CURCURANAS (localidade, Recife)

Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
 
 

Chama-se Curcuranas um trecho territorial de origem muito antiga, pertencente ao município de Jaboatão, que fica situado nas imediações de Afogados, Boa Viagem e Muribeca. No começo do século XVII, a localidade possuía uma pequena povoação.

O Foral de 1537, conferido pelo donatário Duarte Coelho, evidencia que Curcuranas ficavam nas terras patrimoniais da Câmara de Olinda, com posses e aforamentos concedidos à referida Câmara, conforme documentado através de uma sentença do ouvidor geral da comarca - Dr. José Inácio de Aroche -, acerca do tombamento dos bens de Olinda, em 23 de setembro de 1710.

Adriano Verdonck, quando apresentou a sua memória ao Conselho Político do Recife, em 1630, menciona a localidade Curcuranas: Próximo ao Cabo de Santo Agostinho há na praia uma igrejinha chamada de Nossa Senhora da Candelária...junto fica o rio da Jangada, e parte um caminho pelo qual chega-se sem tardança a um belo lugar de nome Curcuranas.

Encontra-se o vocábulo Curcuranas escrito também como Corcuranas, Curcoranas, Cucuranas e, mais remotamente, como cara carana, caracuarana. De acordo com os estudiosos do assunto, o nome possui uma origem tupi.

Durante a presença holandesa em Pernambuco, um grupo de flamengos invade o engenho São Bartolomeu, confisca o gado local (que deveria ir para as Curcuranas), prende o proprietário - Francisco do Vale - e mais nove pessoas do engenho. Os presos foram conduzidos para o Recife, porém nunca se soube o destino que eles tiveram.

Há uma referência à localidade datada de 11 de outubro de 1684. O registro faz menção aos serviços prestados por Pascoal Gonçalves de Carvalho na guerra do Brasil, confere-lhe o cargo de capitão-mor governador do Rio Grande do Norte, e ressalta sua participação em uma luta contra os holandeses nas campinas das Curcuranas, que durou cinco horas, quando os invasores decidiram saquear os engenhos dos Guararapes.

Por outro lado, eram muito apreciadas as melancias produzidas no solo fértil das Curcuranas. A casa real portuguesa no Rio de Janeiro, no período do príncipe regente do reino e, depois, D. João VI, considerava essa fruta como sendo uma de suas melhores sobremesas.

Uma das correspondências oficiais da corte lusa, com os governadores da época, documentam e enaltecem as melancias das Curcuranas:

Ilmo. E Exmo. Sr. Começa o tempo das melancias, e posto que as primeiras não sejam tão boas, espero que, entre 197 que remeto pelo bergantim americano denominado Joseph, cheguem algumas capazes de entrar na sobremesa de S. A. Real, das quais fará entrega José Januário de Carvalho, negociante desta praça, que traz fretado o dito bergatim. Deus guarde V. Exc. Muitos anos. Recife de Pernambuco, em 20 de dezembro de 1810. Ilmo. e Exm. Sr. Conde de Linhares, Caetano Pinto de Miranda Montenegro.

Vale salientar que a melancia (Cucúrbita citrullus Linneu), hoje aclimatada em diversos países, é proveniente de uma planta herbácea rasteira, originária da Ásia Meridional. A cultura dessa fruta, nas Curcuranas e na ilha de Itamaracá, data do século XVII. Neste período, uma série de plantas exóticas, de distintas procedências, foi introduzida em Pernambuco, pelos colonizadores portugueses.


Fontes consultadas:

COSTA, F. A. Pereira da. Arredores do Recife. Recife: Fundaj, Ed. Massangana, 2001.

______. Anais Pernambucanos. Recife: Fundarpe, 1983.

 

Semira Adler Vainsencher

semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
http://semiraadlervainsencher.blogspot.com/