se o assador em forma de
bandeja, de barro. As castanhas colocam-se sobre este, com as brasas bem quentes, com ou sem sal
grosso, mexendo-se à medida que assam.
Em Portugal, e sobretudo
no norte e centro do País, o dia 11 de Novembro é de um modo geral festejado com «magustos» de
vinho e castanhas em todas as partes onde estes ocorrem no dia de Todos os Santos, tomando assim o
aspecto de um prolongamento especial dessas celebrações, a ponto de se falar em «Magustos dos
Santos» e «Magustos de S. Martinho».
Os «magustos» aparecem sob esta forma em
todo o Minho, em casa ou nos campos, em Trás-os-Montes, nas Beiras e no Douro, em terras de
Arouca, e na região e na própria cidade do Porto. Por exemplo em Vila do Conde, as castanhas
comem-se com roscas de pão de trigo e nozes. Em Fafe, eles começam à tarde e duram até à
noite, as castanhas assam-se em fogueiras que se acendem no meio da rua, e o vinho circula em
cântaro. Nessa noite, geralmente, joga-se ao pau. No sul o costume não apresenta este carácter
de generalidade, mas assinala-se em várias partes.
Em muitas regiões rurais do país,
nomeadamente no noroeste, a festa anda associada à matança do porco, e é influenciada, sob
certos aspectos, pela euforia e pelo sentido de plenitude que decorre desse acontecimento que
possui a natureza de uma verdadeira festa doméstica, muitas vezes mesmo a mais importante do
calendário privado. No Minho, por exemplo, o dia situa-se na época das primeiras matanças e nas
provas do vinho novo. Segundo a tradição popular, «No dia de S. Martinho / Mata o teu porco / E
prova o teu vinho».
Lenda de São Martinho
Reza a lenda que São Martinho pertencia
às legiões do imperador Juliano. Num certo dia, em pleno Inverno, sob vendaval e neve, equipado
e armado, montado a cavalo, S. Martinho viu, às portas de Amiens, um mendigo seminu, tiritando de
frio. O Santo sofreou o cavalo, pegou na espada e cortou ao meio a sua capa de agasalho, dando
metade dela a esse peregrino. Envolto na outra metade, S. Martinho sacudiu a rédea e prosseguiu a
viagem no meio da tormenta. Porém, subitamente a tempestade desfez-se, amainou o tufão e a
geada, o céu descobriu instantaneamente, aparecendo assim um sol resplandecente. Segundo a mesma
lenda, para que não se apagasse da memória dos homens a notícia deste acto de bondade, Deus
dispôs que em cada ano, na mesma época em que São Martinho se desapossou da metade da sua capa,
que se interrompesse o frio e que sorrisse o céu e a terra.
São Martinho - Santo dos bons
bebedores
De acordo com a lenda de São Martinho, é
raro o ano que o tempo, nesta altura, não melhore, aproveitando o povo para denominar "O
Verão de São Martinho". Na tradição popular, São Martinho é considerado como o santo
dos bons bebedores, já que é nesta altura do ano que se faz a prova do vinho novo acompanhado
das respectivas castanhas.
A Belíssima Baía de São Martinho do Porto (vista aérea a 5Km
de altitude)
(Região Centro de Portugal)
Que nada tem a ver com o Dia de São Martinho
"Freguesia do Concelho de Alcobaça, Distrito de Leiria. Teve a
povoação de S. Martinho do Porto, a sua origem em Junho de 1257, quando o Abade de Alcobaça, D.
Fr. Estevão Martins, concebeu uma herdade do Mosteiro de Alcobaça, situada no lugar chamado S.
Martinho, para aí formar uma povoação, contando da respectiva carta de povoação os direitos e
as obrigações dos povoadores. O lugar, onde esta povoação se desenvolveu, já tinha o nome de
S. Martinho, quando era uma simples granja ou quinta do Mosteiro de Alcobaça". (Dr.
Bernardo Vila Nova Alcobaça 1958).
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite
Ribeiro - Marinha Grande - Portugal
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