HELONEIDA
STUDART
Semira
Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
Heloneida Studart nasceu em Fortaleza,
Estado do Ceará, no dia 9 de abril de
1932. Seus pais se chamavam Edite
Studart e Vicente Soares. Pelo lado
materno, descendia do historiador Barão
de Studart e, pelo paterno, do líder
abolicionista Antonio Bezerra de
Menezes, um geógrafo famoso. Aos nove
anos, estudando num colégio de freiras -
o Imaculada Conceição de Fortaleza – ela
escreveria uma história infantil
intitulada A Menina Que fugiu do Frio. A
partir daí, passou a dizer que seria uma
escritora no futuro.
Com dezesseis anos, Heloneida foi morar
no Rio de Janeiro, estreando como
colunista no jornal O Nordeste, onde
suas opiniões já causavam polêmicas na
época. De Fortaleza, ela trouxe os
originais de seu romance A primeira
pedra, que seria publicado em São Paulo,
em 1953, pela Editora Saraiva. Quatro
anos depois, viria o romance Dize-me o
teu nome, que foi premiado pela Academia
Brasileira de Letras e laureado com o
prêmio Orlando Dantas, do jornal Diário
de Notícias. Em 1960, ela foi trabalhar
no jornal Correio da Manhã e, por várias
décadas, atuou no jornalismo, apesar de
ter se formado em Ciências Sociais pela
Universidade do Brasil, no Rio de
Janeiro. Posteriormente, ela trabalhou
dez anos como redatora da revista
Manchete.
Heloneida envolveu-se com as lutas
populares e foi eleita presidente do
Sindicato das Entidades Culturais (Senambra),
em 1966. No entanto, por fazer oposição
à ditadura militar, foi destituída do
cargo e presa em março de 1969. Do
cárcere, no presídio São Judas Tadeu,
brotaram os roteiros de seus futuros
trabalhos Quero meu filho e Não
roubarás. Em meio àquele ambiente de
repressão, ninguém imaginaria que, em
anos vindouros, aqueles trabalhos seriam
exibidos com sucesso pela TV Globo.
Com o fim do regime militar, surgiriam
três novos romances, chamados pela
própria autora de Trilogia da tortura: O
pardal é um pássaro azul (que já foi
traduzido em quatro idiomas); O
estandarte da agonia (inspirado na vida
de sua amiga Zuzu Angel); e O torturador
em romaria.
A jornalista escreveu sobre a condição
feminina, a convite da Editora Vozes,
publicando os ensaios Mulher objeto de
cama e mesa, obra que vendeu 280 mil
exemplares e se transformou em uma
espécie de bíblia do feminismo
brasileiro; e Mulher, a quem pertence
seu corpo? Esses dois trabalhos estão,
respectivamente, na 27ª. e 6ª. edições.
Em 1978, com 60 mil votos, Heloneida
seria eleita deputada estadual do Rio de
Janeiro, pelo Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB). Ela
reelegeu-se em 1982, novamente pelo
PMDB, sendo inclusive vice-líder da
bancada de 1979 a 1988, ano em que
deixou o Partido, e participou da
fundação do Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB). No ano seguinte, saiu
do PSDB e entrou no Partido dos
Trabalhadores (PT).
Entre outros, Heloneida exerceu/exerce
vários cargos importantes: foi
vice-presidente da Comissão Parlamentar
de Controle do Meio-Ambiente, de 1979 a
1980; presidente da Assembléia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro
(ALERJ) de 1981 a 1982; integrou as
comissões especiais, relativas aos
direitos da mulher, no que diz respeito
aos direitos reprodutivos; participou da
apuração das condições de atendimento da
população nessa área; em seu terceiro
mandato como deputada, atuou como
vice-líder da bancada do PT; e, de 1995
a 1999, presidiu uma comissão especial
destinada a apurar as formas de
arrecadação e distribuição dos direitos
autorais no Rio de Janeiro. Além disso,
fundou duas instituições importantes,
com várias companheiras feministas: o
Centro da Mulher Brasileira, a primeira
entidade feminista do País; e o Centro
Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim);
e é presidente da Comissão Permanente de
Defesa dos Direitos Humanos.
Na Assembléia, em meio às suas tarefas
legislativas, a deputada-escritora
implantou ainda o projeto cultural
Libertas quae sera tamen, contendo três
peças que explicavam algumas das lutas
de libertação do povo brasileiro:
Tiradentes, o Zé de Vila Rica; Bárbara
do Crato e Frei Caneca. O seu público
alvo era constituído por alunos de
escolas públicas, e os intérpretes, em
sua maioria, eram adolescentes que
moravam em favelas. Aquelas peças, que
foram dirigidas por Wilma Dulcetti,
ficaram quatro anos em cartaz. Com a
mudança da presidência da Assembléia,
porém, o projeto foi suspenso.
Ela também foi autora da peça Homem Não
Entra, que ficou em cartaz durante cinco
anos, e representou um marco do teatro
brasileiro nos anos 1970, defendendo
bandeiras relativas ao avanço e à
promoção das mulheres.
A jornalista publicou também outras
obras relevantes: A Culpa; China, o
Nordeste que deu certo; A deusa do rádio
e outros deuses; e Deus não paga em
dólar. Esta última foi considerada como
um marco da literatura brasileira.
Heloneida Studart é mãe de seis filhos
(todos do sexo masculino), seu
temperamento é alegre, e possui hábitos
bem simples. Com vários mandatos de
deputada estadual, ela aprovou muitas
leis que vieram a beneficiar mulheres e
trabalhadores, estando sempre em defesa
da democracia e da justiça social. A
profissional polivalente também ficou
conhecida por sua participação nos
debates da TV (como o "Sem Censura" da
TV Educativa, onde atuou durante dois
anos), nos programas de rádio e na
publicação de artigos nos principais
jornais cariocas.
No livro Mulheres brasileiras, da
Editora Record, Heloneida Studart foi
indicada como uma das 100 brasileiras
mais importantes do século XX. Mais
recentemente, a Fundação de Mulheres
Suíças escolheu 1.000 mulheres para
concorrerem ao prêmio Nobel da Paz.
Dentre elas, 52 eram brasileiras; e a
jornalista cearense estava entre elas.
Fontes consultadas:
HELONEIDA Studart. Disponível em:
Acesso em: 20 mar. 2005.
HELONEIDA Studart. Disponível em:
Acesso em: 15 mar. 2006.
HELONEIDA Studart. Disponível em:
Acesso em: 15 mar. 2006.
HELONEIDA Studart. Disponível em:
Acesso em: 15 mar. 2006.
LEI de Heloneida Studart garante
cirurgia de mama na rede pública.
Disponível em:
Acesso
em: 20 mar. 2005.
SCHUMAHER, Erico Vital Brazil (Org.).
Dicionário mulheres do Brasil: de
1500 até a atualidade. Rio de
Janeiro: Zahar, 2000.
VIVER sem violência é direito da mulher.
Disponível em:
Acesso em: 20 mar. 2005.