Edwiges de Sá Pereira

Semira Adler Vainsencher
psicóloga e pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
 

 

Filha do advogado José Bonifácio de Sá Pereira e de Maria Amélia Gonçalves da Rocha, Edwiges de Sá Pereira nasceu no dia 25 de outubro de 1884, em Barreiros, Pernambuco. Estudou no Colégio Eucarístico, e começou a lecionar aos treze anos de idade, dedicando-se à Educação Fundamental. Lecionou as disciplinas de História do Brasil e História Geral, no Instituto Nossa Senhora do Carmo; ensinou Português, no Curso Comercial do Colégio Eucarístico; atuou como superintendente de ensino, em várias escolas; e, galgando todos os degraus, chegou ao patamar de professora catedrática da Escola Normal.

Edwiges não foi, somente, uma grande educadora. Pioneira na luta pelos direitos da mulher, ela lutou pela conquista da emancipação feminina. Em dezembro de 1922, participou do I Congresso Internacional Feminista e, mediante seu apoio, foi fundada a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF). Publicou trabalhos em periódicos, deu palestras defendendo o divórcio e a “elevação” intelectual das mulheres, e participou de campanhas sufragistas, lutando pela conquista do voto feminino no país. Tratava-se, este, diga-se de passagem, de um direito justo, que a Revolução de 1930 veio ratificar.

No II Congresso Internacional Feminista, em 1931, que ocorreu no Rio de Janeiro, Edwiges proferiu um discurso intitulado Pela Mulher, para a Mulher, no qual dividiu a população feminina em três categorias: 1) as mulheres não precisavam trabalhar; 2) as que sabiam e precisavam trabalhar; e, 3) as que não sabiam e precisavam trabalhar.

De acordo com a educadora, da ação conjunta das duas correntes (as mulheres que não precisam trabalhar, e as mulheres que precisam e sabem trabalhar) é que deverá sair a redenção daquelas pertencentes à terceira categoria: as mulheres que precisam e não sabem trabalhar. Segundo ela, uma vez firmada a conquista feminina, o primeiro passo a ser pleiteado é o auxílio, como em um socorro, a essa categoria de mulher brasileira, que não está nos salões, na burocracia, nos ateliês e nas fábricas. Mas, que, ignorante e primária, encontra-se na multidão de incapazes que vagueiam pela cidade, e pedem esmolas nos cafés, igrejas e templos.

Defensora da cidadania e dos direitos humanos, Edwiges teve uma vasta trajetória na imprensa. Colaborou como jornalista, em vários Órgãos que defendiam os direitos das mulheres, a exemplo do periódico Escrínio, no Rio Grande do Sul; e de O Lyrio, em Pernambuco, que circulou mensalmente, durante dois anos (de 1902 a 1904) e visava conscientizar as pessoas de que, o único caminho para a libertação das mulheres, era a educação.

Edwiges trabalhou nos periódicos: O Ratazana (livro de sortes, 1918), A Nota (revista, 1921), Revista do Instituto da Sociedade de Letras de Pernambuco (1921) e Vida Feminina (1925). Além disso, colaborou com os jornais diários A Província, Jornal Pequeno e Commercio de Pernambuco. Foi membro da Academia Pernambucana de Letras (1951), e a primeira mulher a fazer parte da Associação de Imprensa de Pernambuco (A.I.P.).

Dentre os poemas que a educadora publicou em O Lyrio, destacam-se: Magno Sonho (O Lyrio, ano 1, nº 12, 1902); Olhos Verdes (O Lyrio, ano 2, nº 5, março de 1903); A um raio de sol (O Lyrio, ano 2, nº 6, abril de 1903); e O Malmequer (O Lyrio, ano 2, nº 7, maio de 1903). Transcreve-se, a seguir, um desses poemas, com a grafia original utilizada na época.

Olhos Verdes

Teus olhos verdes eu fito
Mas logo depois não sei
Se foi do excelso infinito
Divina estrella que olhei.

É que teu olhar encerra
Tanta graça e tanta luz
Que eu penso não ser da terra
O brilho que me seduz!...

Teus olhos, flor adorada,
São de um poder soberano:
E a gente os fita enlevada
Qual se contemplasse o oceano...

Não é que nelles escondas
Essa perola do mar,
Mas toda a attração das ondas
Tu tens guardada no olhar!

Eu nesse olhar adivinho
- Como a chimera vagueia! –
Candura de passarinho
Fascinação de sereia!...

O canto sonho do poeta
Nas noites claras de lua,
Semelha a chamma dilecta
Que nos teus olhos fluctua...

Formosa é sempre a esperança,
Pois vês teus olhos querida,
Têm a cor desta ave mansa
Que tece os sonhos da vida!...

Se pudessem teus olhares
Ver toda a immensa amargura
Do mundo eu via os pesares
Transformados em ventura...

Das almas tristes chorosas,
O pranto num doce riso,
A vida – num mar de rosas,
A terra num paraíso!...

Coração que em magoas perdes
A vontade de viver
Procura estes olhos verdes
Que te renasce o prazer!  

A jornalista e educadora publicou alguns livros, ainda, entre os quais Horas inúteis e Campesinas (livros de poesias), Um passado que não morre (ensaio sobre Regueira Costa), Eva Militante, A influência da mulher na educação pacifista do pós-guerra, Campesinas, e Jóia turca. Em 1920, ela foi eleita membro efetivo da Academia Pernambucana de Letras (ocupou a cadeira no. 7) e foi a primeira mulher a se tornar imortal. O acervo documental da intelectual pernambucana encontra-se no Instituto de Documentação da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife.

Edwiges de Sá Pereira faleceu no dia 14 de agosto de 1958.

Fontes consultadas:

ALVES, Audálio et al. Seleta de autores pernambucanos. Rio de Janeiro: Edições Jornal de Letras; Recife: Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, 1987. p.161-163.

ARAÚJO, Maria de Lourdes de. Edwiges de Sá Pereira. In: MULHERES do Brasil: pensamento e ação. Fortaleza: Ed. Henriqueta Galeno, 1971. v.2, p.427-448.

AS SUAVES amazonas de Pernambuco. Suplemento Cultural D. O. PE, Recife, ano 15, p.7, jan. 2001.

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http://www.unicap.br/neal/artigos/Texto6ProfZuleica.pdf Acesso em: 15 jul. 2009.

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http://www.portais.pe.gov.br/c/portal/layout?p_l_id=PUB.1327.54 Acesso em: 3 jul. 2009.

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http://www.interpoetica.com/edwiges_de_sa_pereira.htm Acesso em: 15 jul. 2009.

MORAIS, Maria Luiza Nóbrega de. Presença feminina no jornalismo pernambucano: dos primórdios à regulamentação profissional. Disponível em:

http://www.rp-bahia.com.br/biblioteca/hist-midia2005/resumos/R0156-1.pdf Acesso em: 21 jul. 2009.

SCHUMAHER, Shuma; BRAZIL, Érico Vital (Org.). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. SIQUEIRA, Elizabeth.

EDWIGES de Sá Pereira – uma pioneira na luta pelos direitos da mulher. Disponível em:

http://www.interpoetica.com/figura_da_vez9.htm Acesso em: 4 jul. 2009.

 

Semira Adler Vainsencher

semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
http://semiraadlervainsencher.blogspot.com/