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SEBO LITERÁRIO
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António José Barradas Barroso
(Tiago)
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Alentejo...
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minha
saudade
SONETOS
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Pág.
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Amores
de
verão
António
Barroso
Tardes
de
estio
do
meu
Alentejo
Com
moças
belas,
na
rua,
passando,
Vagos
olhares,
rubor
de
desejo,
E no
meu
coração
as
ia
guardando.
E
iam,
e
vinham,
se
tinham
ensejo,
E
eu,
mudo
e
quedo,
amava-as,
olhando
O ar
furtivo
que
me
atirava
um
beijo
Perdido
nas
pedras
que
iam
pisando.
E na
tarde
morna,
cálida,
amena,
Nasciam
amores
cheios
de
pena
P’los
que
morriam
no
mesmo
momento,
Ao
ver
as
moças
passando,
maldosas,
Co’o
lenço
escondendo
as
faces
de
rosas
E
risos
enchendo
o
meu
pensamento.
António
Barroso |
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A
estátua
António
Barroso
O
general
de
bronze,
austero
e
rude,
Altivo
em
cavalo
de
porte
e
raça,
Traz-me
à
lembrança
a
nossa
juventude
No
bucolismo
antigo
dessa
praça.
A
esverdeada
patine
tinha
a
traça
Dos
pombos
que
poisavam,
amiúde,
Enchendo
o ar
dum
esvoaçar
de
graça
Como
símbolos
da
paz
e da
virtude.
Sentados
nos
degraus
do
pedestal,
Naquele
dia
longo
e
soalheiro,
Olhos
nos
olhos,
num
quente
desejo,
Recordo
que,
esquecendo
o
cavaleiro,
Foi
à
sombra
desse
velho
general
Que
ousámos
trocar
o
primeiro
beijo.
António
Barroso |
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O
jardim
António
Barroso
Era
um
palácio
com
jardins
cuidados,
Árvores
frondosas
de
sombra
amena
Vestiam,
com
seus
ramos,
namorados
Que,
ali,
buscavam
a
ventura
plena.
Os
silêncios
só
eram
perturbados
P’los
sinos
que
chamavam
à
novena,
Ou
por
outros
companheiros
alados,
No
alto
dos
ramos,
copiando
a
cena.
E
nessa
languidez
de
tarde
quente,
Soltando
suspiros
de
amor
ardente,
Recordas-te,
amor,
de
tanta
emoção
Quando,
em
longos
beijos
sensuais,
Teu
corpo
me
pedia
sempre
mais
Com
teu
seio
anichado
em
minha
mão?
António
Barroso |
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O
homem
alentejano
António
Barroso
Pelico
nos
ombros,
alma
de
artista,
Capote
de
aba
larga,
açorda
à
ceia,
P’ra
além
do
horizonte
que
ele
avista,
Safões
cobrindo
as
pernas,
pão
semeia.
Trabalho
duro,
agreste,
de
conquista,
Arado
abrindo
a
terra
que
o
rodeia,
Homem
criança,
força
de
alquimista,
Cumpre
o
destino,
traça
uma
odisseia.
Se,
na
tarde
bucólica,
há
sinais
Da
calma
que
conduz
a
sua
vida,
Em
lânguidos
cantares
a
dor
projecta.
Se é
na
imensidão
desses
trigais
Que
a
lentidão
do
gesto
é
mais
sentida,
Então,
findo
o
trabalho,
é um
poeta.
António
Barroso |
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A
festa
António
Barroso
Como
recordo
aquela
madrugada
Com
os
sinos
a
tocar
no
alto
da
igreja,
Já
passa
a
banda,
em
farda
bem
vincada,
Tocando
marchas
de
fazer
inveja.
Dia
de
festa,
em
sonhos,
tão
esperada,
O
som
do
morteiro,
no
céu,
troveja,
No
varandim,
a
moça
debruçada,
Roda
o
vestido
p´ra
que
a
gente
veja.
E o
baile?
Ah!
O
baile
na
noite
quente,
No
palco
improvisado,
mesmo
à
frente
Da
casa
de
meus
pais,
onde
eu
vivia,
Era
um
sublime
culminar
de
festa.
Agora,
anos
depois,
já
só
me
resta
Meter
num
sonho
as
emoções
dum
dia.
António
Barroso |
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A
feira
António
Barroso
-
Oh!
Chico,
Rogério,
Zé
Manel!
Mas
logo
a
seguir:
-
Pai,
olha
balões!
Gritava
a
forte
voz
do
carrossel:
-
São
três
voltas!
Três
voltas,
dez
tostões!
E as
gemas
envolvidas
em
papel!
E as
rodas
de
madeira!
E os
camiões!
E o
torrão
duro,
doce
como
o
mel!
E a
dura
cantilena
dos
pregões!
-
Mãe,
pai!
Queria
tanto
um
pirolito!
E
havia
tal
prazer
neste
meu
grito,
Que
logo
me
diziam:
-
Filho,
vai.
E
era
assim
um
longo
dia
de
feira
Que
acabava,
depois
da
brincadeira,
A
dormir
junto
ao
peito
do
meu
pai.
António
Barroso |
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Para
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