Independência da Bahia
2 de Julho de 1823

"Dois de Julho" do poeta Castro Alves

"... Sim! Quando o tempo entre os dedos
Quebra um século, uma nação ...
Encontra nomes tão grandes.
Que não lhe cabem na mão!...
Heróis! Como o cedro augusto
Campeia rijo e vetusto
Dos séculos ao perpassar,
Vós sois os cedros da História,
A cuja sombra de glória
Vai-se o Brasil abrigar..."

          O Estado da Bahia está situado ao Sul da região Nordeste do Brasil. Tem como limites os Estados de Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Piauí, a Norte; Oceano Atlântico, a Leste; Minas Gerais e Espírito Santo, a Sul; Goiás e Tocantins, a Oeste. Sua superfície é de 567.295,3 km2.
          A região Nordeste do Brasil é composta por nove Estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. Sua área é de aproximadamente 1,5 milhão de km2 (18% do Brasil), e quase 30% da população brasileira. Está situado entre os paralelos de 01° 02' 30" de latitude norte e 18° 20' 07" de latitude sul e entre os meridianos de 34° 47' 30" e 48° 45' 24" a oeste de Greenwich. Limita-se a norte e a leste com o Oceano Atlântico; ao sul com os estados de Minas Gerais e Espírito Santo e a oeste com os estados do Pará, Tocantins e Goiás.
         
          A comemoração do dia 2 de Julho é uma celebração às tropas do Exército e da Marinha Brasileira que, através de muitas lutas, conseguiram a separação definitiva do Brasil do domínio de Portugal, em 1823. Foi neste dia, as tropas brasileiras entraram na cidade de Salvador, que era ocupada pelo exército português, tomando a cidade de volta e consolidando a vitória. Esta é uma data máxima para a Bahia e uma das mais importantes para a nação, já que, mesmo com a declaração de independente, em 1822, o Brasil ainda precisava se livrar das tropas portuguesas que persistiam em continuar em algumas províncias. Então, pela sua importância, principalmente para os baianos, todos os anos a Bahia celebra o 2 de Julho. Tropas militares relembram a entrada do Exército na cidade e uma série de homenagens são feitas ao combatentes. Entre todas as comemorações, a do ano de 1849 teve um convidado muito especial. O marechal Pedro Labatut, que liderou a tropas brasileiras nas primeiras ofensivas ao Exército Português, participou do desfile, já bastante debilitado e sem recursos financeiros, mas com a felicidade de homenagear as tropas das quais fez parte.
          O Brasil do início do século XVIII ainda era dominado por Portugal, enquanto o Rio de Janeiro, Pernambuco, Minas Gerais e a Bahia continuavam lutando pela independência. As províncias não suportavam mais a situação e, percebendo os privilégios que o Rio de Janeiro estava recebendo por ser a capital, Pernambuco e Bahia resolveram se rebelar.
          Recife deu início a uma revolução anti-colonial em 6 de Março de 1817. Esta revolução tinha uma ligação com a Bahia, já que havia grupos conspiradores compostos por militares, proprietários de engenhos, trabalhadores liberais e comerciantes. Ao saber desta movimentação, o então governador da Bahia, D. Marcos de Noronha e Brito advertiu alguns deles pessoalmente.
          O governo estava em cima dos conspiradores e devido à violenta série de assassinatos, muito baianos resolveram desistir. Com toda esta repressão, a revolução de Recife acabou sendo derrotada. Os presos pernambucanos foram trazidos para a Bahia, sendo muitos fuzilados no Campo da Pólvora, ou presos na prisão de Aljube, onde grande personagens baianos também estavam presos.
          Diante das insatisfações, começaram as guerras pela independência. Os oficiais militares e civis baianos passaram a restringir a Junta Provisória do Governo da Bahia, que ditava as ordens na época, e com esta atitude foi formado um grupo conspirativo que realizou a manifestação de 3 de Novembro de 1821.
          Esta manifestação exigia o fim da Junta Provisória, mas foi impedida pela "Legião Constitucional Lusitana", ordenada pelo coronel Francisco de Paula e Oliveira. Os dias se passaram e os conflitos continuavam intensos. Muitos brasileiros morreram em combate.
          No dia 31 de Janeiro de 1822 a Junta Provisória foi modificada. E depois de alguns dias, chegou de Portugal um decreto que nomeava o brigadeiro português, Ignácio Luiz Madeira de Mello, o novo governador de Armas. Já os oficias brasileiros não aceitavam esta imposição, pois este decreto teria que passar primeiro pela Câmara Municipal. Houve, então, forte resistência que envolveu muitos civis e militares.
          Madeira de Mello não perdeu tempo e colocou as tropas portuguesas em prontidão, declarando que iria tomar posse. No dia 19 de Fevereiro, os portugueses começaram a invadir quartéis, o forte São Pedro, inclusive o convento da Lapa, onde haviam alguns soldados brasileiros. Neste episódio, a abadessa Sóror Joana Angélica tentou impedir a entrada das tropas, mas acabou sendo morta. Concluída a ocupação militar portuguesa em Salvador, Madeira de Mello fortaleceu as ligações entre a Bahia e Portugal. Assim a cidade recebeu novas tropas portuguesas e muitas famílias baianas fugiram para as cidades do Recôncavo.
          No Recôncavo, houve outras lutas para a independência das cidades e o fortalecimento do exército brasileiro. O coronel Joaquim Pires de Carvalho reuniu todo seu armamento e tropas e entregou o comando ao general Pedro Labatut. Este, assim que assumiu, já intimidou Madeira de Mello. Labatut organizou todo seu exército em duas brigadas e iniciou uma série de providências. Aos poucos o exército brasileiro veio conquistando novos territórios até chegar próximo a cidade de Salvador.
          Madeira de Mello recebeu novas tropas de Portugal e pretendia fechar o cerco pela ilha de Itaparica e Barra do Paraguaçu. Esta atitude preocupava os brasileiros, mas os movimentos de defesa do território cresciam. E foi na defesa da Barra do Paraguaçu que se destacou Maria Quitéria de Jesus Medeiros, uma corajosa mulher que vestiu as fardas de soldado do batalhão de "Voluntários do Príncipe" e lutou em defesa do Brasil.
          Em maio de 1823, Labatut, em uma demonstração de autoridade, ordenou a prisões de oficiais brasileiros, mesmo sendo avisado do erro que estava cometendo, e acabou sendo afastado do comando e preso. O coronel José Joaquim de Lima e Silva assumiu o comando geral do Exército e no dia 3 de Junho ordenou uma grande ofensiva contra os portugueses. Com a força da Marinha Brasileira, o coronel apertou o cerco contra a cidade de Salvador, que estava sob domínio português, restringindo o abastecimento de materiais de primeira necessidade. Diante destes fortes ataques e das necessidades que estavam passando, Madeira de Mello enviou apelos e acabou se rendendo. Com a vitória, o Exército Brasileiro entrou em Salvador consolidando a retomada da cidade e fim da ocupação portuguesa no Brasil.  
          Os portugueses chegaram ao Brasil em 1500, e o Estado da a Bahia começou a ser povoado em 1534. Tomé de Sousa, foi o seu primeiro governador-geral, fundou Salvador, que se tornou a primeira capital do Brasil, em 1549. Ingleses e holandeses atacaram a Bahia no século XVII. Salvador chegou a ficar sob domínio holandês entre 1624 e 1625, mas foi retomada pelos portugueses.
          Em 1798 foi cenário da Conjuração Baiana, que propunha a formação da República Baiense. Mesmo após a declaração de independência do Brasil, em 7 de Setembro de 1822, a Bahia continuou ocupada pelas tropas portuguesas, até a rendição destes, ocorrida no dia 2 de Julho de 1823. Por essa razão a data é comemorada pelos baianos como o Dia da Independência da Bahia. Com a independência do Brasil, os baianos exigiram maior autonomia e destaque. Como a resposta foi negativa, organizaram levantes armados que foram sufocados pelo governo central. Com a República ocorreram outros incidentes políticos importantes, como a Guerra dos Canudos e o bombardeio de Salvador, em 1912.  
          A capital do Estado da Bahia, é Salvador, e as cidades mais populosas são:  Feira de Santana, Vitória da Conquista, Itabuna, Ilhéus e Juazeiro. O seu território pode ser considerado relativamente elevado, já que 90% de sua área está acima de 200 m. Os principais rios do Estado, são: São Francisco, Paraguaçu, Jequitinhonha, Itapicuru, Capivari e Contas.  
          A libertação da de Salvador do domínio de tropas portuguesas foi longa e difícil. Na realidade, as lutas contra as forças portuguesas do brigadeiro Madeira de Melo, a mais alta autoridade militar da província, começaram a crescer desde 1820. Com a independência proclamada por D. Pedro, os conflitos aumentaram. Portugal desejava fazer de Salvador um foco de resistência à independência da Colónia. No início de 1823, tropas portuguesas chegaram a Salvador para reforçar os contingentes da Metrópole. As tropas brasileiras de Manuel Pedro, que havia sido nomeado por dom Pedro para a mesma função de Madeira de Melo, foram derrotadas. Diante da derrota, recuaram para o Recôncavo Baiano, pois os habitantes dessa região eram os maiores defensores da independência. A partir de então começou o cerco a Salvador, onde concentravam-se os militares e os comerciantes portugueses. Cercada, a cidade ficou incomunicável, sem alimentos e munição. Madeira de Melo pediu ajuda a Portugal e dom Pedro envia o general Labatut para reforçar as tropas brasileiras. As entradas de Salvador ficaram praticamente interditadas pelas forças que defendiam a independência. Madeira de Melo não tem outra alternativa a não ser ir para o ataque. No dia 8 de Novembro de 1822, trava-se em Pirajá uma das batalhas mais duras e violentas da libertação da Bahia e Madeira de Melo teve de recuar. Nos primeiros meses de 1823, a situação de Salvador deteriorou muito. Sem alimentos, as doenças matavam cada vez mais pessoas. Diante dessa situação, o chefe português permite a saída dos moradores de Salvador e cerca de 10 mil pessoas deixam a capital da província. Em fins de Maio, uma nova frota brasileira comandada pelo inglês lord Cochrane chega a Salvador. Vendo que era inútil a resistência, as tropas portuguesas se rendem. O mês de Julho começa com o embarque dos portugueses. No dia 2, o Exército brasileiro entra vitorioso em Salvador.
           
          A grande heroína brasileira Maria Quitéria
          Maria Quitéria de Jesus Medeiros, nasceu provavelmente em 1792,  na Comarca de Nossa Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira (Feira de Santana), Bahia, Brasil. - 1807: Primeira invasão francesa em Portugal, comandada por Junot; em fuga, a família real e a corte portuguesa embarcam para o Brasil. - 1808: O príncipe-regente (futuro D. João VI) decreta a abertura dos portos brasileiros a todas as nações amigas. - 1816: D. João VI eleva o Brasil à condição de Reino Unido ao de Portugal; o Brasil deixa, portanto, de ser uma Colónia. - 1820: Revolução liberal no Porto e levantamento em Lisboa. Estes acontecimentos reflectem-se no Brasil, cindindo a sociedade em dois blocos inconciliáveis: um é integrado por portugueses e brasileiros constitucionalistas, também por brasileiros independentistas; outro é integrado por militares e dignitários portugueses, conservadores que ambicionam ver o Brasil regredir à condição de Colónia. - 1821: Em 26 de Abril D. João VI regressa a Portugal, onde os revolucionários liberais exigem a sua presença; no Rio de Janeiro, como príncipe-regente, fica o seu filho D. Pedro. - 1822: Disfarçada de homem, Maria Quitéria alista-se como soldado voluntário. Em Julho, uma canhoneira portuguesa, fundeada na barra do Paraguaçu, alveja a cidade de Cachoeira, reduto dos independentistas baianos. D. João VI exige que o filho regresse imediatamente a Portugal; contrariando as ordens do pai, D. Pedro fica e a 7 de Setembro dá o chamado grito do Ipiranga, Independência ou Morte! A 12 de Outubro é aclamado Imperador do Brasil, com o título de D. Pedro I. - 1823: A 2 de Julho, na Bahia, as forças independentistas batem definitivamente as tropas portuguesas comandadas pelo brigadeiro Madeira de Melo. Maria Quitéria é a mais louvada heroína destas guerras pela independência do Brasil. - 1825: Por mediação da Inglaterra, a 29 de Agosto Portugal reconhece oficialmente a independência do Brasil. – Em 1853 (?): Maria Quitéria morre nas imediações de Salvador.
           
          "Eu gostaria de entrar nua no rio, caso estivesse no sítio do meu pai. Mas estou aqui entre homens, somos todos soldados, e o banho no Paraguaçu é forçado. Os portugueses de uma canhoneira bombardearam Cachoeira, então um bando de Periquitos, e entre eles eu e mais cinco ou seis mulheres, entramos no rio, de culote, bota e perneira, dólmen abotoado e baioneta calada.
          Queríamos que os agressores desembarcassem para o combate em água rasa da margem. E eles vieram, aos brados. Traziam armas brancas. Alguns as mordiam com os dentes. O encontro deu-se num banco de areia, com água pela cintura. Senti quando a água fria subiu pelas pernas, abraçou as coxas e espalhou-se pelas virilhas. Um toque frio, desagradável. Com o calor da luta, tornou-se morno. E houve um instante em que eu tinha água pelos seios. Senti que os mamilos se enrijeciam sob a túnica. Pensei outra vez no sítio, na rede em que costumava embalar-me. Ali tudo era cálido, os panos convidavam ao sono. Aqui, luta-se pela vida, pela nossa Cachoeira, pela Pátria. Mas uma voz secreta me sopra que também luto por mim. Estou guerreando, sim, para libertar Maria Quitéria de Jesus Medeiros da tirania paterna, dos sofridos afazeres domésticos, da vida insossa. Ah, eu combato, com água no nível dos peitos, pela libertação da Mulher, pela nova Mulher que haverá de surgir. Minha baioneta rasga o ventre de um português que não quer reconhecer a Independência do Brasil gritada, lá no Sul, pelo Imperador D. Pedro".
           
          "O Imperador me põe a condecoração. Tremo toda. Ele entende o que se passa comigo e sorri.
          - Parabéns. A senhora é uma heroína. A Pátria lhe será eterna devedora.
          - Cumpri apenas meu dever de brasileira - consigo balbuciar em resposta.
          O Imperador curva-se e vai retroceder. Faço-lhe um gesto. O homem poderoso se detém.
          - Posso ser-lhe útil em algo mais, senhora?
          - Quero pedir-lhe um obséquio, um grande obséquio...
          - Queira dizer-mo.
          - Quero que o senhor peça perdão, por mim, ao meu velho pai.
          - E por que motivo? - indaga o Imperador.
          - Porque fui-lhe desobediente, fugi de casa para entrar na guerra - eu lhe digo, toda ruborizada.
          O Imperador sorri de leve.
          - Está perdoada. Farei o senhor seu pai sabedor do meu perdão.
          O Imperador levanta a mão sobre a minha pessoa, em sinal de bênção". 
          (Do escritor brasileiro  Hélio Pólvora).

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro - Marinha Grande - Portugal
                                                                                                                                   

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