HENRIQUETA
MARTINS CATHARINO
Semira Adler
Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
As
histórias da Educação e do Feminismo, no
Brasil, não podem esquecer a importante
figura de Henriqueta Martins Catharino. Ela
nasceu em Feira de Santana, no dia 12 de
dezembro de 1886. Seus pais eram Ursula
Costa Martins Catharino e Bernardo Catharino,
este, um imigrante português que se tornou
um dos mais prósperos empresários da Bahia.
A grande riqueza de sua família permitiu que
Henriqueta usufruísse, na própria casa, da
melhor educação disponível na época, algo
que poucas mulheres conseguiam ter. Nos
estudos, ela foi orientada pela professora
Cândida Campos Carvalho e, com a preceptora
alemã Louise von Schiller, aprendeu algumas
línguas estrangeiras. Teve também aulas de
piano e de artes. E, além de uma educação
primorosa, ela pôde ampliar sua formação
através de viagens à Europa - em particular,
à França, o centro cultural do mundo.
Antes de completar trinta anos de idade,
Henriqueta já havia fundado uma biblioteca
para empréstimo de livros - a Propaganda de
Boas Leituras - e uma confecção denominada
Tardes de Costura - uma entidade
filantrópica onde as senhoras baianas
costuravam roupas que eram doadas à
população carente.
Junto com o Monsenhor Flaviano Osório
Pimentel, em 1923, Henriqueta criou a Casa
São Vicente, visando proteger a mulher
trabalhadora. Essa Casa funcionava como uma
espécie de agência de empregos e, nela, eram
ministrados, também, cursos
profissionalizantes nas áreas de
secretariado e contabilidade.
Em 1931, Henriqueta adquiriu uma coleção de
esculturas de madeira, elaboradas por
artistas populares de Santo Estevão de
Jacuípe, e começou a construir o embrião do
futuro Museu de Arte Popular, o primeiro
museu do gênero na Bahia. Dessas
experiências, surgiu o Instituto Feminino da
Bahia (IFB) que, em 1950, se transformou no
núcleo da Fundação Instituto Feminino da
Bahia, uma instituição que recebeu elogios
de personalidades ilustres, a exemplo do
escritor Érico Veríssimo. Sobre o trabalho
de Henriqueta, no Jornal da Bahia, ele
escreveu o seguinte, em 1951:
Não conheço coisa igual em todos os colégios
do Brasil por onde andei e visitei. E não
sei se vi pelo menos igual nos Estados
Unidos.
Durante o Congresso Eucarístico Nacional, em
1933, Henriqueta organizou uma exposição de
Arte Antiga, com peças doadas por famílias
baianas, tais como vestidos antigos, jóias,
imagens com ricas alfaias, mobiliário, entre
outros elementos. O êxito da exposição
estimulou a presidente-fundadora a continuar
com essas iniciativas culturais, e ela
decidiu "colecionar o que fez ou possuiu a
mulher baiana". A partir daí, estava
iniciado, então, o acervo do Museu
Henriqueta Catharino. Com a morte de
Monsenhor Flaviano, em 1933, a corajosa
baiana, sozinha, deu prosseguimento aos
trabalhos.
Quatro anos depois (em 1937), Henriqueta
iniciou a construção da sede definitiva do
Instituto Feminino, com o adiantamento
conseguido da herança paterna. Construído em
dois anos, a sede definitiva do Instituto
foi erguida em uma área de cinco mil metros
quadrados. Para lá, em 1939, todo o acervo
iria se transferir. Mas, as atividades se
ampliaram tanto que Henriqueta se viu
obrigada a subdividir o Instituto em três
departamentos: o de Cultura, o de Economia
Doméstica e o de Assistência Social. Ao
Departamento de Cultura, coube a Biblioteca,
os Museus, a Escola Técnica de Comércio
Feminina, o Ginásio Feminino, assim como os
cursos de Secretariado, Auxiliar de
Comércio, Línguas, Literatura, Datilografia,
Taquigrafia, Mecanografia, Filosofia e
Religião. No Departamento de Economia
Doméstica, foram incluídos a Pensão São
José, o Restaurante, os Cursos de Corte e
Costura e de Arte Culinária. E coube ao
Departamento de Assistência Social, a
responsabilidade de auxiliar as mulheres
carentes, através da Casa de Férias Santa
Terezinha, da Agência de Colocações, da
Agência de Trabalhos, da Bethânia e do
Círculo da Amizade. Em 1950, o Instituto foi
reconhecido como sendo de Utilidade Pública
do Estado, ocasião em que seu nome foi
mudado para Instituto Feminino da Bahia.
Além de coordenar todas essas atividades,
Henriqueta auxiliou, ainda, pessoas que eram
vítimas de preconceito racial e fundou a
Frente Negra, uma das primeiras entidades de
defesa racial em todo o País. Por tais
iniciativas, dentre as educadoras e
feministas, ela foi uma das primeiras
mulheres a se preocupar com o papel ativo da
mulher na sociedade. Lutou contra as
desigualdades de gênero, pela ampliação dos
direitos civis e pela inserção da mulher no
mercado de trabalho.
Henriqueta Martins Catharino - a nordestina
altruísta que abdicou de seus bens privados
para auxiliar e educar pessoas carentes -
faleceu em Salvador, no dia 21 de junho de
1969. Como um tributo a essa personalidade,
o Governo da Bahia colocou seu nome em um
colégio e numa rua da Capital do Estado.
O atual Museu Henriqueta Catharino -
Fundação Instituto Feminino é um dos espaços
memoriais mais importantes do País. Ele está
localizado na Rua Monsenhor Flaviano, no. 2,
no bairro de Politeama, em Salvador. Seu
telefone é (071) 321-7522.
A instituição contém um rico acervo de
vestuário feminino, dos séculos XIX e XX,
além de móveis, pinturas, jóias, cristais,
peças de prata e muitos bordados, perfazendo
cerca de quinze mil peças. Um dos destaques
é o vestido usado pela Princesa Isabel, por
ocasião da assinatura da Lei Áurea.
Fontes consultadas:
FUNDAÇÃO Instituto Feminino da Bahia.
Disponível em:
Acesso em:
22 mar. 2007.
HENRIQUETA Martins Catharino. Disponível em:
Acesso em:
2 mar. 2007.
MUSEU Henriqueta Catharino. Disponível em:
Acesso em:
2 mar. 2007.
QUEM foi Henriqueta Martins Catharino?
Disponível em:
Acesso em:
2 mar. 2007.
REVISTA Museu cultura levada a sério.
Disponível em:
Acesso em:
23 mar. 2007.
SCHUMAHER, Shuma; BRAZIL, Érico Vital
(Org.). Dicionário mulheres do Brasil:
de 1500 até a atualidade. Rio de
Janeiro: Zahar, 2000.