IGREJA DE SÃO JOSÉ DO RIBAMAR (Recife, PE)
 
Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco


 

Um dos prédios mais antigos da capitania de Pernambuco, situado no bairro de São José, a igreja de São José do Ribamar começou como uma modesta capelinha, fruto da iniciativa de carpinteiros e marceneiros do Recife. A Irmandade deles, porém, só foi constituída no século XVIII, com um patrimônio estimado em "cem mil réis". O surgimento desse templo, portanto, representou uma obra de devoção popular. O prédio foi levantado sob o signo de São José dos Carpinteiros - o seu padroeiro - que exercia essa mesma profissão.

Em se tratando da fundação da igreja, propriamente dita, isso obriga o leitor a retroceder ao dia 6 de junho de 1752, quando o provisor do bispado de Olinda, acatando o patrimônio da Irmandade, como estando em condições regulares, aforou "um terreno situado nas terras do Curado, na rua Julião de França, fora da Porta de Santo Antônio".

Alguns dias antes desse evento, contudo, o juiz, o escrivão e o procurador da Irmandade, bem como marceneiros, carpinteiros, e outros, solicitaram uma licença para construir a sua igreja "naquelas terras aforadas no campo do Curral, junto à Cacimba chamada de Cajueiro".

Mediante a aquisição da licença, ficou determinado que, de imediato, a Irmandade deveria erguer o prédio em pedra e cal, em substituição à antiga capelinha, contudo exigia-se a construção de cinco degraus, sem o que não seria concedida a licença para a benção.

Os trabalhos começaram em 1756, mas, por falta de recursos financeiros, a igreja ficou inacabada. Registra a História que, na época (1788), o governador D. Tomás José de Melo quis proteger esse templo e, para tanto, utilizou a sua astúcia. Mandou rastrear o litoral pernambucano em busca de âncoras e outros objetos de ferro, pertencentes a navios naufragados na costa, e que eram dados como perdidos. Os objetos, quando encontrados, eram levados à praia de São José.

A partir daí, o governador convidou os negociantes locais (quiçá, alguns donos dos próprios objetos) a fim de participarem de um leilão público. Devido à adulação de certos negociantes, algumas peças leiloadas alcançavam preços bastante elevados, chegando a serem arrematadas mais de duas vezes. Isto porque os arrematantes, após adquiri-los, deixavam os objetos, novamente, para o acervo de São José. Foi dessa maneira que D. Tomás amealhou recursos e deu andamento às obras da igreja. O prédio, no entanto, só ficou pronto em 1797.

Em 1902, a igreja ficou mais imponente, ainda: ganhou torres, um frontispício mais austero, e ornamentos (em sua fachada e nas cinco janelas da frente), com símbolos relacionados ao trabalho em madeira - pregos, martelos, esquadros, compassos, e outros -, para deixar em evidência, eternamente, a profissão dos seus fundadores. A despeito de possuírem um grande valor histórico, as talhas, os ornamentos, as imagens, os quadros, e os capitéis, não se encontram em bom estado de conservação.

No forro do teto de madeira é possível apreciar um grande painel emoldurado, com a imagem de São José, tendo em seu contorno doze medalhões com o busto dos apóstolos, em vulto natural. Estão presentes, ainda, as Irmandades de Nossa Senhora da Luz, Nossa Senhora do Bom Parto e Senhor Bom Jesus dos Aflitos.

No muro do adro, são belas as tochas de pedra, com suas labaredas espessas. Observa-se, na fachada, um belo trabalho feito com mosaicos em cores azul e branca, e dispostos em um semicírculo. A obra é uma criação do artista pernambucano Francisco Brennand.


Fontes consultadas:

FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.

GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970.

Semira Adler Vainsencher

semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
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