Ninguém sabe ao certo
como e quando surgiu o teatro. Provavelmente nasceu junto com a curiosidade do homem, que
desde o tempo das cavernas já devia imaginar como seria ser um pássaro, ou outro bicho
qualquer. De tanto observar, ele acabou conseguindo imitar esses bichos, para se aproximar
deles sem ser visto numa caçada, por exemplo.
Depois, o homem primitivo deve ter
encenado toda essa caçada para seus companheiros das cavernas só para contar a eles como
foi, já que não existia ainda linguagem como a gente conhece hoje. Isso tudo era teatro, mas
ainda não era um espectáculo.
Egipto Antigo, Índia, China, Creta e a
própria Grécia possuíam um teatro, antes mesmo do então chamado teatro grego. Tinha como
característica principal sua estruturação toda baseada na religião, podemos, portanto,
apontar o teatro apenas litúrgico. Este mesmo aspecto é o que de fato diferencia os
egípcios, hindu, chinês, cretense e o teatro apenas litúrgico grego do teatro grego.
No século VI a.C., a mistificação na
Grécia em relação aos seus deuses e crenças extrapolava o campo religioso e passava a
fazer parte da rotina das pessoas. Essa religião politeísta dava um panorama ao homem grego
de todas as ocorrências inexplicáveis do mundo sem a ajuda da ainda arcaica ciência
ocidental. Os deuses eram os benfeitores ou malfeitores da Terra e possuíam um poder sobre o
homem, sobre o céu e sobre a terra. Assim surgiram lendas que, divulgadas por mecanismo de
oralidade primária, ou seja, oralmente, de pai para filho, procuravam instruir toda a
civilização para que essa actuasse em detrimento da subjectividade daquela sociedade e do
bem em comum, seguindo regras de comportamento e um padrão paradigmático que não podia
jamais ser quebrado.
Só para ter uma ideia da grandeza
dessa credulidade, quando o Colosso de Rodes foi parcialmente destruído por um terremoto, em
248 a.C., o rei egípcio Ptolomeu se propôs a reconstruir a enorme estátua (que homenageava
o Deus Apolo, o Deus do Sol), sofrendo porém a recusa da população de Rodes, que ao
consultar um dos oráculos (que segundo os gregos, eram homens que representavam os deuses na
Terra) foi desmotivada a permitir a reconstrução, pois, segundo o oráculo, o terremoto
havia sido um recado do deus que não tinha gostado da homenagem. Assim, o Colosso de Rodes,
até hoje reconhecido como uma das sete maravilhas do mundo, ficou aos pedaços, sendo
completamente destruído pelos árabes, na invasão em 654 d.C.
Como a vida dos deuses estavam
directamente relacionada à vida dos homens na Grécia antiga, a ciência e a arte tenderam a
seguir esse mesmo percurso, de forma que os deuses influenciavam até mesmo as guerras dos
homens, como a Guerra de Tróia, que foi narrada pelos gregos com um misto de fábula e
realidade, com um laço muito ténue entre a mitologia e o acontecimento real, de forma que os
historiadores nunca souberam muito bem o que realmente aconteceu durante essa famosa guerra
entre gregos e troianos. A arte por si própria não deixa de ser mítica, ou até mesmo
mística, pois é elevada pelo homem como elemento fundamental para a relação humana, em seu
sentido mais amplo, no tocante às emoções, ao sentimento humano, ao carácter, à
personalidade, cultura e expressão do homem social. A ciência é a busca do bem
comunitário, das inovações, da quebra incessante de barreiras que impedem o crescimento
humano. A ciência e a arte tornam-se elementos biunívocos, ou seja, ligados entre si, pois o
homem possui a vontade de exteriorizar todas as suas curiosidades, a fim de desenvolver
métodos para criar, construir, transformar, unir, pesquisar, compreender e finalmente
explicar.
A cultura na Grécia antiga era
restrita à louvação dos deuses, em festas e cultos religiosos, de forma que, as pessoas
reuniam-se para aclamar aos deuses, agradecê-los ou fazer oferendas. As festas em respeito a
Dioniso, o Deus da Alegria e do Vinho, realizava-se sob rígida fiscalização do legislador,
que não permitia sacrilégios e manifestações cuja retórica fosse avessa à concepção
religiosa da sociedade. Porém, para entreter a massa, Sórlon, o tirano legislador da época
(Séc. VI a.C.) permitiu em certa ocasião que um homem, que possuía um talento especial para
imitar os outros, fizesse uma apresentação para o público. Eis que esse homem, a quem
chamavam de Tespis, subiu em uma carroça diante do público afoito por novidades, colocou uma
máscara, vestiu uma túnica e, impondo-se dramaticamente, expressou: "eu sou Dioniso, o
Deus da Alegria". A forma como o homem postou-se diante de todos, como um deus, causou
revolta e medo em alguns, porém muitos viram essa postura como um louvor ao Deus do Vinho.
Sórlon impediu a apresentação, mas o público queria mais, pois era fascinante e
surpreendente a forma como aquele homem demonstrava seu talento. Durante um bom tempo foi
proibido esse tipo de apresentação, julgada como um grande sacrilégio, de forma que a
proibição perdurou até o começo da era mais brilhante da Grécia: a era democrática. Sem
restrições e maior opressão ao livre arbítrio da sociedade (salvo mulheres e escravos), as
pessoas tomaram gosto por essa arte tão criativa de se imitar, de forma que, com a
democracia, os governantes começaram a incentivar aqueles que, por ventura se interessavam em
entreter o público nas festas que homenageavam os deuses, realizando competições e
distribuindo prémios diversos para aqueles que imitassem melhor pessoas e deuses.
No começo, a arte dramática
restringiu-se apenas às festas dionisíacas, passando a ocupar um espaço maior na cultura
grega com o passar dos anos, tornando-se mais acessível e mais aceita pelos gregos, que
começaram a elaborar no Séc. V a.C. melhores formas de entretenimento pelo viés da arte
cênica. Assim, constituíram fábulas e histórias diversas a serem encenadas para o
público. Essa forma inovadora de se passar mensagens através de histórias dramáticas ficou
conhecida como Tragédia Grega, onde os actores utilizavam máscaras e túnicas para
interpretar seus personagens. A tragédia se passava em uma ampla plataforma chamada
proskénion, situada na costa sudeste de Acrópole, local sagrado de Dioniso, no théatron
("local onde se vê"), cuja plateia era reservada para os espectadores. As
apresentações cénicas eram compostas por um coro que narrava e tecia comentários a
respeito da história principal que era interpretada pelos actores principais. As Tragédias
foram escritas por homens que marcaram seus nomes na história da humanidade. Os mais
conhecidos são Eurípedes (485 406 a.C., autor de "Alceste" e
"Ifigênia em Tauride"), Ésquilo (525 456 a.C., autor de "Os
Persas"), Sófocles (496? 406? a.C., autor de "Édipo Rei",
"Antígona" e "Electra") e Aristófanes (autor de "As Nuvens",
"Plutão" e "As Rãs"). Esses autores buscavam passar para o público a
visão divina da natureza, expressavam a imagem dos deuses e as crenças do povo.
O respeito pelo théatron começava a
fazer um efeito que perdura até hoje: a arte cénica tornou-se uma forma de ritual, onde quem
encenava no proskénion pretendia passar uma informação de grande necessidade para a
sociedade, com um trabalho corporal, com voz e interpretação, submetendo-se à catarse, cuja
explicação advém de Aristóteles (384 322 a.C.), o primeiro filósofos que proferiu
teses sobre a arte dramática. Segundo Aristóteles, a catarse faz com que as emoções do
intérprete sejam liberadas numa construção fictícia. Aristóteles constituiu a primeira
estética da arte dramática, cujo nome era bem apropriado: "Poética". As
Tragédias seguiam causando furor, em espectáculos longos, com poesias e grandes textos que
pretendiam mostrar um enredo. Para maior receptividade do público, que demandava de tramas
bem articuladas e enredos intrigantes, os gregos criaram dois elementos até hoje
reconhecidos: o protagonista (o herói) e o antagonista (o vilão), de forma que as tragédias
falavam a respeito da realidade e da mitologia, versando contextos de conhecimento de todos.
Os temas eram atribuídos a grandes heróis, aos deuses, sob argumento fundamental de expor
uma ética, uma lição de vida e a moralidade.
Gil Vicente
Apesar de sua profunda
religiosidade, o tipo mais comumente satirizado por Gil Vicente é o frade que se entrega a
amores proibidos (chegando a enlouquecer de amor), à ganância na venda de indulgências, ao
exagerado misticismo, ao mundanismo, à depravação dos costumes. Criticou desde o frade de
aldeia até o clero dos bispos, cardeais e mesmo o papa. Criticou também aqueles que rezavam
mecanicamente; os que, invocando Deus, solicitavam favores pessoais; e os que assistiam à
missa por obrigação social. Para exemplificar, leia-se este diálogo entre um sapateiro e o
Diabo:
Sapateiro: Quantas missas eu ouvi, não
me hão elas de prestar?
Diabo: Ouvir missa, então roubar - é
caminho para aqui. (Auto da barca do Inferno)
Curioso é perceber que o Diabo nunca
força ninguém ao pecado, ele apenas trabalha com as atitudes das próprias pessoas. Na peça
Auto da feira, o Diabo, ao montar sua banca para oferecer os pecados, é interpelado por um
serafim e assim argumenta:
E há de homens ruins,
mais mil vezes que não bons,
como vós mui bem sentis
E estes hão-de-comprar
disto que trago a vender,
que são artes de enganar,
e cousas para esquecer
o que deviam lembrar. |
Toda a glória de viver
das gentes é ter dinheiro,
e quem muito quiser ter
cumpre-lhe de ser primeiro
o mais ruim que puder.
(...) |
mas cada um veja o que faz,
porque eu não forço ninguém.
Se me vem comprar qualquer
clérigo, ou leigo, ou frade
falsas manhas de viver,
muito por sua vontade,
senhor, que lhe hei-de-fazer? |
(...) |
A baixa nobreza representada pelo fidalgo decadente e pelo escudeiro é outra faixa social
insistentemente criticada pelo autor. Por outro lado, o teatro vicentino satiriza o povo que
abandona o campo em direcção à cidade ou mesmo aqueles que sempre viveram na cidade, mas
que, em ambos os casos, se deixam corromper pela perspectiva do lucro fácil. Isso explica a
defesa e o carinho que Gil Vicente tem para com um tipo: o Lavrador, talvez o verdadeiro povo,
vítima da exploração de toda a estrutura social.
Riquíssima é a galeria de tipos
humanos que formam o teatro vicentino: o velho apaixonado que se deixa roubar; a alcoviteira;
a velha beata; o sapateiro que rouba o povo; o escudeiro fanfarrão; o médico incompetente; o
judeu ganancioso; o fidalgo decadente; a mulher adúltera; o padre corrupto. Gil Vicente não
tem a preocupação de fixar tipos psicológicos, e sim a de fixar tipos sociais. Observe que
a maior parte dos personagens do teatro vicentino não tem nome de baptismo, sendo designados
pela profissão ou pelo tipo humano.
Quanto à forma, à utilização de
cenários e montagens, o teatro de Gil Vicente é extremamente simples. Tampouco obedece às
três unidades do teatro clássico - acção, lugar e tempo. Seu texto apresenta uma estrutura
poética, com o predomínio da redondilha maior, havendo mesmo várias cantigas no corpo de
suas peças.
Outro aspecto a salientar no teatro
vicentino aparece como consequência natural de seu momento histórico: ao lado de algumas
características tipicamente medievais (religiosidade, uso de alegorias, de redondilhas,
não-obediência às três unidades do teatro clássico), percebem-se características
humanistas, tais como a presença de figuras mitológicas, a condenação à perseguição aos
judeus e cristãos-novos, a crítica social.
Dicas sobre o Teatro
Alguns termos usados:
Encenador: - O que concebe,
orienta e dirige a encenação, isto é, o complexo de actividades necessárias para que o
espectáculo se realize.
Cenário: - Conjunto de elementos
decorativos que fecham o espaço cénico.
Adereços de cena: - Objectos que
decoram a cena aposta ao cenário.
Telão: - Pano pintado que ocupa toda a
largura da cena cobrindo o fundo do palco.
Caracterização: - Pintura do rosto do
actor, com ou sem o emprego de postiços.
Distribuição: - A designação dos
actores que devem interpretar as diferentes personagens da peça.
Cena: - É utilizada com alguns
significados diferentes. É o palco. Estar em cena é estar a representar ou a ensaiar. Cena
pintada ou construída é o cenário. Uma é o momento da acção em que "estão em cena
os mesmos actores.
Ensaiar: - Levantar, repetir e apurar
uma ou mais cenas com os actores.
Bater um texto: - É repeti-lo muitas
vezes para o decorar.
Réplica: - Cada frase do texto que um
personagem diz após outro ter dado a deixa.
Deixa: - Palavra ou palavras do final
de uma fala que indicam a ocasião da réplica do actor ou de qualquer movimento.
Papel: - O texto da parte que compete
dizer a cada actor e por extensão a personagem que lhe coube na distribuição.
Ponto: - Aquele que escondido do
público "assopra" aos actores em cena, para os lembrar, alguma palavra ou frase.
Acto: - Parte de uma peça que
corresponde a um ciclo de acção e é separada das outras por um curtíssimo intervalo.
Adereços do actor: - Objectos que o
actor utiliza em cena e trás consigo.
Repertório: - Conjunto de peças de
teatro montadas ou projectadas para um grupo de teatro.
Alguns exercícios de
respiração e voz:
Respiração:
Descontracção: - Saltitar a pés
juntos, procurando descontrair todos os músculos (o diafragma deve bater para baixo e para
cima). Dar três saltos mais altos, flexão à frente descontraída, com expiração vigorosa.
Respiração em três tempos: -
Expiração lenta e controlada pela boca.
Compasso de espera:
- Inspiração, à vontade, dos
pulmões.
- Expiração controlada, para domínio
da emissão da voz.
- Compasso de espera, para esvaziar
totalmente os pulmões com consequente inspiração completa.
( este exercício pode fazer-se de pé,
sentado ou deitado. Quando feito deitado, será acrescido de movimentos diversos: levantar as
pernas alternadamente, etc.)
Nota: - Em todas estas posições se
deve dar particular atenção à formação da "Cinta respiratória".
- Expiração sonorizada individual,
colocando as mãos nos rins (apertar) para verificar a "Cinta respiratória".
- Expiração sonorizada, porque é
mais fácil dominá-la do que sem emissão de voz.
- Expiração sonorizada colectiva
(domínio)
- Bazão: - de pé, pés afastados
(11h05) expiração lenta e controlada. Quando se sente que a respiração chegou ao fim,
descontrair o tronco com ligeira flexão de pernas. Tempo de pausa e inspiração a obrigar o
tronco a erguer-se enchendo completamente os pulmões.
Domínio sobre a respiração:
- Andar à roda, ao som
convencionar, estacar e:
1º - suspirar lentamente
2º - expirar
3º - inspirar rapidamente
4º - expirar
(estes exercícios (1, 2, 3 , 4) são
feitos um de cada vez)
Voz
Grito Instintivo (SPA):
Visualizando chicotear o parceiro, gritar "SPA" sentindo o movimento do diafragma.
- Dividir a classe em duas, por cada
uma a um extremo da sala, gritando em conjunto e alternadamente, "SPA", uns aos
outros.
- Descontrair os músculos da cara,
fazendo massagens, caretas, mastigando ar, descontraindo a língua e os maxilares.
- Oh, ah, oh, ah estes sons
obrigam a fechar e a abrir a boca energicamente (contrariar a "preguiça" dos
músculos da cara).
- Tapar uma narina, expirar e inspirar
- Tapar a outra, expirar e inspirar.
- Stacatto: - Gritar !A"
instintivo
- Expirar (entrecortado) A, A, A, A, A,
(final) AAAAA
(Neste exercício, deve sentir-se o
movimento do diafragma)
- Escalas:
1º - SPA, SPA, SPÓÓÁ (atenção ao
"S")
2º - MÁ, MÉ, MI, MÓ, MU, LÁ, LÉ,
LI, LÓ, LU
MÁ, MÉ, MI, MÓ, MU, LÁ, LÉ, LI,
LÓ, LU
(Subida e descida escalares, podendo
ainda alternar a nota inicial "Dominante")
Curiosidades
O teatro mais antigo de
Lisboa, é o Teatro Nacional de São Carlos, inaugurado em 1793, e mandado construir por
um grupo de homens de negócios, de entre os quais se destacava Joaquim Pedro Quintella, pai
do 1o Conde de Farrobo, grande benemérito e empresário teatral. O Teatro Nacional D. Maria
II foi, por sua vez, inaugurado em 1846, tendo sido construído por iniciativa de Almeida
Garrett.
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Em 1752, foi chamado à corte de Lisboa
pelo rei D. José, Giovan Carlo Bibiena, que se encarregaria de construir a infeliz
ópera do Tejo, inaugurada em 1755 e logo destruída pelo terramoto de 1 de Novembro desse
mesmo ano.
O Teatro D. Maria ll assinala
Dia Mundial do Teatro com dois dias de espectáculos gratuitos
16.03.2005 - 15h13 Lusa
Cinco produções e uma
"rave party" integram o evento (Des) Concertantes 2 que o Teatro Nacional D. Maria
II vai realizar este fim-de-semana, com entrada gratuita, para assinalar o Dia Mundial do
Teatro.
"Como o Dia Mundial do Teatro é
no domingo de Páscoa, decidimos antecipar uma semana a efeméride", revelou o director
artístico do TNDM, António Lagarto.
O responsável referiu que o projecto,
ao qual assistiram em 2004 duas mil pessoas, teve êxito e nesse sentido decidiram que este
ano haveria dois dias de teatro (Des) Concertante. Este evento foi organizado pela primeira
vez em 2004 para assinalar o Dia Mundial do Teatro e juntou vários tipos de espectáculos nos
espaços do D. Maria.
Segundo António Lagarto, o evento tem
por objectivo motivar o acesso ao teatro, conquistar novos públicos e desmistificar a
imponência de um monumento nacional.
"Queremos desmistificar a
imponência do monumento em prol da sua funcionalidade como espaço privilegiado para o
convívio e o diálogo", afirmou o responsável.
A entrada para todos os espectáculos
é livre e o levantamento de bilhetes é feito no próprio dia a partir da 09h30.
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro -
Marinha Grande - Portugal
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