Sebo - Alfredo Santos Mendes

SEBO LITERÁRIO

autor

Alfredo Santos Mendes
 
 

Natural da Cidade de Lisboa que o viu nascer em 1933, desde muito jovem se dedicou à leitura. Com tenra idade, e talvez em consequência dos seus hábitos de leitura, aonde predominava a poesia, ensaiou a composição das suas primeiras quadras, com as quais enfeitava os vasos de manjericos, que tradicionalmente, e quase como que por obrigação, tinha de estar presente no meio da minúscula folhagem verde, do célebre manjerico. [ O tema das quadras era, continua a ser, o namorico e as fogueiras ]
Tradição essa que ainda hoje se mantém, por ocasião das festas dos Santos Populares. Santo António, São Pedro e São João.
Ao longo de muitos anos foi escrevendo para a gaveta, como é habito dizer-se.
Só em 1998, começou a colaborar com alguns jornais locais, que regularmente editavam os seu poemas, e posteriormente a concorrer a Jogos Florais.
Em 1999, primeiro ano nessas andanças, conseguiu três menções honrosas. Neste momento, Janeiro de 2012, possui : 6 Primeiros Prémios. 4 Segundos Prémios. 1 Menção Especial.  28 Menções Honrosas. Repartidas pelas seguintes modalidades: Soneto, Glosa, Poesia Lírica, e Quadra.
Não tem nenhum livro editado, nem pensa fazê-lo dado os seus elevados custos.
Influências? Tenta colher um pouco de todos os poetas, porque, bem ou mal, todos têm um pouco de si para nos ensinar! Adora a poesia de António Aleixo. Um POETA quase analfabeto, que se dava ao luxo de escrever poesia, na sua grande maioria superior a alguns ilustres e letrados poetas!

 

 

SONETOS

 

 

PLAGIADORES
 
Há poetas que sabem enganar.
Pois nasceram eternos fingidores!
E fingem serem grandes escritores,
Mas palavras de outros, vão buscar!
 
Já dissera Pessoa, a versejar:
Que chegava a fingir que suas dores,
Das quais ia sentindo seus horrores,
Eram dores, que fingia acreditar!
 
Por isso muita gente anda a fingir,
Que escreve nos poemas seu sentir,
E orgulhoso os lê, à descarada!
 
O seu fingir é forte, tem poder!
Que consegue a si próprio fazer crer,
Que não é poesia plagiada!

 
                                                             
 

A MEIA LARANJA
 
Senti meu coração alvoraçado,
Bater desordenado no meu peito.
Impávido fiquei! Fiquei sem jeito!
Que raio o pôs assim em tal estado?
 
Olhei em meu redor, desconfiado.
Senti-me desolado, contrafeito!
Por não compreender, a causa efeito,
Que o pusera a bater descontrolado!
 
Tive depois, a estranha sensação.
Que me tinham aberto o coração,
E dentro dele, alguém se aboletava!
 
Aos poucos o meu ser se aquietou.
Pois percebeu, que o ser, que se alojou…
Era a meia laranja que faltava!
 

                                                          
 

ADEUS JUVENTUDE
 
Depois da juventude ultrapassada,
a vida passa a ter outro sentido.
E todo o aprendizado adquirido,
Será o nosso guia de jornada!
 
Teremos pela frente, tudo ou nada.
Qual deles será de nós, o nosso adido?
Será que ficaremos no olvido?
Nossa porta estará sempre fechada?
 
Há que sorrir em cada despertar.
E nunca esquecer de comentar:
que há mais um dia todas as manhãs!
 
E quando já passados muitos anos,
não devemos chorar os desenganos,
mas olhar com orgulho nossas cãs!

 

 

AGRADECIMENTO
 
Eu agradeço a Deus tanta ventura,
que orna a minha vida, o meu caminho!
Não deixar que em meus pés, um só espinho,
os façam fraquejar pela tortura!
 
Enfeitar os meus dias, de ternura,
rechear minhas horas de carinho!
Nunca deixar, que ficasse sozinho,
em triste solidão, torpe amargura!
 
Obrigado meu Deus, pelos amigos,
que me abraçam, me livram dos perigos,
e que por Ti, estão ao meu dispor!
 
A todos que me dão tanta amizade,
eu desejo a maior felicidade,
muitas graças de Deus, e muito amor!

 

 

AMAR O PRÓXIMO
 
Amar sem condição, amar somente!
Abrir o coração ao semelhante.
Fazer do nosso amor, uma constante,
E nas horas amargas, ‘star presente!
 
Amar sem condição, devotamente.
Amar só por amar, ser tolerante.
Com o próximo, não ser arrogante,
P’ra com seus impropérios, indulgente!
 
Tratemos toda a gente tal e qual.
Com a mesma ternura, e modo igual,
Como gostamos nós de ser tratados!
 
Se estendermos a todos nossas mãos!
E fizermos vivência como irmãos!
Por certo nós seremos mais amados!

 

 

CANÇÃO NAVEGANTE
 
Compus uma canção, lancei ao mar!
Pedi-lhe humildemente que a levasse!
E em caso de procela a amparasse,
Para nenhuma estrofe se afundar!
 
Às estrelas pedi para a guiar,
Ao luar que o seu rumo iluminasse.
A Neptuno roguei, que não deixasse,
De a um porto seguro a acompanhar!
 
Eu sei que alguém espera esta canção.
Terá seu peito arfando de emoção,
P’ra ouvir a melodia, e seu cantar!
 
Meus versos, um a um recolherá!
Seu peito generoso se abrirá,
Para nele a canção se aboletar!

 

 

CORAÇÃO AMANTE
 
Fui fazer um electrocardiograma.
Quis o meu coração compreender!
Saber se ele alterou o seu bater,
Quando se apercebeu quanto te ama!
 
Teria lá ficado a dita chama,
A crepitar no peito, sem se ver,
E ficará teimosamente arder…
Numa severidade desumana?
 
As agulhas da máquina vibraram.
Nas folhas de papel elas deixaram,
Um tracejado torto, transversal!
 
Diz o cardiologista, meio sem jeito:
Você tem a pular dentro do peito.
Um coração amante sem igual!

 

 

DEUS QUEIRA
 
Ficar sem ti, amor, será meu fim.
Não irei suportar tua partida.
És um órgão vital na minha vida…
És um gene que faz parte de mim!
 
És parte do meu corpo…tu és, enfim,
A fonte alimentar mais requerida.
Não podes fraquejar, sê aguerrida…
Não aceites a morte e o seu afim!
 
Não permitas que ceifem teu viver.
Minha vida darei para te ter,
Sempre juntinha a mim, à minha beira!
 
Mas se eu te vir partir para o além,
Mais nada neste mundo me detém,
Breve irei ter contigo, assim Deus queira

 

 

DIREITOS HUMANOS
 
Cortaram meu cordão umbilical!
Fiquei um ser liberto nesse dia!
Foi como receber a alforria…
O ter deixado o ventre maternal!
 
A vida não seria mais igual!
O conforto uterino acabaria!
Seria mais um ser que enfrentaria…
A crueza de um mundo desigual!
 
Iria ser exposto à crueldade!
Teria de enfrentar a sociedade,
Aonde proliferam seres ufanos!
 
Teria no futuro, de gritar:
A todo aquele que gosta de humilhar.
Senhor, respeite os direitos humanos!

 

 
  FLOR SEM PECADO
 
Queria ser teu par, na dança ardente.
Ser chama que desperta tua alma.
Serpentear teu corpo em doce calma,
E beijar tua boca, avidamente!
 
Quero ouvir-te dizer em voz plangente:
Devora meus desejos, me acalma.
Aperta-me em teus braços, me espalma…
Seremos sintonia eloquente!
 
Eu ficarei braseiro nos teus braços.
Resistirei a todos os cansaços,
Em apagar o fogo que te envolve!
 
Teu corpo junto ao meu, jamais se inflama.
Não vai haver por certo alguma chama,
Pois teu beijo de amor, tudo resolve!

 

 

FRENESI
 
Semicerrei os olhos p’ra não ver,
A luz que teu olhar irradiava.
Eu receei o brilho que emanava,
E o frenesi que via, transparecer!
 
Teu corpo sedutor me fez tremer,
Pois tua formosura me ofuscava.
O teu porte de deusa dominava…
Ali fiquei refém do teu poder!
 
Miríades de estrelas te envolviam.
Meus lacrimantes olhos não te viam…
Perante o esplendor do teu olhar!
 
Cerrei de novo os olhos p’ra não ver!
Chorei por teu amor não poder ter,
Ceguinho por amor irei ficar!

 

  

HALLOWEEN
 
É noite de Halloween, o medo impera.
Há muita bruxa à solta em cada esquina.
No seu modo ancestral, fica à bolina.
Seu rosto de menina esconde a fera!
 
Tendo a presa na mão, tudo se altera…
Deixa cair seus ares de menina.
Se metamorfoseia de felina…
E aos poucos nosso corpo dilacera!
 
O meu, foi sendo aos poucos desmembrado.
Meu coração ficara aprisionado,
Àquela feiticeira alucinada!
 
Passado o Halloween fui surpreso.
Aquela bruxa má, à qual fui preso,
Era a mais deslumbrante e linda fada!

 
 

 

HERESIA
 
Talvez minha garganta revoltada.
Espinhosa ficasse, e enrouquecesse.
Ou para meu castigo enlouquecesse,
Por a manter tão muda, tão calada!
 
Quero falar, a voz sai embargada,
Como se algum mal eu lhe fizesse.
Eu juro que não fiz, e isso acontece.
Minhas cordas vocais fiquem paradas!
 
Eu preciso gritar minha revolta,
Engolir todo o mal que não tem volta,
E na glote se encontra aprisionado!
 
Eu quero ler a minha poesia.
Limpar do meu passado, a heresia,
Engolir as tristezas do meu fado!

 
 

 
   IGUALDADE

 
Indiferente ao credo à própria raça,
O ser humano nasce, modo igual.
A sua formação conceptual,
É dádiva de Deus, divina graça!
 
Não traz no nascimento uma mordaça.
Um sórdido ferrete, ou um sinal!
É apenas um ser, e tal e qual,
Igual a qualquer ser que nos enlaça!
 
O seu direito à vida, ao mundo, enfim!
Ao colo maternal, ao frenesim,
É ganho mal acaba de nascer!
 
E toda a dignidade adquirida,
Só deverá um dia ser perdida…
No dia em que seu corpo fenecer!

 
 

 

MADRE TERESA DE CALCUTÁ
 
Partiste para junto do Senhor,
Após Tê-lo servido humildemente.
Fizeste uma vida de indigente!
Teu património era: muito amor!
 
Do amargo, conheceste o mau sabor.
O sofrimento atroz de tanta gente.
Nunca viraste o rosto a um doente,
Enquanto não sanasses sua dor!
 
E ficou Calcutá, inda mais pobre,
Perdeu a sua filha! A mais nobre:
Na virtude, no amor e na grandeza!
 
Ficou uma lacuna neste mundo!
Aquele amor que davas, tão profundo...
Ninguém esquecerá, MADRE TERESA!

 

 

MÁSCARA
 
Por que se escondem vós, forças do mal?
Abandonai de vez vosso covil!
Por que escondeis o vosso rosto vil,
atrás de um rosto puro, angelical?
 
Já chega de prosápia assaz banal,
de tanto fingimento, vão, servil!
Há muito conhecemos vosso ardil,
p’ra  tudo conseguirem no final!
 
Pois mal se apanham donos do poder...
Só querem seus discursos esquecer,
e não cumprir promessas propaladas!
 
E enquanto o Zé povinho vai sofrendo,
vós, tubarões, os bolsos vão enchendo,
sem nenhum preconceito, às descaradas!

 

 

MÚSICA DIVINA
 
É música divina o chilrear,
De uma ave que voa, solta ao vento!
É música divina, doce alento…
Se alguém nos diz baixinho: eu vou te amar!
 
É música divina o sussurrar,
Que o mar provoca em cada movimento.
Divina melodia, o açoitamento;
Que a onda nos difunde, ao se espraiar!
 
É música divina, quando o amor,
É cântico divino, sedutor;
Lembrando Pierrot e Columbina!
 
Até o próprio vento em noite escura,
Sibilando estridente na lonjura…
Nada mais é, que música divina!

 

 

O DILEMA
 
A concepção da vida, é um poema…
Que se compõe, sem nunca se escrever!
É um bailado a dois, que irá fazer,
Um musical de amor…um sonho…um tema!
 
Um tema transformado num dilema,
Que terão de enfrentar, de resolver!
Mais uma personagem vai haver,
Há que pôr no guião, mais uma cena!
 
Um corpo de mulher em movimento.
Um cântico de amor. Um nascimento.
Actores desempenhando um novo lema!
 
Vai ter mais um compasso, a melodia.
Vai ter mais uma estrofe, a poesia.
Mas tem final feliz, este dilema!

 

 

O EMBRIÃO
 
Mãe! Por que não me deixas ver teu mundo?
Por que acabas assim com minha vida?
Por que será que estás tão decidida,
a praticar tal acto tão imundo!
 
Mãe! Eu não sou um ser nauseabundo!
Não sou uma doença contraída!
Faço parte de ti, fui concebida!
Sou vida no teu útero fecundo!
 
Não queiras destruir-me por favor!
Não transformes em ódio, aquele amor,
do momento da minha concepção!
 
Eu sei que não pensavas conceber...
Mas, por favor mãe, deixa-me nascer,
eu sou um ser humano em formação!

 

 

O GATINHO
 

Um livro de alquimia vou comprar.
Eu quero ser um mestre em bruxaria.
E para já, vou ter por companhia,
São Cipriano, para me ajudar!


Magia negra, irei realizar.
Das trevas surgirá, feitiçaria.
Do oculto virá para meu guia,
Gato feito vudu, para espetar!

Um chá de mil feitiços vou fazer.
Pelos de gato, aranhas, vou comer,
Eu hei-de transformar-me num gatinho.

Quero subir, depois, discretamente.
Enroscar-me no teu corpinho quente,
Fazer muito rom rom no teu colinho!

 

 

O MEU DIÁRIO
 
Peguei no meu diário envelhecido,
um velho confidente meu amigo!
Que eu fiz das suas folhas meu abrigo...
Meu fiel conselheiro enternecido!
 
No diário se encontra redigido:
O meu sentir. A dor que não mitigo,
que vive aboletada e não consigo,
retirar do meu peito tão sofrido!
 
Suas capas afago com amor!
Elimino alguns fungos de bolor,
que o tempo e a idade provocaram!
 
Há manchas; caracteres indefinidos!
São sinais indeléveis produzidos,
p’las lágrimas, que os olhos derramaram!

 

 

O PALCO DA VIDA
 
Peguei no meu viver, pus nos dois pratos…
Da balança que pesa a minha vida.
Ficou a baloiçar, enlouquecida,
Perante a imensidão de tantos factos!
 
Desesperei. Quis ver quais os relatos,
Que a deixaram assim, enfurecida!
Teria ela ficado ressentida...
P’lo turbilhão perverso, dos meus actos?
 
Eu fui mais um actor que desfilou!
Que fez o seu papel, representou!
Que foi palhaço. Herói. E foi guerreiro!
 
Se errei alguma vez no meu percurso.
Por certo não havia outro recurso,
Terão de condenar, o mundo inteiro!

 
Alfredo Santos Mendes
 

 

 

 

 

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