Marquês de Pombal

(Sebastião José de Carvalho e Melo)
13 de Maio de 1699


Nasceu a 13 de Maio de 1699, na Quinta de Pombal,
hoje, onde se encontra o  Palácio Galveias, em Lisboa (Portugal)

“Os factos históricos devem ser analisados nas épocas em que ocorreram."
Carlos Leite Ribeiro”

          Sebastião José de Carvalho e Melo, foi o 1º Conde de Oeiras e 1º Marquês de Pombal. Grande estadista português. De 1743 a 1748, recebeu o encargo de tratar em Viena de Áustria, a mediação no conflito entre o Papa e a rainha da Hungria e da Boémia, a imperatriz Maria Teresa. Com a morte do rei D. João 5º e a subida ao trono de D. José, foi nomeado em 1750, para a Secretaria de Negócios Estrangeiros, e, logo se tornou a figura principal do Governo. Durante a sua administração foram tomadas importantes medidas sobre o Brasil. Foi instalada a capitania de Mato Grosso e a criação das capitanias fronteiriças de São José do Rio Negro e Rio Grande de São Pedro, além da capitania do Piauí. A Capital do então Brasil colónia, mudou-se de Salvador para o Rio de Janeiro. Estabeleceu numerosas comarcas e vilas, ao mesmo tempo que punha em funcionamento juntas de justiça nas capitanias. No Rio de Janeiro e em Salvador foram fundadas academias literárias: a dos Selectos em 1752; a dos Renascidos em 1759; e a Científica em 1772. Entre as leis que estabeleceu, duas tiveram implicações sociais no Brasil: a que suprimiu a antiga distinção entre cristãos-velhos e cristãos-novos, e a que favoreceu casamentos entre europeus e indígenas. No sector económico, criou duas novas companhias gerais de comércio: a do Grão-Pará e Maranhão e a de Pernambuco e Paraíba. Tentou resolver os problemas das minas do Brasil e, quanto aos diamantes, suprimiu o regime de contratos, e instaurou a Real Extracção, em 1771. Proclamando a liberdade dos indígenas brasileiros, em 1755, abriu grave polémica com os jesuítas e colonos leigos. Que há muito disputavam o direito exclusivo sobre os índios. Depois de inúmeros incidentes que a medida provocou, os jesuítas foram proibidos de comercializar. Pregar e confessar. Realizou o inventário dos bens da Companhia, acto precursor do seu sequestro e expulsão de Portugal, e domínios coloniais portugueses, em 1759. No Brasil, a ordem foi cumprida no ano seguinte, partindo mais de seiscentos padres, do Pará, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro. Os seus colégios foram substituídos pelas Aulas Régias, e a administração dos aldeamentos indígenas passou a ser regida pelo Directório dos Índios.
          A rainha D. Maria 1ª, que assumiu o trono após a morte de D. José, decretou a amnistia para numerosos presos políticos, abalou muito o prestígio do Marquês de Pombal, que nesse mesmo ano, solicitou a exoneração de todos os cargos que ocupava. Acusado por um antigo inimigo de se aproveitar das posições oficiais em proveito próprio, redigiu em 1779 "Contrariedade ao libero oferecido por Galhardo Mendana", obra considerada como apologia da sua carreira política. Em 1781, já bastante velho, cansado e doente, foi declaro "réu e merecedor de exemplar castigo". Pediu então perdão ao trono, que resolveu aplicar a pena de desterro, para vinte léguas da Corte. Morreu no ano seguinte em Pombal (distrito de Leiria).
           
          Sebastião José de Carvalho e Melo nasceu em Lisboa, em 1699. Apesar de pertencer a uma família nobre, os seus pais não tinham muito dinheiro. Mesmo assim, estudou na Universidade de Coimbra. Entre 1738 e 1749, representou Portugal em Londres (Inglaterra) e em Viena (Áustria) em missões diplomáticas. Quando D. José subiu ao trono, depois da morte de D. João V, Sebastião José de Carvalho e Melo foi chamado de volta à corte de Lisboa para ser ministro deste rei. Foi o rei D. José que lhe deu os dois títulos que teve. Primeiro, ganhou o título de Conde de Oeiras, em 1759, e, depois, o de Marquês de Pombal, em 1769. Durante o seu trabalho como ministro, o Marquês de Pombal fez muitas reformas, que agradaram a alguns, mas na altura desagradaram a muitos. Por exemplo, foi ele o principal responsável pela expulsão dos Jesuítas (membros de uma ordem religiosa católica), através do encerramento de vários colégios que eles tinham. O Marquês de Pombal defendia o absolutismo, que é a ideia de que todos os poderes devem estar nas mãos do rei. Foi por isso que tomou uma série de medidas para lhe dar mais poder e retirá-lo a classes sociais como o clero. Com esse objectivo, protegeu o comércio português, criou companhias monopolistas, reformou a Universidade de Coimbra e reorganizou o exército. Tudo isto para dar mais poder ao rei, mas era o Marquês que tinha tudo nas mãos! Além das reformas que fez, o Marquês de Pombal tornou-se uma figura muito importante na História de Portugal por causa do terramoto de Lisboa, que aconteceu em 1755. Depois do terramoto, o Marquês ficou responsável pela reconstrução da cidade. Foi ele que reconstruiu a baixa lisboeta com todas aquelas ruas paralelas e perpendiculares. Também mandou alterar o modo de construção das casas, para prevenir mais terramotos. É por isso que a baixa lisboeta é conhecida como "baixa pombalina". O problema é que a maioria das pessoas (sobretudo nas classes altas, os nobres e o clero) não gostava das reformas que o Marquês estava a fazer, porque lhes retirava privilégios e os impedia de fazerem o que queriam... Quando o rei D. José morreu e a rainha D. Maria I subiu ao trono, em 1777, o Marquês foi afastado do seu trabalho na corte.
          Em 1779, depois de uma queixa contra ele feita por um comerciante muito importante, o Marquês de Pombal foi condenado ao desterro! Como já era muito idoso, não o obrigaram a ir para o estrangeiro.
          O Marquês foi, então, para Pombal, onde viveu até ao dia da sua morte, em 8 de Maio de 1782.
           
          Em 1723, Sebastião José de Carvalho e Melo casa com D. Teresa de Noronha e Bourbon Mendonça e Almada, em circunstâncias pouco convencionais: rapta a noiva uma vez que ele não era aceite pela família desta, extremamente poderosa, que o considerava «um mau partido». Este casamento permitiu a integração de Sebastião José no grupo representante da alta fidalguia. Não houve descendência neste primeiro casamento.
          Em 1745, Viena de Áustria, 13 de Dezembro. Contrato Nupcial. Segundo casamento de Sebastião José de Carvalho e Melo. Após a morte de D. Teresa, Sebastião José casa com a Condessa Maria Leonor Ernestina Daun, resultando desta união cinco filhos. A Condessa era sobrinha do Marechal Heinrich Richard, conde de Daun, figura de destaque na Guerra de Áustria. O casamento recebeu a benção da Imperatriz Maria Teresa assim como da Rainha Maria Ana de Áustria, mulher de D. João V. Esta magnífica aliança assegurou a Pombal o lugar de Secretário de Estado do Governo de Lisboa.
           
          Cronologia da vida política do Marquês de Pombal, após a morte de D. João 5º
          1750
          Morte de D. João 5º.
          Inicia o reinado de D. José 1º.
          D. José I nomeia Sebastião José de Carvalho e Melo como Secretário dos Negócios Estrangeiros. Filipe Correia da Silva torna-se no oficial-maior da Secretaria dos Negócios Estrangeiros.
          13 de Janeiro. Decreto da execução do Tratado dos Limites da América, celebrado com a Espanha, em Madrid (comummente designado por Tratado de Madrid).
          17 de Janeiro. Assinalam-se os anexos ao Tratado de Madrid, permitindo o início do trabalho das partidas do sul, onde os problemas da execução eram mais complexos. Sebastião José, a 21 de Dezembro do mesmo ano, fornece instruções a Freire de Andrade sobre a demarcação das fronteiras meridionais do Brasil, com as possessões espanholas.
          Gomes Freire Andrade é nomeado governador do Rio de Janeiro e Francisco Xavier de Mendonça Furtado governador e capitão-geral de Grão-Pará e Maranhão acrescentando-se sobre si responsabilidade de todo o território do norte brasílico e baía do Amazonas.
          Sebastião José remodela o seu palácio em Oeiras ao regressar de Viena para Portugal.
          Dezembro. Primeiros indícios da Crise da Mineração do Brasil. Longa discussão da Coroa sobre a melhor forma de tributar o ouro.
          Os oratorianos instalam-se no Real Hospício de Nossa Senhora das Necessidades em Lisboa.
          1751
          1 de Abril. Regimento Casas de Inspecção que pretende proteger os devedores sertanejos dos credores externos.
          Alvará que reduz os direitos do tabaco.
          Pragmática que proíbe a importação de tecidos, carruagens ou móveis do estrangeiro, salvo se transportados em navios portugueses.
          Os ourives foram expulsos do Rio de Janeiro para evitar as fraudes que decorriam, até então, em grande número.
          Mendonça Furtado é enviado ao Brasil para avaliar a riqueza atribuída aos jesuítas (bens móveis, ligados ao comércio externo em grande medida, e imóveis).
          1752
          Cria-se a Capitania Geral de Moçambique.
          É instalado no Rio de Janeiro o Primeiro Tribunal da Relação.
          1753
          Feliciano Velho Oldemberg funda a Companhia da Ásia Portuguesa.
          Restabelecimento da Capitania de Bissau.
          31 de Dezembro. Morre Alexandre de Gusmão.
          1754
          19 de Fevereiro. Nomeação do Monsenhor Filipe Acciaiuoli, Arcebispo de Patrasso, para Núncio Apostólico de Portugal. Em Março do mesmo ano, D. José I exige que seja concedido o barrete cardinalício ao Núncio Lucas Melchior Tempi.
          Primeira tentativa de pacificação dos índios guaranis, que resulta fracassada.
          1755
          7 de Junho. Decreto Régio que visava a criação de directorias em substituição do ensino jesuíta. Reforma de Mendonça Furtado.
          Pelas 9:45h de 1 de Novembro. Terramoto extremamente forte com o epicentro em Lisboa e repercussões por todo o país, que está na origem do plano de reconstrução urbanística desta cidade por Sebastião José de Carvalho e Melo. O Ministro informa oficialmente, a 18 de Novembro, os representantes diplomáticos no estrangeiro da tragédia do Terramoto. Os engenheiros e avaliadores militares são dirigidos por Manuel da Maia.
          Criação da Junta de Comércio, em substituição da Mesa do Bem Comum e dos Comerciantes, criada em 1720. Esta Junta era composta por homens de negócios, obtendo a promulgação dos seus estatutos em Dezembro 1756.
          Reconstrução da Ribeira das Naus.
          Fundação da Companhia do Grão Pará e Maranhão (Brasil).
          Criação da Casa do Risco de Lisboa que visa substituir a Aula do Paço da Ribeira.
          Criação da Capitania de São José do Rio Negro (Brasil).
          Após o início da reconstrução urbana, Sebastião José vê ampliados os seus poderes pelo monarca.
          1756
          Janeiro. Conflitos no sul do Brasil, com as populações indígenas estabelecidas no território de demarcação de fronteira entre Portugal e Espanha. Invasão do território das Sete Missões por uma força militar conjunta de três mil e setecentos soldados, portugueses e espanhóis.
          31 de Agosto. Sebastião José de Carvalho e Melo deixa a Secretaria dos Negócios Estrangeiros e da Guerra para ocupar a do Reino, mais abrangente.
          Estabelecimento de uma Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro.
          1757
          23 de Fevereiro. Motim no Porto que contesta a Criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro. Desordeiros cercaram a casa de Bernardo Duarte de Figueiredo, Juiz Conservador da Companhia.
          Abril a Outubro. Decorrência do processo da Companhia do Alto Douro, sendo julgadas ao todo 478 pessoas, dos quais apenas 36 foram absolvidos. A grande maioria foi punida pelo crime de lesa-majestade.
          Foi retirado o papel de confessores aos jesuítas, tendo estes sido substituídos nessa tarefa por padres da confiança de Pombal (alguns oratorianos).
          1758
          Setembro. Atentado a D. José I, quando este regressava numa carruagem ao Palácio. Muitas pessoas foram presas, entre elas alguns membros da alta aristocracia, como os membros da família Távora: Duque de Aveiro e Conde de Atouguia; bem como alguns jesuítas, acusados de cumplicidade.
          9 de Dezembro. Comissão de Inquérito sobre o atentado. O rei garante que o juiz deveria cumprir a lei, passando ao lado das protecções mínimas do Código Penal.
          1759
          12 de Janeiro. Os presos foram sentenciados e condenados aos crimes de lesa-majestade, traição, rebelião, contra o rei e contra o Estado. Execução do Duque de Aveiro e dos marqueses de Távora, implicados no atentado contra o rei.
          Confisco dos bens do duque de Aveiro, dos marqueses de Távora e da Companhia de Jesus.
          Abril. Criação da Aula do Comércio, pela Junta do Comércio. A escola deveria ensinar contabilidade segundo o modelo inglês.
          20 de Abril. Gomes Freire de Andrade regressa ao Rio de Janeiro, como comissário das demarcações no sul do Brasil.
          6 de Junho. Sebastião José recebe o título de Conde de Oeiras, como forma de compensação, por parte de D. José I, pela sua grande intervenção contra os que participaram no atentado do próprio monarca.
          21 de Julho. Expulsão dos Jesuítas do Brasil.
          3 de Setembro. Carta de Lei para a proscrição, desnaturalização e expulsão dos jesuítas dos seus domínios. Essa carta foi seguida de audiências a 11 de Setembro, 19 de Novembro, tendo por objectivo resolver a questão jesuíta, reforçadas por Sebastião José de Carvalho e Melo.
          Extinção da Universidade de Évora.
          Início das Reformas Pombalinas do Ensino.
          Criação da Companhia de Pernambuco e Paraíba.
          1760
          Criação do Erário Régio.
          Sebastião José apoia os mercadores portugueses na luta que os opunha aos intermediários e contrabandistas, que tinham contribuído para a desorganização do comércio regular e do sistema de crédito.
          Pombal cria o cargo de Intendente Geral da Polícia. Esta medida que contribui para o primeiro combate contra o banditismo.
          São novamente suspensas as relações com a Santa Sé.
          Setembro. Como Portugal não conseguiu entregar a Colónia do Sacramento a Espanha, o Rei Carlos III vê-se obrigado a rescindir o contrato.
          Dezembro. Novos Estatutos da Universidade de Coimbra.
          1761
          12 de Fevereiro. Tratado Pardo, estabelecido entre D. José I e Carlos III de Espanha, que tem por objectivo a anulação do Tratado de Madrid de 13 de Janeiro de 1750. A anulação do Tratado de Madrid permite às Sete Missões continuarem sob a protecção dos jesuítas da província do Paraguai.
          Limitação dos Privilégios Corporativos.
          Abolição da escravatura dentro da metrópole, mantendo-se, contudo, nas colónias. Passam, portanto, a ser «libertos e forros» os escravos que entrarem em Portugal.
          Execução do Pe. Malagrida em auto-de-fé.
          Fundação do Real Colégio dos Nobres.
          Racionalização do Erário Régio - Medidas de centralização.
          1762
          Crise na economia e nas finanças públicas.
          16 de Março. Os ministros plenipotenciários de Espanha e França tentam persuadir Portugal a intervir na luta do Pacto de Família estabelecido entre estes dois países contra a Grã-Bretanha. A intenção portuguesa de manter neutralidade no conflito a 20 de Março provoca a ruptura.
          27 de Abril. Os Embaixadores de Espanha e França retiram-se de Lisboa, despertando o corte das relações de Portugal com aqueles países.
          Criação da Real Escola Náutica do Porto.
          3 de Novembro. Relações reatadas com França e Espanha através do Tratado de Fontainebleau, que tenta compreender a posição portuguesa frente à Grã-Bretanha. O armistício luso-espanhol é assinado a 30 de Novembro desse ano.
          1763
          Celebração do Tratado de Paz Luso-Espanhol.
          A necessidade de reforçar o poder português na costa brasileira, em especial na zona central da baía de Guanabara, alvo de corso e pirataria, espanhola, inglesa, francesa, e para fortalecimento da vila de S. Sebastião, o Governo Geral do Brasil deslocou-se da Bahia para o Rio de Janeiro.
          1764
          Criação do Terreiro Público para abastecimento da População.
          Investe-se e fomenta-se o desenvolvimento industrial.
          1765
          Reorganização do poder militar no Rio de Janeiro, por um grupo de oficiais oriundos da Áustria, dirigidos pelo Conde de Lippe. D. António Luís da Cunha torna-se governador da Bahia.
          1766
          Criação de Fábricas de Cordoaria.
          Instalação da Alfândega e da Ribeira das Naus em Luanda.
          Reaproximação de Lisboa e Madrid. Aliança das monarquias católicas contra a Companhia de Jesus.
          1767
          Início da exportação de algodão do Brasil para Inglaterra.
          1768
          10 de Fevereiro. Portugal acede ao tratado celebrado nesta data entre a França, Espanha e Inglaterra, renovando e confirmando os tratados de Vestefália (1648); Baden (1714) e Viena (1738).
          Formação da Imprensa Régia.
          Decreto-régio contra o puritanismo - anulação da exclusividade de direitos de uma aristocracia hereditária, passando a atribuir-se cargos aos homens de negócios, onde é valorizado o conhecimento e mérito.
          Criação da Aula Oficial de Gravura Artística, que perdura até ao ano de 1787.
          Instituição da Real Mesa Censória.
          A Inquisição adquire uma nova tipologia, com uma série de poderes diferentes.
          1769
          Foi outorgado a Sebastião José o título de Marquês de Pombal, quando este já tinha 71 anos de idade.
          Pombal publica a Lei da Boa Razão, para que de futuro todas as leis fossem fundamentadas numa razão justa, senão tornar-se-iam inválidas.
          Lei sobre o Morgadio.
          Abandono de Azamor e Mazagão, praças do norte de África.
          O Marquês do Lavradio torna-se vice-rei do Brasil.
          1770
          O comércio é declarado «profissão nobre, necessária e proveitosa»
          Machado de Castro inicia a execução a estátua equestre de D. José I.
          São reatadas as relações com a Santa Sé.
          Obtenção do monopólio lucrativo do sal para o Brasil, bem como os direitos do tabaco e uma taxa de importação do azeite.
          Esgotamento económico das bases militares. O fracasso da Junta das Minas.
          1771
          O ensino passa a depender da Real Mesa Censória.
          O Director dos estudos, Luís António Verney, foi substituído pela Real Mesa Censória e o sistema estatal foi alargado de forma a incorporar escolas que ensinassem a ler, escrever e contar.
          Organização administrativa da Junta da Fazenda e de Minas Gerais.
          1772
          Reforma da Universidade.
          Promulgação de uma lei relativa à organização do ensino primário em Portugal, tendo em conta a ligação das escolas aos professores, criando-se novas bases financeiras, mediante o pagamento do subsídio literário.
          Novembro. Frei Manuel do Cenáculo Vilas Boas foi nomeado Presidente da Junta do Subsídio Literário. Principal figura na reforma do ensino.
          Reforma da Inquisição. Deixando de se ocupar do Tribunal do Santo Ofício, a Inquisição passou a ser responsável pelos restantes tribunais.
          Fundação da Imprensa Régia.
          1773
          21 de Julho. Breve de Clemente XIV «Dominus Ac Redeptor Noster», extinguindo a Companhia de Jesus.
          Pombal cria a Companhia Geral das Reais Pescarias do Reino do Algarve.
          25 de Maio. Abolição do termo de distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos.
          1774
          Decreto de Pombal sobre a aceitação da naturalização dos habitantes nascidos na Índia portuguesa com os mesmos direitos dos naturais de Portugal.
          15 de Dezembro. Lei de D. José sobre o fim das denominações de cristãos-novos e cristãos-velhos.
          1775
          Edificação de uma Fábrica de Estampagem de Tecidos.
          Inauguração da Estátua Equestre de D. José I.
          1776
          24 de Janeiro. Instruções para Luís Pinto de Sousa Coutinho, enviado especial, Ministro Plenipotenciário em Londres, dadas por Marquês de Pombal, requerendo as mediações britânica e francesa para a resolução do diferendo luso-espanhol no sul do Brasil.
          Julho. Os portos portugueses são fechados à navegação americana, cumprindo deste modo Pombal, mais uma vez, o pacto de aliança luso-britânico.
          1777
          Morte de D. José I.
          Início do reinado de D. Maria I, a primeira mulher a subir ao trono de Portugal.
          4 de Março. Demissão de Marquês de Pombal por decreto-régio.
          1 de Outubro. Tratado de Santo Ildefonso entre D. Maria I e Carlos III de Espanha, onde se realiza a permuta da ilha de Sta. Catarina pela Colónia do Sacramento.
          1778
          11 de Março. Tratado Pardo. Tratado de Aliança, neutralidade e comércio entre D. Maria I e Carlos III de Espanha, que põe termo à guerra na América meridional, cedendo as Ilhas de Fernão Pó e Ano Bom.
          Supressão da Companhia do Grão-Pará e Maranhão.
          1779
          Queixas inúmeras contra Pombal levam à elaboração de uma acção judicial, onde o Marquês é acusado de abuso de poder; corrupção e fraudes várias. O interrogatório termina no ano seguinte.
          Fundação da Academia Real das Ciências.
          Criação da Academia Real da Marinha.
          Construção da Basílica da Estrela.
          1780
          Extinção da Companhia Geral de Pernambuco como companhia monopolista.
          Fundação da Casa Pia de Lisboa.
          O intendente de polícia Pina Manique inicia a iluminação pública de Lisboa.
          1781
          Julgamento e condenação de Marquês de Pombal ao desterro, pelo menos a vinte léguas da Corte. Pombal é considerado culpado, ainda que o seu estado de saúde e avançada idade não permitam a aplicação de pena alguma.
          Último auto-de-fé realizado em Coimbra: dezassete pessoas queimadas.
          Último auto-de-fé de Évora: oito pessoas queimadas.
          1782
          Morte do Marquês de Pombal.
           
          Sebastião José de Carvalho e Melo nasceu a 13 de Maio de 1699, estudou em Coimbra, primeiramente direito, depois história.
          Entre 1738 e 1749, fez carreira e actuou em missões diplomáticas, primeiro em Londres, depois em Viena, foi embaixador de Dom João V nas cortes inglesa e austríaca, embora sem significativo sucesso para Portugal, estas missões foram importantes para a formação política e económica de Sebastião José de Carvalho e Melo, Em 1750, com a subida ao trono de Dona José, foi nomeado secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, e a sua grande capacidade de trabalho e de chefia revelou-se na forma como encarou o trágico terramoto de 1755 que destrui a cidade de Lisboa, com isto Pombal teve a oportunidade de reconstruir a cidade com feições mais modernas e racionais tirando-lhe a feição medieval, e a partir do momento que se tornou o homem de confiança de Dom José I, passou a implantar uma série de reformas na administração, nas finanças e no sistema militar com o fim de modernizar Portugal e suas colónias. Seu projecto de restaurar a economia portuguesa, provocadas sobretudo pela interrupção na exploração do ouro brasileiro, diminuiu a influência externa, particularmente da Inglaterra quando adoptou uma política de monopólios mais estreitos de comércio com a colónia, pois a metrópole até então servia apenas de entreposto dos produtos coloniais para o resto da Europa, reformou o ensino, anteriormente nas mãos dos Jesuítas, através de novos métodos pedagógicos e da criação de novas escolas como o Real Colégio dos Nobres, também empenhou-se fortemente no reforço do poder régio, diminuindo o poder de algumas casas nobres, afastando todos os que se colocavam contra suas reformas, Pombal foi um dos representantes do despotismo esclarecido que justificava o poder absoluto do monarca, não pelo direito divino, mas pelo princípio da racionalidade quando nenhuma contestação à autoridade do rei era tolerada, daí a expulsão da Companhia de Jesus de Portugal e seus domínios com o sequestro dos seus bens em 13 de Janeiro de 1759, porque a sua influência na sociedade portuguesa e as suas ligações internacionais eram um entrave ao fortalecimento do poder régio, e um outro fato que também contribuiu para esta campanha de Pombal contra os jesuítas, foi a acusação de terem participado do atentado ao rei Dom José I em 1758, e com os jesuítas expulsos, seus colégios fechados e substituídos pelas "aulas régias", as missões passam a ser administradas por civis através do Directório dos Índios, a ideia de Pombal era laicizar o ensino, mas a solução tornou-se mais negativa que positiva, pois a expulsão da Companhia de Jesus trouxe enormes prejuízos, tanto para os aldeamentos, como para a educação e ensino na colónia, feito até então pela Igreja, e no ano de 1759, recebeu o título de conde de Oeiras e o de marquês de Pombal. Com Pombal também, iniciou-se a primeira abertura de Portugal à cultura europeia, recebendo influência tanto do Iluminismo, como das letras e filosofia, quando criou o grupo dos "estrangeirados", ou seja daqueles que se identificavam e estavam em sintonia como a nova mentalidade moderna europeia.
          Em relação ao Brasil, Pombal reforçou os laços mercantilistas com a colónia quando criou a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão em 1755, dando a esta direitos exclusivos de navegação, tráfico de escravos e compra e venda das drogas do sertão e da mesma forma, transferiu a capital de São Luís para Belém, ponto estratégico para o comércio da região amazónica e no ano de 1763, transfere a capital da colónia de Salvador para o Rio de Janeiro, tornando-se assim mais próxima dos centros mineradores e mais dinâmicos da economia colonial e também por motivos militares ocasionados pelos conflitos com os espanhóis na colónia de Sacramento e em Sete Povos das Missões.
          Com a morte de Dom José I em 1777, e a ascensão de Dona Maria I, e devido aos vários abusos do poder que cometeu, o que lhe valeu a antipatia e a criação de inúmeros inimigos, à oposição ao marquês tornou-se muito activa com isto Pombal pede demissão e Dona Maria I mandou realizar uma sindicância aos seus actos, e a nova administração abre um processo contra ele e em 1780 é considerado culpado, e a rainha anula a política pombalina, e isso valeu-lhe o apelido de "a Viradeira". E devido à sua idade avançada, 80 anos, foi apenas condenado a viver afastado de Lisboa por isto foi se exilar em Pombal, onde faleceu em 8 de maio de 1782 no seu palácio do Pombal.
           
          Sebastião José Carvalho e Melo, foi baptizado em Lisboa, a 6 de Junho do mesmo ano na freguesia das Mercês, então instalada na capela da mesma invocação existente na rua Formosa, a qual pertencia a sua família; faleceu em Pombal a 8 de Maio de 1782. Era filho do capitão de cavalaria e fidalgo da Casa Real, Manuel de Carvalho e Ataíde (V. Portugal, vol. I, pág. 846), e de sua mulher D. Teresa Luísa de Mendonça e Melo, filha de João de Almeida e Melo, senhor dos morgados dos Olivais e de Souto do Rei.
          Frequentou na Universidade de Coimbra o primeiro ano jurídico, mas dotado dum génio versátil e dum insaciável desejo de dominar e de não ser dominado, abandonou estudos, resolvendo-se a seguir a carreira das armas, por julgar ser essa a sua vocação, e foi assentar praça de cadete. Vendo, porém, que no serviço militar a obediência era mais exigida que em Coimbra, pediu a demissão, e entregou-se à vida ociosa, dedicando -se contudo ao estudo da história, da política e da legislação. Alguns biógrafos dizem que estas informações não se baseiam em factos irrecusáveis, mas o que não oferece dúvida é que Sebastião de Carvalho, na sua mocidade figurou no grupo dos capotes brancos um daqueles bandos de fidalgos aventureiros que perturbavam com as suas orgias a tranquilidade da capital. Enérgico, decidido, brioso, de figura simpática, era bem visto pelas damas, e por ele se apaixonou uma sobrinha do conde dos Arcos, D. Teresa de Noronha e Bourbon, dama da rainha D. Maria Ana de Áustria, filha de D. Bernardo de Noronha, e de sua mulher, D. Maria Antónia de Almada. Esta senhora nasceu em 1689, casou a 17 de Julho de 1714 com seu primo António de Mendonça Furtado, de quem enviuvou em Fevereiro de 1718, e casou em segundas núpcias, a 16 de Janeiro de 1723, aos 34 anos, com Sebastião de Carvalho. Os novos esposos foram viver para uma quinta que o futuro conde de Oeiras e marquês de Pombal possuía em Soure, e ali continuou com interesse os seus estudos de história, de política e de legislação. Um seu tio, o arcipreste Paulo de Carvalho, o apresentou ao cardeal Mota, ministro e valido do rei D. João V, e pela influência deste prelado, foi nomeado em 1733 sócio da Academia Real de História Portuguesa, que fora fundada em 1720, tendo pouco depois a incumbência de escrever a história de alguns dos monarcas portugueses, que nunca satisfez.
          Em 1739 foi enviado a Londres como ministro plenipotenciário, e ali prestou relevantes serviços, mostrando grande energia e não vulgar inteligência, arrancando sobretudo ao ministério do duque de Newcastle muitas das isenções para os negociantes portugueses em Londres, que tinham em Lisboa os negociantes ingleses, e o reconhecimento do direito que tinham as autoridades portuguesas de punir os excessos praticados pelos capitães de navios ingleses em terras e costas de Portugal. Sebastião de Carvalho sofreu em Inglaterra o grande desgosto da morte de sua mulher, que faleceu em 27 de Março desse ano, legando-lhe todos os bens da sua grande casa. Durante o tempo que esteve em Londres, apesar das instituições inglesas lhe não terem causado grande influência, o que não pensou em implantarem Portugal, no entretanto, naquele grande centro civilizador entregou-se ao estudo de todas as graves questões administrativas. O rei D. João V ordenou-lhe, que reunisse em Inglaterra uma colecção de bíblias hebraicas, e de tudo quanto pertencesse a seus ritos, leis, costumes e policia, em qualquer das línguas vivas. Aquela preciosa colecção chegou a Lisboa no ano de 1743, e foi para a biblioteca do palácio real. 0 modo hábil como Sebastião de Carvalho dirigiu em Londres as negociações de que fora encarregado, chamou para ele a atenção do governo português, e, quando rebentou entre as cortes de Viena de Áustria e de Roma uma discórdia relativa aos direitos de nominal da cúria, tendo sido o governo português eleito para medianeiro, foi Sebastião José de Carvalho nomeado para dirigir as negociações da corte de Viena, para onde se dirigiu em 1715. Foi bastante feliz nesta nova ocupação, e conseguiu sanar a discórdia e lançar as bases do tratado entre as duas coroas, assim como depois conseguiu apaziguar novas dissensões entre o imperador Francisco I e o papa Bento XIV, por este não querer confirmar na pessoa do arcebispo eleitor de Mogúncia uma multidão de benefícios, que o imperador lhe concedia. Em Viena enamorou-se duma senhora da corte, D. Leonor Ernestina Eva Wolfanga Josefa, condessa de Daun, filha de Henrique Ricardo Lourenço, Feld-marechal general, conde de Daun do Sacro Romano Império, e de sua mulher, D. Violante Josefa, condessa de Bromond, em Bayersberg. O conde de Daun foi adversário muitas vezes vitorioso de Frederico o Grande da Prússia. Estas nobres famílias tiveram dúvidas em consentir no casamento, mas mandando-lhe dizer a arquiduquesa rainha de Portugal, D. Maria Ana de Áustria, que Sebastião José de Carvalho era de nobre ascendência, acederam ao casamento, o qual se realizou em 18 de Dezembro de 1745. Pouco tempo se demorou em Viena, porque se não dava bem com o clima, e como o celebre medico Van Swieten, que o tratava, lhe aconselhasse, que voltasse à pátria, Sebastião de Carvalho pediu e obteve a sua demissão, e nos últimos anos do reinado de D. João V regressou a Lisboa.
          Em 31 de Julho de 1750 morreu o monarca, e subindo ao trono seu filho D. José, a rainha viúva, que se tornara muito amiga da mulher de Sebastião de Carvalho, que fora nomeada sua dama de honor, instou com o novo soberano para que nomeasse o antigo embaixador secretario de Estado dos negócios da guerra e estrangeiros. Assim se fez logo no dia 3 de Agosto, sendo ao mesmo tempo nomeado secretario de Estado da marinha o ultramar Diogo de Mendonça Côrte-real, filho do antigo e célebre ministro de D. João V. Com Pedro da Mota, secretário de estado, que o rei D. José encontrou em exercício, ficou o ministério completo. Havia apenas bem poucos dias que estava no poder, quando rebentou o terrível incêndio do hospital de Todos os Santos, a 10 de Agosto do 1750, que serviu logo para manifestar a energia e desembaraço de Sebastião de Carvalho. Não tardou muito que o antigo diplomata adquirisse no conselho do rei urna grande influência, que se quis atribuir a diferentes causas, mas cujo motivo principal estava, segundo as melhores opiniões, na inteligência superior e na vontade enérgica do futuro marquês de Pombal, que facilmente subjugou os seus colegas e adquiriu no ministério a iniciativa e a preponderância. Os homens como ele, podem pelas circunstâncias ser afastados do poder, mas apenas entram nele, assenhoreiam-se da direcção suprema pelo direito da sua energia, da sua actividade e do seu talento. Além disso, nenhum dos outros ministros era capaz de lutar com ele. Diogo de Mendonça era homem tímido, Pedro da Mota estava velho e cansado, Sebastião de Carvalho possuía em alto grau a iniciativa e a audácia. Entrava no ministério com projectos maduramente concebidos e com intenção firme de os executar, quebrando todos os obstáculos. Era um reformador na mais larga acepção da palavra. Tinha decidido levantar o seu país à altura da civilização europeia, não recuando para isso diante de embaraços de espécie alguma. Richelieu era o seu ideal; como ele, desejava consolidar o régio poder com o fim do introduzir alterações profundas no regime do Estado. Tinha em muitas coisas as ideias erróneas do seu tempo, e também preconceitos pessoais, mas possuía ideias administrativas de grande alcance. Conhecia os abusos do regime existente, conhecia os vícios da governação, percebeu que um povo, sob pena de se aniquilar, não podia persistir numa senda oprobriosa, e, não lhe sendo estranho nenhum dos progressos da sua época, vinha decidido a realizá-los à viva força, até sendo preciso, desfazendo as resistências, passando por cima das aposições, rodeando se de terror, e usando largamente do direito repressivo; Carvalho tinha a consciência, o fanatismo da sua missão reparadora. Fosse qual fosse o motivo, é certo que não tardou a exercer no gabinete de que fazia parte, uma influência exclusiva. A primeira medida que tomou, revelou logo a sua índole enérgica, mas também mostrou que o seu génio não poderia contudo rasar horizontes novos em economia política e eximir-se às preocupações erróneas do seu tempo. Considerando como uma grande desgraça para Portugal a dependência em que estava da Inglaterra, e o tributo que lhe pagava todos os anos em somas enormes em trocados artefactos que de lá recebia, entendeu que o modo mais simples de acabar com essa dependência, era proibir debaixo de penas severas a exportação de metais preciosos, querendo assim restabelecer arbitrariamente a balança de comércio, exigindo que os ingleses levassem de Portugal mercadorias correspondentes no preço aquelas que nos enviavam. O grande ministro partilhava as ideias erradas do seu tempo, e supunha, como quase todos os estadistas do século XVIII, que a riqueza de uma nação consistia essencialmente no instrumento circulante que apenas a representa. Desde o momento que a produção agrícola e industrial do país não era suficiente para o seu consumo, a moeda havia de sair forçosamente, fossem quais fossem os meios que Sebastião do Carvalho empregasse para a reter em Portugal. Os metais preciosos são mercadorias como outras quaisquer sujeitas às leis económicas da oferta e da procura. Ainda que Sebastião de Carvalho conseguisse cativá-los em Portugal, não fazia mais do que depreciá-los, fazendo subir de novo a preços enormíssimos os objectos mais necessários à vida. Sucederia isso em Portugal, se o contrabando não viesse restabelecer o equilíbrio que Sebastião de Carvalho destruía. Afinal teve de revogar a medida, substituindo a proibição por um imposto de 3 % que finalmente foi também abolido. Mas enquanto a medida esteve em vigor, serviu para revelar a inquebrantável energia do grande ministro. A Inglaterra mandou de propósito a Lisboa um embaixador, lorde TyrawIey, que protestou contra essa providência. Sebastião de Carvalho manteve-a; uns oficiais da marinha de guerra inglesa que levavam para bordo ouro amoedado foram presos. E entretanto continuava o ministro a pôr em pratica o seu vasto plano de reformas, que tinha em alguns pontos graves defeitos, mas que tinha a vantagem de ser perfeitamente sistemático. A 17 de Janeiro de 1751 reduzia os direitos sobre o tabaco e simplificava a sua cobrança; a 27 desse mês fazia o mesmo ao açúcar. Depois proclamava e tornava efectiva a emancipação dos índios do Brasil, medida verdadeiramente generosa e grande; fundava depois a companhia privilegiada do comércio do Grão-Pará e Maranhão, que levantava resistências e protestos que ele quebrava com a energia selvagem, própria do seu carácter. A Mesa do Bem Comum peticionou contra o decreto que fundava a companhia, os seus membros foram logo punidos com penas severíssimas. Outra medida igualmente pouco acertada foi a concessão do comércio da Índia e da China a Feliciano Velho Oldemberg; mas ao mesmo tempo mantinha a ordem em Lisboa, que no reinado antecedente fora teatro das mais escandalosas brigas, e fortalecia com sensatos regulamentos a disciplina do exército.
          Tratava de fazer a luz nesta caótica administração portuguesa, quando um cataclismo terrível, o terramoto de 1 de Novembro de 1755, veio converter Lisboa num montão de ruínas e dar ensejo a Sebastião de Carvalho para mostrar o seu génio organizador e a sua assombrosa energia. Em presença do terrível desastre, encontrou-se completamente à altura das circunstâncias. Proveu logo à sustentação dos muitos infelizes que tinham ficado reduzidos à miséria pelo terramoto, ao estabelecimento da ordem, não lhe esqueceu enfim uma só das indispensáveis providências. Logo no dia seguinte ao da terrível catástrofe, tratou da reedificação de Lisboa com um plano muito mais vasto e muito mais regular do que o da antiga cidade. A planta da nova construção foi traçada pelo arquitecto Eugénio dos Santos. O ministro mandou demarcar o terreno a cada proprietário, obrigando estes a levantarem as suas casas dentro de certo prazo, sob pena de o perderem. Tiveram também de se sujeitar ao plano do arquitecto, de que resultou a regularidade da cidade baixa. Nas suas ruas agrupou os diferentes mercadores, tomando elas os nomes das profissões diversas que ali se enfileiravam. Prosseguiu com uma rapidez maravilhosa a reconstrução da cidade, o que muito espantou o embaixador da França, que não acreditava em semelhante milagre, e que dissera para a sua corte, que não poderia Carvalho completar a obra que empreendera. Urna das medidas mais proveitosas que o grande ministro adoptou, foi a criação o dum imposto de 4 % sobre todas as mercadorias que entravam na capital, que era um verdadeiro imposto de consumo, e que rendeu somas enormíssimas, tanto que foi com o seu produto que se construíram o arsenal de marinha e os edifícios das secretarias na praça do Comércio; foi ainda com o dinheiro adquirido por este meio, que se demoliram os restos dos edifícios arruinados, e se efectuou a abertura de várias ruas segundo o plano adoptado; além disso, ainda sobejou dinheiro para se construir o arsenal do exército, para se levantar o forte de Lippe em Elvas, que custou uns poucos de milhões, e para se repararem e fortificarem muitas outras praças do reino. O terramoto de 1 de Novembro de 1755 foi a verdadeira origem do grande poder de Sebastião de Carvalho. A sua energia produzira uma impressão profundíssima no rei D. José, que desde então começou a dispensar-lhe uma cega confiança, que a rápida popularidade que adquiriu, ainda mais confirmava, não bastando a contrabalançarem-na os ódios e as invejas da nobreza, que se não ocultavam nem disfarçavam. Ainda nos primeiros meses que se seguiram ao grande cataclismo, continuou em Lisboa a rapina em elevado grau, mas Sebastião de Carvalho mandou levantar forcas bem altas, onde expôs mais de 100 cadáveres, o que parece ter produzido o mais salutar efeito. O rei começou daí por diante a seguir em tudo os ditames do seu ministro. Para lhe obedecer, deu o exemplo de andar vestido de briche nacional; em 1756 fez passar Sebastião de Carvalho para a secretaria do reino, vaga pela morte de Pedro da Mota, e nomeou para ministro da guerra e dos estrangeiros D. Luís da Cunha Manuel, que era completamente criação sua. Descontente não se sabe porque motivo com Diogo de Mendonça Corte-Real, Sebastião de Carvalho mandou-o prender, e deu-lhe por sucessor Tomé Joaquim da Costa Corte-Real que também pouco tempo depois foi desterrado para Leiria. Ao mesmo tempo fundava Sebastião de Carvalho a Aula de Comércio, a companhia para a pesca da baleia nas costas do Brasil, e a companhia para a pesca do atum nas costas do Algarve. Com pleno acerto andaria, observa um dos seus biógrafos, se se limitasse à fundação de companhias privilegiadas que viessem fundar uma indústria nova, mas procedia erradamente quando fundava a companhia privilegiada do comércio de Pernambuco e Paraíba, e a das vinhas do Alto Douro, que vinham explorar indústrias que não precisavam do privilegio para medrar. A companhia de Pernambuco e Paraíba não encontrou grandes resistências porque seguia pelo caminho do Grão­Pará e do Maranhão, mas a companhia do Alto Douro, que vinha ferir mortalmente o livre comércio do Porto, levantou grandes resistências. A 23 de Fevereiro de 1757 houve no Porto contra a companhia um motim de alguma gravidade, mas que Sebastião de Carvalho determinou logo considerar como uma rebelião formal contra a pessoa do rei e os seus fautores como réus do crime de lesa-majestade. Bem sabia ele que a revolta não tivera a importância que lhe quis dar, mas convinha-lhe considerá-la assim, em primeiro lugar para ensinar aos portuenses que não se desatendiam impunemente as suas ordens, em segundo lugar para que todos ficassem bem cientes de que se considerava tão inviolável como a pessoa do rei, de que as suas ordens deviam ser tão respeitadas como se as pronunciasse a própria boca do monarca, e de que ninguém poderia alegar que se não queixava do rei, mas sim do ministro, porque ele estava acobertado com o régio manto de D. José, e dizendo sempre el-rei meu amo significava bem que entendia governar como delegado do poder absoluto e sagrado do soberano. Nomeou logo uma alçada, de que fazia parte o tristemente célebre desembargador José Mascarenhas Pacheco Pereira Coelho de Melo, e que condenou à pena de morte 21 homens e 9 mulheres, e a várias penas menos duras 155 homens e 33 mulheres. A pena de morte executou-se no dia 11 de Outubro em 13 homens e 4 mulheres, porque os outros conseguiram evadir-se. Este facto é de todas as crueldades do marquês de Pombal a que maior nódoa lança na sua memória, porque nunca foi tão desproporcionada a pena ao delito.
          Quebrando assim, pela repressão dos tumultos do Porto, as resistências municipais dirigidas contra a sua enérgica administração, não pensava Sebastião de Carvalho senão em reprimir igualmente o orgulho da nobreza, como depois todo se empregou em despedaçar esse formidável poder organizado debaixo do nome de Companhia de Jesus. Os fidalgos, impacientes com o seu despotismo, rompendo a luta que ele estava ansioso por travar, deram-lhe ensejo de os punir, e essa conspiração, cujo malogro foi a perda da nobreza, também lhe deu depois ensejo para romper as hostilidades contra os jesuítas. A nobreza, que possuía ainda muitos privilégios, mostrava-se profundamente hostil a Sebastião de Carvalho, que não poupava ocasião de os restringir. D. José do Mascarenhas, que herdara a casa e o título dos duques de Aveiro, pretendera que passassem para ele as comendas administradas pelos antigos duques. O rei não lho consentira, por instigação de Sebastião de Carvalho, e daí nascera o ódio fidagal votado ao rei pelo duque de Aveiro. Apesar de todo o mistério que envolve os factos relativos a este processo, parece incontestável que o duque de Aveiro teve a ideia de assassinar o rei, que para isso falou ao seu guarda-roupa Manuel Álvares Ferreira, e que este combinara o crime com seu irmão e com o seu parente José Policarpo de Azevedo. O que é incontestável, porém, é que na noite de 13 de Setembro de 1768, quando o rei recolhia numa carruagem à Ajuda, de uma excursão nocturna e provavelmente amorosa, recebeu uns tiros entre a Quinta do Meio e a de Cima, e que só se salvou de morte infalível por uma série de acasos, que fizeram com que errasse fogo um dos bacamartes e com que o cocheiro e o rei se lembrassem de voltar para trás em vez ele seguir para o paço. O rei teve, contudo, umas poucas de feridas, mas todas sem gravidade. Sebastião de Carvalho, prevenido imediatamente, adivinhou de relance que tinha ali o ensejo favorável para descarregar um grande golpe na nobreza e talvez também nos jesuítas. Concebeu logo o seu plano com um sangue frio extraordinário, deu ordem rigorosa para que se guardasse acerca da ferida do rei o maior segredo, espalhando-se simplesmente que o rei dera uma queda, e depois de fazer todas as investigações necessárias com o maior segredo, prendeu três meses depois, no dia 13 de Dezembro, todos os indiciados no crime, sem lhe escapar senão José Policarpo de Azevedo, e esse unicamente por não ter tido o marquês conhecimento prévio da sua cumplicidade. Os indiciados não foram só o duque de Aveiro e os seus criados, foram também todos os membros da família Távora, contra a qual se não podia alegar a ser a principal entre as famílias nobres descontentes, e a suposição de que o marquês Luís Bernardo, cuja mulher fora notoriamente favorita do rei D. José, estaria por isso gravemente ressentido contra o soberano. O principal crime, porém, ou antes o crime único dos Távoras, era o serem inimigos declarados de Sebastião de Carvalho e ser a sua casa o centro da hostilidade contra o grande ministro. Em todo o caso lá se encontraram no processo indícios que foram reputados suficientes, e além do duque de Aveiro, dos Alornas, Távoras e Atouguias, foram também presas umas poucas de senhoras, a duquesa de Aveiro, as duas marquesas de Távora, a condessa de Atouguia, a marquesa de Alorna e sua filha. Ao mesmo tempo criou-se uma junta ou tribunal de inconfidência, presidido pelos três ministros de estado que deviam julgar os acusados. Foi esta a primeira e enormíssima iniquidade do processo, nomear um tribunal especial, e logo um tribunal assim presidido pelos secretários de estado, que, ainda que não fossem directamente interessados, sempre eram os representantes do rei, e por conseguinte juizes representantes da parte. Esta junta de inconfidência vinha apenas tingir vagamente com uma fórmula vã de justiça, a revoltante arbitrariedade da sentença que se proferia. Correu este lúgubre processo envolto no maior segredo, e o público só conhecia a sequência dele pelas repetidas prisões, que vinham de quando em quando sobressaltar a população. Os fortes das margens do Tejo povoava-os Carvalho com os fidalgos mais conspícuos do reino, sem que nunca se soubesse quais as provas que tinha contra cales e que deviam ser completamente nulas, pois até contra alguns dos que foram executados não podia haver senão muito leves e muito vagas presunções. A respeito dos marqueses de Távora, por exemplo, é certo que não houve no processo senão o depoimento do duque de Aveiro, arrancado por incríveis torturas, ao passo que os criados do duque nem nos tormentos confessaram que os Távoras estivessem implicados na conjuração, ao passo que confessaram a sua culpa e a de seu amo.
          Também contra os jesuítas, é forçoso que se diga, não se pode formular a mais leve suspeita justificada. Pois sem advogados, sem julgamento contraditório, baseando-se nas presunções mais vagas e nos argumentos mais contestáveis, promulgou a Junta da Inconfidência uma sentença em que condenou à pena última, com incríveis requintes de barbaridade, o duque de Aveiro, os marqueses de Távora, a marquesa D. Leonor, José Maria de Távora, o conde de Atouguia, Braz José Romeiro, João Miguel, Manuel Álvares Ferreira e António Álvares Ferreira. Foi no dia 13 de Janeiro de 1759 que se executou a horrorosa sentença. Nesta conspiração tão cruelmente punida, procurara o marquês de Pombal ver por todos os modos se implicava os jesuítas, mas, não conseguindo encontrar provas suficientes, contentara-se com as probabilidades. Desde o princípio do seu governo travara com eles uma luta implacável. Os jesuítas eram a sua grande preocupação, e razão tinha para isso, porque eram um obstáculo invencível a todos os seus projectos de reforma e de regeneração social. Dominavam em toda a parte, reinavam nas consciências pelo confessionário, nos espíritos pela educação, e a educação do povo dirigida por eles era a mais funesta que podia ser, era a imobilidade perpétua, a condenação à eterna futilidade e à eterna insignificância. Em todos os países se sentia esta funesta influência jesuítica, mas em Portugal era mais terrível ainda por causa das colónias, dominadas completamente pelos jesuítas, principalmente as americanas. Logo no princípio do seu governo, Sebastião de Carvalho tivera que lutar com eles. Um tratado entre a Espanha e Portugal cedia ao nosso país o Paraguai que estava completamente dominado pelos jesuítas, e que resistiu ao nosso domínio. Foi necessário empreender contra os paraguaios uma campanha em regra dirigida pelo governador do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, como para os lados do Amazonas for necessário que Francisco Xavier de Mendonça, irmão de Sebastião de Carvalho, tomasse medidas enérgicas para conseguir que se pudesse cumprir o tratado entre as duas nações da península com relação aos limites norte-brasileiros. Irritado sobremaneira com esta resistência, o grande ministro mandou aos governadores-gerais das colónias que procedessem a um inquérito acerca dos costumes e dos actos dos jesuítas. O resultado foi deplorável para aqueles padres. Além de todos os defeitos inerentes ao espírito da regra, havia também já a decadência profunda, e os vícios introduzidos na ordem pela relaxação dos costumes. Ora Sebastião de Carvalho não estava unicamente irritado contra os jesuítas pela resistência que eles faziam às tropas no Paraguai, estava-o principalmente porque não admitia nos seus sonhos de reformador social a existência dessa companhia, que pretendia embaraçar o livre desenvolvimento do espírito humano. A influência dos jesuítas na educação já estava levantando sérias resistências; os oratorianos apresentavam-se como seus émulos, e Luís António Verney, escrevendo o Verdadeiro Método de Estudar lançava a luva aos jesuítas, e era apoiado vivamente nesse princípio de resistência pelo grande ministro português. Em todos os actos hostis ao governo quisera ele ver sempre a mão dos jesuítas: na resistência da Mesa do Bem Comum à fundação da companhia do Grão-Pará e Maranhão, no motim do Porto, e até no terramoto de Lisboa achara meio de se queixar deles. Era uma hostilidade surda e implacável a que o grande ministro lhes votara. Forte com os relatórios dos governadores que mostravam a profunda corrupção da Companhia, Sebastião de Carvalho obteve em Roma que um visitador fosse encarregado de proceder a um inquérito e de reformar os abusos. Bento XIV nomeou para visitador o cardeal patriarca de Lisboa. Sebastião de Carvalho aproveitou logo o ensejo para conseguir que fossem suspensos do exercício da confissão e da pregação em todas as dioceses portuguesas, e ao mesmo tempo expulsou do Paço os confessores jesuítas que ali havia. A ordem ameaçada assim por tão poderoso inimigo reagiu energicamente, e dirigiu se ao novo papa Clemente XIII protestando contra o procedimento do cardeal visitador. Mas Sebastião de Carvalho, prosseguindo implacável no seu plano, e baseando-se unicamente nos motivos de queixa contra o rei que podiam ter os jesuítas por causa da expulsão dos confessores e na reconciliação que pouco antes do negócio dos tiros se realizara entre os jesuítas e o duque de Aveiro que estavam em relações bastante frias, prendeu uns poucos de jesuítas, teve os colégios e casas da ordem cercadas de tropas e sequestrou-lhes os bens. Ao mesmo tempo pediu ao papa licença para mandar processar os jesuítas acusados de cúmplices do atentado contra o rei. Depois de muitas dificuldades concedeu o papa a licença pedida, mas rogou ao mesmo tempo ao rei de Portugal que não expulsasse os jesuítas dos seus domínios, pedido que não impediu que eles fossem expulsos de Portugal por decreto de 3 de Setembro de 1759, mandando-se logo para Itália pelo brigue S. Nicolau um carrego de jesuítas. Daí resultaram pendências com a corte de Roma, o núncio mostrou-se frio e até insolente, e Sebastião de Carvalho não teve a mais leve hesitação em o mandar sair de Portugal, ao mesmo tempo que saia de Roma o nosso hábil ministro, primo de Sebastião de Carvalho por afinidade, chamado Francisco de Almada. A causa única deste procedimento do conde de Oeiras, título com que fora agraciado por decreto de 15 de Julho de 1759, era a guerra de morte que ele declarara aos jesuítas, e não se imagine, como alguns historiadores modernos querem fazer supor, que o único motivo que o impelia era uma paixão mesquinha e o ódio que tinha aos jesuítas. Não, o conde de Oeiras obedecia às mais altas considerações que lhe ditava a sua inteligência superior. Na convicção profunda que tinha de que fora a influência jesuítica, e um espírito de fanatismo e a subserviência dos governos às vontades de Roma que tinham levado Portugal a um estado de grande decadência, entendeu que não havia reformas possíveis enquanto o beatério predominasse no país, enquanto considerações devotas viessem constantemente meter-se em todas as questões políticas. Esta convicção germinando no seu espírito, adquiriu todos os caracteres de uma paixão violenta. Não recuou diante das medidas mais rigorosas, diante das iniquidades até para conseguir o seu fim; mas só desse modo pôde sacudir o torpor que tolhia o desenvolvimento do país, porque todas as suas reformas seriam inúteis, se não conseguisse fazer sair o país do letargo em que o sepultava o fanatismo religioso. Acerca da saída do núncio, cardeal Acciaioli, que foi acompanhado até à fronteira de Espanha por 30 dragões, deve ler-se a Historia do reinado de D. José, por Simão José da Luz Soriano, vol. 1, pág. 431 a 445. A este grande ministro se deve a manutenção austera das prerrogativas do poder temporal contra as invasões da cúria, a ele se deve também a extinção desse poder formidável, que pesava sobre as gerações, que comprimia os espíritos, que entorpecia em Portugal todo o pensamento civilizador. O que se torna notável é que os enciclopedistas, em vez de aplaudirem as medidas desse grande estadista, as censuravam e combatiam. É porque o conde de Oeiras tinha grande desdém pelos escritores. A forma mesmo como ele promulgava as suas medidas imortais, era antiga, e tinha como que um cheiro reaccionário. Assim, efectivamente, a condenação do Padre Malagrida pela Inquisição e o seu suplício num auto-de-fé, são realmente actos pouco dignos de um homem como era o ministro do rei D. José. Não queria ele, porém, dar força à Inquisição nem restaurar os autos-de-fé. Esse foi o único que se realizou no seu tempo, e o regulamento que impôs a esse tribunal terrível, anulava-o completamente. Pouco tempo depois da morte do Padre Malagrida, um acto de iniciativa numa questão de censura de livros, que o inquisidor-mor entendeu dever tomar, fiando-se na sua qualidade de irmão bastardo do rei, rendeu-lhe o ser preso e desterrado juntamente com seu irmão, outro menino de Palhavã, para as matas do Buçaco. Este acto de audácia subjugou para sempre a nobreza, e a criação da intendência de polícia ainda mais contribuiu para a domar. Entretanto continuava o conde de Oeiras a instar pela extinção da ordem dos jesuítas. A França, a Espanha e Nápoles, tinham seguido o exemplo de Portugal, expulsando também os jesuítas. O mesmo fez a corte de Parma; com essa, porém, entendeu Clemente XIII que podia atrever-se, e reagiu contra a sua medida, mas todas as outras cortes tomaram o seu partido, e Clemente XIII morreu aterrado pela atitude que estava tomando para com ele a Europa católica. Subindo ao sólio pontifício Clemente XIV, voltaram Portugal e as cortes bourbónicas a insistir com o papa para a extinção da Companhia de Jesus, e em 1773 conseguiram finalmente, depois de grandes esforços em que tivera sempre a maior parte o ministro português, arrancar ao papa a desejada medida. Portugal deve ao marquês de Pombal, título a que Sebastião de Carvalho foi elevado por decreto de 16 de Setembro de 1769, imensos serviços, mas os maiores foram incontestavelmente a expulsão dos jesuítas e a reforma da nossa legislação civil, porque essas medidas significaram a renovação moral deste povo, que se ia deixando adormecer num letargo de que talvez nunca despertaria. 0 notável estadista adquiriu, por este facto, grande influência em toda a Europa.
          A sua política estrangeira foi sempre um modelo de firmeza e de habilidade. Ainda assim, deve dizer-se, que os despachos insolentes que se lêem em alguns livros de história, e que se dizem dirigidos pelo marquês de Pombal a Lorde Chatam, são completamente apócrifos. 0 que há de verdadeiro neste incidente é que em 1764, tendo o almirante Boscawen queimado quatro naus francesas nas águas de Lagos, o marquês de Pombal, sendo ainda conde de Oeiras, exigiu e alcançou de Inglaterra uma satisfação condigna. É muito louvável a energia com que o marquês de Pombal sustentou a neutralidade do país na guerra dos Sete Anos, neutralidade de que a Espanha e a França o queriam obrigar a sair. Foi necessária uma guerra, e não hesitou. 0 exército estava ainda completamente desorganizado, e o marquês chamou da Alemanha o conde de Lippe, um dos bons oficiais de Frederico da Prússia, e o príncipe de Mecklemburgo-Strelitz, e encarregou-os de organizar solidamente as tropas portuguesas. E na verdade, a disciplina rigorosa, introduzida pelo conde de Lippe, fez com que a campanha de 1762, mal iniciada, acabasse dum modo feliz para nós. Os 10 anos que decorreram entre a paz de Fontainebleau em 1763 e a reforma da Universidade em 1772 foram talvez os mais fecundos da administração do marquês de Pombal. Desembaraçado da oposição dos jesuítas, tendo quebrado todas as resistências, inclusivamente as da Santa Sé, sabendo que em todo o país ninguém ousaria rebelar-se contra as suas vontades, começou a aplicar largamente as suas luminosas teorias em matéria de administração e a governar o país com a energia e o génio de que dera tantas provas. As reformas, de que tomou a iniciativa neste período de 10 anos, renovaram inteiramente a face de Portugal, e o arrojaram por um caminho de progresso, onde não tardou a pôr-se a par das nações mais adiantadas. A primeira coisa, de que se ocupou, foi da reorganização do exército. O conde de Lippe tratou de regulamentar a disciplina; estabeleceram-se campos de manobras, e tomaram-se enfim muitas outras providências. A construção de navios fortaleceu a nossa marinha; o comércio e a agricultura também foram favorecidos pelo marquês de Pombal, ainda que, na protecção que lhes deu, se encontra o vestígio das suas erradas ideias económicas. A intimação feita aos negociantes ingleses para terem caixeiros portugueses, a regulamentação da Lavoura pela ordem que mandava arrancar em muitos pontos as vinhas, que deviam ser substituídas por trigais mostram que o grande reformador tinha tão pouca confiança na liberdade em matéria económica como em matéria política. A indústria nacional mereceu-lhe os maiores cuidados, como prova a protecção eficaz que dispensou à fábrica das sedas, situada no Rato, em Lisboa, às fabricas de lanifícios da Covilhã, Fundão e Portalegre, e à fabrica de vidros da Marinha Grande. O sistema do terror é que sempre continuava a ser seguido por ele. Enquanto abolia a distinção entre cristãos-novos e cristãos velhos, entre canarins e europeus na Índia; enquanto suprimia a escravatura no continente de Portugal, suprimia para a imprensa a censura eclesiástica, substituindo-a, é certo, não pela liberdade, mas pela jurisdição da Mesa Censória, o que já era um progresso, porque tendia a secularizar o ensino, mandava enforcar o capitão Graveron, acusado de peculato, mas sem haver contra ele provas evidentes, e encarcerava no forte da Junqueira o bispo de Coimbra, D. Frei Miguel da Anunciação, que era, sem dúvida, um dos chefes do partido reaccionário, mas que enfim era um velho prelado, que não se devia tratar com tanto rigor. O crime dele estava em proteger uma seita chamada dos jacobeus ou sigilistas, fanáticos perigosos, e sobretudo em resistir à instituição da Mesa Censória, proibindo no seu bispado livros que este tribunal consentia que corressem.
          Uma das grandes glórias do marquês, de Pombal foi o imenso impulso que deu à instrução popular. A lei de 6 de Novembro de 1772 organizava a instrução primária do modo mais completo para o tempo. Estabelecia o princípio de concurso, animava o ensino particular, dotava as escolas com o rendimento de um novo tributo denominado subsídio literário. Favorecia a instrução secundária criando escolas, que eram o germe dos nossos liceus actuais, e convidando as ordens religiosas a que abrissem aulas nos seus conventos; favorecia a instrução superior criando o Colégio dos Nobres, e tratando de reformar a Universidade de Coimbra. Para intentar essa reforma, criou-se uma junta intitulada da Providência Literária. A alma desse tribunal era o bispo de Coimbra D. Francisco de Lemos, que foi nomeado reitor da Universidade, por decreto de 11 de Setembro de 1772. Os estatutos redigidos por esta junta, introduziram a revolução na Universidade, substituindo aos velhos métodos legados pelos jesuítas os processos mais audaciosos da ciência nova. Além das reformas dos estudos, a nomeação de sábios lentes, alguns deles estrangeiros de nomeada, concorreram muito para o brilhantismo dessa reforma. Criou estabelecimentos auxiliares, de que anteriormente nem sequer fora reconhecida a necessidade, como um observatório astronómico, um museu de história natural, um gabinete de física um laboratório químico, um teatro anatómico, um dispensário farmacêutico, e um jardim botânico. O rei D. José, por carta régia de 28 de Agosto de 1772, constituiu o marquês de Pombal seu plenipotenciário e lugar-tenente na restauração da Universidade. No dia 22 de Setembro entrou na cidade de Coimbra, no dia 23 publicou o despacho de quatro colegiais para o Colégio dos Militares; na manhã de 25 recebeu os novos colegiais dos colégios de S. Paulo e de S. Pedro. Na tarde desse dia foi lida com toda a solenidade e aparato, na sala grande da Universidade, a seguinte carta régia:
          «Honrado Marquês, meu Lugar-Tenente, muito prezado Amigo. Faço saber a essa Universidade, como protector que sou dela, ser servido reformá-la, e por isso em Meu nome fareis tudo, concedendo-vos todos os privilégios, que são concedidos, aos Vice-Reis, e ainda aqueles que eu reservo para Mim. A mesma Universidade o tenha assim entendido, e vos respeite todas as honras, que vos são devidas, pois sois do Meu Real agrado e protecção. Palácio de Nossa Senhora da Ajuda, em 13 de Agosto de 1772. - Rei.»
          No dia 29 do referido mês de Setembro foram publicados, com a maior solenidade os novos estatutos, e no dia 30 prestaram os novos lentes o competente juramento, na presença do marquês de Pombal, no paço. A cerimonia de abertura da Universidade realizou-se a 23 de Outubro com imenso esplendor. Foi decerto este o dia mais jubiloso da existência do notável estadista. Rodeado de homenagens por um povo de cortesãos, que viam nele não o representante do rei, mas o próprio soberano de Portugal, tinha além disso a consciência a dizer-lhe que acabava de prestar ao seu país e à civilização o mais elevado e o mais importante de todos os serviços. A fundação da Imprensa Nacional de Lisboa completou a obra do marquês de Pombal com relação ao nosso desenvolvimento intelectual. Esta reforma da instrução pública, a mais importante que tivemos, valeu ao nosso grande ministro a admiração e o respeito da Europa. Mr. Montigny, encarregado de negócios de França em Lisboa, não ocultava a sua veneração pelo homem, que fizera com que houvesse neste pequeno reino tão mergulhado até então nas trevas, 837 escolas de instrução primária e secundária. O duque de Aiguillon, ministro que sucedera no gabinete de Luís XV ao duque de Choiseul, dizia: «A opinião, que formamos dos talentos e das luzes do marquês de Pombal, dá-nos a mais vantajosa ideia das mudanças e das adições que esse ministro deve fazer nos estatutos da universidade.» Quando se observa esta importantíssima reforma, feita pelo marquês de Pombal, quando se vê que o grande ministro soube arrancar o país das trevas da ignorância em que estava imerso, a trazê-lo à luz imensa, que de toda a parte se irradiava pela Europa, quando se nota que todas as suas reformas tiveram por fim, e conseguiram introduzir em Portugal todos os elementos civilizadores tem de se confessar que o marquês de Pombal foi neste extremo da Europa a incarnação viva e eficaz da grande revolução do século XVIII, e que o seu enérgico despotismo foi uma dessas ditaduras tirânicas mas fecundas, que em toda a parte precederam e prepararam a aurora da liberdade.
          Foi por este tempo que se concluiu a estátua do rei D. José, que o grande ministro destinava para ser o complemento e o remate da sua grande obra da reconstrução de Lisboa. A estatua do rei D. José, em cujo pedestal figurava o medalhão do marquês de Pombal, construída pelo grande escultor português Joaquim Machado de Castre, fundida em bronze pelo tenente coronel de artilharia Bartolomeu da Costa, inaugurou-se com extraordinária pompa, na Praça do Comércio no dia 6 de Junho de 1775. Nesta obra, vol. IV, no artigo Lisboa, a pág. 330 e seguintes, está uma circunstanciada descrição desta majestosa solenidade. Contudo, enquanto o marquês de Pombal tomava providências tão sábias e tão justas, continuava a seguir o sistema de repressão implacável. Os seus colegas no ministério continuavam a ser as suas vítimas; José de Seabra, que fora o seu braço direito na luta com os jesuítas, foi de súbito desterrado para Angola por motivo misterioso. Tempo depois, outro suplicio atroz veio assombrar Lisboa. Em 11 de Outubro de 1775 foi esquartejado na Junqueira o genovês João Batista Pele, acusado de tentativa de assassínio contra o marquês de Pombal. A Espanha rompera de súbito as hostilidades contra nós, por causa dos limites da América, e não nos quis dar satisfações. A França preparou-se a auxiliá-la em virtude do Pacto de Família, e a Inglaterra abandonou-nos. Apesar disso, o marquês de Pombal, entendendo que estava empenhada nesta questão a dignidade da coroa portuguesa, não hesitou em se preparar para a guerra; não cuidava decerto que poderia afrontar a França e a Espanha com os nossos limitados recursos, mas entendia também que, logo que o dever falava, a questão da possibilidade desaparecia. Seria esmagado, mas a sua defesa contra agressões injustas era já um protesto contra a violência. Quando se preparava para esta luta, cometeu o marquês de Pombal um acto de atrocidade, que não é dos que menos mancham a sua memória. Tinham-se refugiado na Trafaria alguns refractários, como se diria hoje. Sendo difícil apanhá-los naquela aldeia pobríssima, o marquês de Pombal ordenou que se lançasse fogo a essa povoação de pescadores. Essa ordem, executada barbaramente em seu nome no dia 23 de Janeiro de 1777 devia encher de pavor os últimos dias da existência de D. José, que faleceu no dia 24 do mês seguinte de Fevereiro. Com ele expirava o poder do marquês de Pombal. (V. Portugal, neste vol. pág. 738, no artigo de Pina Manique).
          A herdeira do trono, beata e dominada pelos nobres, era figadal inimiga do grande ministro. Assim que o rei fechou os olhos, logo o marquês percebeu que estava demitido. Sendo mordomo-mor, foi avisado para que se não ocupasse do enterro do rei. Deram-se largas aos seus inimigos, deixaram-se correr contra ele as maiores calúnias. Soltaram-se todos os presos políticos que estavam por sua ordem encarcerados, e o espectáculo miserando dessas vítimas da energia implacável do marquês de Pombal devia exacerbar contra ele a cólera do povo, sempre mudável. Em seguida foi demitido, conservando-se-lhe secamente o ordenado de ministro, e concedendo-se-lhe o rendimento de uma comenda. Dava-se-lhe ordem para se recolher a sua casa de Pombal, e consentiu-se que o povo o insultasse em casa e pela estrada, arrancava-se o seu medalhão do pedestal da estatua de D. José e substituí-se pelo navio com as velas cheias, que é o brasão de Lisboa, o que fazia com que ele dissesse no seu retiro: Agora é que Portugal vai à vela. O que houve de mais impudente nesta reacção foi o procedimento de algumas pessoas, que, para lisonjearem o marquês de Pombal, tinham feito com ele contratos em que eram lesados e que depois, quando o viram caído, o demandaram para alcançarem indemnizações! Um tal Galhardo Mendanha chegou a escrever a esse respeito um folheto que por tal modo indignou o marquês de Pombal, que este pegou na pena e respondeu com azedume e veemência num folheto que a rainha D. Maria I proibiu que corresse. As acusações de concussão, de abusos de poder ferviam, todos os amigos e parentes do marquês eram perseguidos, e afinal a rainha D. Maria I, cedendo à pressão dos inimigos do marquês e ao natural impulso da sua própria inimizade, ordenava que o ministro de seu pai fosse processado. Para isso enviou a Pombal dois desembargadores que sujeitaram o marquês a um longo e penoso interrogatório, até que o grande homem, prostrado pela doença, pela fadiga e pelas amarguras, pedia perdão à rainha das faltas que podia ter cometido. Ao fim de 14 meses, a 16 de Agosto de 1781, expediu a rainha um decreto no qual declarava que havia por bem perdoar ao marquês de Pombal as culpas em que incorrera, em atenção aos seus anos e enfermidades. Era uma última mentira! Não o puniram, porque teriam de punir tombem a memória do rei D. José. Esse decreto fulminou-o. Estava um pouco melhor dos seus padecimentos, graças a um tratamento que adoptara. Piorou outra vez de um momento para o outro. O seu orgulho sentia-se profundamente ferido, a consciência do seu talento e dos imensos serviços que prestara ao seu país, fez com que gastasse as suas ultimas forças escrevendo uma Petição de recurso feita à sereníssima rainha D. Maria I, em que mais uma vez tentou justificar os seus actos. A opinião pública, ou o que então se podia designar por esse nome, era-lhe adversa, ou pelo menos indiferente. A petição caiu portanto no meio desta indiferença ou desta aversão, e não produziu o mínimo efeito. Dez meses sobreviveu ainda o marquês de Pombal ao funesto decreto, dez meses de longos e incomportáveis padecimentos. Faleceu enfim o grande estadista na sua casa de Pombal na idade de 83 anos. Na noite. de 11 de Maio de 1782 foi o cadáver conduzido num coche puxado por três parelhas para a igreja do convento de Santo António da vila do Pombal. Esperava-o à porta o bispo de Coimbra, D. Francisco de Lemos, fiel à caída grandeza, que celebrou com toda a pompa as exéquias solenes, sendo pregada a oração fúnebre pelo monge beneditino Frei Joaquim de Santa Clara, notável orador sagrado, que se inspirou na grandeza do assunto, e legou à posteridade um magnífico discurso que atesta não só o seu talento mas a grandeza do seu espírito. O Marquês de Pombal, quando faleceu, assinava-se: Sebastião José do Carvalho e Melo, conde de Oeiras e da Redinha; marquês de Pombal; do conselho do rei; alcaide-mor de Lamego; senhor donatário das vilas de Oeiras, Pombal e Carvalho, e do lugar de Cercosa e dos reguengos e direitos reais de Oeiras e de A-par de Oeiras; direitos do pescado do Porto, de Peniche e de Atouguia da Baleia; das rendas do pescado e direitos da dízima, portagem, julgadas, oitavos de pão e quinais de vinho da vila e porto de Cascais; e das tornas da sisa do pescado e sáveis de Lisboa; padroeiro in solidum da paróquia de Nossa Senhora das Mercês, da cidade de Lisboa, e das de Santa Maria da vila de Carvalho e sua anexa, Santa Maria de Cercosa, no bispado de Coimbra, e do convento de Nossa Senhora da Boa Viagem; comendador das ordens de Cristo e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, etc. O seu brasão era o dos Carvalhos. Em campo azul uma estrela de ouro, entre uma quaderna de crescentes de prata. Este brasão também usam os condes da Retinha e os marqueses de Pomares.
          Num rápido esboço resumiremos a notícia das grandes reformas empreendidas pelo notável ministro do rei D. José I: Protegeu eficazmente a indústria, levantando a decaída fábrica de sedas que D. João V fundara, subvencionando e desenvolvendo as indústrias da chapelaria e relojoaria, fez sair quase do nada a fábrica de vidros da Marinha Grande, e a de papel da Lousã, tomou a iniciativa do fabrico da porcelana, protegeu a industria das lãs, e fundou a magnifica fábrica real da Covilhã. Teve a honra de hospedar no seu palácio e quinta de Oeiras o rei D. José no Verão dos anos de 1775 e 1776. Nessa quinta realizou uma grande feira onde concorreram, por sua ordem, os produtos de todos os géneros da indústria fabril portuguesa, vindo os donos das fábricas armar barracas em Oeiras, expondo ali à venda os diversos produtos da sua indústria Esta feira teve um êxito completo; foi uma verdadeira exposição de tudo quanto se fabricava então em Portugal, e assim teve Oeiras a honra de ali realizar a primeira exposição industrial que houve no país, e talvez a primeira que se efectuou em toda a Europa. (V. Portugal, neste vol. artigo Oeiras, pág. 182 e seguintes). Favoreceu muitíssimo a agricultura, mas de um modo demasiadamente despótico, mandando por exemplo arrancar as vinhas do Ribatejo para ter produção cerealífera. Para desenvolver o comércio criou a Aula do Comércio e fundou diversas companhias. Na administração civil e económica do país operou maravilhas, dando o primeiro passo para a liberdade da terra, suprimindo os morgados insignificantes, regulando-lhes a sucessão e não consentindo que se instituíssem senão morgados opulentíssimos, declarou livres todos os escravos que nascessem ou pusessem pé no continente de Portugal, emancipou os índios do Brasil, acabou na Índia com a distinção entre gentios e cristãos, no reino com a distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos. Com o clero procedeu energicamente, expulsando os jesuítas, impedindo as profissões demasiado numerosas de frades e de freiras; deu à Inquisição um regimento que a anulava completamente; na instrução pública reformou completamente a Universidade pondo-a a par dos estabelecimentos científicos desse tempo no estrangeiro; criou o Colégio dos Nobres, fundou a instrução primária portuguesa solidamente, desenvolveu a instrução secundária, aproveitando para isso largamente as ordens religiosas, refundiu completamente a legislação, acabando com os arrestos absurdos, com os recursos aos comentadores, etc. ordenou que o direito canónico apenas regulasse em matérias espirituais. Criou o Erário introduzindo ordem e método na administração da fazenda, criou no Conselho de Fazenda um tribunal de contencioso financeiro, administrou com tanta economia que não precisou recorrer a empréstimos, reorganizou admiravelmente o exército com o auxílio do conde de Lippe, fortificou Elvas de um modo assombroso, deu impulso à marinha e soube apreciar e chamar ao ministério Martinho de Melo e Castro que à marinha portuguesa prestou depois tão relevantes serviços, e ocupou-se com zelo das colónias, acrescentou o nosso domínio oriental com as Novas Conquistas, o nosso domínio africano com as ilhas de Bissau, etc. De todos os chefes de governo que no século XVIII iniciaram em todos os países da Europa as reformas que a opinião pública reclamava, foi sem dúvida o marquês de Pombal o mais audacioso. O ilustre ministro teve grande predilecção pela cidade de Aveiro, por causa dum protesto representação em que a câmara com a assistência dos nobres e povo, lavrou contra os autores da conspiração do duque de Aveiro, D. José de Mascarenhas, pedindo para que este fidalgo deixasse de ser donatário de Aveiro. Esta demonstração dos aveirenses foi recebida com entusiasmo pelo marquês de Pombal, que se deu pressa em agradecer à câmara, assegurando-lhe que os desejos do povo, cujo representante era, seriam satisfeitos, e que Aveiro, ficando pertença da coroa, havia de ser beneficiada tanto quanto pudesse sê-lo. A palavra do grande estadista foi cumprida. Aveiro entrou numa nova fase de progresso. Melhorou-se consideravelmente a barra, criaram-se escolas e procurou-se ensaiar novos sistemas de cultura, como foi a do arroz e da batata. O marquês também pensou em estabelecer aqui urna fábrica de tecidos de algodão, para o que mandou proceder a experiências em 1770. Ainda empreendeu outros melhoramentos de não menor alcance para os interesses da terra, que por decreto de 11 de Abril de 1759 elevou à categoria de cidade, e por decreto de 4 de Setembro de 1760, foi de novo elevada a comarca, que desde de D. João III deixara de ser, para formar um almoxarifado, cujas justiças eram providas pelo donatário. Em 28 de Setembro de 1773 pediu o marquês de Pombal o báculo de diocese para Aveiro, que lhe foi concedido por breve apostólico de 12 de Abril de 1775, sendo o 1.º bispo D. António Freire Gameiro de Sousa. (V. Aveiro).
          Devemos mencionar um acto de justiça nacional, relativo ao notável estadista. Por decreto de 10 de Outubro de 1833 foi determinado que a «imagem em bronze do marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho, e Melo que havia sido arrancada do pedestal da estátua equestre de el-rei D. José, fosse reposta no mesmo lugar». Dizia-se no preâmbulo do decreto: «Que o marquês de Pombal fora o português que mais honrou a sua nação no século passado. Que fora ele distinto pelos seus conhecimentos variados, firme pelo seu carácter; instruído pelas suas meditações e viagens; e sobretudo dotado de um amor da pátria, de um zelo do bem público e de um interesse pelo decoro e independência nacional que sempre o levara nobremente a promover o bem do seu país, e a naturalizar nele as vantagens da indústria, da civilização, do comércio e das artes. Que a inconstância dos tempos e o capricho dos homens pretenderam denegrir na pátria o conceito que nunca fora dela foi disputado a tão ilustre génio, e fizeram, com ingratidão incrível, desaparecer a sua imagem do centro daquela mesma cidade, que ele tinha feito renascer das cinzas, para ser uma das mais belas capitais do mundo. Influenciado por esta convicção, quis o duque de Bragança tributar a devida justiça ao grande homem, e apagar os vestígios de uma ingratidão, que a geração presente rejeitava a responsabilidade e desaprovava o erro.» Este decreto era rubricado pelo ministro do reino Cândido José Xavier. Os restos mortais do marquês de Pombal foram trasladados para Lisboa, onde chegaram a 1 de Junho de 1856, em honroso préstito. Celebraram-se solenes exéquias, sendo o cadáver depositado na capela das Mercês, pertencente aos marqueses de Pombal. Num mausoléu de mármore figurando um modesto caixão colocado sobre dois desengraçados elefantes, que se vê na capela-mor e no lado direito do altar, se encerra o que resta do grande e notável estadista. Em Maio de 1882 celebraram-se pomposas festas em comemoração do centenário da morte do marquês, tanto em Lisboa, como no Porto e na Universidade do Coimbra, que em 1872, 10 anos antes, havia celebrado também o centenário da reforma da mesma Universidade.
          Sobre o grande ministro do rei D. José tem-se escrito muito, tanto em Portugal, como no estrangeiro. A relação dos principais trabalhos encontra-se no Dicionário bibliográfico, vol VII, pág. 213 a 216; e no suplemento, volume XIX, peIo Sr. Brito Aranha, de pág. 17 a 184, onde também se encontram muitas gravuras dos carros que figuraram no cortejo cívico, por ocasião das festas do centenário, gravuras das ruínas causadas pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755, e diversos documentos. Além dessas obras, ainda citaremos: «Le marquis de Pombal», na Revue des deux mondes, 1.º de Setembro de 1870; Historia da Instrucção publica em Portugal, por D. António da Costa; Ensaio sobre a historia do governo e da legislação de Portugal, de Coelho da Rocha; Perfil do marquez de Pombal. de Camilo Castelo Branco; O marquez de Pombal, do conde de Samodães; O marquez de Pombal, por Teófilo Braga; Lisboa antiga, de Júlio de Castilho; Historia de Portugal, de Schaeffer, Pinheiro Chagas e Oliveira Martins; 0 marquez de Pombal, romance histórico, de António de Campos Júnior; O marquez de Pombal, exame e historia critica da sua administração, de D. Miguel de Soto-Maior; Encyclopedia do Porto, Diccionario Popular, dirigido por Pinheiro Chagas, de que transcrevemos alguns períodos, etc. 

Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico, Volume V, págs. 838-847.

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro - Marinha Grande - Portugal
                                                                                                                                 

 

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