Revista “Cá Esperamos Nós”

 

Nº 10 – Agosto de 2006

Editor: Carlos Leite Ribeiro

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Caminhante - Guida Linhares

Conheci um dia um excepcional trovador
que caminhava pela vida em busca do sol.
E toda vez que se aproximava do astro real
algo fazia voltá-lo atrás,
porquanto sua estirpe
sempre combatia o mal.
                    
Parecia que seu coração ansiava
por mover o mundo com mil pensamentos
querendo lutar por verdades,  justiça e paz
mas sentia-se cada vez mais,
amargurado e incapaz.
Seu pobre coração não conhecia a paz.
Sempre buscava ser aquela pessoa
perfeita e singular
Singular em sua essência, o que sabia ser apreciado e querido por muita gente.
Perfeito nem sempre, mas em seu sonhar
idealizava a evolução do ser
e buscava caminhos para sua verdade  estabelecer.
Olhava a luta da vida e das criaturas
e percebia monstros e aleijões se degladiando
pela conquista dos seres humanos
honrarias, vaidades, rótulos e serventias
tudo tinha um valor de contexto
assim as criaturas no palco da vida
desempenhavam seus papéis de guarida
Mas pensava o trovador,
como as criaturas podem ser felizes
neste mundão de Deus
se tanta coisa falta para o oprimido
e tanto sobra na mesa do bandido.
E este trovador que tinha tudo
para cantar a vida em prosa e versos
mostrando a Beleza e a Alegria,
possuia em seu coração de ouro
toda a solidariedade para com o mundo em que vivia,
não se alimentando só da fantasia.
E percebia que as injustiças grassam
e os seres
humanos à mercê dos poderosos
lutam com garra por manterem sua sobrevivência
e a condição de dignidade tão necessária
que lhes garanta um sentido de vida,
nem que seja visionária.
Mas um dia vi este trovador chorando
solitário numa praia tempestuosa
agachado sobre si mesmo,
rosto escondido do mundo,
procurando desesperadamente
os seus sonhos, desde o mais leve até o mais profundo.
Onde foi que aconteceu a grande ruptura
quando foi que seu coração parou de se alegrar
como foi que tudo aconteceu,
onde e em que momento se perdeu.
Se viu caminhante pela vida afora
entre amores e desamores,
mil tempestades da alma
a lhe assolarem o coração inquieto,
ele chorou buscando no fundo do peito
a angústia de tantos passos certos e incertos,
para desvelar em tempo seus monstros descobertos. 
E a mágica da vida se fez, algo surgiu do acaso
a lhe temperar os dias e as noites
uma fada brilhante que observa os humanos
e com sua varinha mágica os toca levemente nos ombros
e os faz despertar de seu sono de cem anos de solidão
viu aquele trovador tão triste
e colocou sua poção mágica em riste.
E soprou em seus ouvidos
enquanto ele dormia:
-  trovador tu que cantas a beleza da vida e dos amores
   em forma tão poética, sejas no mundo um mensageiro da paz,
   deixes que a justiça divina se encarregue
   de estabelecer as metas.
Tu nasceste para ser um anjo de luz
deixe as batalhas para os outros,
tu já fizeste a tua parte,
olha para dentro do teu coração e extrai dele todo amor e paixão
e os coloque a serviço da vida.
E acima de tudo busca a tua felicidade e
a paz do teu coração,
pois somente a amorosidade é capaz de devolver a quem quer que seja,
a harmonia que a alma traz como bandeira a ser desfraldada.
Sigas levantando a tua bandeira de paz,
numa trégua de luz branca,
que irá envolver a tudo e a todos,
num imenso círculo de amor e amizade,
porquanto a lança do perdão
é o beneplácito do bem viver
daquele que tem olhos para ver.

                    Palavras dedicadas aos amigos que lutam bravamente por seus ideais,
                    às vezes sacrificando a própria vida pessoal, o que faz com que sejam sempre muito amados.
                    Beijos no coração
                    Guida.  

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CRIADOR – por Luiz Eduardo Caminha -
 
Voa pensamento, voa;
Procura nos píncaros
Dos montes.
 
Na imensidão infinita
dos céus, do Universo.
 
No infinito imenso
Que é mar.
 
Busca na magnitude
Das florestas…
 
E, quando de voar,
 cansares,
Repousa tua luz,
Na perfeita harmonia
Dos seres;
E reconheças :
 
Há uma obra,
Onde permeiam as criaturas,
Onde reina um Criador !

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FICÇÃO – Luiz Poeta ( sbacem –rj ) – Luiz Gilberto de Barros -

 
 
Na ausência de um livro, eu me leio;
No espelho, consulto meu coração,
Percebo-me criando  um devaneio;
O meu amor é pura ficcção.
 
Recrio meus enredos, traço a trama,
Ações e atitudes, personagens…
No fim do último ato há um drama;
Enfeito-me de antigas maquiagens.
 
Por ser um personagem-narrador,
Eu posso conduzir cada goston;
Sou livre para amar, sou sonhador
Que faz do seu amor, onisciência.
 
Descrevo o ambiente: são castelos
Com torres, rios, pontes levadiças,
Carruagens e cavalos muito belos,
Mosteiros, camponeses e noviças…
 
O prado verde, flores nas campinas,
montanhas, rios, lagos e rebanhos,
Florestas silenciosas e neblinas
E árvores de todos os tamanhos.
 
Cavalgo meu corcel por uma estrada
Florida, colorida, fascinante…
Ao longe, vejo minha doce  amada
Dos olhos mais azuis e cativantes…
 
É quando uma turba de guerreiros
Estranhos, perigosos  ameaça…
Em golpes planejados e certeiros
De espada, minha fúria os rechaça !
 
Exímio espadachim medieval,
Altivo, destemido, poderoso,
Combato a opressão, o medo, o mal;
Meu golpe é fatal e impetuoso.
 
Enfim, num trote firme, me refaço
E sigo meu trajeto, triunfante,
Minha princesa amada, num abraço,
Me prende nos seus braços… radiante.
 
Alguém me chama repentinamente,
A imagem se dissolve pelo ar;
Meu sonho terno some… vagamente…
Se perde na mudez do meu olhar.
 
Poetas são assim… sublimemente
Desfazem, num instante sedutor,
A dor que o coração finge que sente,
Quando o que se sente é só…amor. 

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COLHER MORANGOS – Neida Wobeto
 
Nossa vida
é um grande jardim
de flores perfumadas.
São flores silvestres
que atraem borboletas.
Somos o semeador do jardim,
onde cultivamos
a alegria da semeadura
e onde colhemos
a satisfação
dos  relacionamentos.
Devemos aproveitar
cada dia
com a certeza
de que a semeadura é opcional,
porém a colheita
é a gostoncia
e, portanto,
obrigatória.
Se plantarmos
morangos,
colheremos morango. 
Neida Wobeto

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O tempo – rivkahcohen -

 

Como o tempo passa..!
Números em profusão..
Da brincadeira na rua, lá na praça,
os números pulam para os cadernos,
depois, vão enumerando as questões
e num mundo mais amplo, mais aberto,
vamos eliminando as opções..
 
E ele continua passando!
A contagem é dos amigos que se vão..
 
Teve um louco que falou certo:
- “Deveríamos nascer velhos “ -
E ele tinha razão,
pois quanto mais soubéssemos da vida,
mais íamos tendo disposição.
 
Mas deve haver uma lógica
nesse caminho de ida,
quando as mãos já estão sem forças,
na mente,
           sem que se possa,
                       todas as soluções!
 
Os olhos, logo mais adiante,
já não vendo com precisão a linha
coloca os números  distantes
ou talvez numa outra
e não nesta amarelinha!
rivkahcohen

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Minha vida – gosto Nery Vanti (Vyrena) -


Minha vida era feia e fria
os dias escuros e sem brilho…
 inúteis e intermináveis.
O céu, nem céu parecia,
sem estrelas
e sem lua para enfeitá-lo.

Tudo muito triste se fazia
nas tardes solitárias
que eu vivia.

Até que um dia
você, de não sei onde surgiu,
como um brilho de sol radiante,
segurou minha mão e guiou-me
por caminhos
até então desconhecidos.

A minha vida feia e fria
deste sentido.
Despertei para o amor,
Banhei-me nos gosto
da felicidade e da alegria!

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Lembrando as letras galegas  - Ir. Elvo Clemente

A Galiza, região ao norte da Península Ibérica tem parte de seu território na Espanha e em Portugal. Depois da romanização daquela terra formou-se, com as línguas das tribos primitivas celtas e outras, o idioma galaico, que se aperfeiçoou para galego. Nos séculos XI e XII constituiu-se base da língua falada no norte de Portucale, tomando o nome de galaico-português, que com Fernão Lopes, 1380, o grande cronista, passou a ser o Português. Daquelas eras em diante, percorrendo os séculos e as regiões da Lusitânia, a língua portuguesa foi-se aperfeiçoando. Tomou novos coloridos conforme as influências político-culturais, pelas novas conquistas em África, Ásia e América. Dessa forma, a língua portuguesa firmou-se em sua independência no continente, nas ilhas e para além dos mares. O galego continuou sua vida em especial na Espanha.
Modernamente, com os novos ventos democráticos da Espanha, pela Lei das Regiões, o Galego voltou a ter o status de língua, nas escolas e na vida sócio-político-cultural da Galiza. Em 1906, surgiu a Real Academia Galega. No dia 1 de gost, um grupo de emigrados em Cuba, presidido pelo poeta Manuel Curros Enriquez, animados pelo entusiasmo de Xosé Fontelha Leal, assinou o primeiro estatuto da instituição. Em 1963, a Real Academia Galega resolveu dedicar o dia 17 de gos como Dia da Língua Galega em que são homenageados uma escritora e um escritor. Celebrou-se, nessa data, o centenário da edição dos Cantares Gallegos (1963), de Rosalía de Castro, livro-alicerce do idioma do chamado ressurgimento literário, no século XIX, quando a língua alcançou foros de língua culta. Lembraram-se os escritores Rosalía de Castro, Alfonso R. Castelão, Eduardo Pondal, Curros Enriquez, Valentin Lamas Carvajal e outros tantos. Concluo estas linhas com um pequeno relato pessoal. Num congresso em Lisboa, encontrei o grande crítico e escritor Guerra da Cal, galego, autor da melhor análise feita à obra de Eça de Queirós. Perguntei-lhe onde morava, após ter voltado da América. Respondeu: Moro aqui em Lisboa, na terra em que se fala a minha língua. Bendita seja a língua que deu vida e vigor à língua de Camões, e que é falada em oito países por 220 milhões.

Professor universitário/Pucrs

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                   CARTA  01 – Araçatuba, 13 de gosto de 2006 – Pedro César -
    Prezado “Amigo”,
        Há muito tempo não o vejo, mas ‘sabemos’ que temos ligações – talvez sejamos de outro planeta. Talvez. Talvez porque sonhamos. E por mais que sonhamos – e nós humanos/humanizados sonhamos muito, nunca conseguimos sonhar tudo o que desejamos.
        Em nosso último comentário, como te disse, gostaria de sonhar colorido – e não em pb (preto e branco). Será que é possível sonhar colorido? O último sonho que comentei com você foi em pb e não conseguimos chegar a um acordo – melhor, não conseguimos decifrá-lo.  Por isso que questiono: será que sonhar colorido não seria mais fácil para decifrar?
        O sonho não era, por assim dizer, dos piores. Mas também não era dos melhores. Nem bom, nem ruim. Médio. E ficamos naquela eterna dúvida: bom, médio ou ruim? E não conseguimos classificar… você se lembra? E discutimos horas a fio e não chegamos a conclusão alguma – ficamos como que naquela: qual será o sexo dos anjos? Anjo tem sexo? My God!
        E nessa confusão confusa nada aproveitamos. Tomamos mais algumas cervejinhas – pois considero-a a bebida de preferência nacional – de preferência: qualquer uma (pois não estou te escrevendo para fazer propaganda de marca de cerveja), não é mesmo? Estou te escrevendo para desabafar… para comentar o nosso último encontro onde relatei a você o meu sonho em pb.
        Voltando ao sonho sonhado por mim – em pb – ficou bem claro para nós que seria melhor eu ter sonhado colorido, assim, ficaria mais fácil de entendermos  - e não em pb. Credo! Já repeti várias vezes em pb… será que essas letrinhas (pb) estão me perseguindo? Ou eu estou apenas fazendo a inversão delas? Aliás, a folha em que te escrevo é retirada daquelas coloridas, melhor: folha preta com linhas brancas… e eu escrevendo com caneta branca. Novamente em pb.
        Pensando bem… acho que tomei algumas a mais… por isso vou parar por aqui. Escrevo-te outro dia, ou mais tarde quando estiver em sã consciência. Caso contrário, vão imaginar que eu sou mesmo de outro planeta! Ainda bem que seres vindos de outros planetas usam as letras ET… e não pb!
        Seu amigo Pece – ainda bem que não é pb.

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Lenda da origem do nome da cidade de Estremoz – Dr. José Filipe Mendeiros (1956)

 

Conta a tradição que algumas famílias expulsas de Castelo Branco, a que o monarca “bolonhês” (D. Afonso 3º) dera foral em 1552, ter-se-iam acolhido à sombra de frondoso tremoceiro existente na colina do futuro castelo estremocense e teriam a el-Rei lhes desse foral. D. Afonso 3º acedeu e perguntou-lhes que nome desejavam para a povoação.

Responderam-lhe que não tendo achado mais do que o Sol e a Lua para os iluminarem e um tremoceiro para os sombrear, queriam que aqueles astros e o tremoceiro entrassem nas armas e a terra se chamasse Estremoços. Claro está que esta explicação do nome Estremoz não pode deixar de ser lendária, até porque, no reinado de D. Afonso 2º, já existia uma povoação com o mesmo nome.

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