
Fátima - Altar do Mundo
13 de Maio |


As estradas do Norte e Centro de Portugal, enchem-se de peregrinos a caminho de Fátima
(Portugal). É impressionante a sua Fé, ao percorrerem, muitos deles, centenas de
quilómetros. Mas lá seguem, ordeiramente e cantando, para na tarde do dia 12 de Maio
estarem no Santuário Mariano de Nossa Senhora de Fátima, para as comemorações do 13 de
Maio.

Ao fundo o Santuário de Fátima e à esquerda a Capela
das Aparições
A MENSAGEM DE FÁTIMA
Na passagem do segundo para o terceiro
milénio, o Papa João Paulo II decidiu tornar público o texto da terceira parte do «
segredo de Fátima ».
Depois dos acontecimentos
dramáticos e cruéis do século XX, um dos mais tormentosos da história do homem, com o
ponto culminante no cruento atentado ao « doce Cristo na terra », abre-se assim o véu
sobre uma realidade que faz história e a interpreta na sua profundidade segundo uma
dimensão espiritual, a que é refractária a mentalidade actual, frequentemente eivada de
racionalismo.
A história está constelada de
aparições e sinais sobrenaturais, que influenciam o desenrolar dos acontecimentos
humanos e acompanham o caminho do mundo, surpreendendo crentes e descrentes. Estas
manifestações, que não podem contradizer o conteúdo da fé, devem convergir para o
objecto central do anúncio de Cristo: o amor do Pai que suscita nos homens a conversão e
dá a graça para se abandonarem a Ele com devoção filial. Tal é a mensagem de Fátima,
com o seu veemente apelo à conversão e à penitência, que leva realmente ao coração
do Evangelho.
Fátima é, sem dúvida, a mais
profética das aparições modernas. A primeira e a segunda parte do « segredo », que
são publicadas em seguida para ficar completa a documentação, dizem respeito antes de
mais à pavorosa visão do inferno, à devoção ao Imaculado Coração de Maria, à
segunda guerra mundial, e depois ao prenúncio dos danos imensos que a Rússia, com a sua
defecção da fé cristã e adesão ao totalitarismo comunista, haveria de causar à
humanidade.
Em 1917, ninguém poderia ter
imaginado tudo isto: os três pastorinhos de Fátima vêem, ouvem, memorizam, e Lúcia, a
testemunha sobrevivente, quando recebe a ordem do Bispo de Leiria e a autorização de
Nossa Senhora, põe por escrito.
Para a exposição das primeiras
duas partes do « segredo », aliás já publicadas e conhecidas, foi escolhido o texto
escrito pela Irmã Lúcia na terceira memória, de 31 de Agosto de 1941; na quarta
memória, de 8 de Dezembro de 1941, ela acrescentará qualquer observação.

Os três Pastorinhos
A terceira parte do « segredo »
foi escrita « por ordem de Sua Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria e da (...)
Santíssima Mãe », no dia 3 de Janeiro de 1944.
O envelope selado foi guardado
primeiramente pelo Bispo de Leiria. Para se tutelar melhor o « segredo », no dia 4 de
Abril de 1957 o envelope foi entregue ao Arquivo Secreto do Santo Ofício. Disto mesmo,
foi avisada a Irmã Lúcia pelo Bispo de Leiria.
Segundo apontamentos do Arquivo, no
dia 17 de Agosto de 1959 e de acordo com Sua Eminência o Cardeal Alfredo Ottaviani, o
Comissário do Santo Ofício, Padre Pierre Paul Philippe OP, levou a João XXIII o
envelope com a terceira parte do « segredo de Fátima ». Sua Santidade, « depois de
alguma hesitação », disse: « Aguardemos. Rezarei. Far-lhe-ei saber o que decidi ».(1)
Na realidade, a decisão do Papa
João XXIII foi enviar de novo o envelope selado para o Santo Ofício e não revelar a
terceira parte do « segredo ».
Paulo VI leu o conteúdo com o
Substituto da Secretaria de Estado, Sua Ex.cia Rev.ma D. Ângelo Dell'Acqua, a 27 de
Março de 1965, e mandou novamente o envelope para o Arquivo do Santo Ofício, com a
decisão de não publicar o texto.
João Paulo II, por sua vez, pediu
o envelope com a terceira parte do « segredo », após o atentado de 13 de Maio de 1981.
Sua Eminência o Cardeal Franjo Seper, Prefeito da Congregação, a 18 de Julho de 1981
entregou a Sua Ex.cia Rev.ma D. Eduardo Martínez Somalo, Substituto da Secretaria de
Estado, dois envelopes: um branco, com o texto original da Irmã Lúcia em língua
portuguesa; outro cor-de-laranja, com a tradução do « segredo » em língua italiana.
No dia 11 de Agosto seguinte, o Senhor D. Martínez Somalo devolveu os dois envelopes ao
Arquivo do Santo Ofício.(2)
Como é sabido, o Papa João Paulo
II pensou imediatamente na consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria e
compôs ele mesmo uma oração para o designado « Acto de Entrega », que seria celebrado
na Basílica de Santa Maria Maior a 7 de Junho de 1981, solenidade de Pentecostes, dia
escolhido para comemorar os 1600 anos do primeiro Concílio Constantinopolitano e os 1550
anos do Concílio de Éfeso. O Papa, forçadamente ausente, enviou uma radiomensagem com a
sua alocução. Transcrevemos a parte do texto, onde se refere exactamente o acto de
entrega:
« Ó Mãe dos homens e dos povos,
Vós conheceis todos os seus sofrimentos e as suas esperanças, Vós sentis maternalmente
todas as lutas entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas, que abalam o mundo, acolhei o
nosso brado, dirigido no Espírito Santo directamente ao vosso Coração, e abraçai com o
amor da Mãe e da Serva do Senhor aqueles que mais esperam por este abraço e, ao mesmo
tempo, aqueles cuja entrega também Vós esperais de maneira particular. Tomai sob a vossa
protecção materna a família humana inteira, que, com enlevo afectuoso, nós Vos
confiamos, ó Mãe. Que se aproxime para todos o tempo da paz e da liberdade, o tempo da
verdade, da justiça e da esperança ». (3)
Mas, para responder mais plenamente
aos pedidos de Nossa Senhora, o Santo Padre quis, durante o Ano Santo da Redenção,
tornar mais explícito o acto de entrega de 7 de Junho de 1981, repetido em Fátima no dia
13 de Maio de 1982. E, no dia 25 de Março de 1984, quando se recorda o fiat pronunciado
por Maria no momento da Anunciação, na Praça de S. Pedro, em união espiritual com
todos os Bispos do mundo precedentemente « convocados », o Papa entrega ao Imaculado
Coração de Maria os homens e os povos, com expressões que lembram as palavras ardorosas
pronunciadas em 1981:
« E por isso, ó Mãe dos homens e
dos povos, Vós que conheceis todos os seus sofrimentos e as suas esperanças, Vós que
sentis maternalmente todas as lutas entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas, que
abalam o mundo contemporâneo, acolhei o nosso clamor que, movidos pelo Espírito Santo,
elevamos directamente ao vosso Coração: Abraçai, com amor de Mãe e de Serva do Senhor,
este nosso mundo humano, que Vos confiamos e consagramos, cheios de inquietude pela sorte
terrena e eterna dos homens e dos povos.
De modo especial Vos entregamos e
consagramos aqueles homens e aquelas nações que desta entrega e desta consagração têm
particularmente necessidade.
"À vossa protecção nos
acolhemos, Santa Mãe de Deus"! Não desprezeis as súplicas que se elevam de nós
que estamos na provação! ».
Depois o Papa continua com maior
veemência e concretização de referências, quase comentando a Mensagem de Fátima nas
suas predições infelizmente cumpridas:
« Encontrando-nos hoje diante
Vós, Mãe de Cristo, diante do vosso Imaculado Coração, desejamos, juntamente com toda
a Igreja, unir-nos à consagração que, por nosso amor, o vosso Filho fez de Si mesmo ao
Pai: "Eu consagro-Me por eles foram as suas palavras para eles serem
também consagrados na verdade" (Jo 17, 19). Queremos unir-nos ao nosso Redentor,
nesta consagração pelo mundo e pelos homens, a qual, no seu Coração divino, tem o
poder de alcançar o perdão e de conseguir a reparação.
A força desta consagração
permanece por todos os tempos e abrange todos os homens, os povos e as nações; e supera
todo o mal, que o espírito das trevas é capaz de despertar no coração do homem e na
sua história e que, de facto, despertou nos nossos tempos.
Oh quão profundamente sentimos a
necessidade de consagração pela humanidade e pelo mundo: pelo nosso mundo
contemporâneo, em união com o próprio Cristo! Na realidade, a obra redentora de Cristo
deve ser participada pelo mundo por meio da Igreja.
Manifesta-o o presente Ano da
Redenção: o Jubileu extraordinário de toda a Igreja.
Neste Ano Santo, bendita sejais
acima de todas as criaturas Vós, Serva do Senhor, que obedecestes da maneira mais plena
ao chamamento Divino!
Louvada sejais Vós, que estais
inteiramente unida à consagração redentora do vosso Filho!
Mãe da Igreja! Iluminai o Povo de
Deus nos caminhos da fé, da esperança e da caridade! Iluminai de modo especial os povos
dos quais Vós esperais a nossa consagração e a nossa entrega. Ajudai-nos a viver na
verdade da consagração de Cristo por toda a família humana do mundo contemporâneo.
Confiando-Vos, ó Mãe, o mundo,
todos os homens e todos os povos, nós Vos confiamos também a própria consagração do
mundo, depositando-a no vosso Coração materno.
Oh Imaculado Coração! Ajudai-nos
a vencer a ameaça do mal, que se enraíza tão facilmente nos corações dos homens de
hoje e que, nos seus efeitos incomensuráveis, pesa já sobre a vida presente e parece
fechar os caminhos do futuro!
Da fome e da guerra, livrai-nos!
Da guerra nuclear, de uma
autodestruição incalculável, e de toda a espécie de guerra, livrai-nos!
Dos pecados contra a vida do homem
desde os seus primeiros instantes, livrai-nos!
Do ódio e do aviltamento da
dignidade dos filhos de Deus, livrai-nos!
De todo o género de injustiça na
vida social, nacional e internacional, livrai-nos!
Da facilidade em calcar aos pés os
mandamentos de Deus, livrai-nos!
Da tentativa de ofuscar nos
corações humanos a própria verdade de Deus, livrai-nos!
Da perda da consciência do bem e
do mal, livrai-nos!
Dos pecados contra o Espírito
Santo, livrai-nos, livrai-nos!
Acolhei, ó Mãe de Cristo, este
clamor carregado do sofrimento de todos os homens! Carregado do sofrimento de sociedades
inteiras!
Ajudai-nos com a força do
Espírito Santo a vencer todo o pecado: o pecado do homem e o "pecado do mundo",
enfim o pecado em todas as suas manifestações.
Que se revele uma vez mais, na
história do mundo, a força salvífica infinita da Redenção: a força do Amor
misericordioso! Que ele detenha o mal! Que ele transforme as consciências! Que se
manifeste para todos, no vosso Imaculado Coração, a luz da Esperança! ».(4)
A Irmã Lúcia confirmou
pessoalmente que este acto, solene e universal, de consagração correspondia àquilo que
Nossa Senhora queria: « Sim, está feita tal como Nossa Senhora a pediu, desde o dia 25
de Março de 1984 » (carta de 8 de Novembro de 1989). Por isso, qualquer discussão e
ulterior petição não tem fundamento.
Na documentação apresentada, para
além das páginas manuscritas da Irmã Lúcia inserem-se mais quatro textos: 1) A carta
do Santo Padre à Irmã Lúcia, datada de 19 de Abril de 2000; 2) Uma descrição do
colóquio que houve com a Irmã Lúcia no dia 27 de Abril de 2000; 3) A comunicação
lida, por encargo do Santo Padre, por Sua Eminência o Cardeal Ângelo Sodano, Secretário
de Estado, em Fátima no dia 13 de Maio deste ano; 4) O comentário teológico de Sua
Eminência o Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Uma orientação para a
interpretação da terceira parte do « segredo » tinha sido já oferecida pela Irmã
Lúcia, numa carta dirigida ao Santo Padre a 12 de Maio de 1982, onde dizia:
« A terceira parte do segredo
refere-se às palavras de Nossa Senhora: "Se não, [a Rússia] espalhará os seus
erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão
martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão
aniquiladas" (13-VII-1917).
A terceira parte do segredo é uma
revelação simbólica, que se refere a este trecho da Mensagem, condicionada ao facto de
aceitarmos ou não o que a Mensagem nos pede: "Se atenderem a meus pedidos, a Rússia
converter-se-á e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, etc".
Porque não temos atendido a este
apelo da Mensagem, verificamos que ela se tem cumprido, a Rússia foi invadindo o mundo
com os seus erros. E se não vemos ainda, como facto consumado, o final desta profecia,
vemos que para aí caminhamos a passos largos. Se não recuarmos no caminho do pecado, do
ódio, da vingança, da injustiça atropelando os direitos da pessoa humana, da
imoralidade e da violência, etc.
E não digamos que é Deus que
assim nos castiga; mas, sim, que são os homens que para si mesmos se preparam o castigo.
Deus apenas nos adverte e chama ao bom caminho, respeitando a liberdade que nos deu; por
isso os homens são responsáveis».
A decisão tomada pelo Santo Padre
João Paulo II de tornar pública a terceira parte do « segredo » de Fátima encerra um
pedaço de história, marcado por trágicas veleidades humanas de poder e de iniquidade,
mas permeada pelo amor misericordioso de Deus e pela vigilância cuidadosa da Mãe de
Jesus e da Igreja.
Acção de Deus, Senhor da
história, e corresponsabilidade do homem, no exercício dramático e fecundo da sua
liberdade, são os dois alicerces sobre os quais se constrói a história da humanidade.
Ao aparecer em Fátima, Nossa
Senhora faz-nos apelo a estes valores esquecidos, a este futuro do homem em Deus, do qual
somos parte activa e responsável.
Tarcisio Bertone, SDB
Arcebispo emérito de Vercelli
Secretário da Congregação para a
Doutrina da Fé
O « SEGREDO » DE FÁTIMA
PRIMEIRA E SEGUNDA PARTE DO «
SEGREDO » SEGUNDO A REDACÇÃO FEITA PELA IRMÃ LÚCIA NA « TERCEIRA MEMÓRIA », DE 31
DE AGOSTO DE 1941, DESTINADA AO BISPO DE LEIRIA-FÁTIMA
Integrada no texto de Rita Almeida
Carvalho, intitulado Fátima e Salazar, a seguinte cronologia que passamos a apresentar.
CRONOLOGIA
1917
Maio, 13- Primeira alegada
aparição da Senhora de Fátima aos pastores Francisco, Jacinta e Lúcia.
Outubro, 13- Uma multidão de 60000
a 80000 pessoas reúne-se na Cova da Iria para assistir à "dança do sol".
Novembro- Inicia-se o processo
canónico preliminar de inquirição, com os interrogatórios aos alegados videntes.
Durará até Abril de 1919.
Novembro, 7- Revolução Russa,
constituição dum governo com maioria bolchevique.
1918
Novembro, 11- Assinatura do
Armistício que põe fim à I Guerra Mundial.
Novembro, 18- Greve geral convocada
pela União Operária Nacional.
1919
Abril- Inicia-se na Cova da Iria a
construção duma pequena capela.
Abril, 4- Morre Francisco, vítima
da pneumónica.
1920
Março, 2- Morre Jacinta, vítima
da pneumónica.
Agosto, 15- D. José Alves Correia
da Silva é nomeado novo bispo de Leiria.
1921
Junho- Lúcia entra no recolhimento
do Vilar.
Outubro, 13- Celebração na Cova
da Iria da primeira missa autorizada por Correia da Silva.
1922
Março, 6- A capela da Cova da Iria
é destruída por uma bomba. A sua reconstrução irá iniciar-se em Dezembro.
Maio, 13- Missa de desagravo pelo
atentado bombista. Grande aumento do afluxo de peregrinos.
Outubro, 29- Nomeação de
Mussolini para a chefia do governo.
1926
Maio, 28- Golpe de Estado, início
da ditadura.
1927
Outubro- Correia da Silva adquire
para a diocese os terrenos da Cova da Iria.
1928
Abril, 27- António de Oliveira
Salazar assume a pasta das Finanças.
Maio, 13- Inicia-se a construção
da Basílica na Cova da Iria.
1929
Acordo de Latrão entre Mussolini e
a Igreja.
Maio, 13- Carmona e Salazar
deslocam-se a Fátima.
1930
Outubro, 13- Carta pastoral do
bispo de Leiria defendendo Fátima contra as suspeições de fraude.
1933
Janeiro, 31- Nomeação de Hitler
para a chefia do governo.
Julho, 20- Assinatura da Concordata
entre Pacelli, futuro Pio XII, e o governo alemão.
1936
A instâncias do bispo de Leiria,
Lúcia terá iniciado a redacção das suas "Memórias". Ficarão concluídas em
1941.
Julho, 18- Putsch franquista,
início da Guerra Civil de Espanha.
1938
Maio, 13- Às habituais
comemorações de Fátima associam-se manifestações de júbilo pelas vitórias
franquistas na Guerra Civil de Espanha.
1939
Setembro, 1- Início da II Guerra
Mundial.
1940
Maio, 7- Assinatura da Concordata
entre o Vaticano e o governo português.
1941
Junho, 22- Ataque da Alemanha à
URSS.
1942
Outubro, 31- Em discurso
transmitido pela Rádio Vaticano e pela Emissora Nacional portuguesa, Pio XII refere-se
favoravelmente a Fátima.
Dezembro, 24- Homilia de Natal de
Pio XII, evitando mencionar o extermínio dos judeus pelos nazis.
1946
Lúcia entrega ao bispo de Leiria
uma carta contendo o "terceiro segredo". A carta fica fechada no cofre da
diocese. Será enviada para o Arquivo do Santo Ofício, no Vaticano, em 1957.
Maio, 12- O cardeal Bento Masella,
enviado a Fátima por Pio XII, é recebido em Portugal com honras de chefe de Estado.
1955
Janeiro, 22- Comemorações das
bodas de prata do bispo de Leiria, com a presença de Craveiro Lopes, Salazar e membros do
governo.
1958
Março, 13- Morre D. José Alves
Correia da Silva, que fora o mais activo promotor do reconhecimento do alegado milagre e
ao longo de 38 anos de gestão diocesana de Leiria se tornara conhecido como "bispo
de Fátima".
Maio, 13- Com a campanha
presidencial de Delgado em pano de fundo, os militares fiéis a Salazar comparecem em
Fátima em número muito maior do que nos anos anteriores.
1961
Julho, 7- O papa João XXIII
manifesta informalmente ao embaixador português preocupação com a eventualidade de se
"fazer dizer à irmã Lúcia (...) mais do que ela estaria em condições de
dizer", nomeadamente em relação à Rússia.
1964
O papa Paulo VI visita a União
Indiana, causando o desagrado do governo português.
Setembro, 17- No Vaticano o
embaixador português é pela primeira vez sondado sobre o efeito compensatório que
poderia ter uma visita do papa a Portugal.
1965
Maio, 13- O secretário de Estado
do Vaticano, cardeal Fernando Cento, vem a Portugal e louva Portugal "nação sempre
fidelíssima".
Maio, 14- O MNE, Franco Nogueira,
discursa em tom de reconciliação num banquete oferecido ao enviado papal.
1967
Maio, 13- Visita do papa Paulo VI a
Fátima.
1981
Outubro, 13- Atentado de Ali Agca,
militante turco de extrema-direita, contra o papa João Paulo II em Roma.
2000
Maio, 13- João Paulo II procede em
Fátima à beatificação de Francisco e Jacinta. O cardeal Angel Sodano declara que o
"terceiro segredo" consistia na previsão do atentado de Ali Agca.
Primeira mensagem do
Pontífice sobre Fátima recorda devoção polaca
O Santuário de Fátima
divulgou domingo a primeira mensagem trocada com João Paulo II, então como arcebispo de
Cracóvia, em que este recorda a devoção do povo polaco pela mensagem Mariana.
Dirigindo-se ao então bispo de
Leiria-Fátima, D. João Pereira Venâncio, o arcebispo de Cracóvia, D. Karol Wojtyla,
escrevia que não poderia estar presente nas comemorações dos 50 anos das Aparições,
em 1967.
"Vossa Excelência conhece a
devoção do povo polaco à Santíssima Virgem. Sem dúvida que todos compartilhamos aqui
os vossos sentimentos nobres e calorosos durante o vosso grande Cinquentenário",
refere a missiva, assinada pelo futuro Papa João Paulo II, que faleceu sábado.
Depois, já Papa e meses após o
atentado que sofreu a 13 de Maio de 1981, João Paulo II afirmou numa eucaristia que devia
a sua vida a Nossa Senhora de Fátima e visitou mesmo o Santuário em 1982, viagem que
repetiu por mais duas ocasiões.
Nas cerimónias deste dia, foi
colocado na Capelinha das Aparições um quadro representando João Paulo II inclinado
junto da imagem de Nossa Senhora de Fátima, que foi oferecido pelos doentes da Diocese do
Funchal.
Este quadro, que tem estado exposto
na recepção da Reitoria do Santuário de Fátima, foi elaborado com base numa fotografia
tirada em 1981 na Clínica Gemelli, em Roma, após o atentado de 13 de Maio desse ano.
CONGREGAÇÃO PARA AS CAUSAS
DOS SANTOS
HOMILIA DO CARDEAL JOSÉ SARAIVA MARTINS
Santuário de Fátima na Cova da Iria
13 de Maio de 2003
Em.mo Senhor Cardeal Patriarca
Ex.mos Irmãos no Episcopado
Estimados Sacerdotes,
Religiosos e Religiosas
Caríssimos Irmãos e Irmãs em
Cristo
O Evangelho, que ouvimos,
convida-nos a meditar o mistério da maternidade da Virgem, Mãe de Deus e nossa Mãe, à
qual Jesus Crucificado disse: "Mulher eis o teu filho" e, dirigindo-se ao
discípulo amado, que a todos nos representava, acrescentou: "Eis a tua mãe"
(Jo 19, 26-27).
A partir da hora da cruz, "o
discípulo recebeu-a em sua casa" (Jo 19, 27), isto é, acolheu-a como sua, em nosso
nome. Maria, a 'mulher' por excelência, a nova Eva, sendo Mãe da Cabeça que trouxe no
seu seio virginal, tornou-se também, a partir da hora da cruz, por vontade e em virtude
do testamento espiritual e dos méritos do Redentor, a Mãe dos crentes e da Igreja, a
Mãe amantíssima de todos os redimidos.
Esta nova maternidade espiritual e
mística de Maria é o reflexo e o prolongamento da maternidade divina que a elevou sobre
todas as criaturas.
Maria nunca nos abandona. Continua,
a nosso favor, a sua missão de intercessão junto de Deus e, com o exemplo, as palavras e
as manifestações da sua bondade, pede-nos, como em Caná: "Fazei tudo o que Ele
(Jesus Cristo, meu Filho) vos disser" (Jo 2, 5).
As aparições e os apelos de Nossa
Senhora, há 86 anos, aqui em Fátima, constituem um eco, um sinal e um prolongamento da
solicitude materna daquela que nos exorta a ouvir e a seguir Jesus, desejosa da plena
redenção dos filhos confiados pelo Crucificado ao seu coração maternal.
Os apelos da Virgem, por meio dos
pastorinhos, à fé, à oração, à penitência, a ouvir e a seguir, a amar e a
desagravar Deus Nosso Senhor, são expressões da solicitude materna manifestada já
durante a sua vida terrena, em Nazaré, em Caná, no Calvário e no Cenáculo, no dia de
Pentecostes, onde Maria se encontrava reunida com a Igreja na fé e na oração.
A Mensagem de Fátima contém
apelos da mais candente actualidade. Sublinho quatro: a fé viva e testemunhada, a
conversão, a paz e a esperança.
1. O primeiro é um insistente
apelo à fé, contagiante, vigorosa e irradiante dos três pastorinhos: uma fé vivida em
profundidade nas formas mais simples da sua expressão.
A sociedade de hoje é levedada por
múltiplos fermentos e correntes culturais que põem em perigo os próprios fundamentos da
fé cristã. Uma crescente e desenfreada secularização leva muitos a pensar e a viver
como se Deus não existisse ou então a contentar-se com uma vaga religiosidade, incapaz
de se confrontar com o problema da verdade e com o dever da coerência. De tudo isto
deriva um crescente obscurecimento do sentido transcendente da existência humana, um
relativismo ético difuso e uma gradual perda do sentido do pecado, já denunciada por Pio
XII: "o pecado do século é a perda do sentido do pecado" (Pio XII, Disc. e
Rad., VIII, 1946, 288; cf. João Paulo II, Reconciliatio et poenitentia, 1989, 18).
Mesmo entre os baptizados que se
confessam cristãos, nota-se uma grande apatia, uma falta de coerência, uma desarmonia
entre a fé e o agir quotidiano, uma infidelidade aos valores e aos princípios que
deveriam nortear e modelar a nossa vida. Falando dessa incoerência, desse dissídio entre
a fé e o agir, o Concílio Vaticano II constatou que: "este divórcio entre a fé
que professam e o comportamento quotidiano de muitos deve ser contado entre os mais graves
erros do nosso tempo" (Gaudium et spes, 43 ).
É neste contexto de
secularização e de indiferença religiosa que se insere o apelo da Mãe de Deus a viver
em plenitude e com renovado fervor o inestimável dom da fé recebida no Baptismo, de
forma a que ela penetre e ilumine toda a nossa existência e oriente todas as opções
fundamentais da nossa vida, para, deste modo, nos tornarmos testemunhas fidedignas do amor
de Deus entre os homens.
Como notava Paulo VI, "aos
mestres, o homem contemporâneo prefere escutar os que testemunham, e se escuta os mestres
é porque testemunham" (Paulo VI, Evangelii nuntiandi, 41; cf. Paulo VI,
Insegnamenti, XlI [1974] pp. 895-896). "As palavras convencem, mas os exemplos
arrastam". O homem de hoje desconfia das palavras; quer factos. E é por isso que
observa com interesse, atenção e até com admiração os que testemunham.
A linguagem do testemunho é a mais
compreensível e convincente para o homem do nosso tempo. Mas tal testemunho exige
fidelidade absoluta aos valores humanos profundamente enraizados no tecido social e
cultural do povo português: exige o respeito do ser humano, que vale pelo que é e não
pelo que tem; o respeito da sua transcendente dignidade e direitos fundamentais; a
rejeição do relativismo ético que "tira à convivência civil todo e qualquer
ponto seguro de referência e radicalmente a priva do reconhecimento da verdade";
exige a defesa da família como sociedade natural fundada no matrimónio; o acolhimento e
o respeito pela vida desde a concepção até ao seu termo natural. O cristão está
plenamente consciente de que, à luz da fé, o "não da Igreja ao aborto é um sim à
vida, um sim à bondade original da criação, um sim à família, primeira célula de
esperança na qual Deus se compraz, convidando-a a tornar-se igreja doméstica"
(Synodus Episcoporum Nuntius, 2001, pág. 43).
A força que o leva a ser
testemunha corajosa do Evangelho e dos seus valores, o cristão vai encontrá-la na
vivência duma profunda vida interior, no intenso amor a Cristo a quem deve abrir de par
em par as portas do coração, na graça sacramental, especialmente na graça da
Reconciliação e da Eucaristia e, finalmente, na oração tão calorosamente recomendada
em Fátima, pelo Anjo e por Nossa Senhora que na quarta aparição pediu aos videntes:
"Rezai, rezai muito".
2. O segundo apelo de Nossa Senhora
é o apelo à conversão, à penitência. Logo na primeira aparição, Ela pergunta aos
três pastorinhos se querem oferecer-se e suportar todos os sofrimentos que Deus lhes
mandar "como acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica
pela conversão dos pecadores".
Converter-se a Deus é voltar a
Ele, aproximar-se da Sua santidade, lançar-se de novo, como o filho pródigo, nos braços
do Pai; é reconquistar a alegria perdida, a alegria de ser salvos (Sl 51, 14), coisa que
muitos dos homens do nosso tempo já não sabem saborear.
Converter-se é manter com Deus uma
atitude de amorosa escuta, como Samuel: "Falai, Senhor, que o vosso servo
escuta" (1 Sm 3, 10 ).
E Deus não fala só através da
Bíblia e da Igreja, mas também através da história, por meio dos acontecimentos,
grandes ou pequenos, que constituem o tecido da nossa vida. Depende de nós, reconhecer ou
não em tudo isso a voz do Senhor. É esta a maneira de agir de Deus, já no Antigo
Testamento: Ele revela-se e guia o Seu povo por meio dos eventos suscitados por Ele mesmo
com essa finalidade.
Mas não se pode ouvir Deus, sem
nele e à luz do Evangelho, escutar a voz dos irmãos, o grito dos pobres e dos
marginalizados, o gemido dos oprimidos, o choro dos doentes e desesperados, de forma a
encontrarem ressonância no nosso coração e respostas adequadas no nosso agir. Significa
ter em relação a eles sentimentos de verdadeira solidariedade e de participação nas
suas preocupações materiais e espirituais.
Ninguém, por exemplo, pode ficar
indiferente ao drama da fome e da pobreza extrema de tantos milhões de homens, numa
época em que a humanidade tem, como nunca, nas suas mãos, os instrumentos aptos para
operar uma justa partilha. É inadmissível que, como afirmam observadores competentes da
economia mundial, 80% da população do planeta viva com 20% apenas dos seus recursos e
que um bilião e duzentos milhões de pessoas sejam constrangidas a" viver" com
menos de um euro por dia.
Como também ninguém pode ficar
indiferente ao grave problema dos refugiados e dos emigrantes que, por causa das guerras,
da opressão política ou discriminação económica, ou por outro qualquer motivo, são
obrigados a abandonar a própria terra e a própria família para procurar trabalho e
tranquilidade (Syn. Ep. Nuntius, 43). Ser solidários com o sofrimento destes nossos
irmãos faz também parte da conversão.
3. Não menos importante e nem
menos actual é o apelo que a Virgem faz à paz. Pede aos pastorinhos para que se reze
"para obter a paz do mundo e o fim da guerra" (a primeira guerra mundial então
em curso ) e promete-lhes que, se for satisfeito este seu pedido, "haverá paz".
Também hoje, se respira uma
crescente exigência de concórdia e de paz, num mundo cada vez mais interdependente, com
uma rede global de trocas e comunicações mas em que, infelizmente, assistimos à
exasperação de conflitos crónicos como os da Terra Santa, do Médio Oriente e de outras
regiões da terra. A tudo isto vem juntar-se o terrorismo internacional nas suas novas e
assustadoras dimensões (João Paulo II, Disc. ao Parl. ital., 15.11.2002).
A história ensina que na origem
das guerras estão sempre situações intoleráveis de injustiça e a negação de certos
valores, sem os quais, como diz o Papa João Paulo II "uma democracia facilmente se
converte em totalitarismo descarado ou dissimulado, como demonstra a história do século
XX apenas terminado" (Supl., 96; Disc. Parl. ital., l.c.). A justiça, acompanhada da
forma de amor que é o perdão, é o pilar insubstituível da verdadeira paz. Sem ela,
não pode haver paz, que é fruto e obra da justiça opus justitiae pax como diz o profeta
Isaías (cf. Is 32, 1.7).
Na senda da Encíclica Pacem in
terris do Beato João XXIII, o Papa João Paulo II, na Mensagem para o Dia Mundial da Paz
deste ano, apontou como condições essenciais da paz quatro exigências concretas da alma
humana: a verdade, a justiça, o amor e a liberdade. Já na Mensagem do ano anterior,
2002, o mesmo João Paulo II nos ensinava que "não há paz sem justiça e não há
justiça sem perdão".
Os conflitos que afligem o mundo de
hoje e são fonte de indizíveis sofrimentos para tantos nossos irmãos, exortam a
consciência dos cristãos a empenhar-se e a rezar pela paz. E rezar pela paz significa,
como diz o Papa, "abrir o coração humano à irrupção do poder renovador de Deus,
pois só Ele pode criar aberturas para a paz, lá onde parece haver só obstáculos e
oclusões; só Ele pode consolidar e alargar a solidariedade da família humana, não
obstante longas histórias de divisões e de lutas. Rezar pela paz significa rezar pela
justiça, por uma melhor distribuição dos bens da terra" (João Paulo II, Mensagem
da Paz de 2001, n. 18).
A oração mais eficaz para obter a
paz é a do Rosário a que o Santo Padre dedicou este ano. Nossa Senhora recomendou-o
várias vezes nas aparições aqui na Cova da Iria: "Rezai o Terço todos os dias
para obter a paz para o mundo", pediu Nossa Senhora aos pastorinhos. O Rosário é,
de facto, "uma oração orientada por sua natureza para a paz, porque consiste na
contemplação de Cristo, Príncipe da Paz e "nossa paz" (Ef 2,14). Ao mesmo
tempo que nos faz fixar os olhos em Cristo, a oração do Rosário torna-nos construtores
de paz no mundo" (RVM, 40).
Em boa hora se iniciou pois a
recitação diária do Terço a partir deste Santuário e transmitido pela Rádio
Renascença para todo o Portugal.
4. Finalmente a Mãe de Deus fez,
em Fátima, um apelo à esperança. A sua mensagem de amor não podia deixar de ser
também uma mensagem de esperança. E, de facto, as suas palavras são um vigoroso apelo
àquela esperança que é dom Pascal do Senhor (cf. Syn. Ep. Nuntius), à esperança que
renova radicalmente a história, dando-lhe um sabor e uma beleza nova, cujo alicerce
inabalável é Cristo.
Apesar das muitas sombras que
pairam sobre o mundo, são também muitos os sinais de esperança. Com efeito, ao lado de
tantas tragédias e do egoísmo dos projectos humanos sem transcendência, por parte de
pessoas e grupos, nota-se, hoje, um crescente desejo de espiritualidade, de comunhão e de
colaboração; assiste-se a uma séria procura do sentido e da qualidade de vida a todos
os níveis, mesmo espiritual; e, não obstante a progressiva indiferença religiosa,
"o mundo paradoxalmente procura Deus através de caminhos imprevistos e sente
necessidade dele" (Paulo VI, Evangelii nuntiandi, 76). Donde se conclui que o homem
tem saudade de Deus.
Pode, por vezes, parecer que
prevalecem as forças do mal, mas o cristão, que lê os acontecimentos à luz do
mistério Pascal, sabe que acabará por triunfar a terna misericórdia de Deus: "Onde
abundou o pecado, superabundou a graça" (Rm 5, 20); sabe que o mundo em que vivemos
será um dia, "realmente transformado num mundo em que as aspirações mais nobres do
coração humano poderão ser satisfeitas" (João Paulo II, Mensagem para o Dia
Mundial da Paz de 2001, n. 6), no mundo de que fala a primeira Leitura da Missa que
estamos celebrando.
Todos nós somos chamados para a
"construção" deste novo mundo, mais justo, mais humano e por isso mesmo, mais
cristão: vivendo e anunciando com coragem o Evangelho da esperança, que é o Evangelho
do Magnificat, o Evangelho de Maria, o Evangelho da Branca Senhora de Fátima, spes
nostra: a esperança nossa e do mundo.

Casa onde nasceram os três Pastorinhos
Jacinta Marto
O Segredo de Jacinta, a admirável vidente de Fátima
Jacinta era uma criança
quando Nossa Senhora apareceu. Entra na História aos sete anos, precisamente na idade que
habitualmente se costuma indicar como a do começo da vida consciente e da razão. Em que
medida uma criatura dessa idade é capaz de praticar a virtude? E de praticá-la de modo
heróico?
A história da espiritualidade
católica tem exemplos surpreendentes de santidade a pouca idade: Santa Maria Goretti,
martirizada aos 11 anos com plena consciência do que fazia; São Domingos Sávio, que
morreu aos 15 anos.
Jacinta e seu irmão
Francisco depois de um rigoroso processo em Roma, tiveram reconhecidas suas
virtudes heróicas, podendo ser venerados privadamente como santos. Qual o segredo da
santidade de Jacinta? O tema vem ocupando atualmente a atenção dos católicos e merece
ser conhecido por nossos leitores.
Atílio Faoro
Jamais se vira, naquele
lugar, uma coisa igual: 70 mil pessoas, vindas de todas as partes de Portugal, estão
reunidas, sob a chuva, no local que se chama Cova da Iria. O que aconteceu?
Estamos no dia 13 de outubro de
1917. A duras penas, os três pastorinhos tentam varar a multidão rumo a suas pequenas
casas em Aljustrel. A menor das crianças - nossa Jacinta - é conduzida através de
atalhos por um soldado, que a protege das manifestações de entusiasmo de pessoas que
desejam vê-la e dirigir-lhe a palavra. Milhares de perguntas, pedidos de oração e
intercessões. Conversões, lágrimas de alegria...
As crianças Lúcia,
Francisco e Jacinta - não prestam atenção na multidão reunida, a qual presenciara o
milagre do sol ao final da última aparição. Suas mentes estão tomadas pela sublimidade
e pelo esplendor do extraordinário fato sobrenatural que há pouco acabam de contemplar.
A Senhora do Céu, com quem haviam falado seis vezes, acabava de realizar o milagre
prometido...
Desapego quanto a louvores
dos homens
Jacinta Marto, com apenas
sete anos de idade, é dotada de seriedade marcante. A fronte franzida indica profunda
preocupação. Os olhos, que ainda refletem maravilhosamente o brilho do que haviam
contemplado, estão contraídos mas calmos, indicando uma alma inclinada ao recolhimento.
O que dizer desta fisionomia?
Talvez Jacinta se esteja lembrando dos penosos caminhos percorridos anteriormente em meio
ao desprezo, aos impropérios e até aos golpes daqueles que agora estão no meio da
multidão. Não, a alegria do momento não a impressiona, ela conhece bem a inconstância
do espírito humano. Sua vontade está posta em Deus, no cumprimento de Sua vontade, de
tal modo que, depois das aparições, levou verdadeiramente a vida de uma grande santa. A
Congregação para a Causa dos Santos constatou: sua vontade era inteiramente submissa à
de Deus. Como seria útil, principalmente para os nossos dias, conhecer a vida desta
criança.
A caminho da
santidade
No espaço de tempo que
vai dos sete aos dez anos, em que suportou heroicamente o fardo da doença que a levaria
à morte, Jacinta trilhou o caminho da santidade. Já nessa tão precoce idade conheceu
profundamente a realidade da vida. Sua existência foi curta, porém repleta de
acontecimentos extraordinários e até mesmo fascinantes. A descrição deles extrapolaria
os limites deste artigo. Temos que nos cingir aos traços marcantes de sua alma, a algumas
cenas de sua vida e mencionar alguns testemunhos.
O caminho da santidade, a que já
nos referimos, esta menina o percorreu de tal maneira que seus pais e parentes chegaram a
exclamar a respeito dela e dos outros dois videntes: "É um mistério que não dá
para compreender. São crianças como outras quaisquer. No entanto, percebe-se nelas
qualquer coisa de extraordinário!" Sim, o que havia de extraordinário nessas
crianças que as pessoas (até hoje!) não conseguem entender?
Quem foi Jacinta Marto? Última de
uma grande prole, nasceu em 11 de março de 1910. De natureza meiga, era uma criança como
as outras. Brincava, cantava, tinha seus defeitos maiores ou menores, o seu temperamento
e, naturalmente, suas preferências... até 13 de maio de 1917.
Oração e sacrifícios
resgatam pecadores
Depois desse dia,
empreendeu Jacinta uma mudança interior profunda, uma conversão de sua vida como Nossa
Senhora tinha pedido. As palavras de Maria Santíssima impregnaram de modo indelével sua
alma e passaram a ser o conteúdo, o ideal de sua vida. Mais ainda, colocou esse ideal em
prática.
"Fazei penitência pelos
pecadores! Muitos vão para o inferno porque ninguém reza e se sacrifica por eles."
- Tais palavras encontraram profunda ressonância em Jacinta. E com que inquebrantável
vontade fazia ela penitência! Aqui vão mencionados alguns exemplos desta jovem e já
grande santa. Ela não hesitava em frequentemente jejuar um dia inteiro, sem nada comer ou
beber, dando alegremente seu pão às crianças pobres. Em outros dias, comia justamente
aquilo que mais detestava. Trazia como penitência uma corda em torno da cintura. Nada,
nenhum sacrifício lhe parecia demasiado grande, tratando-se da salvação das
almas!
O pecado e o Céu em sua
espiritualidade
De fato, pode-se dizer que
a espiritualidade de Jacinta funda-se nos pedidos formulados por Nossa Senhora. Ela
contém dois aspectos importantes: 1) claro conceito do pecado; 2) noção muito definida
da beleza sobrenatural do Céu. Exatamente dois pontos em relação aos quais nossa época
está imensamente distante.
Não se fala mais em pecado. Esta
palavra está sendo omitida na catequese e banida do pensamento das pessoas. Juntamente
com isso, vai sendo também eliminada necessariamente a ideia do próprio Deus! Pois, de
que outra coisa se trata senão da honra divina que é ofendida pelo pecado?
Estreitamente relacionado com esse
pensamento vem o segundo ponto: a noção clara da beleza sobrenatural do Céu. Quanto
mais intensamente uma alma tem essa noção do sobrenatural celeste, tanto mais fácil
será sua correspondência às solicitações da Mãe de Deus. Jacinta é um exemplo
concreto arrebatador de tal correspondência. A mensagem de sua vida convida-nos a
reconhecer esses aspectos da mensagem de Nossa Senhora e torná-los o eixo orientador de
nossas vidas.
Enormes penitências
salvaram muitas almas
Profundamente
impressionada pela visão do inferno e pelo mistério da eternidade, Jacinta não poupou
nenhum sacrifício visando a conversão dos pecadores. Em sua doença -- uma tuberculose
que a levou à morte -- oferecia principalmente suas dores: "Sim, eu sofro, porém
ofereço tudo pelos pecadores, para desagravar o Imaculado Coração de Maria. Ó Jesus,
agora podeis salvar muitos pecadores porque este sacrifício é muito grande".
Todos os que conheciam Jacinta
sentiam certo respeito por ela. Lúcia, sua prima, escreve: "Jacinta era também
aquela a quem, me parece, a Santíssima Virgem deu a maior plenitude de graças,
conhecimento de Deus e da virtude. Ela parecia refletir em tudo a presença de Deus."
Mesmo na sua dolorosa moléstia
mostrava-se sempre paciente, sem reclamações, inteiramente despretensiosa. Conduta que
não correspondia ao seu carácter natural. O que possibilitava a essa criança a prática
de tal fortaleza e manifestar semelhante comportamento?
A própria Jacinta dá resposta a
essa pergunta em sua exclamação: "Gosto tanto de Nosso Senhor e de Nossa Senhora
que nunca me canso de dizer que Os amo. Quando eu digo isso muitas vezes, parece-me que
tenho um lume no peito, mas não me queima!" O amor ardente a Jesus e Maria! Este foi
o amor que transformou Jacinta e que fez dela uma cópia fiel das virtudes da Virgem
Santíssima.
Último sacrifício: na
morte, isolamento
Tão heróica foi a morte
quanto a vida de Jacinta, num hospital de Lisboa, inteiramente sozinha. Este fato foi
objecto de uma das últimas previsões recebidas por Jacinta, directamente de Nossa
Senhora. Com que coragem conservou a menina este pensamento! Deixemo-la narrar esta
profecia, por ela confiada a Lúcia:
"Nossa Senhora disse-me que
vou para Lisboa, para outro hospital; que não te torno a ver, nem aos meus pais; que
depois de sofrer muito, morro sozinha; mas que não tenha medo, que me vai lá Ela me
buscar para o Céu."
Nossa Senhora anunciou também o
dia e a hora em que deveria morrer. Quatro dias antes, a Santíssima Virgem tirou-lhe
todas as dores. Como ninguém esteve presente nesse grandioso momento, podemos apenas
imaginar a cena. Como terá sido a recepção deste pequeno lírio no Céu? Diante de
Nossa Senhora, aquele rosto virginal não estará mais contraído pelo sofrimento, mas
resplandecente em presença dAquele que foi o Fundamento de sua vida: "Se eu
pudesse meter no coração de toda a gente o lume que tenho cá dentro do peito e a
fazer-me gostar tanto do Coração de Jesus e do Coração de Maria!"
De que maneira o conhecimento da
vida de Jacinta atua sobre as almas, pode-se deduzir das palavras do postulador das Causas
de Beatificação dela e de seu irmão Francisco: "Nunca na História da Igreja duas
crianças foram tão conhecidas e estimadas quanto Francisco e Jacinta. Elas têm trazido
inúmeras almas para o caminho da perfeição".
Desejamos que a vida de Jacinta
tenha no Brasil grande divulgação para a salvação das almas e o breve triunfo do
Imaculado Coração de Maria!
"Sua entrega à vontade de
Deus foi total" - Decreto da Santa Sé declara as virtudes de Jacinta
A 13 de maio de 1989, um decreto da
Congregação para a Causa dos Santos, assinado pelo Cardeal Angelo Felici, declarou a
heroicidade das virtudes da Serva de Deus Jacinta Martos.
O documento, lembrando as palavras
de Nosso Senhor "Se não fizerdes como um destes pequeninos não entrareis no Reino
dos Céus" (Mt 18,3), afirma que Jacinta "correspondendo sem reservas à graça
divina realizou rapidamente uma grande perfeição na imitação de Cristo e
voluntariamente consumiu sua breve existência pela glória de Deus, cooperando na
salvação das almas mediante fervorosa oração e assídua penitência".
Depois de resumir sua vida, o
decreto declara que "sua entrega à vontade de Deus foi total", o esforço
"para corresponder ao amor e às graças de Deus foi constante", dando provas de
"possuir em alto grau as virtudes teologais e as virtudes da prudência, justiça,
temperança, humildade, sinceridade e modéstia".
Na mesma data, a Santa Sé declarou
as virtudes do Servo de Deus Francisco Marto, irmão de Jacinta.
A morte de Lúcia
Fevereiro 15, 2005
Grito
Desculpem-me mas hoje eu tenho de
fazer este grito: FÁTIMA NÃO È UMA HISTÓRIA DE TANGA!!
Faleceu a irmã Lúcia, e muito se
tem escrito sobre ela e Fátima, e fico abismado de ver tanta gente a tecer as mais duras
críticas dizendo que não passa de invenções de "tretas" que Fátima só foi
inventada para o negócio, ou para efeitos políticos, que Fátima apenas revela a nossa
fraca cultura.
Eu afirmo que Fátima não é uma
história inventada por 3 crianças. Apenas porque não vi não posso acreditar?? Só
acreditas naquilo que vês??
Amigos acredito em Fátima não
estive lá mas o meu bisavô esteve. Tenho relatos escritos pelos filhos dele (Manuel
Vicente Marques) contando o que aconteceu naquela manhã onde o "sol bailou".
Digo-vos o meu bisavô não era mentiroso ! Acredito! Claro que existe agora muito
negócio, que a história do segredo apenas mantinha as pessoas no "suspense",
etc... Mas a mensagem da Nossa Senhora aos pastorinhos é tão simples: Arrependermo-nos
dos nossos pecados, rezar o terço. È só isto, uma mensagem simples para o bem.
Quem são eles?
JACINTA MARTO
Nasceu em Aljustrel, no dia 11 de
Março de 1910. Morreu santamente em 20 de Fevereiro de 1920, no Hospital de D.
Estefânia, em Lisboa, depois de uma longa e dolorosa doença, oferecendo todos os seus
sofrimentos pela conversão dos pecadores, pela paz no mundo e pelo Santo Padre.
Em 12 de Setembro de 1935 foi
solenemente trasladado o seu cadáver do jazigo da família do Barão de Alvaiázere, em
Vila Nova de Ourém, para o cemitério de Fátima, e colocado junto dos restos mortais do
seu irmãozinho Francisco.
No dia 1 de Maio de 1951,
efectuou-se, com a maior simplicidade, a trasladação dos restos mortais de
Jacinta para o novo sepulcro
preparado na Basílica da Cova da Iria, lado poente.
FRANCISCO MARTO
Nasceu em 11 de Junho de 1908, em
Aljustrel. Faleceu santamente no dia 4 de Abril de 1919, na casa de seus pais. Muito
sensível e contemplativo, orientou toda a sua oração e penitência para "consolar
a Nosso Senhor".
Os seus restos mortais ficaram
sepultados no cemitério paroquial até ao dia 13 de Março de 1952, data em que foram
trasladados para a Basílica da Cova da Iria, lado nascente.
LÚCIA DE JESUS
A principal protagonista das
Aparições nasceu em 22 de Março de 1907, em Aljustrel, paróquia de Fátima. Em 17 de
Junho de 1921, ingressou no Asilo de Vilar (Porto), dirigido pelas religiosas de Santa
Doroteia.
Depois foi para Tuy, onde tomou o
hábito, com o nome de Maria Lúcia das Dores. Fez a profissão religiosa de votos
temporários em 3 de Outubro de 1928 e, em 3 de Outubro de 1934, a de votos perpétuos. No
dia 25 de Março de 1948, transferiu-se para Coimbra, onde ingressou no Carmelo de Santa
Teresa, tomando o nome de Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado. No dia 31
de Maio de 1949, fez a sua profissão de votos solenes.
A Irmã Lúcia veio a Fátima
várias vezes: em 22 de Maio de 1946; em 13 de Maio de 1967; em 1981, para dirigir, no
Carmelo, um trabalho pictórico sobre as Aparições; em 13 de Maio de 1982 e 13 de Maio
de 1991. Faleceu Domingo 13 de Fevereiro de 2005.
A portuguesa mais importante do
século, Lúcia foi o exemplo da simplicidade que Nossa Senhora, quis destacar quando se
revelou àquelas crianças, pastoras, pobres e analfabetas, insistindo na vantagem da
oração no século da alienação material e dos massacres.
Porque Fátima é isto:
Simplicidade, Oração, Perdão.
A história:
A 13 de Maio de 1917,
três crianças apascentavam um pequeno rebanho na Cova da Iria, freguesia de Fátima,
concelho de Vila Nova de Ourém, hoje diocese de Leiria-Fátima. Chamavam-se Lúcia de
Jesus, de 10 anos, e Francisco e Jacinta Marto, seus primos, de 9 e 7 anos. Por volta do
meio dia, depois de rezarem o terço, como habitualmente faziam, entretinham-se a
construir uma pequena casa de pedras soltas, no local onde hoje se encontra a Basílica.
De repente, viram uma luz brilhante; julgando ser um relâmpago, decidiram ir-se embora,
mas, logo abaixo, outro clarão iluminou o espaço, e viram em cima de uma pequena
azinheira (onde agora se encontra a Capelinha das Aparições), uma "Senhora mais
brilhante que o sol", de cujas mãos pendia um terço branco.
A Senhora disse aos três
pastorinhos que era necessário rezar muito e convidou-os a voltarem à Cova da Iria
durante mais cinco meses consecutivos, no dia 13 e àquela hora. As crianças assim
fizeram, e nos dias 13 de Junho, Julho, Setembro e Outubro, a Senhora voltou a
aparecer-lhes e a falar-lhes, na Cova da Iria. A 19 de Agosto, a aparição deu-se no
sítio dos Valinhos, a uns 500 metros do lugar de Aljustrel, porque, no dia 13, as
crianças tinham sido levadas pelo Administrador do Concelho, para Vila Nova de Ourém. Na
última aparição, a 13 de Outubro, estando presentes cerca de 70.000 pessoas, a Senhora
disse-lhes que era a "Senhora do Rosário" e que fizessem ali uma capela em Sua
honra. Depois da aparição, todos os presentes observaram o milagre prometido às três
crianças em Julho e Setembro: o sol, assemelhando-se a um disco de prata, podia fitar-se
sem dificuldade e girava sobre si mesmo como uma roda de fogo, parecendo precipitar-se na
terra. Posteriormente, sendo Lúcia religiosa de Santa Doroteia, Nossa Senhora
apareceu-lhe novamente em Espanha (10 de Dezembro de 1925 e 15 de Fevereiro de 1926, no
Convento de Pontevedra, e na noite de 13/14 de Junho de 1929, no Convento de Tuy), pedindo
a devoção dos cinco primeiros sábados (rezar o terço, meditar nos mistérios do
Rosário, confessar-se e receber a Sagrada Comunhão, em reparação dos pecados cometidos
contra o Imaculado Coração de Maria) e a Consagração da Rússia ao mesmo Imaculado
Coração. Este pedido já Nossa Senhora o anunciara em 13 de Julho de 1917, na parte já
revelada do chamado "Segredo de Fátima". Anos mais tarde, a Ir. Lúcia conta
ainda que, entre Abril e Outubro de 1916, tinha aparecido um Anjo aos três videntes, por
três vezes, duas na Loca do Cabeço e outra junto ao poço do quintal da casa de Lúcia,
convidando-os à oração e penitência. Desde 1917, não mais cessaram de ir à Cova da
Iria milhares e milhares de peregrinos de todo o mundo, primeiro nos dias 13 de cada mês,
depois nos meses de férias de Verão e Inverno, e agora cada vez mais nos fins de semana
e no dia-a-dia, num montante anual de quatro milhões.

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro -
Marinha Grande - Portugal
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