Nº 20 - Maio de 2004

EDITOR: CARLOS LEITE RIBEIRO

          "QUEM SOU ?..." - Paulo Afonso

          1º - a) Nome Paulo Afonso de Paiva Cavalcanti Idade – 04.12.1947
          b) Profissão Jornalista
          c) Morada – Rua Antônio Cavalcante Rangel, 269 – Ponta da Serra – Itaitinga – CE – Brasil – CEP 61.880-000
          d) - Quer falar um pouco da terra onde mora ? Itaitinga, é uma pequena cidade da região metropolitana de Fortaleza, que dista apenas 25 km desta. É cidade pobre, esquecida pelas políticas públicas, de muitas crianças pelas ruas.
         
         
          2º - a) Quando começou a escrever ? -;- b) Teve a influência de alguém para começar a escrever ? -;- c) Lembra-se do seu 1º trabalho literário (se puder, indique o título) -;- d) Foi divulgado (como) ?;
         
          a) - : Aos 12 anos, escrevia poesias e pequenos contos e crônicas.
          b) - : Do meu pai.
          c) - : Sim. O seu título era A LUA E EU, escrito em 1965, com 17 anos.
          d) - : Sim, este trabalho foi publicado no jornal estudantil PRETEXTO. Eram os anos negros da ditadura militar, e aquele jornal era um grande pretexto para resistirmos.
         
          3º - a) Tem livro (s) impresso (s) (editora e ano) ? -;- b) Tem livro (s) electrónico (e-book ? (editora e ano) -;- c) Projectos literários para este ano de 2004 ? -;- d) Como vão ser editados ?:
         
          a) - : Sim, tenho três, esgotados. Impressos pelo autor no período de 1980 a 1982. Eram livros técnicos, didáticos com os títulos: Fotografia Básica, O Laboratório Fotográfico e O Estúdio Fotográfico.
          b) - : Sim, tenho 00. Não há editora. Eu os escrevi e eu mesmo os coloquei na net, criando uma página específica para cada um. São eles: Pau-Brasil, A Crise da Moradia, Propriedade Privada, Quimeras.
          c) - : Concluir o livro Escolas Populares.
          d) - : Devido ao custo das publicações, provavelmente estará inicialmente, como os outros, apenas na net.
         
          4º - a) Fale-nos um pouco de si, como pessoa humana ? -;- b) Como Escritor (a) ? -;- c) Para se inspirar literariamente, precisa de algum ambiente especial ? -;- c) Tem prémios literários ?:
         
          a) - : Sou um jornalista que nos últimos dez anos abraçou a causa de crianças e adolescentes empobrecidos, vivendo em situação de risco pessoal ou social.
          b) - : Sou um escritor que à sombra do velho jornalista tem se dedicado à escrever crônicas com denúncias, numa linguagem jornalística, à respeito do mesmo tema acima.
          c) - : Sim. O ambiente que construí, onde moro hoje. Um pequeno sítio, isolado, mas bem perto da capital, com muita área verde, onde escrevo, conforme a hora, ao som do vento, do farfalhar das folhas, do coaxar dos sapos, do chilrear dos pássaros, do cantar dos grilos e cigarras, ou da fanfarronice dos micos.
          d) - : Não. Nunca participei de concursos e nunca procurei instituições literárias. Mas acho que está na hora de começar a faze-lo.
         
          5º - a) Tem Home Page própria ( não são consideradas outras que simplesmente tenham trabalhos seus) -;-b) Conhece as vantagens que os Autores do CEN têm em ter sua Home Page ou (e) Livro (s) electrónicos, nos nossos sites (preços, condições e divulgação) ? -;- c) Que conselho daria a uma pessoa que começasse agora a escrever ? -;- d) Para terminar este trabalho, queira fazer o favor de mandar um pequeno (e original) trabalho seu (em prosa ou em verso) ?:
         
          a) - : Tenho várias. A minha mesmo, pessoal é: http://www.pauloafonso13.hpg.ig.com.br . Mas tenho as outras onde coloquei meus livros e que são: http://www.acrisedamoradia.hpg.ig.com.br , http://www.propriedadeprivada.hpg.ig.com.br , http://www.manualdovoluntario.hpg.ig.com.br e http://www.brazilina.hpg.ig.com.br .
          b) - : Não. Mas gostaria de conhecer.
          c) - : O que dei recentemente a um adolescente da Bahia, que leu uma matéria minha em uma revista e escreveu-me dizendo querer fazer jornalismo e tornar-se um escritor. Disse também que já trabalha na rádio comunitária local, como locutor de um programa de noticiário. O conselho que dei, tomo a liberdade de colocar no anexo, em sua íntegra, a carta que enviei a ele.
         
         
Orlando,
         
          Estamos sendo constantemente informados pelos jornais, revistas, televisão, cinema, rádio, que nosso mundo está passando por uma verdadeira revolução da comunicação à distância. Distância. Existe mesmo uma distância? Aparelhos de fax, televisões a cabo, satélites artificiais, computadores ligados em rede, são inumeráveis os recursos de que dispomos para anular quilômetros e viajarmos mais rápido do que o mais moderno supersônico. São assim indiscutíveis as contribuições da tecnologia à comunicação, à aproximação dos homens, ao diálogo.
          Acabei de conversar "on line" com uma amiga virtual na Austrália, e já estou lhe enviando um correio eletrônico que chegará à Bahia, instantaneamente. E nós, que fazemos comunicações neste mundo moderno, eu nos meus textos, você na rádio, temos uma responsabilidade muito grande. Principalmente, aqueles, que como você lidam com a informação e a notícia. Você tornou-se em sua pequena Itaberaba, um formador de opinião. A responsabilidade é grande. Nas ondas do rádio, sua voz e sua opinião, vão longe, entram nos lares ricos e pobres, e não podem chegar lá com informações falsas ou distorcidas. Seja honesto e leal a você mesmo. Ouça sempre os dois lados. Não faça denúncias sem checar a sua veracidade e ouvir o outro lado.
          Para contribuir na sua formação, estou enviando um presente modesto. Colocarei amanhã, no correio, um livretinho meu, com alguns artigos antigos e outros recentes. Note que A LUA E EU, foi escrito e publicado em um jornal escolar, em 1965, quando eu estava no ginásio. Este livro que envio, não pretende ser um guia, um manual ou material de consulta; mas poderá ser mais do que isto. Poderá ser mais um punhado de texto que você deverá devorar ávido por conhecimentos e ler, ler, ler, reler. Mas não só ele. Leia tudo. Livros, romances, aventuras, biografias, jornais, revistas. Leia nossos grandes autores, biografias, em busca do seu próprio estilo e do domínio do idioma. Leia muito. Não negligencie seus estudos. A notícia certa, verdadeira, útil, tem que ser levada ao ouvinte com segurança, boa dicção e BOM PORTUGUÊS. Seu estilo literário, hoje em formação, despertará e crescerá, através da leitura.
          Continuo aguardando seus escritos. Quero conhecer algo seu.
          Abraços,
          Paulo Afonso

d) - : Pequeno? Oh! Meu Deus, por que pequeno? Desculpe-me mas vou mandar um não medindo-o pelo tamanho mas, pela sua atualidade, já que fala no dia internacional da mulher, que passou recentemente. Desculpem se está extenso.

8 de março - um dia internacional para as Mariazinhas
Paulo Afonso de Paiva Cavalcanti *

          Convidaram-me a sugerir um nome de mulher, para ser homenageada na Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, pela passagem do dia Internacional da Mulher. Desculpe-me, Mariazinha, pensei em ti.
          Pensei em ti porque me lembrei que súbito, da mente imunda daquela besta insensível, a gravidez precoce, indesejada, nem sequer pensada ou sabida, despencou-se sobre tua vida fazendo inflar teu ventre, já dilatado de farinha e verminoses. Aos nove anos, nem chegaste a ouvir o chocalho da serpente, que anuncia os perigos do mundo, e já foste picada por ela, de forma irreversível, entrando definitivamente para a estatística oficial, embora maquiada, de dados do governo. Não te preocupe, lá teu nome não aparece, és apenas um número, um número falso, tão pequeno que nem preocupa nossa sociedade.
          Mas há outro mundo, minha pequena, um mundo onde crianças na tua idade, ainda brincam de bonecas, e como o pequeno príncipe, ainda sonham plantar rosas no deserto. Mas aqui, nestas ruas pobres e sujas deste Ceará que conheces, onde de nenhuma mudança te falaram, não encontraste nenhuma ponte para o futuro, mas apenas as pontes para o abismo onde te encontras. Nenhum pequeno príncipe plantou, achou ou colheu rosa nenhuma. Somente tu, e outras crianças pobres, foram plantadas entre as pedras toscas deste calçamento. És agora, semente e adubo. És rosa banhada no sangue de outras crianças pobres que se foram, vítimas de violências, como tu. és agora. És uma rosa-bússola, poderás servir de rosa-rota para que pessoas de bem, te vejam como rosa-luz no fim do túnel, iniciando um processo de redenção de crianças como tu. Um dia, minha pequena, talvez já nem estejas mais aqui, serás rosa-ninho, serás uma rosa-canção, anunciando a outras meninas a rosa-liberdade, a rosa-amor, a rosa-lua, a rosa-utopia, a rosa- caminho.
          Mas são irônicas as páginas desta vida. As mesmas pessoas que tem obrigação de legislar por ti, cuidar de ti, mas te viram as costas, querem na grande casa do povo, homenagear a mulher pela passagem do seu dia internacional. És a mulher ideal para ser a homenageada. Mulher-menina, menina-mãe, mãe-abandonada, reúnes tudo para seres merecedora da homenagem. Representas as meninas, as mulheres, as mães desta América Latina abandonada, desta nossa Pátria Grande, que ainda morrem de parto, pneumonia, fome, diarréia. Representas as meninas, as mulheres, as mães da Mama África, morrendo das mesmas misérias, de malária, tifo, AIDS. Mas não serás a homenageada. Há mulheres brancas, ricas, perfumadas, com extensos currículos de obras e serviços prestados a ti, que estarão lá, em teu lugar, sobre tapetes vermelhos, entre champanhe e caviar, recebendo prêmios, homenagens, e prometendo que continuarão a lutar por ti, nas mil Frentes e Fóruns de Alguma Coisa, ou de Coisa Nenhuma, que criam para desviar o dinheiro público, de programas assistenciais que te pertencem. Doce ironia! Foi muito, sonhar com tua presença nos salões luxuosos da Assembléia Legislativa, com tua face terrosa, teus braços finos, esta pasmaceira, fruto de mais de 500 anos de abandono e indigência. A maioria fingiu que não viu teu nome entre as candidatas.
          Quanto tempo, meu Deus, vai-se passar ainda, até que esta sociedade entenda, que toda a violência que se abate hoje, sobre o Rio de Janeiro em chamas, deve-se ao abandono e falta de políticas públicas para a criança, em um processo que teve início há trinta, quarenta, ou quinhentos anos atrás? Lembro-me do último ditador, na década de 60, contemplando do asfalto a favela da Rocinha, grasnando para a sua assessoria: "quando esta favela invadir o asfalto, não haverá canhão que a segure..." Triste profecia, que hoje se realiza. Quem sabe, estamos gerando hoje, em teu ventre, um futuro Raimundinho Beira-Mar? E seria tão fácil evitar. Evitar sem aborto, mas com políticas públicas.
          Quanto tempo, meu Deus, vai-se passar ainda, até que possamos parar em um semáforo de Fortaleza, sem que se aproxime, minha pequena, uma menina como tu, grávida, ou com sua latinha de cola, mãos estendidas, a exigir esmolas, com um duro olhar de adulto sofrido?
          E como é duro, pequena, saber que não és a única. Há pouco, outra, como tu, passou por isto. Mais grave: na tua idade, ela que era portadora de Síndrome de Down, a boca torta, os braços saudosos da posição fetal, falando, ou tentando falar de sua angústia, em sons afásicos, fazendo com que muitos olhassem para outro lado, como se não estivessem vendo, ela também amanheceu grávida, às vésperas de um dia internacional de qualquer coisa. Seu filho está aí.Foi parido numa lua nova, surgiu natimorto, destinado a morrer no primeiro ano de vida, mas de pura teimosia, sobreviveu. Sobreviveu, contorcendo-se nos ataques epilépticos. Faminto. Crescendo para repetir no futuro a mesma terrível mímica do seu passado. Filho de um pai que não o assumiu, apesar do bom nível social, bom emprego, mas que numa noite qualquer, deslocou os ossos de uma criança esquálida e doente, para ter com ela um breve ato de prazer animal. E aí está ele, solto, beneficiado pela venda que a mãe Justiça usa nos olhos, impedindo-a de ver as mazelas que assediam as meninas pobres.
          Infelizmente, pequena, tu e ela, tiveram o azar de serem concebidas de sementes enfraquecidas por endemias e carências, em lares pobres, mesmo em uma nação rica e com potencial. E estás aí hoje, carregando pelas ruas, fora da escola, todas as avitaminoses, vermes intestinais tuas crônicas dores de dentes, lutando por um prato sem proteínas, indigna de estares nas festas do Legislativo.
          No ano que vem, talvez compadecida, esta sociedade te convide. Aí já não poderás ir. Estarás cuidando de teu rebento, raquítico, arrastando-se febril pelo chão de terra batida de teu barraco, disputando vaga com os insetos, sobre os próprios excrementos.
          E por que luto por ti? O que posso fazer por ti, quando acima de mim, muito acima de mim, pairam forças satânicas, que tendo nas mãos o poder de fazer por ti, não o fazem? Quando muito acima destas forças, pairam outras maiores, cujo fragílimo equilíbrio reside na sua própria força de destruição. Forças, que por excesso de tensão podem desencadear um átomo, a qualquer instante, pondo um fim também precoce ao teu sofrimento, livrando-te do fim natural que tiveram teus antepassados, mortos por um nó nas tripas, uma barriga d´água, e outras mazelas populares que disfarçam o câncer, a ruptura da hérnia, a úlcera gástrica a cirrose hepática, que o SUS, o Saúde da Família, posto de saúde não trataram. Mas deixarás tua filha, para seguir teus passos. Crescendo barrada nos salões nobres da casa do povo. Vendendo na beira da estrada, a pele frouxa e os seios caídos para sustentar a prole. Gente sem história.
          Talvez eu lute, e sei que não estou só, para que saibas de onde viestes, porque estás aqui, para onde vais. Para que tua vida não se acabe em vão, sem que os poderosos sequer lembrem de ti. Neste 8 de março, minha pequena, tu não estarás nas homenagens à mulher, nos salões da Assembléia Legislativa. Eu também não. Estarei contigo, afagando teus cabelos, no chão do teu barraco, cobrindo-a com um plástico para proteger-te da água da chuva, que teima em cair dentro da sala, ultrapassando o telhado de palhas. Estarei contigo, ninando-a para dormires, acariciando teu ventre, que agasalha a vida. Parabéns, mulher, hoje é teu dia.
         
          Paulo Afonso de Paiva Cavalcanti, é jornalista, ex-Conselheiro Tutelar de Itaitinga - CE, coordenador da Pastoral do Menor Regional NE 1/CE, e Membro do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente – CEDCA/CE

         "QUEM SOU ?..." Nancy

          1º - a) Nome -;- Idade (o ano de nascimento é facultativo -; - b) Profissão -;- c) Morada (não publicamos endereços de e-mail) -;- d) - Quer falar um pouco da terra onde mora?:
         
          a) - :Nancy Cobo 50 anos 12/02/1954
          b) - :Contadora
          c) - :Rio de Janeiro - Tijuca-
          d) - :Aqui É tudo maravilhoso, pena que a violência está tomando conta a cada dia
         
          2º - a) Quando começou a escrever ? -;- b) Teve a influência de alguém para começar a escrever ? -;- c) Lembra-se do seu 1º trabalho literário (se puder, indique o título) -;- d) Foi divulgado (como) ?;
         
          a) - :1969 de brincadeira quando estudava
          b) - : Não
          c) - : Não, perdi tudo devido ao um incêndio
          d) - : Não
         
          3º - a) Tem livro (s) impresso (s) (editora e ano) ? -;- b) Tem livro (s) electrónico (e-book ? (editora e ano) -;- c) Projectos literários para este ano de 2003 ? -;- d) Como vão ser editados ?:
         
          a) - : Não, estou terminando todos os procedimentos para lançar o livro
          b) - : Não, e é meu sonho ter um
          c) - : para 2044, o meu livro
          d) - :
         
          4º - a) Fale-nos um pouco de si, como pessoa humana ? -;- b) Como Escritor (a) ? -;- c) Para se inspirar literariamente, precisa de algum ambiente especial ? -;- c) Tem prémios literários ?:
         
          a) - :Sou sensivel demais, e muito, mas muito Sincera
          b) - :Escrevo o que sinto o que vivo e fatos que me contam colocando no papel, para uma possível ajuda para quem está lendo.
          c) - :Sim, Silêncio somente
          d) - : Não
         
          5º - a) Tem Home Page própria ( não são consideradas outras que simplesmente tenham trabalhos seus) -;-b) Conhece as vantagens que os Autores do CEN têm em ter sua Home Page ou (e) Livro (s) electrónicos, nos nossos sites (preços, condições e divulgação) ? -;- c) Que conselho daria a uma pessoa que começasse agora a escrever ? -;- d) Para terminar este trabalho, queira fazer o favor de mandar um pequeno (e original) trabalho seu (em prosa ou em verso) ?:
         
          a) - : sim tenho www.nancycobo.com
          b) - :Não não conheço nada se possível gostaria de saber
          c) - :Que escreva com a alma
          d) - : Nós
          Nancy Cobo

          NÓS

          Você entrou na minha vida lentamente
          Quando vi, já tinhas tomado posse do meu coração
          E sem pedir licença...
          Passaram-se anos e nós estamos aqui juntos.
          Passamos por problemas, traições, dores, ausência, enfim, passamos por tudo.
          Tivemos nossos sonhos, nossos planos...
          Mas estamos aqui...
          Já tivemos as nossas perdas, as nossas brigas.
          Já tivemos as nossas dores, que deixaram marcas tatuadas no coração.
          Feridas, que se fecharam, mas que de vez em quando, doem para nos lembrar que é na dor que se aprende.
          E nós estamos aqui...
          Valeu a penas tudo o que sofremos, o que vivemos e o que sentimos.
          Porque fomos e somos abençoados por Deus.
          No início, éramos só nós dois.
          Agora somos nós e nossos filhos, a nossa família.
          Amanhã, voltaremos a ser nós dois.
          E nós, continuaremos a estar aqui...
          E por tudo isso, pelos nossos sonhos vividos e abandonados, pelo que sentimos, pelas dores marcadas ainda assim
          Nós estaremos aqui...
          Até o dia, em que lá no céu nos encontraremos... e então lá também seremos Nós...

          FÉNIX RENASCIDA – Sónia Monteiro
         
          Oh Fénix dourada
          Luz na imensidão dos tempos
          Onde muitos padecem e poucos se eternizam
          Tua luz divina que ofusca a mera mortalidade
          Brilhará agora e sempre cada vez mais forte
          E aqueles que um dia te empurraram para a Morte
          Seus olhos cegos ficaram agora
          Os mesmos que queriam em cinzas teu corpo flamejante
          Em cinzas ficou seu ideal mesquinho
          Insignificante
          Porque a chama dos heróis sempre é eterna
          E nunca ténue lembrança efémera
          E porque a justiça às vezes demorada
          Embora tardia nunca falha
          Voas por isso agora bela radiante
          E das Trevas cada vez mais distante
          E que novos ventos te levem agora
          Para os voos altos inebriantes que alcançaste outrora
          E mesmo que te tentem enganar com falsas ilusões
          Tua grandeza é sempre maior perante tais pretensões
          Agora voa para nós Fénix Divina
          Que o teu canto deixe o mundo em surdina
          E que o teu fogo incendeie o céu inteiro
          E que agora se cumpra a sagrada vontade
          Renasce Fénix e vive na Eternidade!

          MAIOR ABANDONADO - (Gena Maria)

          O meu amor por ti se despediu!
          Se cansou e se afastou.
          Cansou de te procurar
          Cansou de te pedir
          Cansou de te esperar
          Cansou de te implorar para que olhasses um pouco para ele!
          Pediu um pouco de carinho e não destes!
          Pediu um olhar carinhoso e negastes!
          Pediu um sorriso, um abraço, e nada encontrou
          Não...encontrou sim: uma grande indiferença,
          uma alma sofrida e resignada!
          Nem saudade encontrou do meu amor!
          Então ele foi vencido e se afastou
          Mas não foi só a mim que ele abandonou...
          Fostes o Maior Abandonado
          Porque nunca terás em tua vida
          Um amor tão grande assim!!!

          O Amor é assim - Schyrlei Pinheiro
         
          Um sentimento que perfuma a vida,
          convivendo com o reverso do espelho,
          unindo o côncavo ao convexo,
          atraindo a desigualdade
          para poder compreender a imperfeição,
          lapidando o sentir
          nos atritos,
          vertendo lágrimas
          de saudade,
          sorrindo na dor invisível,
          descobrindo a mesma verdade
          a dois,
          visivelmente
          à sós      

          FADO PERDIDO - Sara Rafael
         
          Onde andará o meu fado
          Se não sei do meu destino?
          Perdi o que tinha achado
          Em caminho peregrino.
         
          Ando a pensar em morrer
          De mansinho, a dormitar,
          E quando me apetecer.
          Partir, para me encontrar.
         
          Caiu na terra o meu farol
          A matéria é cova escura.
          Vou para os caminhos do sol
          Repartir minha doçura.
         
          Depois podem continuar
          A morrer os que aqui estão.
          Nada mais me vai maltratar,
          Nem Ser vivo nem Nação.
         
          Ando a pensar em morrer
          De mansinho, a dormitar,
          E quando me apetecer.
          Partir, para me encontrar.
         
          Lisboa - Portugal

          Fadinha da Floresta - Lisiê
         
          Eu não vivo nas grandes cidades.
          Não pertenço às multidões.
          Vivo junto à natureza.
          Onde ouço o canto dos pássaros,
          O murmúrio do vento.
          A canção da brisa.
          Para a Floresta, eu digo:
          Deixa eu permanecer
          para sempre contigo!
          e serei para sempre tua...
          De dia eu me banho nos teus igarapés...
          e de noite me visto de lua...
         
          Eu vivo onde a natureza me colocou.
          Por que sou parte integrante do universo.
          Para a Floresta, eu digo:
          Deixa eu te fazer poesia!
          E te colocar nos meus versos...
          Da árvore, eu sou a seiva
          que corre quando ela é cortada.
          sou a brisa que sopra
          No rosto da madrugada...
          Sou a tranqüilidade da manhã.
          Sou a alegria da tarde ensolarada...
          De dia sou natureza pura...
          e de noite, sou alvorada...
         
          Aprendo a viver com o silencio da vida.
          Me ilumino com o raio de sol.
          Me perfumo com a essência das flores.
          converso com as estrelas do céu.
          Me embalo na correnteza do rio.
          Para a Floresta, eu digo:
          Me deixa aprender a te ouvir!
          Quero escutar quando tu me chama...
          Quero conviver com a tua beleza.
          E fazer do teu céu minha morada...
          De dia eu serei feliz...
          e de noite tu serás amada...
         
          E para você que está aqui, a me ler...
          e que gosta da brisa que canta,
          do barulho de chuva no telhado,
          do orvalho que cai na noite,
          das estrelas que brilham no céu,
          e do vento que sopra na madrugada.
         
          Eu envio, para você, os meus beijos!
          Beijos que enviarei pelos ventos...
          Beijos que tocarão o teu rosto...
          Beijos com a ternura da brisa...
          Beijos com a umidade do orvalho...
          Beijos no silencio da madrugada...
          Beijos com sabor de céu...
         
          Beijos da Fadinha da Floresta.
          Lisiê Silva


          40 ANOS DO GOLPE MILITAR NO BRASIL
          PARA QUE A DITADURA NÃO VOLTE. JAMAIS!
          PELA LIBERDADE PLENA. SEMPRE!

          Sonia Kessar nasceu em São Paulo, Brasil. É poetisa desde os 12 anos de idade. Formada em publicidade e sociologia, faz parte do Movimento Humanista Internacional. Atualmente exerce a função de assessora de imprensa no Espaço 2 de Artes (Teatro Plínio Marcos/Sala Linneu Dias e Cine Arte Lilian Lemmertz), em São Paulo.
          .....................................
         
PLATINUM - Sonia Kessar
         
          Um relógio sem ponteiros naquele céu
          Reflete a sombra negra abaixo da linha do Equador
          Nos mares, planaltos e planícies...
          Condados de muitas tentativas e poucos acertos
          Colunas e monumentos feitos de liberdade e fumaça
          Sufocam o eco da voz insalubre
          Exterminam sem piedade
          O pássaro em seu ato simples e sagrado de voar
          Os que eram verdes amadureceram seus ideais de algodão
          Imunes e impunes agora vestem prata
          Camuflados e vendidos
          Acobertam a mediocridade com fragrância francesa
          Mandam, manipulam e mentem...
          Edificam muros e cavam trincheiras
          Devoram tudo e todos sempre sorrindo
          No almoço e no jantar
          Luas e estrelas nascem pálidas para os que perambulam
          Uma legião de seres terracota
          Vestindo uniformes em tons acastanhados
          Pés descalços e pegadas cor de ébano
          Arrastando o som cortante das latas vazias
          Exilados de si
          São apenas sujeitos, sem predicados...
          Bobos da corte que cheiram a vergonha e fracasso
          Doentes e carentes do luxo de sonhar
          Obedecem, consentem, acreditam...
          Edificam muros e constroem trincheiras
          Quem adormeceu no chão duro da ignorância
          Não desperta
          Amanhece ao lado da morte
          Com desejos viscerais aniquilados
          Pensamentos melancólicos picotados e levados pelo vento...
          Se aguardente é bálsamo na ferida da desgraça
          O pássaro ébrio despenca das alturas e cala
          Seu coração emudece ao beijar o solo seco de sabedoria
          Mas falar é prata e calar é ouro
          Há um resto de vida protegida pelo acaso
          Escondida no nada
          E um ideal ínfimo há de vingar
          Permeando de razão uma existência insólita
          Onde um gole de café frio induz a vida
          E um trevo de quatro folhas brota das cinzas
          Como Fênix
          Que retomou seu ciclo na pira de ervas mágicas
          Mas só quem viver verá.

          Triste Menina - Simone Borba Pinheiro
         
          Na minha rua mora uma menina
          de rostinho triste, coitadinha dela!...
          Linda menina que se chama Nina
          de olhar perdido naquela janela.
         
          Quando amanhecia e por ali passava,
          eu a menina cumprimentava
          acenando alegre para ela,
          mas nunca vi, na verdade,
          resposta da parte dela.
         
          Crianças corriam, brincavam na rua e,
          Nina sempre naquela janela.
          Isso muito me incomodava,
          pois nada sabia dela.
         
          Um dia veio um vizinho e
          esclareceu essa estória.
          Aquela linda menina
          não falava e nem ouvia,
          tampouco enxergava,
          a menina na janela.
         
          Por isso não acenava
          quando eu acenava para ela!...
         
          Simone Borba Pinheiro