
Princesa
Santa Joana de Portugal
Faleceu em 12 de Maio de 1490 |


Princesa Santa Joana
Princesa de Portugal, filha do rei D. Afonso V
e da rainha, sua mulher, D. Isabel.

Túmulo da Princesa Joana, em Aveiro
Santa Joana, Princesa, nasceu em Lisboa, a 6 de Fevereiro de 1452.
Filha do Rei D. Afonso V e da
Rainha D. Isabel, foi-lhe dado o nome de Joana em atenção à singular devoção que a
Rainha dedicava a S. João, Apóstolo e Evangelista. Sendo filha única, logo foi aclamada
pelas dignidades eclesiásticas como sua Princesa jurada, herdeira do trono. Em 3 de Maio
de 1455, também em Lisboa, a Rainha viria, contudo, a dar à luz mais um filho, ao qual
inexoravelmente poria o nome de João. Este, sendo varão, passou a ser o herdeiro do
trono e viria a ser mais tarde o Rei D. João II. Com o nascimento do irmão, D. Joana
perdeu naturalmente o direito ao título de Princesa, passando a ter o de Infanta. Porém
o povo, que já se afeiçoara à Princesa, passou a designá-la por Princesa - Infanta.
Não tinha ainda quatro anos completos quando faleceu sua mãe D. Isabel. Por volta de
1460, tendo apenas 8 anos de idade, D. Joana teve o seu primeiro projecto de casamento,
com o Infante D. Afonso, irmão de Henrique IV de Castela, o qual, porém, não viria a
realizar-se por oposição de D. Afonso V. Vivendo na corte que, não sendo imune aos
alvores do renascimento, já respirava um certo ambiente cultural, aprendeu a leitura, a
escrita, o latim e a matemática. A formosura da Princesa - Infanta cedo se tornou famosa.
Ela porém, logo começou a revelar pouco apego às vaidades e pompas do mundo e a
aborrecer o que não fossem as coisas de Deus. No Paço, pouco falava. Recolhia-se amiúde
no oratório que lá possuía e ali ficava horas silenciosa, em íntimo diálogo com Deus,
perscrutando a sua vontade e sabedoria. Confessava-se e comungava amiúde, em especial nas
festas de Nosso Senhor e Nossa Senhora. E cedo começou a sacrificar-se e a fazer
penitência. Por volta dos 15, 16 anos de idade, elegante e jovem, apesar de adornada de
colares e pedrarias, atormentava-se voluntariamente com mordentes cilícios de crina dura.
E, assim voluntariamente alheia às vaidades do século, foi alimentando a firme
resolução de pedir autorização ao Rei para deixar o mundo e a Corte e se recolher a um
qualquer convento do Reino. Em fins de Setembro de 1471, quando D. Afonso V e o príncipe
D. João regressavam, vitoriosos, das conquistas do Norte de África, Santa Joana foi
esperá-los ao Tejo e aproveitou a ocasião para pedir ao pai que a autorizasse a recolher
a algum dos mosteiros do seu Reino. E tão sabiamente o fez que D. Afonso V, embora
visivelmente contristado, acedeu ao seu pedido, permitindo que, três meses mais tarde, se
recolhesse «em hábito secular», ao Mosteiro de Odivelas, da Ordem de São Bernardo.
Sabendo da notícia, os procuradores a Cortes das cidades e vilas, que por essa altura se
encontravam em Lisboa, convocados por D. Afonso V, manifestaram imediatamente o seu
descontentamento, lembrando que, como «segunda princesa jurada», poderia vir a ser
necessária ao País a qualquer momento. Por isso, cerca de dois meses mais tarde, Santa
Joana solicitou ao Pai que a deixasse sair para um mosteiro mais distante e mais
sossegado, para que a oposição à sua retirada se não transformasse em motim. El-Rei
permitiu, então, que mudasse para o Mosteiro de Jesus, em Aveiro, como era seu desejo,
apesar da oposição do Príncipe D. João e da Infanta D. Beatriz, tia de Santa Joana,
que preferiam que fosse para o Mosteiro de Santa Clara em Coimbra, cujo anexo era mais
condigno e albergava senhoras de primeira nobreza. No dia 4 de Agosto de 1472, Santa Joana
deu entrada no Mosteiro de Jesus e logo se acomodou à vida simples das irmãs e à
modéstia do edifício. Mas, aspirando a mais elevado compromisso com o Senhor e também a
tornar-se simplesmente a Irmã Joana, pediu à Madre que lhe impusesse o hábito
dominicano do Convento, iniciando assim no dia 25 de Janeiro de 1475, o seu noviciado.
Tomado o hábito, a Princesa como qualquer noviça, passou a fazer a vida em comum, sob a
orientação da Mestra. Como as demais, servia no refeitório, na copa, limpava o trigo,
amassava o pão, tratava das roupas, ia buscar lenha, arrumava a casa, lavava as
acomodações das aves e dos animais. Deixou de receber as visitas dos nobres,
limitando-se a receber pessoas eclesiásticas a quem pedia que somente lhe viessem falar
das Escrituras e das coisas de Deus. A noticia de que a Princesa tomara o hábito saltou
imediatamente os muros do Mosteiro e alastrou pelo Reino, fazendo com que muitos
dignatários se deslocassem imediatamente a Aveiro, na tentativa de fazer a Princesa mudar
de ideias. O próprio Príncipe D. João, logo que tomou conhecimento do sucedido,
deslocou-se, furibundo, a Aveiro e disse à Madre que ele e o seu pai não queriam nem
consentiam que a irmã tomasse o hábito. Mas, não conseguindo demover a irmã dos seus
intentos, retirou-se para Lisboa, queixoso e irado. E Santa Joana, passada a tormenta, lá
voltou à sua vida normal. Porém pressionada de todos os lados para deixar o noviciado,
depois de ter pensado maduramente e de se ter aconselhado com o Provincial da Observância
Dominicana em Portugal e Castela, decidiu seguir o conselho deste no sentido de não fazer
a profissão religiosa. Ficaria, porém, a residir no Mosteiro, tal como fizera Santa
Isabel, em Coimbra, nos últimos anos de vida, continuando a fazer uma vida conventual,
observando as constituições do Mosteiro e acorrendo aos actos litúrgicos. Em 28 de
Agosto de 1481, faleceu, em Sintra, o Rei D. Afonso V, pai de Santa Joana que dispensara
à filha uma ternura muito particular. Alguns dias antes nascera D. Jorge, filho bastardo
do Príncipe D. João. Aclamado Rei, o «Príncipe Perfeito» decidiu confiar o filho aos
cuidados de sua irmã, no Mosteiro de Jesus, para o afastar das intrigas da corte. Santa
Joana acolheu a criança, então apenas de três meses de idade, considerando que era
vontade de Deus que o criasse como se fosse seu filho. E, a 25 de Novembro desse ano, sob
o pretexto de que a educação de D. Jorge a libertava dos incómodos da sucessão, já
que ali tinha um eventual herdeiro do Reino para dar em seu lugar, decidiu fazer em
privado, o voto de castidade que, em público e solenemente, lhe era vedado por
imposição alheia, na convicção de que, perante a sua consciência, a obrigação era
igual. Apesar dos trabalhos acrescidos com a educação do sobrinho, Santa Joana continuou
a fazer a mesma vida simples, cada vez mais unida às irmãs, num ambiente de dedicação,
caridade e doação, segundo o ideal que sonhara, mas fora impedida de concretizar na
consagração religiosa. Tinha uma extraordinária devoção à Santíssima Eucaristia.
Dedicada ao amor de Deus e do próximo, atormentava-se com graves disciplinas de corda e
longas vigílias de oração e jejum, por aqueles que sabia em perigo de se perderem.
Rigorosa consigo mesma, exigia que os clérigos e moços adstritos ao serviço da sua
capela vivessem honestamente e em estrita castidade e virtude, despedindo os que assim se
não comportassem. Era igualmente rigorosa para com quem desobedecesse à Prioresa. E,
relativamente aos que exerciam cargos públicos na Vila que enveredassem por caminhos
dissolutos, depois de os aconselhar com benignidade, se não mudavam de vida, exercia os
seus direitos sobre a Vila de Aveiro e afastava-os, para que não dessem mau exemplo. No
início de 1484, numa visita do Rei D. João II a Aveiro, acompanhada da Rainha D. Leonor,
esta desabafou com a cunhada acerca das desavenças do Rei com D. Diogo, quarto Duque de
Viseu, sobrinho de Afonso V e irmão da Rainha, e propôs-lhe que sendo ela de feitio
«amável e sofredor no convívio, mas tenaz no empreender e realizar», casasse com ele,
pois desse modo iria serenar os ânimos. D. Joana, logo que lhe falaram em casamento,
lembrando-se de que já estava ligada a um outro Amor, a Cristo, recusou imediatamente.
Mas não seria este o último projecto de casamento para a Princesa - Infanta. Os
casamentos entre reis, príncipes e altos nobres inscreviam-se na diplomacia dos Reinos,
solidificando alianças e consolidando poderes. No verão de 1485, encontrando-se Santa
Joana em Gaia, com o sobrinho, para o proteger de mais um surto de peste na zona de
Aveiro, foi inesperadamente chamada por D. João II a Alcobaça. Aí chegada, o Rei,
depois de lhe fazer doação do Senhorio de Aveiro, intimou-a a casar-se com Carlos III,
Rei de Inglaterra, informando-a de que o Concelho de Estado insistia nesse casamento e de
que os embaixadores ingleses esperavam no Tejo uma resposta favorável.
Santa Joana ficou atónita perante
o peso das razões e a insistência do irmão que, inclusivamente, a acusava de, com a sua
recusa, parecer mancomunada com os seus inimigos e traidores. Decidiu, por isso, recolher
aos seus aposentos, refugiando-se na oração e escrevendo às irmãs do Mosteiro de
Aveiro a solicitar também a sua oração. Passados alguns longos e tormentosos dias,
chegava, porém, a Alcobaça um mensageiro com cartas dos embaixadores de Carlos III, nas
quais se informava que o Rei de Inglaterra tinha sido morto na batalha de Bosworth Field,
em 22 de Agosto. Cansada mas finalmente livre para se dedicar totalmente ao Divino Esposo,
Santa Joana regressou a Aveiro e à vida do Mosteiro. Em 1489, reacendeu-se mais uma vez a
peste em Aveiro. Por ordem do Rei, Santa Joana teve uma vez mais de abandonar Aveiro e de
dirigir-se para o Convento de Santa Clara em Coimbra, com o sobrinho D. Jorge. Porém logo
que a epidemia amainou, pelo Outono, decidiu voltar ao Mosteiro de Jesus. No regresso,
porém, contraiu a doença que a viria a vitimar. Voltando à vida claustral, Santa Joana
apesar de enferma e muito débil, continuou a fazer a sua vida de oração, vigília,
jejum e penitência. Mas a doença progredia. No meio de indizíveis sofrimentos, santa
Joana tudo suportava com paciência, animando as irmãs e pedindo-lhes que não se
incomodassem com ela nem chorassem a sua morte, enquanto lhes recomendava a concórdia
entre todas e a união com a Prioresa. E, no dia 12 de Maio de 1490, pelas duas horas da
manhã, com 38 anos feitos no dia 6 de Fevereiro imediatamente anterior, após longos
meses de dolorosa doença, rodeada por todas as irmãs do Mosteiro e de Padres do Convento
Dominicano vizinho, por entre orações, ladainhas, salmos e leituras da Paixão segundo
S. João, entregou a alma ao Criador. Após a morte da Princesa, logo começaram as
notícias de curas e milagres atribuídos à sua intercessão. Assim em Setembro de 1626,
uma petição das dominicanas do Mosteiro de Jesus e de autoridades de Aveiro ao Biso de
Coimbra deu início ao processo que culminaria com a sua beatificação, pelo Papa
Inocêncio XII, em 4 de Abril de 1693.
Lenda de Santa Joana
Princesa
A princesa D. Joana, filha
do rei Afonso V, revelou desde muito tenra idade uma grande vocação religiosa. Esta
filha primogénita, apesar de ser obrigada a viver na Corte pela sua posição,
afastava-se o mais possível de festas e convívios e passava grande parte do seu tempo a
rezar e a meditar. A princesa era, dizia-se, muito bela e teve muitos pretendentes, entre
estes muitas cabeças coroadas, mas a todos recusou alegando a sua intenção de se tornar
freira. Com a autorização real, entrou D. Joana para Odivelas, mudando-se mais tarde
para o Convento de Santa Clara de Coimbra, mas acabando por resolver professar no Convento
de Jesus, em Aveiro. Esta última decisão foi contestada tanto pelo rei como pelo povo,
dado que o Convento de Jesus era muito pobre e, na opinião geral, indigno de uma
princesa. Por outro lado, o povo discordava da vocação da princesa e não queriam que
ela professasse. Perante tanta discórdia D. Joana decidiu não professar, mas declarou
que usaria o véu de noviça para sempre e insistiu em ingressar no Convento de Jesus,
vivendo na humildade e na pobreza e aplicando as rendas que possuía no socorro dos
pobres. A sua caridade era tão grande que depressa ficou conhecida como santa. Mas a bela
princesa adoeceu de peste e morreu em grande sofrimento. Quando o seu enterro passou pelos
jardins do convento deu-se um facto insólito: as flores que ela havia tratado em vida
caiam sobre o seu caixão prestando-lhe uma última homenagem. Após este primeiro
milagre, muitos outros foram atribuídos a Santa Joana Princesa, levando a que, duzentos
anos depois, o Papa Inocêncio XII concedesse a beatificação a esta infanta de Portugal.

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro -
Marinha Grande - Portugal
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