Sebo - Benedita Azevedo -Contos

SEBO LITERÁRIO

Benedita Azevedo

 

CONTOS

 

AMOR PLATÔNICO

 

Amor platônico, secreto, mas que alimenta e faz a vida tomar um novo sentido diante do vazio afetivo da alma desejosa de afeto. A fantasia torna-se tão real que muda o rumo da vida. Dá força para enfrentar desafios e surpreender o próprio enamorado.

Após superar grandes problemas, situações desafiadoras, cheguei a um patamar jamais imaginado. Era uma jovem senhora de 32 anos que retornava à terra natal após dez anos de ausência. Conseguira trabalho no colégio mais conceituado da  capital.

A princípio trabalharia no turno da manhã. Consegui aulas em mais duas escolas. Pouco tempo depois fui convocada  àquele colégio para trabalhar em horário integral. Quase não acreditei na proposta recebida.

Na reunião inicial para apresentação da nova diretora do primário, função que eu exerceria a partir dali, no turno vespertino, sentei ao lado do Diretor Geral, que era um frade sem hábito, elegantemente vestido.

Meu coração estava aos pulos. Era uma mudança muito rápida. Lecionava em escolas públicas estaduais e municipais, onde a remuneração era menos de um terço do que ganharia agora.  Após expor todos os itens da pauta o diretor disse aos trinta professores, que esperava a colaboração de todos com a nova diretora do primário.

Algumas resistências aconteceram, principalmente, da diretoria anterior. Mas, tudo acabou dando certo.  Recebi carta branca para resolver qualquer problema com pais e professores.

Convivendo diariamente com o diretor comecei a perceber certo interesse por parte dele pelo andamento dos trabalhos. Os elogios durante as reuniões. Um toque disfarçado no braço, o interesse pela minha maneira de vestir, de atender os pais e professores. Tudo isso, despertou em mim um interesse além do normal pelo trabalho. As aulas da manhã eram das sete às doze e a direção do primário das  treze às dezessete e trinta. Eu estava sempre ali na hora certa. Já ia para casa pensando em voltar no outro dia. Sempre querendo fazer tudo para agradar ao frade.

Planejava com cuidado todas as atividades e recebia todo apoio para sua execução. Inventava projetos de implantação de novas atividades e sempre era atendida. Quanto mais eu trabalhava e era aplaudida pelos resultados, mas eu acreditava que era uma pessoa especial para o diretor. Fazia tudo que me era solicitado além da minha carga horária: ensaios, passeios e excussões com alunos, eu sempre estava à disposição.. Tudo me parecia fácil e eu nunca me cansava de trabalhar.

Tinha pressa de chegar ao colégio, mas era penoso ao final do horário voltar para casa. Cheguei a lamentar o fato de o diretor ser um frade e eu uma senhora casada, mesmo com um marido sequelado por um acidente cardiovascular.

 

Praia do Anil, 14 / 02 / 2009

 

 

 

 

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