Construída na mesma
rua que a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a Igreja
de Santa Cecília, sob a invocação de Santa Cecília - uma
mártir romana e padroeira dos músicos -, localiza-se no
começo da rua da Conceição, no bairro da Boa Vista.
O templo surgiu como uma capela dedicada à Nossa Senhora
da Conceição. Foi construída por Cristóvão de Barros
Rêgo, em 1683. A construção ficava localizada em frente
à casa de vivenda do fundador.
Segundo registros históricos, datados do final do século
XVII, o local era um sítio de terras "junto à ponte onde
tinha uma casa de sobrado, com árvores e quatrocentos
pés de coqueiros de frutos, ou os que na verdade se
achassem". A construção de uma capela, diga-se de
passagem, representava o símbolo histórico brasileiro de
iniciação populacional.
Em 1643, a ponte Maurício de Nassau (construída pelo
holandês do mesmo nome), ligando a ilha de Antônio Vaz
com o outro lado do rio, veio a consolidar o surgimento
do novo bairro da Boa Vista. Ademais, os vários aterros
que foram empreendidos - os aterros do Cassimiro, dos
quais apareceram as ruas da Aurora, União, Saudade e
Riachuelo; os aterros da Asseca, dando margem à
existência do Parque 13 de Maio, da rua do Lima, e de
suas proximidades; e o aterro da Boa Vista, de onde
surgiu a rua da Imperatriz Teresa Cristina – ajudaram,
também, a definir o bairro.
Na capela-mor da igreja de Santa Cecília, não está
visível o sepulcro de Cristovão de Barros Rêgo. De
acordo com os registros daquela época, sabe-se que ele
foi sepultado na capela de Nossa Senhora da Conceição,
"em uma sepultura aberta na parede da capela-mor, ao
lado do Evangelho, selada com uma pedra em que se viam
esculpidas as suas armas em relêvo". Cristovão de Barros
Rêgo foi, inclusive, o grande incentivador do
desdobramento urbano da Boa Vista, e o instituidor do
Vínculo da Boa Vista.
O fundador daquela igreja, porém, foi agraciado pela
Corte Lusa com o foro de cavaleiro da casa real, com o
hábito de Cristo e a comenda lucrativa da mesma ordem,
por ter servido contra os holandeses na campanha da
restauração.
Com o falecimento de Cristovão, o Vínculo da Boa Vista
passou a ser administrado por seu filho, João Marinho
Falcão. Depois da metade do século XIX, com a extinção
dos Vínculos e Morgados, o Vínculo de Nossa Senhora da
Conceição dos Coqueiros é vendido a João Henrique da
Silva e sua esposa, Josefa Maria dos Passos e Silva.
Após o loteamento das terras do antigo Vínculo, os
descendentes dos últimos donos, doam a capela
(praticamente, em ruínas) à Irmandade de Santa Cecília,
no dia 31 de janeiro de 1882. Dezessete anos depois, a
Irmandade teve condições financeiras para reconstruir a
capelinha. Santa Cecília passa a ser a nova padroeira,
protetora dos músicos e da Irmandade regedora.
Excetuando-se a primeira imagem de Santa Cecília, e a
imagem de Nossa Senhora da Conceição, colocada em um
nicho do altar-mor, nada mais resta da capela original.
No frontispício, é possível apreciar arcos ogivais e uma
lira, e vêem-se as seguintes inscrições no interior do
templo:
Jazigo perpétuo da família do maestro Pedro de Assis,
lente cathedratico do Instituto Nacional de Musica do
Rio de Janeiro. Recife, Maio, 1910. P.N.A.M.
Veneravel Irmandade de Santa Cecília, fundada em 1788.
1789-1840 – Funcionou na Igreja de S. Pedro dos
Clérigos, transferindo-se nessa epocha para a Igreja de
N. S. do Livramento. 1881 – Esteve erecta no templo de
N. S. do Rosário da freguesia de S. Antonio, vindo d’alli
para a matriz de S. José. 1898 – Por iniciativa do irmão
monsenhor Augusto F. M. da Silva, installou-se nesta
igreja de N. S. da Conceição dos Coqueiros, sendo-lhe
então dada a posse da mesma. 1902 – Reconstruída pelo
irmão Manoel Américo e outros. 1931 – Com valiosos
donativos conseguidos, foram feitos neste templo
radicaes serviços de pizo, tecto, alem de vários outros
melhoramentos, pelos irmãos Antonio Amorim Rabello
(juiz), prof. R. Piccolino Fischer Vieira (thesoureiro),
Manuel A. Ferreira e o cidadão Arnaldo Guedes Pereira.
No plano urbanístico, já foi prevista a demolição da
igreja de Santa Cecília, a fim de possibilitar o
alargamento da rua da Conceição, pelo fato de esta ser,
no presente, uma rua totalmente comercial.
Fontes consultadas:
Semira Adler Vainsencher