Sebo - Antologia - por Isabel Pakes

 

Antologia Virtual - II

“Verso e Prosa”

3ª página

 

10 -

NIELSON ALVES

Nasci no dia 06 agosto de 1983, em Brasília. Sou influenciado por tudo aquilo que não foi escrito. Minha poesia é feita das coisas que não tem valor, e das incertezas. Sou zelador das coisas inúteis, e tenho pouca inutilidade ainda, mais tenho chance de me despreparar melhor. Entrei na poesia de forma acidental, e fiquei comprometido em ser à-toa. Nunca participei de prêmios literários. É a primeira vez que meus poemas saem de casa sozinhos. Blogs de Nielson Alves:
Memórias Inventadas (escritor e poeta): http://niestro.blogspot.com/
Nielson Alves (músico, compositor e cantor)

CD lá em casa:
http://www.nielsonlaemcasa.pagina.gr/frameset.php?url=/

 

ESPERANDO


Contei
esperando
números.
 
Guardei
esperando
segredos.
 
Chorei
esperando
lágrimas.
 
Cantei
esperando
canções.
 
Beijei
esperando
amores.
 
Temperei
esperando
gostos.
 
Dormi
esperando
sonhos.
 
Olhei
esperando
visões.
 
Atirei
esperando
alvos.
 
Voei
esperando
asas.
 
Pisei
esperando
passos.
 
Saí
esperando
lugares.
 
Folheei
esperando
páginas.
 
E respirei
esperando
inspirações
 

~ * ~


 
OS 10 MANDAMENTOS DOS PASSÁROS


1- Correr atrás do vento.
2-Não ter medo de altura.
3-Não ter inveja dos papagaios e viver assobiando.
4-Não usarem o discurso dos galos.
5-Não dar ouvido às palavras soltas ao vento.
6-Ter uma casa na árvore.
7-Aprender a se equilibrar em varais e fios.
8-Andar em cima do muro, é não decidir com pena.
9-Fazer bico nas conversas.
10-Nunca voar de encontro ao sol.

 

 

11 -

VITOR HILÁRIO

Nasci em 07 - 10 – 1988, em Bernardino de Campos, SP, residente em Cerquilho - SP desde os 06 anos de idade. Formação acadêmica: Artes Cênicas pelo Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campo de Tatuí - SP; Radialista/Locutor pelo SENAC – Piracicaba – SP. Meu primeiro poema foi escrito aos 11 anos (em 2000), por influencia de uma professora de língua portuguesa, desde então passei a ler muita poesia e pude conhecer as obras de grandes poetas. O que me influenciou muito também para escrever foi a convivência com poetas já experientes durante minha adolescência, entre os quais a poetisa Isabel Pakes. E em 2004 conquistei o 1º lugar no TMP - “Torneio Municipal de Poesias de Cerquilho”. Tenho um blog “La Mia Poesia” e em 2011 participei do FEPOC – Festival de Poesias de Cerquilho como declamador.
Trabalhos desenvolvidos no teatro:
Integrante do elenco de “Sonhos de uma noite de verão” de William Shakespeare, pelo CDMDCC de Tatuí - 2001
Integrante do elenco de “Um conto de natal” de Charles Dickens, pelo CDMDCC de Tatuí - 2001
Integrante do elenco de “As sete chaves” de Illo Krugli, pelo CDMDCC de Tatuí - 2002
Integrante do elenco de “Inté que as vistas se atrapaia”, adaptação livre da obra de Cornélio Pires, pela Cia. Mecenas de Teatro - 2010
Integrante do elenco de “Roça na Seca”, criação coletiva da oficina de teatro de Cerquilho - 2011

 

FÉRIAS


Ô mãe,
Se alguém me procurar
 
Em minha casa habitual
Em meu trabalho de todos os dias
Em meu lazer de cada fim de semana
 
Diga-lhe
Que tirei férias
Que fui
Pra sabe-se lá onde!
 
Ô mãe,
Se alguém me procurar
 
Em meu corpo habitual
Em meu olhar de todos os dias
Em meu riso de cada embriaguez
 
Diga-lhe
Que fui pra sabe-se lá onde
Que fui ser feliz
Que tirei férias de mim!
 
 
~ * ~
 
ANTES DO AMANHECER
 
Não quero as frivolidades
dos foliões
Nem quero as formalidades
dos homens sérios
 
Estou farto do bom senso
Dos espertos
 
Eu quero, antes do amanhecer
A loucura de todos os amores
A euforia dos loucos
A tristeza dos boêmios
 
Eu quero, antes do amanhecer
O brilho de um olhar
A ternura de um sorriso
O aconchego de um abraço
E o calor de um carinho.

 

 

12 -

ESTER MOREIRA

Nascida em São Paulo em 24/09/1972, mudou-se para o Japão em 1996 retornando ao Brasil em 1999. Mudou-se para Cerquilho no início do ano 2000. Escreve desde a adolescência e em 2001 participou do XIV Festival de Poesias de Cerquilho como poetisa, e de lá pra cá participou de quase todas as suas edições, recebendo prêmios seja como poetisa ou como interprete. É divorciada e mora com seus 03 cães, Penélope, Brisa e Mano.

 

TAMBORES

Tambores soaram, África mãe chorou
 Tambores soaram, à escravidão chegou
 Do mar, tão azul e doce mar
 Em suas marés eles chegaram e não respeitaram
 Arrasaram, queimaram, desonraram nossas filhas
 Em nome de seu Deus
 África filha de Deus
 África mãe
 África Pai
 Solo sagrado manchado de sangue
 Seus guerreiros caíram de joelhos
 Escravos da intolerância
 Levados para navios negreiros
 Fonte de dor, desesperança
 Cante ó África, chore seus filhos
 Ah, doce cana caiana, tua seiva é tão doce
 Fruto de meu suor amargo
 Trabalha negro ou corto-te o couro
 Dizia o chicote do capataz
 Ah, sorte sem dono, banzo vem pra me levar
 Leva-me de volta ás savanas, pelo caminho do mar
 Corre negro, corre, não é a savana que te corta
 É a mata fechada, de Atlântica chamada
 Ah, aqui não tem sinhô
 Novamente negro é Rei
 Zumbi canta à liberdade, quilombola relembra
 Ah, África que saudade
 Mas eles virão nos caçar, precisaremos lutar.
 Lembra do final da colheita?
 Põe música aí nagô, pula e levanta poeira
 Iê chegou Mãe África, teu filho agora é Capoeira
 Liberdade chegou mas teu filho não é livre
 Pois pouco ou nada sobrou, como é que ele sobrevive
 Sem sinhá e sem sinhô?
 Pobreza a negro nagô, escola pra ti não tenho não
 Tu pra nada serve, diz o meu patrão
 Tu nem mesmo é gente, diz o outro ali na frente
 Acabou-se o eito, chegou o preconceito
 E contra este o que fazer?
 Trabalhar, suar, vencer, não; nada disto basta.
 Olham achando graça, o que é isso negro?
 Pensa que é raça?
 A chibata ainda arde neste tal de aphartied
 Mas levanta de novo negro
 Responde no canto tua raiz brasileira
 E mostra para o povo a cultura
 Tu és negra Capoeira
 Arte, dança, luta e música, és o canto do Zumbi moderno
 Salve irmão Mandela, liberta-se e diz sua cantinela
 Continua em tua luta irmão, é pobreza, é dor, é droga
 Mas Mãe África acredita em seu filho retinto
 Pois o canto forte das matas jamais será extinto
 Levanta negro, caminha e vem
 Se cair levanta de novo e mostra a força que tem
 Traz tua velha cultura, mistura com que há de novo
 Mostra que a tua semente, é expressão de um povo...

 

 

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ZEILA FÁTIMA PEREIRA GIANGIÁCOMO

Professora de Arte, nasceu em Bastos (S.P.); escreve poesias tendo participado como colaboradora em jornais da região e de várias Antologias.
Editou o livro “Campo Minado”, premiado pela Prefeitura Municipal de Sorocaba, onde reside. É membro da Academia Sorocabana de Letras e tem como patrono Olavo Bilac. É casada, possui três filhos e três netas sendo apaixonada pela sua família e profundamente grata a Deus pelas bênçãos recebidas em sua vida.

 

UMA VOZ NO TEMPO


Preciso dizer-te tanto
Desafogar este ensejo que morre preso no peito
Esta onda que me toma, mistura os meus conflitos
E me faz dizer-te sim, quando quero te negar!
 
Queria um novo tempo e respirar frente ao vento
Abrir meus braços sedentos, anulando o sentimento
Que pesa no ar que nos cerca
Que me lateja a testa, que me faz ter febre...
 
Assim, minha voz velada, te diria entre meus beijos
Ora ternos, ora afoitos, o quão intenso é o momento
Que me faço tão pequena que me sinto tão serena
Precisando do teu corpo para a alma completar...
 
Preciso dizer-te tanto...
Como gato em colo quente, no teu corpo a me enrolar...
Desvendando lentamente o presente preparado
Que com carinho e aos poucos guardei para te entregar...
 
Agora, então, em silêncio, poderias desvendar
Entre suores de orvalhos meu coração a brilhar
Extravasando na pele, deslizando em cada olhar...
 
Por certo tu ouvirias... O espírito luzidio germinando poesias
Florescendo em ternuras, libertando a inspiração
Deixando-me conhecer, provando do meu querer!
 

~ * ~


VERBO


Toma minhas palavras
Segure-as pela mão
Toma minha fala, guarda-lhe as partes
Na emoção do olhar, na paz sem tradução!
 
Não busques nada além
Pois só na intimidade poderás despi-las
Do som, da voz, da entonação
Da minha própria interpretação!
 
Toma minhas palavras, criadas das cenas da vida
Colhidas da estrada já percorrida
Sob as fúrias do passo incerto
Sobre o acalanto das horas de perto...
 
Toma as palavras, que já nem sei, são minhas
Como toda entrada em qualquer caverna
Entrega-se no espaço, tendo a boca aberta
Explodindo na nascente a pureza certa.
 
Ah! Que não lhes acrescentem a dúvida
Pela falta de rima e tanta reticência...
Que não lhes pontuem formas de agressão
Nem lhes perpetuem a interrogação!
 
Toma-as, como feitas carne e vibração
Pois o instante é o aqui e talvez o quase-sempre
E toda relação perpassa amor e coesão!
 
No princípio, como estavam bem ditas
Habitam-nos doces palavras, vidas feitas
E basta-se o Verbo, farto de infinito!

 

 

14 -

NAJLA_ALINE_TIRABASSI

Natural de Cerquilho/SP, 23 anos, formada em Gestão em Recursos Humanos. Desde sempre amante dos livros, da escrita e de todo tipo de arte. Acredito que a arte é o principal meio para as pessoas evoluírem. Ela é advinda de inspiração, e inspiração nada mais é, do que a voz da nossa alma. Em 2003, participei do Torneio Municipal de Poesias e do 16° FEPOC (Festival de Poemas de Cerquilho) e tive minha poesia “Verso e reverso” publicada no livro do evento. Desde muito cedo tomei o gosto por ler e escrever, e o resultado não poderia ter sido diferente: tenho colhido muitos aprendizados. Tenho alguns blogs, em especial o “Indizíveis”, que muito fala sobre mim.
(HTTP://florignea.blogspot.com).
Escrevo por necessidade, por amor, para preencher a alma, para me sentir mais leve. Já dizia Paulo Leminski: “... Escrevo porque preciso, preciso porque estou tonto... Escrevo porque amanhece, e as estrelas lá no céu lembram letras no papel, quando o poema me anoitece...” Escrever é como ter asas, e ter autonomia para navegar em seu próprio mundo, e enfrentar o desconhecido com entusiasmo. Tenho comigo a espontaneidade e partidarismo à liberdade de expressão. Sou ainda mera aprendiz das minhas próprias histórias, dos meus contos de fadas e dos meus sonhos, e busco alegrar os dias com palavras e versos. Muito desajeitada escrevo esta “autobiografia”, na simplicidade e na honra em poder falar um pouco sobre mim, no meu anonimato. Eu ainda estou construção, reescrevendo-me entre linhas tortas e tropeços e o alicerce não tem data definida para terminar. Ainda é frágil, precisa de muita sustentação, ainda teme os ventos da solidão, ainda chora pelas limitações. E sucumbe, e reconstrói... Tantas e tantas vezes... Processo árduo esse de "fazer-se", e intérmino.

 

(RE)COMEÇAR!

 E como é difícil dar o primeiro passo, dizer a primeira palavra, aprender a olhar para novos caminhos, procurar outros horizontes, respirar novos ares.
Nessas horas parece que algo nos puxa para trás, fazendo retroceder nos pensamentos insistentes em permanecer. E o medo que nos cala, e as pernas que nos travam, os olhos que choram, o coração que dói. Um turbilhão em nossa mente.
Mas mudar é preciso!
Prosseguir sempre exige paciência, força de vontade, e também nos custa algumas lágrimas e inúmeras incertezas acerca do que encontraremos adiante.
Viver dói sim. Não saber viver dói mais ainda.
Acredito que todos sabem bem a hora de parar, de “sair de cena” e a hora de ficar. De se calar e de falar.
Também sabemos identificar quando erramos. Ninguém sai ileso dos próprios atos. A vida é um eco que volta para nós mesmos.
As noites mal-dormidas, a sede de estar bem, a tristeza de ter que partir. Tudo é indício de que precisamos da mudança. E quando falo em mudança não refiro a mudar de casa, de cidade, de lugar, mas na mudança de atitudes, revisão de pensamentos, "faxina de sentimentos".
Mudar é restaurar, é limpar, é lavar, é esquecer... E todos nós precisamos sacudir a poeira dos sentimentos que surgem em nós, e ficam muitas vezes ali parados, ocupando um espaço inútil.
E dar o primeiro passo nunca é fácil. Mudar no agora, às vezes é plantar para colher à longo prazo. O problema é que temos sede de resultados, não sabemos esperar. Nos desesperamos pelo agora, pensando no futuro, mas ainda nos afogamos no passado.
E os ares estão repletos de sujidades, a alma maculada, e as portas trancadas.
Ah, como é difícil essa nossa anamnese! Requer um esforço gigante para não sucumbir, para não retroceder.
Somos vítimas do medo, tal qual nos impede de locomover dentro de nós mesmos, por entre os nossos sentidos. E ficamos estacionados. Se não por isso, pela nossa comodidade desmedida.
É preciso recomeçar mesmo que haja uma resistência à dor.
É preciso descer do palco da alegria mentirosa, palco o qual nos vestimos de interlocutores.
É preciso despir-se do que ocupa um espaço apenas por ocupar, mas que na verdade não preenche, não soma, não agrega, não aviva.
Seremos ingênuos ou demasiadamente cômodos até quando? Até que todo o tempo passe e se esgote, para acordarmos e ver que tudo o que vivemos estávamos presos apenas por um medo e um receio tremendos de arriscar?
Eu já pulei o muro da comodidade muitas vezes, e cheguei em jardins belos. No entanto, caí em muitos espinhos. Descobri que para chegar até as rosas é preciso se abster de muitas coisas, se desprender de tantas outras e eu não minto: Dói! Sempre dói muito mudar.
Já tomei a minha dose de ceticismo, que parece um veneno que percorre as minhas veias, atinge meu coração. Eu sei que preciso diminuir essa dose. Mas eu vou conseguir...
A vida é um aglomerado de estranhezas que vem nos visitar todos os dias. E a nossa crucial missão é distinguir o que é bom. E o que é bom vai depender de qual horizonte estamos mirando. Tudo vai depender do que se guarda bem dentro.
Uma coisa é certa... às vezes a angústia se arrasta atrás de mais angústia, e por isso o caminho da alegria parece inalcançável. Em outras vezes a a alegria é tão intensa que torna-se cega à tristeza. E quando ela chega o mundo desaba.
Equilíbrio? Ahh... Quem sabe o segredo?
Ninguém sabe. Ninguém é equilibrado. Mas todos sentem os indícios.
Os indícios são como uma veia pulsante, você sente.
E é preciso caminhar, dar o primeiro passo dentre tantos.
Avistar alternativas.
É preciso acordar todo dia a nossa consciência e se perguntar: "É isso mesmo o que eu quero, e o que eu preciso?" 

 
POETA SEM QUERER
 
 
Basta...
Uma palavra doce para equilibrar a embriaguez dos sentidos.
Uma palavra indiferente ao medo, à direção.
Uma palavra voraz, um alento.
 
Tentei desvendar, desvelar,
Sobre os sentimentos inquirir
Sucumbi, me prostrei e sorri:
Não há alma sem cor, nem coração sem verso,
E eu sei agora, eu confesso:
O meu eu é hermético
O meu eu é desconexo.
 
Caminhei sem saber, enfrentei muralhas e mazelas.
Sobrevivi às prisões e castelos,
E então eu descobri:
O meu barco não tem velas.
 
Poetas não sabem que são poetas.
E sentidos não-decifrados são presentes,
Presentes dos mais belos,
Palavras soltas, espontâneas,
Mas tão verdadeiras e tamanhas.
Poeta não é gente comum.
Poeta é a alma em pessoa.

 

 

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ISABEL PAKES

Poeta e declamadora premiada; autora do livro de poesias “Transcendência”.
Autora integrante do PORTAL CEN, com muita honra!
http://www.caestamosnos.org/autores/autores_i/Isabel_Pakes.html
E-book “Transcendência” - Sebo Literário - PORTAL CEN
http://www.caestamosnos.org/sebo/Isabel_Pakes/Isabel_Pakes1.htm
Organizadora desta ANTOLOGIA VIRTUAL “VERSO E PROSA”.


Agradeço imensamente aos meus amigos, companheiros de ofício, pela agradável companhia nesta “encantadora viagem” e ao PORTAL CEN, pela hospitalidade honrosa.
http://belpakes.blogspot.com/

PEREGRINA


Guardo-me no Amor, ao sol de eterna luz.
Recosto nele minhas inquietudes
e em sua paz descanso os meus dias.
E dele me alimento.
São sempre doces os seus frutos
e fartos,
e a água sempre pura,
onde banhar minh’alma,
me desprender do pó
deste meu frágil e efêmero estado,
peregrina que sou, nesta esfera.
 

~ * ~


ÀS CANDEIAS DO AMANHÃ


Ausente do meu toque, feito um anjo ou feito um bruxo,
me olhas do alto da lua, me beijas através da brisa
e nas rosas que admiras me mandas lembranças tuas.
Pareces estar vibrando em tudo quanto me envolve,
até nos livros que leio, como se teus mensageiros,
contam-me histórias de amor iguais à tua e a minha.
 
E isso não te bastando, interceptas meus pensamentos,
seduzes meus argumentos e, de pronto,
te colocas porta adentro dos meus sonhos.
De tal forma te embrenhas em minha mente
que não há como fugir dos teus enleios
e nem tenho eu por quê.
Se às vezes me exasperas pelo ontem que adiaste,
outras vezes me comoves, muito, profundamente,
quando feito a canção que mais gosto,
vens, manso e cativo, aninhar-te no meu peito.
 
Alheio ao tempo e à distância
por onde vou me alcanças trespassando dimensões,
alongando os teus sentidos aos menores dos meus gestos,
guardando-me em calmaria, às candeias do amanhã,
em noite de turbilhão.
 
Se és um anjo ou um bruxo, não sei.
Se me guardas ou me enfeitiças, não sei.
Talvez em mim só preserves o alento
em cuja sombra repousas.
Mas estás aí, é o que importa!
Estás aí e me ouves devotado
e sem que te apercebas, minha alma embevecida
por um breve instante me escapa para abraçar-se à tua.