Sebo - Marco Bastos

SEBO LITERÁRIO

 

autor

 

Marco Bastos
 
 

 

 

TROVA


ouve a brisa na bigorna
araponga nos martelos
olha a onda que retorna
sem molhar os teus chinelos.

Marco Bastos

 

POETRIX
Lua Veleja


leste - não luziu
(precipí_cio parece não alvoreja)
- sol fugidio da tua tulipa - a_qui flameja

Marco Bastos
Estrela Cadente

No fundo da noite,
no começo do céu,
a estrela de prata
era cisco.

Depois, vento de açoite,
movimento e pincel,
e a estrela de luz
era risco.

Era uma pauta
salpicando ao léu,
mil notas de flauta,
entre o rio e a mata.

E na hora exata,
no fundo da noite,
no começo do céu,
de um arbusto
voou de susto,
um pintassilgo
- de prata...

Marco Bastos

 

POETRIX
TEATRO DO LAMBE-LAMBE


Ela bonita...
O fotógrafo tímido
- baixava o pano.

* * *

LAMBE-LAMBE A 3X4
Na fila pro retrato
- de cascavel a jibóia...
Vem primeiro a lambisgóia.

Marco Bastos

 

PEQUENA CRÔNICA SOBRE O CARNAVAL


Está bom, já que amanheceste enxergando o mundo estreladinho, lá vou eu te falar coisas de um passado remoto. Só que remotas são essas músicas, e o passado só foi ontem. Fazia tempo que eu acompanhava esse bloco "Paroano sai Milhó" somente pelos CD´s, mas ontem, louco, fui um pouco lá in loco. Delícia de bloco, remando rio~acima_rio~abaixo pelas ruas do Pelô. Gente alegre, ordeira, os coroas como eu, até desafiando artroses mil, mas curtindo a alegria de dançar na rua e ouvir bela harmonia recheada de poesia. Um desfilar das fantasias, das que se vê e as que estão dentro do peito. Gente bonita, meus amigos, em todos os sentidos, a demonstrar que prá ser alegre não precisa muito barulho, nem multidão, empurra-empurra, gente burra, nem de som tão alto que incomoda ao ser ouvido até na outra quadra. Foram horas muito gostosas e de lá trouxe essas músicas que aqui eu compartilho. Então desata os espartilhos e veste agora a camiseta.
Enquanto escrevo aqui, ali na televisão fala um homem, e não tem nada a ver. A alegria é do povo. Se o Governo cuidou da segurança, não fez mais que a obrigação. Se os empresários estão satisfeitos com a taxa de ocupação nos hotéis, isso prá mim também agora não diz nada. Se houve ou não patrocínio da empresa privada, se embaixadores disseram alguma coisa a respeito incensando o carnaval baiano, se o carnaval dá muitos postos temporários de emprego, se a crise bate forte ou bate fraco, tudo isso é pertinente à atualidade, mas não ao aqui e agora. Eu preferiria que ali na TV só estivesse a desfilar o canto da muvuca, mais que o canto da sereia, e a corda e a pipoca. Mesmo porque tem hora para tudo: tem hora de planejar, de decidir, de executar e de cumprir. Tem a hora da "liberdade abre as asas sobre nós"; tem a hora do grande Leviatã se apropriar de tudo o que lhe escapa por entre os dedos. Tem a hora do brincar e do curtir. Tem hora de separar o que é sucesso de outras pessoas e não procurar superpor e vestir o sucesso alheio à própria imagem, como se tudo de bom resultasse dos seus atos, que isso é uma outra fantasia, de lobo em pele de cordeiro.
O Carnaval da Bahia está muito bonito, como sempre esteve desde que o conheci já há mais de quarenta anos. Viva a alegria desse povo que sabe e gosta de fazer festa, uma festa com pouca violência, festa espontânea que atravessou diversas conjunturas, as de anos de chumbo ou de anos mais dissimulados, embora isso em si não seja indiferente. O Carnaval aqui é expressão fidedigna da cultura e do espírito do nosso povo.
Um pouco mais à frente, rolam outros carnavais porque Carnaval não é um só e há muitos diferentes. O espírito alegre permanece e a alegria contagia. Um povo carente e sensível é campo fértil para paixões que invadem e aliciam. As massas são imensas e bastam as cores vivas, a arte, a iluminação feérica, o samba rasgando na avenida os megawatts de potência, as coxas, peitos, bundas e o requebrado de mulheres lindas, que a paixão pelas escolas e pelos blocos incendeia. Na catarse do momento, nos tantos dias, impera a fantasia a compensar as frustrações do ano todo, no agora esquecidas. O Carnaval-show, o business, se repete, vem e acontece, alimentando e alimentado pela grande mídia, pelos investimentos governamentais, pelos empresários, e se elegem músicas, se criam deusas e se fazem escolas campeãs. E todos faturam alto: os operários da festa, os músicos, os artistas, comerciantes e indústria, hotéis, empresas de transporte, agências de turismo, e até, coisa nunca vista, autoridades deixam os seus palácios para granjearem seus dividendos, distribuindo simbolicamente camisinhas na avenida!. É no aqui e é no agora, até a quarta-feira de cinzas, quando tudo recomeça, quando na dialética das contradições, na Praça da Apoteose, o luxo e a alegria se encontram com a decadência.


Marco Bastos.

 

CINEMA COM PIPOCA E OUTRAS QUEZÍLIAS


Adoro pipoca, daquela zuma que fica do lado de fora da corda, e que vez por outra joga no povo do bloco umas latinhas vazias de cerveja. Adoro pipoca que no zôo eu ofereço prá ver se engasgo a avestruz, só porque, só porque a bichinha enterra a cabeça na areia e fica com aquele bundão do lado de fora. Tão sem foco, e nem podia ser diferente, porque os zóios estão lá a ver minhocas. No carnaval adoro a avestruz, porque dá pena e dá pena prá fazer voar os ombros das mulatas no ziriguidum-dum-dumb. Mas, me aceita aí porque nesse bloco vai ter pano prá manga. Alguns firmes de cinema e alguns frouxos. E nos firmes do Ankito, vou ter frouxos de riso, até molhar minha cueca. Quero ver bang-bang, quero ver sangue, com John Wayne pondo em prática a política de proteção aos silvícolas lá do norte, caçadores de bizão, onde se viu? Adoro cinema de mão dada na matinê do Cine Roxy, com a mineirinha que veio do frio, no bus de Caratinga, só prá ver a Doris Day, e acompanhar o papai que veio comprar o Pão-de-Açucar. E como o preço era alto, resolveu comprar uns brioches na Confeitaria do Colombo, e eu também gostei. Por favor, programe umas sessões com Sophia Loren, Brigite Bardot, Claudia Cardinale e Elsa Martinelli que não inventaram ainda, nada melhor que La Violetera. Catherine de Novo, só se for com uma carioca numa tarde de Corcovado, mas não vou contar o fim do filme. Acho que foi o Paris está em Chamas, e nem estava nada quente mas adorei Mireille Mathieu. como sempre gostei de hit-parade e de hot-pirada. E lá fui eu e ela, adespois pruma pizza brotinho ali no Caravelle, com gelinho na Seven-Up, prá dar Blow-Up e não se sair de cena do filme do Godard, que falou mais arto que Gritos e Sussurros, de um tal de Breg_man e desbancou aquele chato Pasolini que firmou o Nikos Kazanzákis, Pobre de Deus! no paper de San Francisco. Nem sei porque não voltei lá no aviãozinho de Humphrey Bogart que voou prá Casablanca. Hollywood já foi pau-de-dar-em-doido até entrar um canastrão no governo da Coliformia.

Marco Bastos

Um pedido de participação no grupo "Cinema com Pipoca" de Silvia Mota, na Peapaz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

veja tambem:

 
 

 

 

Página4

Registre sua opinião no

Livro de Visitas: