Dia de São Martinho
11 de novembro

São Martinho


          "Pelo S. Martinho vai à adega e prova o teu vinho"
          Este dia é comemorado um pouco por todo o Portugal, junto à lareira ou aquecedor. É o dia em que se vai à adega e se prova o vinho da última colheita.
          Chama-se os amigos à adega, para beber um copo de "água-pé" (*), e comer umas castanhas assadas num braseiro de pinhas, pondo muito sal por cima para estalar a casca da castanha e dar-lhe paladar algo salgado.
         
          Também se coze as castanhas - a propósito: - Sabe como se coze as castanhas?
          Experimente esta receita: faça um recipiente de cerca de 0,5 l de chá preto (2 embalagenzinhas), enquanto corta a parte de cima das castanhas e de dá-se um corte oblíquo no corpo destas na parte mais saliente. Coloque o chá ainda quente no recipiente onde vai cozer as castanhas, juntando sal q.b., um pedaço de casca de limão, um pedacinho de pau-de-canela, um pedacinho de baunilha e uma colherzinha pequena de erva-doce. Junte depois as castanhas já cortadas, adicione água até as cobrir, assim como uma pitadinha de erva-doce.
          As castanhas cozem o mesmo tempo que as batatas. Logo após a cozedura, escoa-se a água e abana-se muito bem as castanhas ainda fumegantes, para soltar a casca e a entre-casca. Bom Apetite !
          (esta receita será para um quilo de castanhas).
         
          Nota: Conhecemos dois S. Martinho e não sabemos o que se comemora nesse dia.
         
          S. Martinho, bispo de Tours (França), nascido em 306, na Panónia, país da antiga Europa central. Bastante caridoso com os indigentes, chegou, num rigoroso Inverno, a dar metade do seu manto a um pobre que encontrou tiritando de frio. Num deserto, perto de Poitiers, fundou o primeiro mosteiro que existiu na Gália. Converteu muitos pagãos. O seu culto espalhou-se nas Gálias e estendeu-se depois à Europa cristã.
          S. Martinho de Dume, arcebispo de Braga (Portugal), parecendo que era também natural da Panónia, tendo nascido pelo ano de 500. Pregou o Cristianismo na antiga corte sueva de Braga. Converteu muitos pagãos, tendo convertido também o próprio rei Teodomiro e seu filho, que seguiam a doutrina de Arius. A suas instâncias, fundou em Dume, próximo da cidade de Braga, um convento de frades bentos (perto da igreja de S. Bento da Porta Aberta). Faleceu aí por 580 e foi sepultado no seu convento de Dume, tendo, mais tarde, o seu corpo sido transferido para a Sé de Braga.
         
          (*) "Água-Pé" : é um vinho mais ou menos fraco, preparado com água que se deita no resídio do pé das uvas, depois do vinho feito.
         
          "VOZ DO POVO - VOZ DE DEUS" (alguns adágios populares referentes ao dia de São Martinho)
         
          "Dia de São Martinho – lume, castanhas e vinho".
          "No dia de São Martinho fura o teu pipinho".
          "No dia de São Martinho mata o teu porco e bebe teu vinho".
          "Pelo São Martinho abatoca o teu vinho".
          "Pelo São Martinho – nem nado nem no cabacinho".
          "Pelo São Martinho mara teu porquinho e semeia o teu cebolinho".
          "Pelo São Martinho prova o teu vinho; ao cabo de um ano já não faz dano.
          "Por São Martinho – nem favas nem vinho".
          "Por São martinho todo o mosto é bom vinho".

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          A Castanha:
          Actualmente olhamos para a castanha e associamo-la a uma época particular, vendo-a praticamente como uma deleite outonal. Contudo, noutros tempos, este fruto do castanheiro, encerrado num invólucro, lembrando um ouriço-caicheiro, possuía uma enorme importância na dieta alimentar dos portugueses. Assadas ou cozidas, as castanhas estão intimamente ligadas à tradição portuguesa.
          O fruto dos frutos, o único que ao mesmo tempo alimenta e simboliza, cai dumas árvores altas, imensas, centenárias (…) só em Novembro as agita a inquietação funda, dolorosa, que as faz lançar ao chão lágrimas que são ouriços. Abrindo-as, essas lágrimas eriçadas de espinhos deixam ver numa carne fofa a maravilha singular de que falo. Miguel Torga "Portugal".
          O castanheiro, árvore de grande porte da família das fagáceas ou das castaneáceas, atinge grande longevidade; considerado para muitos povos, como um símbolo de perenidade, de fartura e abastança. O fruto do castanheiro, a castanha, eclode ao fim de 10 anos de vida da árvore, formando-se dentro de um ouriço.
          O termo castanheiro aparece citado num documento em 960 d.C. muito antes da formação de Portugal (1143). A castanha foi, a par da bolota, um produto básico na alimentação, até aos séculos XV/XVI, altura em que se introduz no nosso país a batata e o milho. No decorrer do século XVI, em terras do Norte e das Beiras, consumiam-se mais castanhas do que pão.
          No século XVII, a castanha era considerada um dos produtos básicos da alimentação dos beirões. Em anos maus chegou a ocupar o lugar do pão, que escasseava, (fazia-se a "falacha"), e a substituir as batatas.
          Para além do valor económico que ainda hoje representa para algumas terras de Trás-os-Montes, a castanha utiliza-se cada vez menos em sopa no Minho e, com significado, no Alto Douro e Terra Fria Transmontana.
          No Norte e na Beira Interior, regista-se a existência de grandes soutos, mas também há castanheiros na região de Entre-Douro-e-Minho e em serras como Sintra e Monchique. No Barroso fazia-se ainda há poucos anos um caldo de castanhas em que estas eram reduzidas a puré, a que se juntava apenas um pouco de unto.
          Pensa-se que a castanha assada seja criação de pastores e lenhadores há mais de mil anos, quando nas noites frias do Outono e Inverno juntavam à chama da fogueira que acendiam para se aquecer, as castanhas colhidas nas proximidades.
          Embora o resultado final seja muito semelhante, certo é que a castanha assada encontra, em diversas proveniências, forma diferente de se preparar. Indispensáveis são as boas brasas e o golpe na castanha para que esta não rebente. Depois, fica ao engenho e aos recursos de cada povo a forma de as preparar assadas.
          Na Galiza, a castanha é assada num tambor giratório em ferro e com buracos. Possui uma pequena porta por onde se deitam as castanhas. Coloca-se o tambor sobre brasas bem puxadas e gira-se lentamente, até as castanhas estarem assadas.
          Noutros locais usa-se o assador em forma de bandeja, de barro. As castanhas colocam-se sobre este, com as brasas bem quentes, com ou sem sal grosso, mexendo-se à medida que assam.

         
          Em Portugal, e sobretudo no norte e centro do País, o dia 11 de Novembro é de um modo geral festejado com «magustos» de vinho e castanhas em todas as partes onde estes ocorrem no dia de Todos os Santos, tomando assim o aspecto de um prolongamento especial dessas celebrações, a ponto de se falar em «Magustos dos Santos» e «Magustos de S. Martinho».
          Os «magustos» aparecem sob esta forma em todo o Minho, em casa ou nos campos, em Trás-os-Montes, nas Beiras e no Douro, em terras de Arouca, e na região e na própria cidade do Porto. Por exemplo em Vila do Conde, as castanhas comem-se com roscas de pão de trigo e nozes. Em Fafe, eles começam à tarde e duram até à noite, as castanhas assam-se em fogueiras que se acendem no meio da rua, e o vinho circula em cântaro. Nessa noite, geralmente, joga-se ao pau. No sul o costume não apresenta este carácter de generalidade, mas assinala-se em várias partes.
          Em muitas regiões rurais do país, nomeadamente no noroeste, a festa anda associada à matança do porco, e é influenciada, sob certos aspectos, pela euforia e pelo sentido de plenitude que decorre desse acontecimento que possui a natureza de uma verdadeira festa doméstica, muitas vezes mesmo a mais importante do calendário privado. No Minho, por exemplo, o dia situa-se na época das primeiras matanças e nas provas do vinho novo. Segundo a tradição popular, «No dia de S. Martinho / Mata o teu porco / E prova o teu vinho».

          Lenda de São Martinho
          Reza a lenda que São Martinho pertencia às legiões do imperador Juliano. Num certo dia, em pleno Inverno, sob vendaval e neve, equipado e armado, montado a cavalo, S. Martinho viu, às portas de Amiens, um mendigo seminu, tiritando de frio. O Santo sofreou o cavalo, pegou na espada e cortou ao meio a sua capa de agasalho, dando metade dela a esse peregrino. Envolto na outra metade, S. Martinho sacudiu a rédea e prosseguiu a viagem no meio da tormenta. Porém, subitamente a tempestade desfez-se, amainou o tufão e a geada, o céu descobriu instantaneamente, aparecendo assim um sol resplandecente. Segundo a mesma lenda, para que não se apagasse da memória dos homens a notícia deste acto de bondade, Deus dispôs que em cada ano, na mesma época em que São Martinho se desapossou da metade da sua capa, que se interrompesse o frio e que sorrisse o céu e a terra.

          São Martinho - Santo dos bons bebedores
          De acordo com a lenda de São Martinho, é raro o ano que o tempo, nesta altura, não melhore, aproveitando o povo para denominar "O Verão de São Martinho". Na tradição popular, São Martinho é considerado como o santo dos bons bebedores, já que é nesta altura do ano que se faz a prova do vinho novo acompanhado das respectivas castanhas.


A Belíssima Baía de São Martinho do Porto (vista aérea a 5Km de altitude)
(Região Centro de Portugal)
Que nada tem a ver com o Dia de São Martinho

          "Freguesia do Concelho de Alcobaça, Distrito de Leiria. Teve a povoação de S. Martinho do Porto, a sua origem em Junho de 1257, quando o Abade de Alcobaça, D. Fr. Estevão Martins, concebeu uma herdade do Mosteiro de Alcobaça, situada no lugar chamado S. Martinho, para aí formar uma povoação, contando da respectiva carta de povoação os direitos e as obrigações dos povoadores. O lugar, onde esta povoação se desenvolveu, já tinha o nome de S. Martinho, quando era uma simples granja ou quinta do Mosteiro de Alcobaça". (Dr. Bernardo Vila Nova – Alcobaça – 1958).        

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro - Marinha Grande - Portugal
   

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