IGREJA DE NOSSA
SENHORA DO LIVRAMENTO (Recife, PE)
Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
Localizada
no bairro de Santo Antônio, a Igreja de Nossa
Senhora do Livramento é relativamente recente, tendo
sido aberta ao culto religioso no dia 9 de dezembro
de 1882. A construção do prédio, porém, começou bem
antes disso. As suas talhas, por exemplo, foram
elaboradas pelo artista entalhador João da Costa
Furtado, de 1715 a 1717.
Existem documentos, também, que registram a
consignação de verbas para as obras de frontispício
e acabamento dos altares, e para as despesas
referentes aos operários e aos materiais, que são
dos anos 1711 e 1712. A quantia que se pagava aos
pedreiros era de 320 réis por dia e, aos serventes,
100 réis por dia.
Tudo indica que a porta da igreja foi entalhada em
1720. Pagou-se, na época, um preço altíssimo pelo
trabalho: 50 mil réis. Está preservado na sacristia,
ainda, um lavatório de pedra da Paraíba, uma obra de
grande valor artístico.
Há referências históricas que, em 1694, no local já
havia uma igrejinha simples, sob a invocação de
Nossa Senhora do Livramento dos Homens Pardos, em um
terreno que fazia parte das "hortas de São Pedro dos
Clérigos". No livro Narração Histórica das
Calamidades de Pernambuco, de 1715, constata-se uma
referência à Igreja de Nossa Senhora do Livramento
dos Homens Pardos.
Uma de suas grandes devoções foi dedicada à Nossa
Senhora do Bom Parto, tendo sido fundado junto ao
altar-mor, em 1702, uma Irmandade, sob a invocação
dessa santa. Sabe-se, por outro lado, que, em 1724,
a Irmandade de Nossa Senhora do Livramento dos
Homens Pardos já existia. Em um documento datado de
12 de novembro do mesmo ano, tal Irmandade escrevia
ao rei solicitando uma ajuda com o objetivo de fazer
a festa da padroeira de sua igreja.
O prédio do templo vinha sendo alvo de reformas
contínuas. Neste sentido, em 1830, a Irmandade
decidiu demoli-lo e, em seu lugar, construir um
templo suntuoso. Para tanto, a obra foi confiada ao
mestre pedreiro Francisco José da Paz, cujo salário
era o de 1 mil e 200 réis diários. Os pedreiros
ganhavam 800 réis e os serventes, 240 réis.
Em 1832, quando os trabalhos já estavam bem
adiantados, colocou-se, no nicho da igreja, uma
imagem de Nossa Senhora do Livramento, esculpida em
pedra e em tamanho natural, e ela foi reaberta aos
cultos religiosos. Um artista bastante famoso -
Cândido Ribeiro Pessoa - foi encarregado, no ano de
1840, da douração do altar-mor e dos salientes
laterais.
Desde a reforma do século XIX, a igreja possui
linhas clássicas coloniais, e a sua fachada
apresenta traços de relevo em pedra de cantaria e em
granito lavrado. A sua frente possui uma área toda
cercada por gradis de ferro, com três portões
bonitos sobre uma escadaria de pedras, e a sua torre
mede 25 metros.
O teto é uma obra de arte em madeira, cobrindo toda
a amplitude do salão, e apresenta traços que simulam
os raios do Santíssimo. No salão, pode-se apreciar
dois grandes painéis sobre madeira, com um colorido
queimado, que representam a Apresentação e o
Desposório de Nossa Senhora; e duas telas: a
primeira retrata o mestre-de-Campo José de Vaz
Salgado e, a segunda, um oficial desconhecido.
No alto do frontispício, vê-se uma bela cruz em
ferro, ricamente trabalhada, que, na época, foi
executada pela Fundição Aurora, um estabelecimento
comercial de renome. Vê-se, ainda, um grande armário
embutido na parede, datado de 1843, todo em
jacarandá lavrado, onde são guardados os objetos dos
cultos; e a imagem de Nossa Senhora da Conceição,
conservada no consistório da igreja.
Pode ser apreciada no templo, inclusive, uma imagem
de São Gonçalo Garcia, um santo de cor parda,
nascido na Índia, que foi martirizado em 1597 e, em
1627, beatificado pelo Papa Urbano VIII.
O Imperador D. Pedro II foi eleito juiz perpétuo e
protetor dessa Irmandade, em 1845. Por essa razão,
durante toda a vigência do Governo Imperial, as
festas anuais em louvor à padroeira foram
acompanhadas por um aparato militar: uma guarda de
honra do exército.
A Igreja de Nossa Senhora do Livramento não costuma
mais celebrar as festas populares como outrora, já
que está situada em uma área completamente
comercial. Não obstante, os seus atos normais de
serviço de culto são celebrados com regularidade.
Hoje, a cerimônia de maior repercussão é a Missa do
Comércio, rezada todos os domingos, às 12 horas, no
altar de Nossa Senhora da Soledade, santa que foi
consagrada como a padroeira dos Empregados do
Comércio do Recife.
Fontes consultadas:
GUERRA, Flávio. Velhas igrejas do Recife, Olinda e
Igarassu. [Recife?: s.n.], ]196?].
_________. Velhas igrejas e subúrbios históricos.
Recife: Fundação Guararapes, 1970.