CONVENTO FRANCISCANO DE
SANTO ANTÔNIO (Recife)
Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da
Fundação Joaquim Nabuco
Sétimo convento
franciscano erigido no Brasil, e o quarto sob a
invocação de Santo Antônio de Lisboa, o Convento
Franciscano de Santo Antônio talvez seja uma das obras
mais antigas do Recife. No dia 28 de outubro de 1606, os
frades franciscanos de Olinda decidiram construir um
convento para atender à população presente no Arrecife
(antiga denominação do Recife) e que transitava em volta
do seu porto.
Para tanto, os frades aceitaram a oferta de um senhor de
engenho, Marcos André, que doou 56 braças de terra para
a edificação de um convento, na ilha dos Navios.
Posteriormente, tal ilha foi chamada de Antônio Vaz, em
homenagem a um português que, até o ano de 1605, exerceu
no Recife as funções de "Porteiro da Alfândega do
Recife" e de "Juiz das Execuções". Essa ilha, tempos
depois, transforma-se no atual bairro de Santo Antônio.
Em 1613, o frei Bernardino de Jesus dá por concluída a
construção de um primitivo hospício e de seu oratório,
perto da Praça da República, e o mesmo é chamado de
Santo Antônio, o santo lisboeta padroeiro do Recife.
Durante a invasão holandesa, na terceira década do
século XVII, o templo é cercado por muralhas e
transformado em uma fortificação retangular, comportando
quatro baluartes e dezenove canhões de vários calibres:
passa a ser o Forte Ernestus.
O lugar volta a ser utilizado como templo, a partir de
1640. Desta feita, entretanto, o convento se encontra
voltado para os serviços religiosos da igreja anglicana,
isto é, dirige-se aos militares que falam a língua
inglesa e trabalham na Companhia das Índias Ocidentais.
Nessa época, o Convento de Santo Antônio ganha uma torre
com um relógio.
Após a expulsão dos flamengos, o convento volta a ser
propriedade dos franciscanos. Dá-se início, então, às
obras para a sua reparação e para o acréscimo da ala da
enfermaria. Vale ressaltar que, nos dias atuais, esse
terreno é ocupado pelo Palácio da Justiça.
Dando continuidade às reformas, nos primeiros anos do
século XVIII, os franciscanos substituem a capela
original pela Casa de Exercícios. Neste lugar, os Irmãos
da Terceira Ordem erguem a sua igreja principal,
ampliada a partir de 1753, que vem a se chamar Casa do
Noviciado. De acordo com as gravações no arenito da
fachada, as obras do novo templo se estendem até o ano
de 1770.
Conservando as linhas principais do século XVIII, o
convento e a sua igreja formam, no presente, um conjunto
harmonioso, com magníficos detalhes. A capela-mor, por
exemplo, encontra-se iluminada por uma clarabóia e
possui uma cúpula semi-esférica, recoberta por azulejos
portugueses policromados - azul, amarelo, verde e branco
-, do tipo tapetes (do século XVII), que formam desenhos
com motivos florais. No templo, pode-se apreciar belas
talhas douradas e pinturas no teto. A pintura da nave
central foi obra do artista Sebastião Canuto da Silva
Tavares.
Grandes painéis em azulejos D. João V, presentes no
corpo da igreja, reproduzem episódios da vida de Santo
Antônio, bem como os seus milagres. Um gradil de ferro é
utilizado para separar a nave central do templo da
Capela Dourada da Ordem Terceira de São Francisco.
Na portaria, é possível se apreciar um Cristo
Crucificado e, na sala de visitas, estão expostos belos
móveis de jacarandá, assim como cadeiras de palhinha.
Três belos painéis de azulejos podem ser admirados: os
mártires de Ceuta, os mártires do Japão e os mártires de
Gorcum (Holanda).
Além desses, mais vinte e sete quadros de azulejos, com
episódios do Gênesis, se encontram no cláustro inferior
e nos corredores: a criação do mundo, Adão e Eva e o
paraíso, a queda, a expulsão do Éden, a morte de Adão,
Caim e Abel, a torre de Babel, Noé, o dilúvio, Abrãao,
Henoque, entre outros.
Na sacristia vêem-se repositórios, cômodas, lavabos e
vários quadros pintados a óleo. Possuindo puxadores em
prata, os móveis foram confeccionados pelo mestre
setencentista José Gomes de Figueiredo, o mesmo que foi
responsável pela fabricação dos armários embutidos,
presentes nas demais igrejas pernambucanas. Essas peças
medem 3,20m por 2,13m, possuem 48 gavetas quadradas e
superfícies que são, alternadamente, côncavas e
convexas.
Conforme observado na maioria das igrejas antigas, atrás
da sacristia há um pequeno cemitério. No pátio (bastante
pequeno, também), ergue-se um cruzeiro de pedra, cercado
por um gradil, que foi colocado ali em 1840.
Na metade do século XX, durante algumas reformas que
foram realizadas, encontrou-se uma bela faixa de
azulejos entre o claustro superior e inferior, por cima
das arcadas. Esses azulejos são de origem flamenga
(produzidos em Delft, na Holanda) e, acredita-se, faziam
parte do acervo do Forte Ernestus. Neles, foram pintados
uma grande variedade de desenhos: golfinhos, cavalos,
flores, baleias, leões, lebres, javalis, elefantes,
cervos, sereias, monstros, veleiros, vasos floridos,
cavaleiros, crianças brincando.
Além de representar a maior coleção de azulejos, da
época da presença holandesa no País, se constitui,
ainda, em um dos mais conservados e respeitados acervos
do Patrimônio Histórico e Artístico do Brasil.
Na capela do Convento de Santo Antônio há quatro painéis
de azulejos, com legendas em português arcaico, cujos
temas dizem respeito ao rosário de Nossa Senhora. Os
painéis são os seguintes:
- A Batalha contra os Mouros
- A Árvore dos Rosários
- A Mulher no Poço
- A Peste de Coimbra (no altar-mor)
O púlpito do convento é de autoria de Francisco Manuel
Béranger, natural de Nantes (França), que chegou ao
Recife em 1816. São famosos, inclusive, e levam o seu
nome, os conjuntos de canapé e cadeiras de braço e de
guarnição, presentes no templo, conhecidos como estilo
Béranger (ou, também, pernambucano).
O convento expõe o emblema da Ordem dos Frades Menores,
seu frontispício apresenta esculturas de arenito,
contendo cinco arcos de pedra lavrada, e existe uma
torre recuada em seu lado esquerdo. Ao lado do Palácio
da Justiça, na parte voltada para a rua do Imperador D.
Pedro II, foi colocada uma placa com os seguintes
dizeres:
Neste local existiu o Forte Ernesto levantado pelos
holandeses no século XVII (Memoria do Inst. Archeologico).
Fontes consultadas:
BARBOSA, Antônio. Relíquias de Pernambuco: guia aos
monumentos históricos de Olinda e Recife. São
Paulo: Fundo Educativo Brasileiro, 1983 .
FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife:
Secretaria de Educação e Cultura, 1977.
SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado:
histórico dos bens tombados no Estado de Pernambuco.
Recife: [s. n.], 2002.